Adeus

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Acabou. Não há volta a dar. Foi impossível resistir a tanta paixão e a tantos tiros nos pés. Com o plantel mais caro de sempre da história, entregámos – e empurraram-nos para entregar-lhes, verdade seja dita – o título assim, de mão beijada, a 14 jogos do longínquo fim do campeonato. Mas não me atirem areia para os olhos com “luchos” ou “jankos”, porque este ano, o destino já está traçado.

A verdade é que tudo começou a ser cozinhado no Dragão, no jogo frente aos espanhóis, com um amarelo, a castigar uma falta inexistente de Fernando, o jogador em melhor forma na equipa, que o excluiu da viagem a Barcelos. Depois, foi só entregar a encomenda com paixão, na jornada seguinte. Primeiro com a palhaçada em Santa Maria da Feira, depois no Minho, onde o artista Bruno foi capaz de fazer um número parecido com aquele que há uns anos nos brindou impunemente em Campo Maior.

O título ficou entregue no último fim-de-semana, portanto. Acreditar que este país, mergulhado nesta crise profunda e sem paralelo, vai esbanjar a oportunidade de dar uma alegria ao “zé povinho” e permitir que eles percam cinco pontos de vantagem é o mesmo que acreditar que o Zaragoza pagou 8,6 milhões de euros pelo nosso saudoso amigo Roberto dos frangos. Acreditar que é possível que nós lá cheguemos tendo pela frente uma segunda volta complicadíssima, com duas visitas à Madeira, uma a Braga e outra ao galinheiro, é o mesmo que acreditar que o Jesus vai algum dia aprender a falar português.

Já não acredito. Para mim, o campeonato acabou e a história recente também não me deixa sonhar. E não me venham iludir com reforços de última hora que deviam ter sido de primeira. O que andaram a fazer os senhores da SAD durante os últimos meses? Esperaram por hipotecar a reconquista do título para contratar um ponta-de-lança de 28 anos, suplente do Twente, que nos dois últimos anos marcou 24 golos numa liga cujos resultados dos jogos mais parecem de hóquei em patins do que de futebol? Expliquem-me, por favor, como se fosse muito burro.

E chegamos a Lucho, não sem antes fazer uma declaração de interesses. Sou fã daquele que foi um dos melhores jogadores que vi jogar com a camisola mais bonita do mundo. Não é só um artista em campo, é um senhor fora dele e o homem que faltava a um balneário órfão de um líder desde a saída de Pedro Emanuel. Mas olho para o passado e não consigo deixar de ter sérias dúvidas quanto a estes regressos dos bons filhos que à casa tornam. Excluindo o Baía, lembro-me do Secretário, do Domingos ou do Sérgio Conceição – só para citar exemplos mais recentes – que, na “segunda vida”, por aqui passaram despercebidos, sem o sucesso de outrora.

Espero estar redondamente enganado e que este Lucho continue a ser o mesmo luxo que deixámos de ter há três anos. Mas não é com estas manobras de reforços de última hora que nos vão deixar nas nuvens, porque nós não somos o 5LB. Em Barcelos, caí com estrondo na realidade. Acabou. Para o ano há mais, é certo, mas este ainda não terminou. É hora de voltarmos a mostrar que não somos como eles. Como nós cantamos na curva, “onde quer que tu vás, eu vou lá estar…”.