17 outubro, 2011

Fibra

http://bibo-porto-carago.blogspot.com/


Há alguns dias li o post do Norte sobre a entrevista concedida pelo Presidente a um tipo cujo nome é para mim, desde há muito tempo, sinónimo de asco. Não vi a entrevista, não vejo o canal, e fiquei boquiaberta ao ler aquilo. Não entendo como é possível o nosso Presidente, homem de carácter forte e boa memória, ter dado a essa torpe criatura o privilégio de uma entrevista pessoal, quando nem de uma palavra é digno. Não entendo. Não entendo mesmo. Até me custa dizer mais do que isto sobre este tema. Pura e simplesmente não entendo.

Como não entendo a – também já mencionada pelo Norte – colocação da bandeira daquele clube no nosso estádio no dia do jogo contra eles. O que mudou desde o ano passado? Demonstraram alguma réstia de respeito por nós? De desportivismo? De reconhecimento do nosso mérito? Pelo contrário; continuam a tentar ofender-nos, atacar-nos, deitar-nos abaixo, sempre usando tácticas desprezíveis e muitas vezes ilícitas. E já merecem bandeirinha e boas-vindas? O que é que me escapou?

Toda esta história faz-me lembrar José Maria Pedroto. Há algumas semanas passou na Sporttv uma reportagem interessantíssima sobre o Mestre, e lá pelo meio ficámos a saber que não deixava os jogadores usarem vermelho. Que em alguns treinos usavam coletes da cor do adversário do jogo seguinte, excepto no caso dos clubes vermelhos, pois essa cor não entrava nas Antas. Até a esposa ouvia umas bocas quando vestia um fato que nem sequer era vermelho, apenas debruado a vermelho!


O vermelho é uma cor como outra qualquer e não tem culpa de se ver tão mal associada. Aliás, como o Dragão Azul Forte e o Rui Saraiva podem confirmar, já a tivemos nas nossas camisolas, e orgulho-me disso tanto quanto me orgulho de tudo aquilo que faz parte da história do meu clube. Até consta, em pequenos detalhes, do nosso emblema. Mas a questão não é a cor; é o princípio. Pedroto rejeitava tudo o que estivesse ligado àquele clube, porque sabia o quanto aquela gente nos odiava. O quanto nos prejudicava e o quanto mais nos tentava prejudicar. Dissociava-se tanto deles que nem a cor queria partilhar com eles, em momento algum. Não sei o que diria se ainda por cá andasse hoje, quando até em campo há jogadores do Porto a actuar de chuteiras vermelhas. Ao perto quase parece mais um cor-de-rosa florescente, mas ao longe parece vermelho e não gosto de os ver com elas.

Como não gosto de ver "meo" escrito nas nossas camisolas. Para quem não saiba, a meo é aquela empresa de tv e internet cujos rostos publicitários são um grupelho de ex-comediantes que não fazem senão destilar veneno contra o nosso clube. Mas há pior. A meo é também a empresa que apadrinhou o lançamento do canal dos enc@rnados, que é (ou era) exclusivo da sua grelha, e publicita-o no nosso próprio estádio! Sim, já vi publicidade ao canal dos mouros no Estádio do Dragão, na publicidade luminosa em volta do campo, a par da Real Madrid TV, Chelsea TV e outras do género. A vergonha foi tanta que só comentei em casa, com a minha família, e tentei nem falar muito nisso. Mas hoje estou a pôr o dedo na ferida e não posso deixar de mencionar isto. Já fazer reclame aos canais de clubes estrangeiros não me parecia muito correcto, mas ao canal desse clube? A troco de um bom patrocínio? Pois já o disse neste blog e volto a dizer: o dinheiro não é tudo. Nem mesmo numa empresa que tem que lutar pela sobrevivência num mercado feroz, e muito menos quando a estrutura dessa empresa assenta em grande medida sobre o seu próprio valor simbólico.

E dar o Dragão de Ouro a um treinador que deserta a 10 dias do início da época, depois da equipa feita à sua medida e de juras de amor eterno aos adeptos? Desportivamente não tenho dúvidas que é bem entregue, mas moralmente é um prémio tremendamente injusto, sobretudo numa época em que as três modalidades colectivas foram campeãs e não haveria qualquer dificuldade em encontrar outro treinador merecedor do galardão. O que pretendemos com isto? Dar a outra face?

Sinto no nosso clube um amansar da fibra que sempre nos caracterizou. Vejo um "perdoar e esquecer", vejo um encolher de ombros perante situações que outrora soavam no nosso meio como um toque de alvorada, levando-nos a cerrar fileiras e preparar-nos para o ataque. E vejo pouca preocupação com a defesa do nosso clube, da sua história e dos seus símbolos.

O exemplo cabal disso é o último parágrafo do post do Norte já mencionado: nas modalidades, nova época e mais do mesmo. Não há títulos que nos salvem nem BetClic que nos valha. Sabemos que não há dinheiro para nada, que a crise é geral e tudo o mais, mas num clube como o Porto não tenho dúvidas que se consegue mais e melhor, desde que haja vontade. Não a havendo, a situação arrasta-se naquilo que, se nada mudar, parece ser nada mais nada menos que a morte lenta das nossas modalidades. O atletismo já foi. A natação não merece sequer um espaço próprio. E vamos ver o que acontece se a CMP comprar o Fluvial e encerrar a piscina de Campanhã.

O FC Porto joga basket há 87 anos, tendo, a par do Fluvial e do Académico, feito do Porto a capital nacional da modalidade. Foi aqui, e também graças a nós, que se fundou em 1927 a Federação Portuguesa de Basquetebol, roubada para Lisboa durante o Estado Novo. O andebol existe no nosso clube há 79 anos e é uma das modalidades que mais contribuiu para o nosso palmarés global, em particular na variante de andebol de 11. O hóquei em patins é jogado no FCP há 56 anos, tendo assumido uma veia vitoriosa imparável desde a ascensão de Pinto da Costa à Presidência em 1982. É este o verdadeiro património do clube. Quem o defende?

E estes jogadores, os verdadeiros atletas do amor à camisola "de antigamente", que jogo após jogo deixam tudo em campo apesar da situação estupidamente instável a que estão submetidos, eles que são profissionais daquilo e têm uma vida, uma família, despesas e empréstimos para pagar como todos nós – quem os defende?

Quem me conhece sabe bem que não sou de criticar por criticar, muito menos publicamente. Se critico é porque identifico coisas em que acho que podemos e devemos melhorar. Sou apoiante do Presidente, sempre votei nele e reconheço-lhe uma enorme parte do mérito naquilo que o FC Porto atingiu até hoje. Respeito-o imensamente. E é por isso que esta mensagem é, acima de tudo, para ele. Não creio que venha algum dia a ler este post, mas de qualquer forma aqui fica o que tenho a dizer neste momento. E se há pessoa que compreende o FC Porto com fibra de que sinto tantas saudades, é sem dúvida o nosso Presidente.

8 comentários:

  1. “Mas a questão não é a cor; é o princípio. Pedroto rejeitava tudo o que estivesse ligado àquele clube, porque sabia o quanto aquela gente nos odiava. O quanto nos prejudicava e o quanto mais nos tentava prejudicar.” – é isso Enid, a mim choca-me esta lassidão perante ocorrências que, há não muito tempo, seriam tidas como aberrantes nos areópagos portistas. Escandalosamente aberrantes! Que é que se passa? Levamos uma bofetada e damos a outra face?! Eu não pactuo, não condescendo com quem não tem feito outra coisa se não denegrir a instituição FC Porto, enxovalhando dirigentes, atletas e adeptos. Não permito que gente com um único propósito, derrubar o FC Porto, ainda por cima se ria na nossa cara. Prefiro partir uma perna a ter de passar com as duas por uma passadeira vermelha…

    “E vejo pouca preocupação com a defesa do nosso clube, da sua história e dos seus símbolos” – nem mais, velho problema que se adensa… Talvez seja por isso que a construção do museu vai ser adiada.

    Modalidades: a tua convicção é a minha. As nossas queridas modalidades de pavilhão e a natação estão condenadas à extinção. É uma questão de tempo, para darem lugar ao… futebol de salinha…

    No teu post (excelente como sempre) dizes tudo. E alertas: somos defensores intransigentes do nosso amado Clube e do nosso querido Presidente. Mas, por via disso, somos inflexíveis com os nossos inimigos. Se perdermos esta faculdade deixaremos, a curto prazo, de sermos quem somos. Deixaremos de ser Clube.

    Abraço, Enid. BIBÓ PORTO! SEMPRE!

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  2. Pois é Enid, eu também sou dos que pensam que o dinheiro não é tudo e em nome do dinheiro não se pode matar a paixão, nem perder o carácter, mas somos cada vez menos.

    E estas histórias cheiram todas a dinheiro...

    Cumprimentos

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  3. Ricardo Sousa17 outubro, 2011

    Enid : Sem dúvida que o AVB fez mal , enganou - nos nos nossos sonhos, eu como outros tivemos em Dublin e sonhamos que este ano seria ( será ainda!) como em 2004, mas o nosso clube é enorme e com este dragão de ouro ao AVB demonstrou uma grandeza enorme, ele merece - o e tem uma oportunidade de voltar a fazer as pazes com o povo dele ( sim porque apesar de ter sido um vendido , é um dragão!).

    PS : O erro dele não foi aceitar 400 mil euros ( por muito que sejamos portistas qualquer um faria ! ) o grande erro dele foi o discurso durante toda época e ter deixado o clube a 10 dias de começar....

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  4. Quero sugerir ao FCP que caso a CMP feche as piscinas do Fluvial, em santa maria da feira, terra de muitos portistas tem a disposição muitas piscinas para os nossos atletas, uma das quais pouco cm faltam para ser piscina olímpica!

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  5. Sobre estes assuntos já aqui deixei a minha opinião...comentar, opinar já não me parece suficiente!
    Temos de reivindicar algo mais...os nossos dirigentes têm a obrigação de nos explicar o que se passa!...a menos que sejam coniventes com a situação actual! Se assim fôr...não precisam de explicar nada!Acho que, no mínimo, os adeptos, os VERDADEIROS, merecem conhecer QUAL o projecto desportivo do clube! O FCP SEMPRE foi um clube eclético (orgulho-me MUITO disso) mas...até quando???

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  6. manuel moutinho17 outubro, 2011

    Eu concordo com tudo o que foi dito mas acho que para além do dinheiro Há mais qualquer coisa,eu penso que tem a ver com a ida do Fernando Gomes para a presidência da federação,ele tem tentado aproximar os clubes,por um lado até é compreensivel essa atitude,mas os gajos do clube do regime têm que nos respeitar e eu acho que isso não tem acontecido,por isso não posso concordar com a serenidade da nossa sad nestes últimos tempos.Saudações portistas.BIBÓ PORTO!

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  7. Concordo e reafirmo. Comigo até podem chamar o vermelho de encarnado, que não me iludem. Ao “borrado” (direitos de autor a M. Vila Pouca) dava-lhe mas é, um valente pontapé no traseiro, que com aquelas libras todas já deve estar mais do que dourado.

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  8. Tinha que chegar o dia, em que não concordaria com (tudo) o que escreve...- Com a fibra, concordo a 100%. Fibra, ou atitude, ou raça, ou coluna vertebral...
    Mas, ter fibra não nos impede de às vezes termos também de pensar com menos emoção: - não é verdade que o Libras foi competentíssimo? só faltou a taça da liga... -de resto ganhámos tudo. E, ao ser dado agora o dragão de ouro, apresenta-se como uma lição para a cambada dos vermelhos. O que não quer dizer que já tenha perdoado o abandono. Para além de que os atos ficam com quem os faz. Para sempre.
    Aprecio muito o nosso presidente, acho-o de longe e mais longe, o melhor e mais eficaz presidente de clube à volta do planeta - o único que fez omeletes sem ter ovos - mas nunca o considerei um ser iluminado, ou um santo, nem lá próximo... E muitas coisas acontecem no clube, porque ele lá se faz de desentendido, se lhe servir...
    A grande vantagem é que na maioria das vezes o que serve ao presidente serve bem ao clube!...

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