ENTREVISTA: Casa do FC Porto de Caracas

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No regresso desta minha rúbrica, apresento mais uma entrevista em exclusivo para este espaço de tertúlia azul-e-branca, neste caso, a Casa do FC Porto de Caracas, na capital federal da República Bolivariana de Venezuela, após terem sido congratulados muito recentemente com o Dragão de Ouro 2011 pelo FC Porto.

Feito o contacto e concretizada a tão pretendida entrevista, não posso deixar de agradecer a extrema simpatia e disponibilidade demonstrada pelo Sr. Silvio, Presidente da Direcção, aproveitando para desejar os votos dos maiores sucessos para esta (mais uma) Delegação do (nosso) FCPorto além-fronteiras.

Como tal, vamos lá então a essa prometida entrevista...

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Casa do FC Porto de Caracas
Filial nr. 43 do fcPORTO e Dragão de Ouro em 2011

1- Queiram fazer uma breve apresentação dos Orgãos Sociais.

A casa do FC Porto Caracas filial, conta com uma directiva conformada por 10 pessoas, e não só representa com honra o nome do FC Porto, como também como associação civil sem fins de lucro tem um papel preponderante dentro da comunidade portuguesa, pois organiza actos e eventos culturais e sociais que têm como principal objectivo, manter as nossas tradições, usos e costumes, e assim incutir nos nossos filhos, as nossas raízes e o gosto e orgulho por ser descendentes de portugueses.

As festas de S. João e de S. Martinho para mais de três mil pessoas, noites de fado, torneios de sueca, dominó e a maneira como defendemos a nossa gastronomia de segunda a sábado, são do imenso agrado de todos ao ponto do nosso trabalho ser reconhecido pela embaixada e pelo consulado de Portugal em Caracas.

Apoiamos a escola de futebol menor virgem de Fátima que conta com 300 miúdos neste momento, com idades entre os 4 e os 14 anos.

2- Como e quando surgiu o espaço azul e branco da Casa do FC Porto de Caracas?

Foi fundada em 1968, mas em meados de 1982 foi fechada. Foi então que Alvarinho Sílvio Moreira dos Santos, com um pequeno grupo de Portistas em 1998, fundou o núcleo Portista de Caracas e dirigiu-se a Portugal durante o mandato do Dr. Álvaro Pinto como presidente das filiais e delegações, e reactivou de maneira oficial a casa do FC Porto Caracas filial 43.

Já em 2000, criou-se e legalizou-se a associação civil sem fins de lucro FC Porto filial 43, que nos permite organizar todo o tipo de eventos culturais e sociais para servir a comunidade portuguesa de Caracas.

3- Como tem sido o desenvolvimento, durante o tempo de existência, e quantos associados têm?

A casa do FC Porto de Caracas está considerada pelos máximos dirigentes do FC porto como a que mais dinamismo tem a nível internacional e por isso, foi a brilhante vencedora do Dragão de Ouro. Temos 180 sócios activos, com a virtude de que 163 têm no fecho de 2011 as quotas ao dia.

4- Quais as expectativas para este ano?

Apoiar a abertura da Dragon Force em Venezuela. Neste momento, temos a visita do bibota de ouro Fernando Gomes, chefe de scouting, e de Nuno Ribeiro, gestor da Dragon Force, para fazer desse projecto uma realidade prontamente.

Appoiar em Abril a vinda dos Dragões no mundo, dois motards que vão unir a Casa do Porto de Fortaleza no Brasil através da selva amazónica com a Casa do Porto de Caracas. Trazem uma mensagem do Presidente Pinto da Costa e levarão uma nossa que será exibida no Dragão durante os jogos.

Organizar as festas de São Joao em Junho e de São Martinho em Novembro para três mil pessoas, noites de fado, torneios de sueca e de dominó, defender a nossa gastronomia, principalmente a do norte do pais de segunda a sábado na nossa sede, e seguir sendo uma lança bem portuguesa pintada de azul e branco cravada em pleno coração de Caracas, dignificando e engrandecendo o nome do FC Porto, tão longe da nossa pátria.

5- Quais foram os pontos mais altos ou mais marcantes da casa?

Sem duvida, a vinda de Fernando Gomes em 1999 para dar o pontapé de saída para que o sonho da reactivação da Casa do FC Porto de Caracas se transformasse na espectacular realidade dos dias de hoje. Em 2004, a grandiosa festa azul e branca com a presença de Lima Pereira e o director Júlio Marques com 500 pessoas. Em Outubro de 2011, com a vinda de Rui barros e o Director do FC Porto, Presidente da Casa de Lisboa, Álvaro Monteiro. A 25 de Outubro de 2011, vencer o Dragão de Ouro, e neste momento, a 4 de Fevereiro, estar a trabalhar para a abertura da Dragon Force na Venezuela, de novo, com a presença do bibota de ouro, Fernando Gomes e do gestor Nuno Ribeiro.

6- Quais os apoios e iniciativas que a casa pode oferecer aos adeptos do nosso clube?

O apoio que oferecemos é sempre de índole cultural e social. Como instituição de beneficência, apoiamos economicamente o lar dos idosos e o santuário Nossa Senhora de Fátima em Guise, cidade perto de Caracas.

7- Existem casas ou delegações de outros clubes na vossa região? Se sim, qual o tipo de relação que mantém?

A casa do FC do Porto é a única que existe em toda a América do sul. Os outros clubes ditos grandes não têm nada.

8- Tem alguma história curiosa que queiram contar ou relatar, relacionada com a vossa região e a vossa casa?

Quando abrimos a casa, foi no sótão da igreja da missão católica portuguesa num quarto de 3 por 3 metros. Aí tínhamos a nossa base de dados, telefone e uma secretária, que nos foi oferecido pelo Padre Alexandre Mendonza. A curiosidade é que ele é um benfiquista ferrenho, mas rendeu-se ao nosso empenho e capacidade. As festas de São Joao e de São Martinho ainda hoje lá se realizam no grande adro (estacionamento) da igreja.

9- O que sentiu ao receber um Dragão de Ouro na última gala promovida pelo clube?

Foi o corolário de muitos anos de trabalho. Senti muita felicidade e pensei na grandiosa quantidade de gente a quem pertence este Dragão de Ouro, não a peça em si, mas o que ele significa. É de todos aqueles que amam o nosso clube, que fazendo todos os dias FC Porto, fazem pátria, fazem Portugal. Convido a ler o artigo que escrevi mais abaixo - "Da chinela de meter o dedo a Dragão de Ouro".

10- Qual a vossa opinião sobre a actual época desportiva ao nível do futebol e ao mesmo tempo, quanto às novas aquisições para o que resta da época?

É um tema muito delicado. Mas penso que a saída de André Villas Boas apanhou de surpresa a nossa gerência, e Vítor Pereira, talvez ainda não tenha a suficiente capacidade para tão elevada responsabilidade.

Não inscrevemos dois pontas de lança na Liga dos Campeões, e esse erro pagou-se muito caro, com a consequente eliminação. Não conseguimos contratar o ponta de lança ideal para a saída de Falcao, e a equipa a jogar sem um defesa direito de raiz que possa fazer o corredor direito com a classe que faz Álvaro Pereira do outro lado, desequilibra a equipa de tal ordem que não chegam bolas em condições razoáveis ao nosso avançado para que se façam golos com mais frequência.

Quanto às contratações, Lucho traz muita experiência, mas já não dura 90 minutos. Janko traz altura ao nosso ataque, mas como é evidente, o FC Porto terá de contratar um ponta mais jovem. Inclino-me pela vinda de Jackson Martinez em Junho, este sim, um jogador espectacular. Danilo vai trazer classe e poder à nossa asa direita e Iturbe, quando devidamente adaptado, vai causar furor, pois é muitíssimo bom.

Defour, Mangala e Alex Sandro, talvez com outro treinador, perdão... com outro sistema de jogo.

11- Quais as expectativas para a abertura da Dragon Force em Caracas?

Quanto à Dragon Force, as expectativas são elevadíssimas e a vinda de dois tão importantes representantes do FC Porto, é a prova evidente de que temos pano para mangas, mas vamos como sempre, com muita fé, mas também com muita firmeza, tratar de lograr mais uma vitória. A Dragon Force será uma realidade muito em breve. O nosso destino é vencer sempre.

12- Já conheciam o blog "BiBÓ PoRtO, carago!!"? Se sim, qual a vossa opinião?

Não conhecíamos, mas tudo o que signifique divulgação e promoção de todo tipo de actividades que sirvam para enaltecer e valorar o trabalho de outros e que por sua vez, tudo num conjunto de factos reais sirva de exemplo para que entre todos possamos construir uma sociedade mais digna e mais justa, vale a pena. As minhas felicitações e palavra de incentivo para que continuem neste maravilhoso caminho da comunicação social.

13- Para finalizar, queiram deixar uma mensagem aos nossos leitores.

Estou firmemente convencido que tudo na vida se resume a três palavras: valer a pena, sentar-nos ao fim de cada dia, ver-nos no espelho que são os olhos da nossa esposa e dos nossos filhos, e cansados mas felizes, pensar que tanto trabalho e sacrifício para levantar uma vida, valeu a pena...

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CONTACTOS E INFORMAÇÕES ÚTEIS

morada [sede social]: Los dos Caminos, Primera Transversal com Avenida Avila, Edificio Los Tavares Piso Ofic. 3 - Caracas
contactos telefónicos: +351 58 41 4131 0043 e +351 52 21 2234 3003.

como se podem inscrever novos associados da casa do FC Porto e os seus custos: Uma fotografia tipo passaporte, encher uma planilha com os seus datos. Custo de 40 bolivares/mensal.

vantagens em se tornar associado da casa do FC Porto: Ajudar a cobrir os gastos de manutenção da Casa e que esta possa funcionar com dinamismo e pujança. Desconto na Loja Azul nos produtos da Nike com 20% e nos artigos FCPorto de 30%. Para além disso, 5% de desconto nas refeições na nossa sede. Ser orgulhosamente parte da família Dragão de Ouro 2011.

página na Internet: www.actiweb.es/fcportocaracas/
e-mail: fcportocaracas@hotmail.com
outros: facebook / Alvarinho FCPorto Moreira.

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Da chinela de meter o dedo a Dragão de Ouro

Nasci na Costa do Valado, mas com apenas três meses, levaram-me para S. Romão do Coronado, que naquela altura, nos anos 60, pertencia ao concelho de Sto Tirso. Agora, pertence à Trofa.

De família humilde, o único que possuía no bolso era o passe do comboio que recordo era trimestral e como era para estudantes era muito barato. Bom aluno, comecei a viajar para a cidade do Porto muito novo. Com apenas 11 anos, viajava todos os dias e frequentava o liceu Alexandre Herculano no Freixo. A viagem entre S. Romão e Campanha, durava pouco mais que uma dúzia de minutos. Antes da estação de Campanhã, ficava Contumil e o Estádio das Antas a apenas cinco minutos, caminhando ligeirinho.

Uma moeda de 25 tostões, que muito raramente tinha, era uma pequena fortuna que invertia religiosamente num donuts e um sumol, comida de reis, pensava eu.

Aproveitando o passe do comboio, cada 15 dias, lá ia eu.Para não ir descalço, levava nos pés umas chinelas de meter o dedo, algumas vezes com as calças do meu irmão três anos mais novo. Muitas vezes, era o único lá da terra a ver os jogos do meu FC Porto. Como não tinha dinheiro para o bilhete, subia como um gamo uma inclinada e perigosa vertente, e trepava como artista de circo, uns quantos carros que existiam numa sucateira que existia detrás do topo norte. Em baixo, ficava a estrada que circundava o estádio a uns bons 15 metros de altura e a pique. Era de arrepiar. Não dava para ver o campo todo, mas não importava. A emoção e o amor quase doentio pelo clube era mais forte que o medo.

Daí, vi os primeiros golos de Fernando Gomes. Ali me enamorei cada dia, cada fim-de-semana por aquelas maravilhosas cores, as cores da minha vida, o azul e branco inconfundível das gloriosas camisolas do FC Porto, e dali, daquela altura de cima desses carros velhos e oxidados, daquela pequena mas muito perigosa encosta, baixava eu como uma bala a 15 minutos do fim quando abriam as portas para a gente sair, entrava eu... e como desfrutava daqueles últimos minutos. Fazia vida de rico, escolhia o melhor lugar e se o Porto ganhava, não importava passar frente às roulottes de comida e inconscientemente meter a mão no bolso e buscar um milagre, acabar sempre por comer apenas com os olhos, tragar um pouco de saliva e enganar a fome e a sede, até chegar a casa donde sempre havia sopa e às vezes uma asa de frango.

Quando os jogos eram à noite e terminavam por volta das 11 da noite, já não havia comboio. Fiz esse percurso de noite, a pé, muitas vezes sozinho, tardava pelos trilhos do comboio mais de uma hora, algumas vezes muito triste, mas nunca arrependido. O Porto ganhasse, perdesse ou empatasse, era tudo para mim. Era e segue sendo a minha alegria e felicidade.

Quando em 1977 vim para a Venezuela, foi sem duvida o Porto cidade, o Porto clube, o que mais me custou deixar. Chorei lágrimas de sangue, mas foi com essa saudade que arranjei forças para juntar os meus primeiros tostões e regressar uma e outra vez, ano após ano à minha terra, àquele estádio, e ver o meu clube do coração transformar-se pouco a pouco, mas com firmeza, no melhor de Portugal e num dos 10 melhores do mundo.

Em 1996, reunido com três Amigos e grandes Portistas, Camilo Oliveira Maia, Manuel Oliveira e Joaquim da Rocha, decidimos empreender esse maravilhoso sonho, hoje extraordinária realidade, reactivar a filial 43 do FC porto de Caracas.

Em 1998, fui a Portugal reactivar de maneira oficial a nossa casa e conheci pessoalmente o Presidente Pinto da Costa que me convidou para o camarote presidencial para assistir ao FC Porto - Campomaiorense. A partir daí, o Presidente faz questão de me receber cada vez que visito Portugal, quase todos os anos, donde sempre lhe participo das actividades desenvolvidas por todas as nossas directivas, dignificando honrando e engrandecendo sempre o nome do FC Porto tão longe da nossa pátria.

São várias as oportunidades ao longo destes longos treze anos que tenho a honra de compartir com ele, tanto no seu gabinete, como no seu camarote. Vi na sua companhia, grandes jogos, tanto nacionais como internacionais.

Devido à grandiosa quantidade de títulos alcançada pelo FC Porto durante o seu mandato nos últimos trinta anos, foi a Casa do FC Porto de Caracas, na minha pessoa, que tomou a iniciativa de nomear o Presidente Pinto da Costa para o Guinness Book.

Em 1999, aquele que era o meu ídolo e que via marcar golos lá de cima daquela sucateira, veio a Caracas, ao salão nobre do centro português, para uma homenagem com o nosso bi-bota de ouro do futebol português e dar o definitivo pontapé de saída para que a Casa do FC Porto de Caracas fosse uma realidade.

Hoje, Fernando Gomes é o director das relações externas do FC porto e, quem diria, um grande Amigo com quem falo amiúde vezes. Estamos a trabalhar juntos para instalar aqui na Venezuela a Dragon Force.

Em 2004, trouxemos Lima Pereira, capitão daquela maravilhosa e inesquecível equipa campeã intercontinental. Em 9 de Outubro 2011, foi Rui Barros a viajar desde Portugal e a abrilhantar a grandiosa festa azul e branca, de onde o Presidente Pinto da Costa, através de um vídeo enviado desde Portugal, nos participou que com todo o mérito, a filial 43 FC Porto Caracas, era a brilhante vencedora da máxima distinção que outorga o FC Porto aos seus atletas dirigentes e delegações.

Era o corolário de tantos anos de trabalho. Era a satisfação de vermos reconhecido o esforço de tanta e tanta gente que sempre acreditou em mim, me ajudou e apoiou!

Fui receber o Dragão de Ouro no Coliseu do Porto, numa gala imponente e com a presença das mais importantes personalidades ligadas ao nosso clube, desde todos os craques campeões e internacionais, passando por dirigentes, funcionários, políticos, comunicação social etc.

Não sei quanto tempo tardou entre levantar-me do meu sitio, ao lado de James Rodriguez e João Moutinho, subir ao palco e receber o Dragão de Ouro das mãos de Rui Barros e sair para ser fotografado e entrevistado por um enxame de jornalistas. Já com o Dragão em meu poder, talvez pouco mais de um minuto, mas foi tempo suficiente para passar pela minha cabeça tudo o que passei para chegar até ali, do pé descalço, da chinela de meter o dedo, dos bolsos vazios a... Dragão de Ouro. Foi um sonho feito realidade, mas um sonho tão incrível que me dou agora conta que o destino, essa força que supera a vontade humana, não está escrito em nenhuma parte, não se pode mudar nem alterar, é feito de detalhes, que se realiza em cada momento das nossas vidas. Não está no passado, nem no presente, nem no futuro, não é nosso, só a Deus pertence. Eu agradeço a Deus pelo destino que me deu. Não sei se o mereço, mas é meu, tão meu como esse Dragão de Ouro pertence a todos os Portistas, mas também a toda a comunidade portuguesa da Venezuela. É uma vitória do querer, dessa maneira inquebrável que temos todos os emigrantes de estar na vida, superar todas as adversidades que nos depara a vida longe da nossa pátria e com espírito de sacrifício, honradez e vocação de trabalho, triunfar sempre, construir um futuro e uma vida digna, sermos uma imagem muito digna, honra e orgulho da nossa pátria.

Aqui fica não uma história, mas sim uma lição de vida. A demonstração de que não é apenas com dinheiro que se conseguem grandes feitos, mas sim com trabalho, constância, muita perseverança, muito coração, fazer por merecer alguma sorte, acreditar sempre em nós próprios e muitíssima fé em Deus.

Alvarinho Sílvio Moreira dos Santos
fundador e actual presidente da casa do FC Porto de Caracas
Dragão de Ouro 2011.