26 outubro, 2011

Capítulo 5: 1941 a 1950 – O centralismo da capital e o jejum (Parte VIII)

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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto


Capítulo 5: 1941 a 1950 – O centralismo da capital e o jejum (Parte VIII)

Época 1947-48 (Continuação)

6 de Maio de 1948 - Um jogo deslumbrante do FC Porto, vitória que assombrou o mundo!
• A 6 de Maio de 1948, o futebol portista conheceu uma jornada histórica com cenário no Estádio do Lima. Vitória do FC Porto sobre a melhor equipa do Mundo, o Arsenal de Londres (campeão de Inglaterra), que, dias antes, no Estádio Nacional, tinha massacrado o Benfica com um contundente 4-0. Consta que na capital disseram a membros do Arsenal: "se aqui venceram por 4-0, no Porto vencerão por mais. O FC Porto só tem um jogador importante, o Araújo".
• Para o jogo, rodeado de enorme expectativa, os bilhetes custavam 80 escudos. Para irem ao Estádio do Lima os portuenses vestiram os seus melhores fatos e muitas senhoras sentaram-se nas bancadas como se estivessem na ópera.
Os londrinos, claramente favoritos, eram considerados os magos da bola, a melhor equipa do planeta, treinada por Tom Whittaker e capitaneada por Joe Mercer. Vinham de uma digressão totalmente vitoriosa na Europa. Além disso, ainda estava na memória de todos a goleada de 10-0 imposta pela selecção inglesa à portuguesa, em Maio do ano anterior. Assinale-se que os jogadores do Arsenal eram a “espinha dorsal” do seleccionado britânico. …E os 4-0 com que o Arsenal despachou o Benfica.
Quando se esperava que os azuis-e-brancos tivessem o mesmo destino do SLB, presentearam os seus adeptos com uma exibição memorável.
• Comandada pelo argentino Eladio Vaschetto, a equipa portista alinhou com:
Frederico Barrigana; Alfredo Pais, Francisco, Virgílio, Romão, Joaquim, Lourenço, Araújo (9’), Correia Dias (18’ e 20’), Gastão e Catolino.

• Aos oito minutos, instantes antes de Araújo marcar o 1.º golo, Quádrio Raposo, locutor da Emissora Nacional, anunciava: “Araújo tem nada menos de três ingleses à sua volta!”.
9 minutos, 1-0 por Araújo – Solto, Gastão abriu para Joaquim que endossou a bola a Araújo. Este, a cerca de 30 metros da baliza adversária, disparou fazendo a bola entrar no ângulo superior esquerdo depois de tabelar no poste. Um extraordinário golo!
• Aos 30 minutos, e para espanto de todos, o FC Porto vencia por 3-0, com mais dois golos do possante Correia Dias (um avançado-centro que pesava mais de 100 quilos), a passes de Araújo.
18 minutos, 2-0 por Correia Dias – Joaquim fez um passe em profundidade para Lourenço que encaminhou a bola para Araújo. Com um leve toque, Araújo colocou a bola em Correia Dias. Num ápice o possante avançado rematou a meia altura sem possibilidades de defesa para o guardião inglês.
20 minutos, 3-0 por Correia Dias – Com uma triangulação esmerada entre Gastão, Joaquim e Araújo, a defesa britânica é ludibriada. No momento preciso o passe e uma recepção perfeita de Correia Dias que, inapelavelmente, marca o golo.

• Os arsenalistas tentaram, com denodo, inverter a resultado. Até ao término do jogo, a resistência foi heróica perante a avalanche britânica e os jogadores portistas recompensados com uma sensacional vitória final por 3-2!

• Araújo, com mais uma extraordinária exibição, um grande golo, o melhor jogador em campo, tinha deslumbrado os ingleses e o futebol do "Velho Continente".
• Outro dos heróis do jogo foi o guarda-redes do FC Porto, Frederico Barrigana.
• Em “A BOLA” escreveu-se: “Meia hora de futebol diabólico destroçou a equipa londrina”.

Troféu Arsenal – Um dos mais valiosos troféus da Sala-Museu do FC Porto
Concebido na Ourivesaria Aliança, após traço dos escultores Marinho Brito e Albano França, foi oferecido ao clube pelos adeptos para comemorar a vitória do FC Porto sobre o Arsenal de Londres, campeão de Inglaterra, cuja equipa era tida como a melhor do mundo. É justo que se destaquem os nomes dos homens que desencadearam a subscrição pública para compra do magnífico troféu: Eduardo Soares, José Moreira, Ivo Araújo, Manuel Ferreira, Elói da Silva e Torcato Plácido.
O troféu pesa cerca de 300 quilos, 130 dos quais de prata maciça, e na sua concepção foram utilizados - além da prata - ouro, esmalte, cristal, madeira fina e veludo. Terá custado mais de 200 contos. Uma fortuna imensa para a época! Um troféu imponente a condizer com uma imponente vitória!
Do troféu faz parte um relicário, pesando 120 quilos e com 2,80 metros de altura. Espécie de caixa assente em quatro dragões de prata e com quatro portas de cristal, o relicário é rematado com um grupo escultório que inclui uma figura de atleta, de joelho em terra, dominando um leão, que tem uma bola junto dele. Na mão direita, o atleta ergue um facho, no espaço. Na mão esquerda segura a bandeira do FC Porto. Por detrás, dominando toda a peça, a figura da vitória.
Dentro do relicário, o troféu propriamente dito totalmente em prata e constituído por três figuras esculturais de mulher, erguendo-se nas pontas dos pés, segurando a taça, circundada por três dragões dominados por três atletas que procuram alcançá-la para beberem dela o vinho da vitória.
Um belo e monumental troféu!

Mai.1948 – Júlio Ribeiro Campos sucede a Cesário Bonito na presidência do FC Porto. Cesário ainda assistiu, como presidente, à vitória sobre o Arsenal. Pouco depois, nessa mesma condição, Ribeiro de Campos viu o FC Porto ser eliminado da Taça de Portugal. Mas com ele o basquetebol conquistou o seu primeiro título (2.ª divisão nacional) e a equipa de ciclismo venceu com brilhantismo, individual e colectivamente, a Volta a Portugal em bicicleta. Ainda durante o ano de 1948 contratou o treinador argentino Alejandro Scopelli e assinou a escritura de aquisição dos terrenos das Antas.
Júlio Campos cessou o seu mandato em Mai.1949, contudo iria cumprir outro em 1950.

Nota: há publicações que aludem ao facto de Ribeiro Campos não ter tomado posse para cumprimento deste seu primeiro mandato. Talvez tenha a ver com uma demissão abortada que conheceremos logo a seguir. O sítio do FC Porto confirma-o como sucessor do Dr. Cesário Bonito, pelo que validamos a presidência de Júlio Ribeiro Campos neste período.

Exclusão à 2.ª eliminatória e demissão do Presidente
A 19 de Maio de 1948, o presidente da Direcção do FC Porto, Júlio Ribeiro de Campos, demitiu-se. A equipa de futebol acabara de se quedar pela 2.ª eliminatória da Taça de Portugal, arredada pelo Barreirense, mercê de um golo de Martins.
Na 1.ª eliminatória, os barreirenses protagonizaram um dos casos mais insólitos da história da Taça: ao fim dos 90 minutos estava o Barreirense empatado com o Vitória de Setúbal, a zero, e o árbitro, ignorando que em caso de empate tinha de haver prolongamento, deu o jogo por terminado. Quando atentou no lapso, ou alguém lhe chamou a atenção para a gafe, resolveu recomeçar a partida, mas para isso foi preciso ir buscar à estação da CP os jogadores do Barreiro! Após o prolongamento ainda o 0-0 e, em jogo de desempate, vitória (1-0) para os barreirenses. Que destruiriam, mais uma vez, o sonho portista...

Denúncia de manobras contra o FC Porto
A demissão de Ribeiro de Campos não passou de jogada estratégica para reforço de confiança. E serviu também para, uma vez mais, denunciar as manobras contra o FC Porto em que se empenhavam, mais ou menos discretamente, alguns dos poderes do futebol português. Os sócios reconduziram-no e ele continuou a remar contra a maré...

Fotografia do plantel do FC Porto, em Junho de 1948, numa deslocação à Corunha, Galiza, para disputa do Troféu Teresa Herrera. Na equipa estava o novo “recruta”, Carlos Vieira, integrado para a preparação da época seguinte (1948-49).
Da esquerda para a direita, à frente: Virgílio, Ângelo Faria, Sanfins, Lourenço, Araújo, Correia Dias, Gastão e Catolino; Atrás: Francisco Gonçalves (massagista), Guilhar, Joaquim Machado, Romão, Ângelo Carvalho, Eladio Vaschetto (treinador), Chico, Alfredo, Carlos Vieira, Marques e Barrigana.

Catolino – Adelino Augusto Catolino Monteiro (n. ??), avançado e extremo-esquerdo português, chegou ao FC Porto em tempo de crise de resultados nas competições nacionais. Vinha para ombrear com Correia Dias, o extraordinário ponta-de-lança da equipa. E, com este lesionado, marcou num só jogo 5 golos! Foi na vitória de 9-0, sobre o Salgueiros, na época 1944-45.
• Mas a carreira de Catolino não se revelou tão venturosa como fazia prever. Lesionado durante grande parte da temporada seguinte, quando dado como apto cedo se verificou que a gravidade da lesão havia de condicionar-lhe o desempenho no futuro.
• Todavia esteve em dois momentos brilhantes protagonizados pela equipa azul-e-branca: em 20 Out.1947, o FC Porto bateu espectacularmente o Valência, campeão de Espanha, no seu próprio terreno, por 1-0, graças a golo dele próprio; a 6 Mai.1948, jornada histórica com cenário no Estádio do Lima e vitória do FC Porto (3-2) sobre a melhor equipa do Mundo, o Arsenal de Londres (campeão de Inglaterra), que, dias antes, tinha massacrado o Benfica com um contundente 4-0. Catolino alinhou num conjunto assim formado: Barrigana; Alfredo Pais, Francisco, Virgílio, Romão, Joaquim, Lourenço, Araújo, Correia Dias, Gastão e Catolino. Era treinador o argentino Vaschetto e os golos portistas foram marcados por Araújo e Correia Dias (2).
• Saiu do FC Porto no final da época de 1947-48 e nada se sabe sobre o resto da sua carreira de futebolista.
Carreira no FC Porto
1944-45 a 1947-48
Palmarés
3 Campeonatos do Porto
  • No próximo post.: Capítulo 5, 1941 a 1950 – O centralismo da capital e o jejum (Parte IX) – Biografias de Correia Dias, Araújo e Vaschetto; 1947-48: basquetebol portista triunfa.

8 comentários:

  1. Mais um excelente post sobre a nossa história, e mais uma vez, a remar contra a maré! Felizmente hoje não fazem de nós o que faziam na altura e de certeza que todos os que lutaram, estejam onde estiverem, terão orgulho naquilo que ajudaram a construir!
    Somos Porto.

    Parabéns pela sua magnifica obra Fernando.

    Abraço

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  2. Isto sim, é à Dragão de Ouro, trabalhando com rigor e mestria páginas douradas do Historial grandioso do F. C. Porto.
    Abraço.

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  3. Mais um trabalho exemplar, aquilo a que chamo portismo praticado.
    Portismo pelo F.C.Porto, pela exaltação do F.C.Porto, nas horas boas, mas principalmente nas más.

    Um abraço

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  4. Uma vitória histórica sobre o Arsenal que teve um significado enorme para o clube naqueles tempos.

    Fotos fantásticas e um grande trabalho que merece os nossos maiores elogios mesmo q repetitivos.

    abraço

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  5. manuel moutinho26 outubro, 2011

    Isto é que é ser portista,os verdadeiros dragões que lutavam pelo nosso PORTO,sem estarem sempre a pensar em melhorar os contratos por cada golo que mercavam.
    VIVA O PORTO!

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  6. Com que então “se aqui ganharam por 4, no Porto vencerão por mais”… O velho “paleio” mourisco igual ao de hoje.
    Estupenda vitória que deve ter arregalado os olhos da Europa. Mais um momento histórico nesta bela História que nos contas, Meu Querido Dragão Azul Forte (…com olhos verde-cinzento; davas tudo para os mudares para a cor azul, não é verdade?!).

    Esperamos por mais um pedaço desta epopeia incrível que nos narras. Obrigada, obrigados todos nós.

    Beijinho.
    Bibó POOOOORTO!

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  7. Obrigado a todos.

    Quanto à cor dos olhos: Cristina, nascer de olhos azuis é um dom, mas o maior dom, o supremo dom (tu sabe-lo), é nascer Dragão! Beijo.

    Abraço a todos, do fundo do coração Azul-e-Branco.

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  8. não passo sem ler as aventuras e desventuras de tempos idos da nossa história d'encantar!!!

    força aMIGO, que nunca percas essa vontade de contar estas histórias... da nossa história!!!

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