Era esse o mote do filme, criado pelo génio artístico de Spielberg e interpretado por dois pesos-pesados do cinema "made in Hollywood": Tom Hanks e Leonardo DiCaprio. A história, que retratava a vida de ludíbrio de um pequeno marginal, perseguido tenazmente pela Polícia, nada terá de igual com a realidade da Superliga. Mas tem, pelo menos, um título delicioso. O "catch me, if you can" tem MESMO tudo a haver com a realidade tuga. A fuga encetada pelo Porto, imparável na sua afirmação de força dominante na realidade interna, é perfeita para esta provocação inócua. Apanhem-me, se puderem. É inofensiva, mas terrivelmente dolorosa para os egos sobredimensionados dos apaniguados adeptos dos clubes rivais. Mais uma vez, a realidade surge como ela é. Sem filtros. Sem paliativos. De forma dolorosa. E como eles sofrem com ela.
Sentados em casa, pensativos no sofá, olhando sem ver para as imagens debitadas pela TV, ou nos estádios, aguentando estoicamente este frio glaciar, ela abateu-se, nos últimos tempos, sobre a cabeça dos habitantes da Mouralândia. O potentado do Norte, o clube por eles achado de execrável, continua a dar provas semanais de classe, competência e afirmação europeia. Ao invés, mesmo com as costumeiras lamúrias, apontando factores externos para o fracasso, eles consciencializam-se da mediania, muitas vezes a roçar a mediocridade, dos seus clubes e, por arrasto, dos atletas que vestem as camisolas por eles idolatradas.
É assim a vida. A Justiça, qual espada acerada, não tem contemplações para com os fracos, os que se auto-elogiam, os que são grandes apenas porque os fazedores de opinião os mediatizam. Nesta quadra de paz, harmonia e felicidade, uma parte do País e dos seus habitantes viu-se envolta numa espécie de névoa, que por artes mágicas lhes sugou o dom de sorrir e lhes provoca um sabor a fel, quando engolem. Numa visão bíblica, dir-se-ia que é esse o justo castigo que pune a arrogância. Eu cá acho que existe gente que nunca aprende. Ano após ano, após ano, o circo mediático é sempre o mesmo. As esperanças também. O "este ano é que é" tem, pelo menos, uma vantagem: o de podermos escrever, em tom jocoso, sobre esses desgraçados...
Duas semanas mediaram entre a euforia precoce, prematura, com os sonhos acalentados em artigos de opinião a colocarem os enc(o)rnados a um mísero ponto da liderança, e a atroz realidade, com a distância pontual a atingir números escandalosos, na 13ª jornada. À demonstração de força, em plena Luz, dos detentores dos escudos de campeão [e que lindos eles ficam, bem ali, na frente das camisolas azuis e brancas], seguiu-se uma indigestão de pastéis de Belém, servidos a frio, acentuando as dores crónicas de barriga da malta que descende do homem de Neandertal. O presidente da colectividade, precavido, refugiou-se em paragens mais longínquas, pretensamente para contratar mais um reforço. Atendendo à "sapiência" que o homem das orelhas grandes demonstra na tarefa, podemos ficar descansados quanto à qualidade do que aí vem. Se for como o Bergessio, o Benfica sempre pode explanar o seu futebol num 4-3-3, em que o novo reforço será a...bandeirola de canto. E, bem vistas as coisas, tenho sérias dúvidas que fosse capaz de cumprir a preceito o seu papel.
E é aqui que entra o principal adversário do Porto. Um bem temível, interno, capaz de insidiosamente se instalar no subconsciente de jogadores e adeptos. Chama-se motivação. Sim, eu sei que vestir aquelas camisolas de listas azuis e brancas será motivação suficiente, e adicional, para jogar sempre, com os indíces anímicos bem elevados. Mas a superioridade inquestionável, a aura de invencibilidade, que ameaça tornar-se mítica, e o enorme avanço, podem provocar uma descompressão com resultados indesejáveis.
Por certo Jesualdo Ferreira terá aprendido com os erros do ano passado, que por pouco custavam um campeonato. O técnico portista está mais comedido. Mais sereno. Mais arguto, na análise do jogo e na preparação táctica da equipa. Conseguiu ultrapassar, com alguma segurança, os anti-corpos que se levantaram aquando da sua chegada, a desconfiança crescente, inversamente proporcional à carreira da equipa, naquela confrangedora segunda volta. Mas o decano treinador sabe que também ele está a ser julgado, pela grande maioria dos adeptos, que temem alguma tibieza que faça fraquejar a equipa. O grande teste, aquele que já perpassa pela cabeça de alguns, estará reservado lá para Fevereiro. Quando o hino da Champions, aquela melodia que apela a conquistas épicas, começar a tocar, será aí que as dúvidas terão que ser dissipadas. Sem medos, sem temores constrangedores, de peito feito, sem temer ninguém. É isso que esperamos.
ps - se ainda não fizeste o download do "Ele, o Presidente", porque esperas? passa aqui e vê como podes fazê-lo.
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Paulo:
ResponderEliminarMais uma bela prosa. A verdade é q isso de ganhar títulos não é para eles. Eles gostam é de fait-divers, filmes, livros e mai'nada.
Isso de ganhar, sofrer, lutar, correr, suar é para os nossos guerreiros q tanto nos orgulham.
Catch me if you can:) Só se estivermos a dormir!
Nao podia estar mais de acordo com as duas ultimas frases :)
ResponderEliminarComo estarei sem acesso a net ate dia 24, queria aproveitar para deixar e todos e respectivas familias Votos de um Santo Natal recheado de alegria.
Ao Lucho deixo uma palavra especial de solidariedade para com a perda do seu amigo.
Beijinhos e ate dia 25!
ps: eu nao consigo colocar pontuaçao... espero que tal nao afecte a leitura :)
Viva !
ResponderEliminarBelo texto ! E gostei da ironia.
Concordo que a falta de concorrência pode acarretar uma desmotivação inconsciente. Há que,pois, não adormecer sobre os louros já alcançados.
E Viva o Porto !
Mais um texto à Paulo Pereira...
ResponderEliminarDepois das muitas críticas recebidas por Jesualdo Ferreira na época passada - apesar de ter sido campeão - e da desconfiança dos adeptos na equipa técnica, o Professor, homem inteligente e sereno, parece ter levado a melhor, para já. Claro que muitos dirão que o panorama actual é idêntico ao da época passada e que, se se repetirem os erros, o FC Porto pode voltar a perder a vantagem pontual. No entanto, é visível que a equipa deste ano está mais adulta, Jesualdo tem as ideias muito melhor definidas e tenho a certeza absoluta que a gestão da diferença vai ser tranquila e nos poderemos voltar com maior empenho para a prova raínha, a Liga dos Campeões, aquela que nos trás as verdadeiras emoções, que a liga doméstica objectivamente já não nos proporciona.
Para a Chamipons veremos os adversários que nos calham. Passar os 'oitavos' penso ser quase um dever e depois, dependendo da sorte do sorteio e da capacidade colectiva de superação, não há limites para o sonho.
Importa mais a unanimidade entre nós que aquela interesseira dos "outros" que cantam mas não divertem.
ResponderEliminarMas é bom que Jesualdo diga:
"Esta vantagem perde-se (quase) em 3 jogos".
Por isso, vamos ganhar mais um, mainada!
Um "catch me, if you can" à moda do Dragão... e mai'nada!
ResponderEliminarNão podia estar mais de acordo com cada uma das palavras que aqui aplicaste, porque ano, após ano, é sempre o 'mesmo filme'... só os palermas e otários não percebem isso... ou seja, perceber, percebem!, não querem é dar a entender que perceberam!, mas isso são outros filmes.
Como diz e bem aqui o Zé Luis, é bom, mas muito bom mesmo que o Prof. Jesualdo diga que "esta vantagem perde-se (quase) em 3 jogos", porque não é mais do que um aviso à navegação para o ocorrido na época passada, que em condições semelhantes por esta altura, sofremos a bom sofrer até ao último minuto... e sem necessidade nenhuma disso acontecer.
Portanto, em 'sentido' e prá frente é que é.
aKeLe aBrAçO,
Boa prosa. Ela reflecte a verdadeira mentalidade desportiva dos rivais e dos seus "suportes" mediáticos que vivem de enfatizar qualidades inexistentes e de abafar defeitos que a dura realidade se tem encarregado de pôr a nú.
ResponderEliminarNunca mais aprendem! Eu acrescento e ainda bem.
Mas com o mal dos outros os portistas não se devem acomodar. E não se acomodam mesmo! Por isso exigem boas prestações dos seus atletas. Alguns até assobiam quando as suas estrelas não rendem o que era suposto renderem.
A primeira volta tem sido pouco menos que um passeio. Já assim fora a época passada.
Só espero que a segunda tenha o mesmo sentido, beneficiando desta vez da experiência vivida para que erros de então não se repitam e possamos continuar com tranquilidade, competência e classe a desbravar o caminho do TRI.
Isto é o que verdadeiramente me importa. O resto é folclore.
Um abraço e parabéns.