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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto
Capítulo 5: 1941 a 1950 – O centralismo da capital e o jejum (Parte VI)
Época 1946-1947
O último Campeonato do Porto
Em Setembro de 1946, o FC Porto arrancava para o Campeonato do Porto com uma estrondosa vitória ante o Salgueiros, por 18-0!
Comentário da “Stadium”: “A vitória do FC Porto, embora expressiva, não pode tomar-se como denúncia de comprovado valor. A equipa do Salgueiros nunca existiu, o seu guarda-redes foi fraquinho e o ataque nem por momentos embaraçou a defesa contrária. Era o gato a brincar com o rato... Os campeões portuenses principiaram em velocidade, mas abrandaram à medida que o tempo passava e os tentos foram aparecendo com a maior das naturalidades. Brilharam, entretanto, alguns jogadores do FC Porto, muito especialmente Araújo, Sanfins, Lourenço e Romão. No posto de interior-esquerdo reapareceu o pequeno Falcão. Preenche o lugar. Catolino ainda não tem o pé afinado, Alfredo Pais está a adaptar-se muito bem, Anjos conhece o lugar e o trio defensivo... assistiu ao jogo”.
Com a competição organizada pela Associação de Futebol do Porto chegando ao fim na época de 1946-47, o FC Porto venceu o Campeonato do Porto pela 30.ª vez no seu historial, ao longo de 34 anos. Era o ponto final nos campeonatos regionais. Uma vitória dos que lutaram para que vingasse a tese de que estes campeonatos eram um dos estorvos ao desenvolvimento do futebol português. E teriam razão…
1946 – Formação de uma grande equipa de Ciclismo
João Rodrigues, o dirigente portista que, em 1945, muito contribuiu para a criação da secção de Ciclismo, estava decidido a formar uma grande equipa. Em 1946 ingressaram no FC Porto ciclistas que se revelariam excepcionais campeões: Fernando Moreira, Onofre Tavares, Moreira de Sá e Dias dos Santos.
O ciclista... goleador
Apesar do magote de golos ao Salgueiros, o FC Porto assumia crise de avançados, de tal forma que o seu ciclista Fernando Moreira, então o maior ídolo do Norte nas corridas de bicicletas, se treinou como avançado-centro na Constituição, tendo mesmo ficha à frente para assinar. Não se sabe se a chutar teria êxito; a pedalar teve-o…
• Vitória sobre o Benfica
No arranque para o Campeonato Nacional, no Estádio do Lima, vitória sobre o Benfica, por 3-2.
Os jornalistas do Porto chamavam a atenção para o facto de Correia Dias denotar peso excessivo e que isso se devia a não treinar regularmente. Mais adiantavam que quase todos os dias o dianteiro do FC Porto ameaçava deixar de jogar pois queria dedicar-se, por inteiro, à sua vida profissional (era sócio da firma armazenista Correia Dias & Filhos, de Ovar, sua terra natal).
• Vitória ante o Belenenses; de volta a magia de Szabo?
Nas Salésias (Lisboa), regresso de Catolino a extremo-esquerdo. E vitória sobre o Belenenses por 2-0. Os adeptos portistas já falavam, outra vez, da magia de Szabo.
• A primeira derrota
Depois do Natal, a primeira derrota no Campeonato. No Lumiar, frente ao Sporting, 2-3. Os portistas estiveram a vencer por 2-1, acabando por sofrer o golo da derrota à beira dos 90 minutos!
• A derrapagem
Já em Março de 1947, o FC Porto, em incontrolável derrapagem, empatou na 11.ª jornada do “Nacional” da I Divisão, com o Famalicão, no Lima, a três golos, descendo para o terceiro lugar, a um ponto do Benfica e a sete do Sporting. No final do mês a queda para o 4.º lugar, após derrota, no Campo Grande, por 4-0, frente ao Benfica, em partida em que a estrela da tarde foi... Barrigana.
• A atroz sangria!
Com a equipa do FC Porto em decréscimo de rendimento, escrevia-se na “Stadium”: "Na verdade, desde que o FC Porto, de um só golpe, se viu privado de uma série de bons jogadores, nunca mais conquistou lugares distintos no futebol. O desgaste foi terrível: Acácio Mesquita, Carlos Pereira, Costuras, Bela Andrasik, Carlos Nunes, Kordrnya, Petrack — todos de enfiada. Depois, o grande Pinga. Ainda Manuel dos Anjos (Pocas), que atingiu o limite das suas forças. E, por último, a ausência temporária de Correia Dias e o abandono de Gomes da Costa. Tudo junto, em poucos anos, contribuiu para eliminar a força do "team", criando à sua volta uma atmosfera de descrença inevitável.
As gerências que têm sido chamadas a orientar os destinos do primeiro clube portuense não tiveram ainda a sorte do seu lado, de modo que as equipas de futebol do clube têm baixado de categoria, a despeito de no princípio desta época se haver julgado o contrário”.
• Os 5 golos do futuro ministro
Diógenes Boavida, angolano que estudava Medicina no Porto (e haveria de tornar-se ministro da Justiça no primeiro governo de Angola, presidido por Agostinho Neto) não conseguia, para espanto de muita gente, lugar na equipa, mas lutava e incitava os colegas a batalhar. De quando em vez fazia das suas: como por exemplo na partida do Campeonato Nacional com o Vitória de Setúbal, que o FC Porto venceu por 5-0, em que Boavida marcou... os cinco golos!
• À moda de Lisboa…
Na época 1946-47, o FC Porto acabaria por ficar em terceiro lugar, com os mesmos pontos do Belenenses e do Estoril (33), a oito do Benfica e a 14 do Sporting! Mas foi preciso protesto para que o 3.º lugar fosse atribuído ao FC Porto, já que, inicialmente, a Federação, fazendo tábua rasa do resultado dos jogos entre os três, relegou os portistas para o quinto lugar, atrás do Estoril e do Belenenses. Era assim... à moda de Lisboa!
18 Mai.1947 – Escritura de promessa de compra dos terrenos das Antas
Numa célebre e polémica Assembleia-geral, Cesário Bonito, presidente do FC Porto, anunciou a escritura de promessa de compra dos terrenos das Antas, na antiga Quinta de Salgueiros, com 48 mil metros quadrados. O clube entregou 50 contos de sinal e princípio de pagamento, ficando o preço do negócio combinado em 1.440 contos.
Em Novembro, a Direcção informaria, também em Assembleia-geral, que os terrenos da Vilarinha tinham sido vendidos à Câmara Municipal do Porto por 1.440 contos, quantia essa que se destinava à compra dos terrenos das Antas. A edilidade ofereceria 600 contos para as obras.
Entre os adeptos não havia consenso sobre a localização do futuro estádio. Muitos defendiam a sua construção próximo à Avenida da Boavista. Cesário Bonito levou a sua avante, ficando eternamente ligado à edificação do Estádio das Antas, cenário de tantas e gloriosas vitórias do FC Porto.
A escritura definitiva de compra dos terrenos havia de se efectivar em 1948, já sob a presidência de Júlio Ribeiro Campos. O Estádio seria inaugurado em Maio de 1952 com Urgel Horta a liderar o clube.
Jul.1947, FC Porto 0 – Vasco da Gama 2: o FC Porto defrontou os brasileiros do Vasco da Gama que venceram o jogo. Se o propósito dos dirigentes era ganhar dinheiro que aforrasse os bolsos, as contas saíram-lhes defraudadas já que o Estádio do Lima não apresentou a enchente que se esperava e as despesas de organização ascenderam a 350 contos. Só o Académico, proprietário do recinto, recebeu 20 contos, referentes a 5% da receita líquida que continuava a cobrar pela cedência. Dolorosa realidade que o FC Porto enfrentava, confrontando-se com a incontornável necessidade do campo próprio.
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto
Capítulo 5: 1941 a 1950 – O centralismo da capital e o jejum (Parte VI)
Época 1946-1947
O último Campeonato do Porto
Em Setembro de 1946, o FC Porto arrancava para o Campeonato do Porto com uma estrondosa vitória ante o Salgueiros, por 18-0!
Comentário da “Stadium”: “A vitória do FC Porto, embora expressiva, não pode tomar-se como denúncia de comprovado valor. A equipa do Salgueiros nunca existiu, o seu guarda-redes foi fraquinho e o ataque nem por momentos embaraçou a defesa contrária. Era o gato a brincar com o rato... Os campeões portuenses principiaram em velocidade, mas abrandaram à medida que o tempo passava e os tentos foram aparecendo com a maior das naturalidades. Brilharam, entretanto, alguns jogadores do FC Porto, muito especialmente Araújo, Sanfins, Lourenço e Romão. No posto de interior-esquerdo reapareceu o pequeno Falcão. Preenche o lugar. Catolino ainda não tem o pé afinado, Alfredo Pais está a adaptar-se muito bem, Anjos conhece o lugar e o trio defensivo... assistiu ao jogo”.
Com a competição organizada pela Associação de Futebol do Porto chegando ao fim na época de 1946-47, o FC Porto venceu o Campeonato do Porto pela 30.ª vez no seu historial, ao longo de 34 anos. Era o ponto final nos campeonatos regionais. Uma vitória dos que lutaram para que vingasse a tese de que estes campeonatos eram um dos estorvos ao desenvolvimento do futebol português. E teriam razão…
1946 – Formação de uma grande equipa de Ciclismo
João Rodrigues, o dirigente portista que, em 1945, muito contribuiu para a criação da secção de Ciclismo, estava decidido a formar uma grande equipa. Em 1946 ingressaram no FC Porto ciclistas que se revelariam excepcionais campeões: Fernando Moreira, Onofre Tavares, Moreira de Sá e Dias dos Santos.
O ciclista... goleador
Apesar do magote de golos ao Salgueiros, o FC Porto assumia crise de avançados, de tal forma que o seu ciclista Fernando Moreira, então o maior ídolo do Norte nas corridas de bicicletas, se treinou como avançado-centro na Constituição, tendo mesmo ficha à frente para assinar. Não se sabe se a chutar teria êxito; a pedalar teve-o…
• Vitória sobre o Benfica
No arranque para o Campeonato Nacional, no Estádio do Lima, vitória sobre o Benfica, por 3-2.
Os jornalistas do Porto chamavam a atenção para o facto de Correia Dias denotar peso excessivo e que isso se devia a não treinar regularmente. Mais adiantavam que quase todos os dias o dianteiro do FC Porto ameaçava deixar de jogar pois queria dedicar-se, por inteiro, à sua vida profissional (era sócio da firma armazenista Correia Dias & Filhos, de Ovar, sua terra natal).
• Vitória ante o Belenenses; de volta a magia de Szabo?
Nas Salésias (Lisboa), regresso de Catolino a extremo-esquerdo. E vitória sobre o Belenenses por 2-0. Os adeptos portistas já falavam, outra vez, da magia de Szabo.
• A primeira derrota
Depois do Natal, a primeira derrota no Campeonato. No Lumiar, frente ao Sporting, 2-3. Os portistas estiveram a vencer por 2-1, acabando por sofrer o golo da derrota à beira dos 90 minutos!
• A derrapagem
Já em Março de 1947, o FC Porto, em incontrolável derrapagem, empatou na 11.ª jornada do “Nacional” da I Divisão, com o Famalicão, no Lima, a três golos, descendo para o terceiro lugar, a um ponto do Benfica e a sete do Sporting. No final do mês a queda para o 4.º lugar, após derrota, no Campo Grande, por 4-0, frente ao Benfica, em partida em que a estrela da tarde foi... Barrigana.
• A atroz sangria!
Com a equipa do FC Porto em decréscimo de rendimento, escrevia-se na “Stadium”: "Na verdade, desde que o FC Porto, de um só golpe, se viu privado de uma série de bons jogadores, nunca mais conquistou lugares distintos no futebol. O desgaste foi terrível: Acácio Mesquita, Carlos Pereira, Costuras, Bela Andrasik, Carlos Nunes, Kordrnya, Petrack — todos de enfiada. Depois, o grande Pinga. Ainda Manuel dos Anjos (Pocas), que atingiu o limite das suas forças. E, por último, a ausência temporária de Correia Dias e o abandono de Gomes da Costa. Tudo junto, em poucos anos, contribuiu para eliminar a força do "team", criando à sua volta uma atmosfera de descrença inevitável.
As gerências que têm sido chamadas a orientar os destinos do primeiro clube portuense não tiveram ainda a sorte do seu lado, de modo que as equipas de futebol do clube têm baixado de categoria, a despeito de no princípio desta época se haver julgado o contrário”.
• Os 5 golos do futuro ministro
Diógenes Boavida, angolano que estudava Medicina no Porto (e haveria de tornar-se ministro da Justiça no primeiro governo de Angola, presidido por Agostinho Neto) não conseguia, para espanto de muita gente, lugar na equipa, mas lutava e incitava os colegas a batalhar. De quando em vez fazia das suas: como por exemplo na partida do Campeonato Nacional com o Vitória de Setúbal, que o FC Porto venceu por 5-0, em que Boavida marcou... os cinco golos!
• À moda de Lisboa…
Na época 1946-47, o FC Porto acabaria por ficar em terceiro lugar, com os mesmos pontos do Belenenses e do Estoril (33), a oito do Benfica e a 14 do Sporting! Mas foi preciso protesto para que o 3.º lugar fosse atribuído ao FC Porto, já que, inicialmente, a Federação, fazendo tábua rasa do resultado dos jogos entre os três, relegou os portistas para o quinto lugar, atrás do Estoril e do Belenenses. Era assim... à moda de Lisboa!
18 Mai.1947 – Escritura de promessa de compra dos terrenos das Antas
Numa célebre e polémica Assembleia-geral, Cesário Bonito, presidente do FC Porto, anunciou a escritura de promessa de compra dos terrenos das Antas, na antiga Quinta de Salgueiros, com 48 mil metros quadrados. O clube entregou 50 contos de sinal e princípio de pagamento, ficando o preço do negócio combinado em 1.440 contos.
Em Novembro, a Direcção informaria, também em Assembleia-geral, que os terrenos da Vilarinha tinham sido vendidos à Câmara Municipal do Porto por 1.440 contos, quantia essa que se destinava à compra dos terrenos das Antas. A edilidade ofereceria 600 contos para as obras.
Entre os adeptos não havia consenso sobre a localização do futuro estádio. Muitos defendiam a sua construção próximo à Avenida da Boavista. Cesário Bonito levou a sua avante, ficando eternamente ligado à edificação do Estádio das Antas, cenário de tantas e gloriosas vitórias do FC Porto.
A escritura definitiva de compra dos terrenos havia de se efectivar em 1948, já sob a presidência de Júlio Ribeiro Campos. O Estádio seria inaugurado em Maio de 1952 com Urgel Horta a liderar o clube.
Jul.1947, FC Porto 0 – Vasco da Gama 2: o FC Porto defrontou os brasileiros do Vasco da Gama que venceram o jogo. Se o propósito dos dirigentes era ganhar dinheiro que aforrasse os bolsos, as contas saíram-lhes defraudadas já que o Estádio do Lima não apresentou a enchente que se esperava e as despesas de organização ascenderam a 350 contos. Só o Académico, proprietário do recinto, recebeu 20 contos, referentes a 5% da receita líquida que continuava a cobrar pela cedência. Dolorosa realidade que o FC Porto enfrentava, confrontando-se com a incontornável necessidade do campo próprio.
- No próximo post.: Capítulo 5, 1941 a 1950 – O centralismo da capital e o jejum (Parte VII) – Época 1946-47 (continuação); Andebol, 8 títulos em 9 anos!; Henrique Fabião; Barrigana disse não ao Vasco da Gama e ao Benfica; época 1947-48; o argentino Eladio Vaschetto, novo treinador; espectacular vitória em Valência; a morte de Miguel Siska; Campeonato Nacional.
venha de lá o px post com histórias sobre andebol;)
ResponderEliminare sobre este:
Na época 1946-47, o FC Porto acabaria por ficar em terceiro lugar, com os mesmos pontos do Belenenses e do Estoril (33), a oito do Benfica e a 14 do Sporting! Mas foi preciso protesto para que o 3.º lugar fosse atribuído ao FC Porto, já que, inicialmente, a Federação, fazendo tábua rasa do resultado dos jogos entre os três, relegou os portistas para o quinto lugar, atrás do Estoril e do Belenenses. Era assim... à moda de Lisboa!"
Ontem como hoje, tudo igual!
abraço
Já ia fechar o computador, por as horas já irem adiantadas, mas porque descobri o post, tratei logo de o ler e apreciar, de enfiada.
ResponderEliminarIsto continua a estar de mais, melhor que bom, óptimo. Que mais posso dizer, a não ser que mal acabo de ler isto e já estou a esperar por mais.
Abraço.
Em mais uma bela página, retive... «Os campeões portuenses principiaram em velocidade, mas abrandaram à medida que o tempo passava e os tentos foram aparecendo com a maior das naturalidades.», dos 18 a 0 ao Salgueiros. Quer dizer, senão temos abrandado, levariam quantos?
ResponderEliminarE Correia Dias estava gordo. Estaria mesmo gordo ou seria como o Walter, que parece sempre gordo, mesmo quando está no peso ideal?
Abraço
Como tu nos ensinas! De facto, mais uma bela página. É um orgulho para mim que portistas ilustres como Armando Pinto, Vila Pouca, Lucho e outros reconheçam o mérito da tua obra. Parabéns, meu querido Papá.
ResponderEliminarObrigada por me teres feito portista. Obrigada por tudo.
Beijinhos.
BIBA, BIBA e BIBA, Bibó POOOORTO!
Medalha de mérito e dedicação a este historiador FMoreira, nesta causa que sendo de todos nós, a vida e a história do (nosso) fcPORTO, é dele o grande e enorme mérito em manter de pé, e sempre em altíssimo nível, a categoria desta rubrica.
ResponderEliminaras coisas, a quantidade delas que tenho aprendido com estes (teus) pedacinhos da nossa história.
Obrigado, obrigado, obrigado!!!
Um abraço a todos adoro este blog ....queria sem ter a certeza mas também porque já li algures que este Boavida que marcou os cinco golos ao Setúbal éra o americo Boavida que jogou no porto em 45/46 e 46/47 mais tarde foi medico de renome em angola irmão do Diógenes Boavida que também jogou no porto em 47/48 e que foi ministro de angola um abraço a todos
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