«Esta equipa, é capaz de tudo», Jesualdo dixit

assistência: 46.509 espectadores.

árbitros: Pieter Vink (Holanda), Arie Brink e Wilco Lobbert; Hendrikus Nijhuis.

FC PORTO: Helton; Sapunaru, Rolando, Bruno Alves e Cissokho; Lucho «cap», Fernando e Raul Meireles; Lisandro, Hulk e Rodríguez.
Substituições: Sapunaru por Tomás Costa (83m), Hulk por Mariano (89m) e Lisandro por Farías (90m).
Não utilizados: Nuno, Stepanov, Sektioui e Andrés Madrid.
Treinador: Jesualdo Ferreira.

ATLÉTICO DE MADRID: Leo Franco; Perea, Pablo Ibáñez, Ujfalusi e Antonio López; Maxi Rodríguez «cap», Paulo Assunção, Raul Garcia e Simão; Pongolle e Aguero.
Substituições: Maxi Rodríguez por Diego Forlán (54m), Raúl García por Maniche (72m) e Pongolle por De las Cuevas (79m).
Não utilizados: Coupet, Pernía, Heitinga e Camacho.
Treinador: Abel Resino.

disciplina: cartão amarelo a Rodríguez (25m), Hulk (67m), Perea (71m), Ujfalusi (75m).

O Atlético de Madrid chegava à cidade invicta em desvantagem. Apesar disso, o optimismo dos adeptos Madrilenos era notório nas reportagens televisivas, até porque nos quinze dias que entremearam as duas mãos dos oitavos-de-final da Champions League, os colchoneros haviam batido o pé aos dois grandes colossos do seu campeonato caseiro, obtendo bons resultados perante o Barcelona e Real Madrid. Pelo que se antevia um Atlético de Madrid diferente do que disputara a primeira mão em casa contra o FC Porto. Era um sério aviso à navegação.

No entanto, é sabido entre as equipas mais experimentadas da prova rainha Europeia, que esta se trata de uma competição impar, que põe em teste a verdadeira capacidade dos participantes, que pesa tanto sobre os ombros de quem a disputa, quanto de peso tem o título, CAMPEÕES.

19.45h, vinte e dois jogadores alinham e fazem a formação perante um Estádio do Dragão visivelmente cheio, engalanado, trajado de azul e branco a rigor. Um palco que já conhece a glória, mas não se cansa de ouvir entoar aquele sublime hino arrepiador.

Uma câmara televisiva varre na imagem as equipas alinhadas, vejo os meus jogadores de semblante carregado, tensos, com Lisandro no extremo da fila a destoar com um suave sorriso esboçado. Sentem a responsabilidade que se lhes confia, abraçam-na com ambos os braços e partem para o jogo, desde à muito assumido para o quebrar de uma malapata atrasada - passar aos quartos-de-final.

Nas bancadas, não há dúvidas, o público portista mostra ao que vinha – apoio incondicional! Era o “ouro sobre azul” daquele belo espectáculo.

A bola corre e os primeiros dez minutos são jogados predominantemente no meio campo Madrileno. A equipa Portista faz o que lhe compete, assume o ataque perante um Atlético que se encolhe apesar da desvantagem. Só aos dez minutos se desenha um primeiro ataque dos Madrilenos, inconsequente. Mais quatro minutos volvidos para o primeiro remate com algum perigo para a baliza de Helton. O Brasileiro não facilita e defende para canto, o qual Simão Sabrosa trata de marcar, com a bancada em uníssono a assobiar. No entretanto do inicio do jogo, por sua vez, já o FC Porto havia ensaiado vários e bons remates e construído ataques que davam início ao muito do trabalho que aguardava a defensiva visitante.

Percebia-se a estratégia montada pelo Atlético de Madrid. Impedir a todo o custo o ponto mais forte do Porto, a sua linha avançada, sobretudo Hulk que foi fustigado, abalroado no pleno sentido da palavra, vezes sem conta e com a conivência da arbitragem. Aos 18’, Pablo vê um flagrante amarelo perdoado pelo cumprimento da sua missão – parar Hulk de qualquer maneira. Ainda assim, os azuis e brancos conseguiam fazer das suas, acalentando as já de si entusiasmadas bancadas. Aos 22’, excelente arrancada de Rodriguez pela esquerda a combinar com Hulk que sobra para Lucho, em jeito, tentar o chapéu a Leo Franco, mas a bola saí caprichosamente por cima da barra.

E já cá faltava! Aos 25’, Simulão Sabrosa a mostrar-nos / recordar-nos dos seus excelentes dotes de mergulho no rectângulo, valeu desta que o árbitro não foi em cantigas, mas Cristian Rodriguez protesta e pronto, um amarelo “picuinhas” ao portista e o flagrante amarelo por simulação do infractor perdoado, critério que veríamos mais tarde aplicado também a Hulk (amarelado por protestos, noventa e nove cacetadas depois, e o infractor impune) . E numa fase em que o Atlético começava a assumir mais posse de bola, com o Porto a tirar partido do contra ataque, continuava a ser de “ir aos cabelos” os permanentes atropelos a Hulk, sem dó nem piedade passando impunes, vários nem sequer assinalados pelo apito, para ver de seguida serem apitados cortes limpos do Porto, caso sobre Paulo Assunção por exemplo aos 38’, que vê ser-lhe feito um corte sem falta mas apitado... ou será que o visado no lance pelo árbitro era o público que insistia em vaiar com valentes assobiadelas o ex-trinco, agora colchonero? Uma dúvida legitima, quando se vê na repetição que Fernando dera na bola...

Já os últimos dez minutos da primeira parte jogam-se no meio campo do FC Porto, com a estratégia montada por Jesualdo a permiti-lo e a linha defensiva dos azuis e brancos a chegar para as encomendas.

No segundo tempo vejo entrar um Porto algo mais “encolhido” por breves minutos iniciais, mas o árbitro da partida, esse continua a ser incisivo e veemente a marcar mais uma falta não existente logo de caminho. Assiste-se então a vinte / trinta minutos de posse de bola dividida, provavelmente com um ligeiro saldo a favor de Madrid, mas é o FC Porto que se mostra mais clarividente no desenho dos seus ataques, a cheirar a baliza adversária ainda com mais vontade do que já fizera no primeiro tempo . Cissokho com uma boa jogada tenta entrar na área, mas excede-se em lances individuais e perde, Rodriguez joga com Lisandro que falha por pouco. Outro tento de Lisandro desta vez bem enquadrado a embater em Leo Franco que defende para a frente e Lucho a chegar ligeiramente atrasado para a recarga, os portistas acreditavam. Insistiam, Hulk ganha mais uma vez ao adversário, cruza a bola na área que é travada com o embate na mão de Ujfalusi, bola na mão, não há penalti. Decidiu bem Pieter Vink, já aos 75', decide mal, muito mal, ao não assinalar grande penalidade clara sobre Lisandro.

O Atlético sempre com o resultado em desvantagem, continuava cabisbaixo, com poucos e fracos registos de ataque. Forlán tem um remate “do meio da rua para o meio da bancada”. Aos 66’, um lance com mais perigo por Aguero que cabeceia ao lado, na marcação de um canto.

A saga dos portistas continuava, mas faltava sempre um bocadinho “assim”.

Meireles na marcação de um livre na meia direita, surpreende tudo e todos com um remate directo à baliza quando todos esperavam um cruzamento. Obriga o GR dos Espanhóis a mostrar, mais uma vez, serviço. Mais um tento de cabeça por Rodriguez a ser salvo novamente por Leo Franco.

Aproxima-se o último quarto de hora da partida e é com uma ovação das bancadas que Maniche volta a pisar aquele relvado para render Raul Garcia. Ao contrário de outros, há jogadores que continuam a ser aplaudidos e reconhecidos no Dragão. Entretanto, os Madrilenos lá são admoestados com o cartão amarelo pelas entradas duras de recurso às investidas de ataque azul e branco. Ujfalusi aos 76’ por falta sobre Rodriguez, Perea já o havia visto por falta sobre Hulk num rápido contra ataque lançado por Helton (70’).

Só faltava ali o golo, qual cereja no topo do bolo para abrilhantar devidamente o esforço e atitude portista em campo. Mas aliada às bolas no ferro que já são da praxe, o guarda-redes foi certamente o melhor jogador do Atlético em campo, pelo que mais uma vez se aplicou em impedir um “petardo” de Lucho aos 77’. Hulk lembrou-se – imaginem – de marcar um canto directo que foi negado pela trave, e mais uma vez, Leo Franco salva golo certo antecipando-se a Lisandro que era só encostar para dentro em sequência de um cruzamento ganho numa “gincana” aos defesas por Hulk (81’). Meireles desmarca Lisandro que bate Franco e já com ângulo apertado remata... ao poste (83’). Hulk acaba mesmo por ter de sair, lesionado em falta (mais uma) de Ujfalusi. É rendido por Mariano, e já em tempo de compensação quando o Atlético tentaria queimar os últimos cartuchos mas de pólvora seca, Farias substitui Lisandro.

Final da partida, e a frustração pela falta de golo dos portistas depressa é substituída pela recompensa e alegria de um regresso à passagem para os quartos-de-final da Champions League. Um prémio mais que merecido, não só por esta eliminatória, pelo que já foi feito está época, mas também pela forma ingrata como fomos eliminados nas últimas duas edições. Um prémio especial como também referiu Jesualdo, sobretudo, para os jogadores mais antigos do plantel que à três / quatro anos lutavam por este objectivo, não obstante os títulos nacionais conseguidos.

Tenho de ressalvar a excelente atitude do colectivo de equipa, que apesar da vantagem, sempre procurou o golo. E há que destacar Jesualdo, que pela segunda vez, foi superior tacticamente contra este Atlético, que já havia dado uma reviravolta e apurado a equipa em primeiro lugar (feito repetido do ano anterior) na fase de grupos para os oitavos-de-final. Goste-se ou não do homem, é hora das massas portistas reconhecerem e agradecerem publicamente, os feitos do nosso treinador. Que tem sabido defender-nos dentro e fora de campo, conseguido êxitos na altura mais difícil de que há memória, com ataques ao clube nunca vistos que conseguiram deixar sequelas na SAD , sendo o treinador o principal (ou publicamente, o único) a dar o peito às balas. Em defesa da sua equipa, da NOSSA equipa, do nosso clube. E porque não reconheço na prole portista a ingratidão, para quando uma demonstração explicita de reconhecimento, apoio ao treinador, nas bancadas do Dragão?

Repetindo-me mais uma vez na minha convicção de inicio de época, “definitivamente o verdadeiro desafio de Jesualdo e seus pupilos, é o Europeu”. Acrescento, não me tem decepcionado.

E por último, eleger para mim o que foi o melhor jogador em campo. Escolha difícil? Não, nem por isso. O colectivo dos onze jogadores já tive oportunidade de opinar que me pareceu muito bem, pelo que o meu melhor em campo, foi mesmo o 12º Jogador. Nas bancadas, no apoio incondicional todos os 90 minutos, na pressão ao adversário, os adeptos foram incansáveis. Tendo que assistir em casa, senti-me bem representado por quem se deslocou ao Estádio!

E agora Roma, ali, cada vez mais perto...

Porque há coisas que nunca cansam. Porque nos habituamos a contar e enfrentar com adversidades acrescidas, mesmo que nos sejam impostas por “outros meios”, recordamos: Monsieur Platini, estamos AQUI!