O circo está de volta

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Depois de há um ano ter visto um jogador estender um árbitro no chão num jogo particular, depois de ter visto uma equipa perder três títulos no curto espaço de duas semanas, depois de ter assistido ao milagre de ver Jesus de joelhos , depois de ter visto um jogador a atirar-se a um treinador em pleno relvado, depois de ter visto esse mesmo treinador a renovar um contrato milionário no fim de uma época de pesadelo, achava que já tinha visto tudo neste mundo, mas descobri que não. Afinal, há muito para ver e para rir, sobretudo enquanto não desaparecer um canal de televisão de um clube que veio substituir a SIC Comédia.

Nesse canal, onde se transmitem os relatos de jogos, sem imagem, feitos por dois palhaços a olhar para uma televisão, onde há fóruns de opinião onde entra quem quer para com eles gozar e para os achincalhar, também achava que já podia ter visto tudo, mas não. Na semana passada, puseram no ar uma entrevista (?) em que o entrevistador era o patrão (o administrador da SAD) e o entrevistado era o empregado (o treinador). Foi um momento único, histórico, em Portugal, porque cada pergunta era aquilo que se chama uma notícia que dá para os dois lados: tão importante como a resposta era a pergunta, por ser feita com um conhecimento de causa que, normalmente, os jornalistas não têm.

Não perdi tempo a ver a entrevista na íntegra, vi apenas alguns excertos, suficientemente esclarecedores para perceber o que lá se passou. O início é delirante. Não começa com uma pergunta, mas com uma deixa fantástica: “Tem noção de que é um homem que divide os benfiquistas. Tem a percepção de que vai estar sujeito a uma enorme pressão...”. Ora, quem não sabia ficou a saber, quem suspeitava dissipou as dúvidas: eles estão mesmo cheiinhos de medo do que pode acontecer e que se por acaso as coisas começarem a dar para o torto, Jesus vai com o menino Jesus, antes que aquilo que se torne um inferno.

As respostas, dadas por quem foram dadas, essas, também foram deliciosas, como seria de esperar. Perguntaram-lhe se é um homem vaidoso e ele respondeu à sua boa maneira: “sei que sou muito bom na minha profissão”. Perguntaram-lhe se foi convidado para treinar outros clubes: “O único convite que recebi foi de um clube brasileiro, cujo presidente pensa exactamente como eu. Vender jogadores é mais importante [e depressa corrige], é tão importante como ganhar títulos (…)”, porque no 5lb, eles não são grandes jogadores quando chegam, “são grandes jogadores quando saem.”

Mas o melhor estava guardado para o fim. Ficámos a saber, pasme-se, que "o Benfica está próximo de conquistar a hegemonia no futebol português". E assim ficámos também a saber que o homem continua o mesmo, que não aprendeu nada com o que lhe aconteceu na última época e que continua a viver no alto do seu pedestal uma realidade que só ele e os seus seis (?!) milhões de fiéis parecem viver: eles não ganham nada por causa da "arbitagem". E assim caminhamos para que, não tarda, voltem a conhecer a dura realidade, daqui por uns tempos. Ou isto muda muito ou no dia 11 de Maio de 2014, ironicamente um ano depois do pontapé do mágico Kelvin, estaremos a assistir a uma inédita repetição de um milagre: Jesus a tombar de joelhos no Dragão. Se ele ainda estiver entre nós, claro. Oremos.

PS - O jornalista da RTP Hélder Conduto foi contratado a peso de ouro para ser o novo director da 5lb comédia TV. Vai auferir 15 mil euros (repito, 15 mil euros) por mês. E esta, hein?