30 abril, 2010

ARTUR JORGE

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Numa altura em que tanto se especula sobre o próximo treinador do Porto, vou recordar aquele que é, para mim, uma das maiores referências como treinador e que ajudou a transformar de uma forma decisiva o F.C. Porto no grande clube mundial de hoje. Como treinador do Porto, além do título de Campeão Europeu brilhantemente conquistado no Estádio do Prater em Viena contra o Bayern, venceu ainda 3 campeonatos nacionais, 1 Taça de Portugal e 3 Supertaças Nacionais.

Artur Jorge de Braga Melo Teixeira, nasceu na freguesia da Sé, no Porto, a 13 de Fevereiro de 1946 e desde cedo começou a demonstrar um enorme talento para o desporto. Apesar de vários apelos do basquetebol e do voleibol resolveu jogar futebol e, para isso, fundou um clube: o Centro Académico Futebol Clube. Pouco tempo depois vai para o Académico do Porto onde encontra Pedroto que, sendo treinador do Porto, o leva, aos 16 anos para o Futebol Clube do Porto. Com a camisola azul e branca conquista o Campeonato Nacional de Juniores e é chamado para a equipa principal do Porto aos 18 anos mas uma grave lesão leva-o a uma longa paragem.

Artur Jorge entendia que os estudos eram fundamentais e, por isso, vai para Coimbra onde consegue conciliar o futebol e os estudos, tornando-se peça fundamental da Académica. Em 1969, cumpria serviço militar e foi impedido pela PIDE de estar presente na Final da Taça pela Académica (era úm dos jogadores mais importantes e o goleador principal) contra o Benfica (já nessa altura usava "esquemas" para facilitar as suas conquistas). Curiosamente (ou talvez não) transfere-se para os vermelhos onde conquista por 2 vezes o título de melhor marcador. Segue-se o Belenenses onde uma grave lesão o leva terminar a carreira.

Já formado em "Germânicas", entende que Portugal não lhe consegue proporcionar as melhores condições para a sua evolução como treinador e vai para Leipzig, na RDA, frequentar durante vários meses um curso de Futebol que conclui com a nota máxima. Visto com desconfiança pelos seus pares em virtude do seu gosto pelas letras regressa a Portugal e Pedroto convida-o para a integrar a sua equipa técnica no Porto. No entanto, o Porto falha a conquista do tri-campeonato e Pedroto deixa o clube em litígio com o então presidente Américo de Sá assinando pelo Guimarães e mantendo o convite a Artur Jorge. Depois dessa experiência com Pedroto, assume o seu primeiro trabalho como técnico principal do Belenenses donde sai por motivos financeiros a meio da época. A meio da época seguinte, toma conta do Portimonense em último lugar e leva-o até ao 6º lugar final mantendo-se no clube na época seguinte. Depois de um ano e mais uma aposta na sua qualificação profissional, ingressa então no Porto. Terá sido mesmo José Maria Pedroto, já gravemente doente e antes da Final de Basileia, a aconselhar Pinto da Costa a contratar Artur Jorge.

A sua primeira época no Porto (1984/85) é muito boa com o Porto a praticar um futebol excelente e a recuperar o título que fugia desde 1979. Apesar de perder Pacheco e Sousa para o Sporting e ter ido buscar em retaliação ao mesmo Sporting um "desconhecido" Paulo Futre mais André ao Varzim e Quim ao Rio Ave, Artur Jorge forma uma equipa de combate com as mais valias Futre e Gomes. Essa época tem o seu ponto mais negro na eliminação na 1ª eliminatória da Taça das Taças perante um desconhecido Wrexham da IV Divisão inglesa numa noite de temporal (onde estive presente) em pleno estádio das Antas onde o Porto venceu por 4-3 depois de ter perdido 0-1 no País de Gales muito por causa do castigo a Zé Beto em consequência das suas atitudes na final da Taça das Taças perdida para a Juventus. O Porto contratou o sérvio Peter Borota ao Boavista para jogar na Taça das Taças e este tornou-se no carrasco nesse jogo de má memória jogado debaixo de chuva e vento fortes.

Na época seguinte o Porto volta a ser campeão mas só na penúltima jornada consegue passar para a frente beneficiando da derrota do Benfica com o Sporting em casa e de uma vitória muito feliz por 1-0 no Bonfim contra o Setúbal com um fantástico golo de Futre que pegou na bola ainda no meio campo do Porto e fintou todos os adversários que lhe apareceram no caminho. Foi uma época muito difícil e, por isso, o bi-campeonato foi efusivamente festejado.

Na época 86/87 as competições internas voltam a não correr bem mas o Porto de Artur Jorge consegue tornar-se Campeão Europeu depois de uma caminhada irrepreensível com apenas uma derrota (Vitkovice 1-0, em Ostrava), um empate (Brondby 1-1, na Dinamarca) e 7 vitórias. Entre essas vitórias esteve a da final de Viena com Madjer e Juary a marcarem os golos decisivos e onde Artur Jorge teve um papel decisivo quer com as substituições operadas quer com a palestra ao intervalo para desinibir os jogadores. Foi a consagração definitiva do treinador-poeta.

Depois do título europeu não resistiu aos apelos do futebol francês e assumiu o comando do Matra Racing onde se manteve durante duas épocas. Regressa ao Porto a meio da época 88/89 para voltar a ser campeão na época seguinte. Nessa época de 89/90, Artur Jorge constrói uma nova equipa assente em jogadores como Vitor Baía (bate o recorde de inviolabilidade da baliza), João Pinto e Domingos Paciência entre outros que viriam a ser fundamentais para a reconquista do título e para torna o Porto como o clube dominador em Portugal. No fim dessa época volta a sair para o futebol francês (PSG) onde é campeão e vence uma taça de França passando a ser conhecido em Paris por "Le Roi". Depois passou por outros clubes "menores" e pelas selecções da Suíça, Portugal e Camarões mas sem grande sucesso.

Artur Jorge é um treinador que eu admiro profundamente. Para além de uma pessoa extremamente culta era um treinador que estudava os adversários como ninguém (talvez Mourinho tenha essa capacidade) lia muito bem o jogo e era exigente com os jogadores. Depois das suas saídas do Porto nunca se lhe ouviu uma palavra contra o clube (nem quando treinou os vermelhos) antes pelo contrário. Mostrou sempre um grande respeito para com o Porto e foi sempre muito bem recebido no Dragão. Um grande treinador!

8 comentários:

  1. Dragão 66:

    "Artur Jorge é um treinador que eu admiro profundamente"

    Disseste tudo, meu caro.

    Estamos em sintonia. O REI ARTUR é uma referência para mim. Uma referência histórica.

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  2. Carissimo 66 foi com muito prazer que acabei de ler o que escreveu sobre um grande Treinador que passou pelo nosso clube.

    Gostei do seu pontapé de calcanhar quando diz "Depois passou por outros clubes "menores"...", muito me ri com esta.

    Lembrou uma noite que é bom nem lembrar tinhamos perdido por 1-0 contra aqueles pseudo-Ingleses e depois em casa começamos logo a ganhar 3-0 ainda não tinha acabado a primeira parte, depois claro veio o One men show, Borota quem mais, só fiquei com pena da malta como o Dragão66, do meu Pai e quem lá esteve que foram brindados com uma noite que só faltou cair granizo.

    Deixo só uma achega para a malta mais nova que a nossa caminhada até à final da Taça dos Campeões Europeus arrumamos o Brondby que na altura era uma excelente equipa, depois passamos o Teste de Kiev que na altura era uma das melhores equipas da Europa e claro derrotar o Bayern que contava com Rummenigge e Mathaus e antes do jogo começar já eram Campeões, lá teve que o FC Porto coloca-los no lugar e vencer a prova.

    Dragão66 agora a título de curiosidade não foi o Artur Jorge que ao fazer uma substituição o jogador que entrou não corria e passado 15 minutos ele tirou-o, é que muita gente conta isto e eu muito sinceramente não me lembro de tal.

    Um grande Abraço.

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  3. Meu caro Antas, essa da substituição confesso que não me lembro. Já em relação ao Brondby tinha na altura na baliza um "desconhecido" Peter Schmeichel e quanto ao Dinamo de Kiev era efectivamente considerada a melhor equipa da Europa e era treinada por esse "monstro" do futebol russo e europeu Valeri Lobanovski. Na primeira mão foi um jogão com o Porto a adiantar-se até aos 2-0 e o Dinamo a responder para 2-1. Na 2ª mão, disputada às 2 da tarde de Portugal (havia aulas na faculdade mas ficaram desertas) o Porto aos ao minutos arruma com o jogo e ganha já por 2-0 mas o Dinamo reduz logo a seguir e o restante jogo foi quase de sentido único para a nossa baliza mas aguentámo-nos e foi mais um grande festejo.

    Mas o começo da caminhada foi em Vila do Conde no, nessa altura, novo Estádio dos Arcos à tarde (lá foram as aulas ao ar outra vez) onde o Porto goleou de forma irresistível os malteses por 9-0. Estive em todos os jogos dessa campanha em casa e só não fui a Viena porque me faltou o "cacau".

    Artur Jorge será, para mim, o grande "Rei Artur" ou o "Treinador Poeta" que mudou este clube que eu tanto gosto. O único erro dele foi, um dia, ter ido treinar um clube dos Manhosos e Delgados que nunca lhe perdoaram ter sido Campeão Europeu pelo Porto. Ainda hoje podia ser uma alternativa válida a Jesualdo Ferreira.

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  4. E o que é que ganhou essa 'melhor' equipa da Europa...?!

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  5. artnis não sei se isso é ironia ou desconhecimento mas seja qual for merece que lhe responda.

    Vou só contar desde que 1973 até 1990 o período mais feliz de Lobanovsky 5 Ligas da União Soviética onde não era fácul competir, 3 Taças da URSS, e conquistou 3 competições europeias.

    Ganhou 2 vezes a Taça das Taças e tem uma Supertaça.

    Dentro de outro curriculum que fazia desta equipa uma equipa que jogava futebol e tinha 2 super pontas de Lança de nome Blokhin e Belanov que só não tiveram uma carreira no estrangeiro cheia de alegrias porque na altura havia uma data de restrições ao uso de estrangeiros e o bloco Sovietico não permitia saídas dos jogadores.

    Era uma equipa que chegava com facilidade ás meias finais da Taça dos Campeões Europeus e aos Quartos de final.

    Pode não ser um super curriculum mas na altura jogava um super futebol e tinha muita força. Além que jogar para lá da Cortina de Ferro em Kiev não era Pêra Doce.

    Eu nasci a ver clubes como Estrela Vermelha, Sparta de Praga , Dinamo de Bucarest, Hidjuck split, Dinamo Zagrev, punham em sentido equipas como Real Madrid, Barcelona, Milan, Ajax, Bayern,etc etc etc.

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  6. essa "situação" da substituição não se refere ao Rui Águas?
    penso que foi no único jogo em que alinhou pelo FCP contra o "seu" SLB...

    saudações PENTACAMPEÃS!

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  7. Resposta ao Artnis e ao Penta:

    Ao Artnis, só para dizer que o Dinamo de Kiev dava habitualmente 12 (doze!) jogadores para a selecção da União Soviética, os onze titulares e o guarda-redes suplente. No ano anterior tinha vencido a Taça das Taças e tinha sido considerada a melhor equipa da Europa por duas revistas francesas. O Porto venceu a 1ª mão por 2-1, com dificuldades e o Rei Artur mostrou o que é um grande treinador: na 2ª mão, quando todos pensavam que o Porto ia para defender, ele começou a defender muito alto e a contra-atacar logo com muitos jogadores, surpreendendo os da casa! Aos 16 minutos, o Porto fazia 0-2, com golos de Fernando Gomes e Celso e tinha a eliminatória no bolso!
    Quanto à substituição de um jogador não me recordo nada! E o Rui Águas, nas duas épocas foi sempre um excelente jogador e já o ouvi dizer que foram as melhores da vida dele apesar de ser benfiquista!
    Parabéns ao autor do artigo por trazer aqui a figura do Artur Jorge!

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  8. A respeito deste post, lembro-me bastante bem do livre do Celso (salvo erro) lá em Kiev, quando a barreira ainda estava em formação. Talvez seja a primeira recordação que tenho do FCP, (esta e uma outra com o Vermelhinho que é expuslo talvez em 2 minutos, 1º por uma falta que fez, depois na marcação do livre, ter feito barreira e ter apanhado a bola com a mão).

    Penso que o post, tem uma pequena incorrecção, que é a inviolabilidade protagonizada pelo Vitor Baía, que ainda perdura, esta foi conseguida na época 91/92, sob o comando do CAS, sendo o recorde sido parado por um penalty marcado pelo Paulo Bento, num jogo em Guimarães, em que empatamos por 1-1. Penso que o nosso golo foi marcado pelo Jorge Andrade, mas se alguém se recordar melhor, que confirme.

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