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- [Coriolano é uma tragédia shakesperiana. Caio Márcio ficou para sempre conhecido como Coriolano, após vencer a batalha que retirou aos volscos a cidade de Corioli. No entanto, Coriolano, autor de duras medidas, passou a ser a personagem mais odiada por Roma. Os Nobres, com medo das reacções e afrontas do Povo, deixaram cair Coriolano.
Este, ressentido, recusando-se a fazer o que o Povo queria, refugiou-se junto dos volscos, outrora rivais, para organizar um cerco a Roma. Foi Volumnia, sua Mãe, que o convenceu a desistir dos seus intentos. Coriolano recuou e voltou para a cidade dos volscos, deixando-se matar pelos volscos, que o acusaram de traição].
Tudo parecia ir bem nesse Reino. Trocava-se de treinador amiúde e, todos eles, faziam do Porto campeão. Ou, como se começou a dizer, o Porto fazia deles campeões. A fórmula, essa, nunca foi a mesma. Se nos anos 80 e 90 se apostava na estabilidade dos plantéis, com uma profunda mística e aposta na prata da casa e nos jogadores-símbolos do clube, depois de Gelsenkirschen o clube abriu-se definitivamente aos mercados internacionais, comprando jogadores jovens de topo e qualidade indiscutível na América do Sul e vendendo-os depois, em ciclos de 3 anos, a preços exorbitantes para os grandes campeonatos europeus.
Um clube independente, capaz de se adaptar às exigências do século XXI, sem perder o foco e a fé nas suas raízes. Qualquer jogador que aqui chegasse, vindo não se sabe de onde, sabia que tinha que suar e correr mais que os outros para se impor. Alguns atletas quase pareciam tripeiros desde pequeninos, casos de Lucho, Moutinho ou Hulk. Havia a chamada mística, a cultura de trabalho, de exigência, a dinâmica de vitória. A estrutura fazia maravilhas, era elogiada, afamada, reputada.
Fosse como fosse, fosse com que treinador fosse, dos mais radicais (Oliveira) aos mais conservadores (Jesualdo), o clube ganhava. Era uma máquina de triturar adversários, um papa-títulos sôfrego e insaciável. A fórmula, como acima se disse, parecia mágica: funcionava sempre, independentemente dos intérpretes. Já não se comia a relva nem se suava a camisola como nos anos 80 e 90, é certo. Mas verdade seja dita: já não era assim tão preciso. Estávamos à frente, demasiado à frente dos outros. E a estrutura era tão profissional que se superiorizava facilmente sobre a concorrência.
Mas, como sempre, ninguém se apercebeu da decadência, ténue, lenta, diáfana e suave que se foi abatendo sobre esse Reino. Ninguém ligou a que os símbolos do clube se fossem afastando dos corpos directivos um a um, aos poucos e poucos, ao longo dos anos. Ninguém ligou ao facto de não haver homens da casa no balneário para transmitir a mística a quem chegava. E depois, mais escandaloso, ninguém foi olhando para os negócios: eram dois ou três guarda-redes contratados a cada ano, defesas laterais sem conta, sem peso e medida, inúmeros jogadores de qualidade invisível que, sem grandes surpresas, seguiam para empréstimo passados seis meses. Ninguém se importou com uma estrutura calada e adormecida, sem peito feito nem pose que inspire respeito. Ninguém se importou com o fraco aproveitamento das camadas jovens e da equipa B. Ninguém se importou que o último grande capitão (Lucho) tivesse sido enviado pela porta dos fundos para as Arábias, comprometendo aí definitivamente as hipótese de sucesso de Paulo Fonseca e do próprio título desse ano.
Já antes, claro, ninguém compreendeu que os rivais se haviam reforçado e estavam mais fortes. Sob diversos prismas: financeiro, organizativo, futebolístico. As coisas não estavam para brincadeiras, era preciso tocar a reunir e piar fininho. Mas os portistas não gostavam de Vítor Pereira. Ganhar já não lhes chegava, queriam espectáculo. E Vítor Pereira só tinha vitórias (e quantas ele tinha…) para lhes apresentar. Vitórias e títulos. Não chegava, claro, pois o portista desde Mourinho que é vaidoso e tem a mania das grandezas. Tal como Roma, os portistas queriam circo, não lhes chegava o pão. Como sempre, os Impérios implodem por dentro.
Quem mandava não aguentou a pressão dos assobiadores, dos vaidosos, do Povo. Mudou-se por mudar, para agradar às massas. Veio Paulo Fonseca e entregou-se aos rivais um bi-campeonato de bandeja. Contratou-se outro General, para um projecto de 3 anos. Ao fim de ano e meio, às primeiras contrariedades fruto de não um mas dois rivais mais fortes, decide-se agradar de novo às massas. Deixa-se cair o timoneiro, sem plano A, B ou C. Durante 15 dias, o Reino vive em estado de letargia e apatia totais. Ninguém sabe o que se passa, só se sabe que se perdem batalhas, umas atrás das outras, algumas delas vergonhosas, ofensivas até para a história do clube. As hipóteses de chegar ao título, essas, ficaram definitivamente arrumadas. Entretanto, surge um novo General. Os soldados, esses, parecem inertes e amorfos, mortiços, incapazes de reagir à chicotada psicológica.
Deixamos cair Generais, vários Coriolanos, coisa antes impensável. Governar para as bancadas do Coliseu nunca deu bom resultado.
Rodrigo de Almada Martins
Excelente crónica.
ResponderEliminarAbraço Portista!
boa metáfora, retrata perfeitamente o que tem acontecido com o nosso clube - se é verdade que foram os "senadores" que ajudaram a fazer Roma, também não é mentira que são eles que a estão a destruir.
ResponderEliminarbms
Isto é ciclico, calhou agora a nós ....
ResponderEliminarBem escrito e para refletir por quem o devia fazer mas que no alto do seu pedestal não liga aos mortais que por aqui andam
ResponderEliminarIsto é ficção, 1º o Victor Pereira foi-se embora porque quis e porque pediu muita pasta para ficar, 2º para que os generais funcionem é preciso um Brigadeiro que lhes indique o caminho, 3º estamos em ano de eleições e como a contestação já era mais que muita vá de fazer a vontade ao povo 4º o ultimo general a cair, caiu porque o Brigadeiro nunca o apoiou na praça publica nem sequer se dignou a defendê-lo 5º os adversários tomaram de assalto a fpf, conselho de arbitragem e conselho de justiça 6º O Brigadeiro abandonou o posto para se desdicar às suas musas 7º O Brigadeiro ficou mudo 8º O Brigadeiro aceitou de volta o judas que tinha fugido com o veiga 9º O Brigadeiro deixa que aconteçam muitas coisas impensáveis no FCP 10º O Brigadeiro já não está para se chatear 11º Os árbitros deixaram de nos respeitar 12º Os árbitros são comprados com vouchers e mais uma vez o Brigadeiro nada diz 13º Os critérios das nomeações são absolutamente escandalosas e Brigadeiro nada diz 14º Os clubes da capital são constantemente e o Brigadeiro nada diz 15º O Brigadeiro já não quer ou já não quer tomar conta do exértito quer é sopas e descanso ....
ResponderEliminartirando o ponto 1, é isto...infelizmente
EliminarCinco estrelas este post!
ResponderEliminarbestial, essa do coriolano nao lembrava ao diabo. pois realmente as coisas nao estao como estavam poucos anos atras, nao se passaram seculos, nem decadas, estamos mais exigentes mas os adeptos tambem estao como o clube, sao exigentes para fora mas talvez nao o sejam para dentro. Temos so de apoiar e continuar a alertar o clube porque nesta altura a pressao sos socios e adeptos comeºa a fazer se sentir e mudara algo para melhor.
ResponderEliminarVe la se somos campeoes como nos anos do Vitor Pereira,ja rstava tudo perdido e depois os que falavam assim tiveram que engolir um sapo grande e ir para a baixa fedtejar
ResponderEliminartem muito mais razão o anónimo do brigadeiro
ResponderEliminar...e sem Brigadeiro, resta-nos o Lindo Museu e a orquestra sinfónica dos assobios.
ResponderEliminarO Porto do Brigadeiro já se foi e não voltará mais.
O Mexia como a austeridade não vem de dentro e quer queiram quer não, já não nos é permitido fazer o que fizemos em 30 anos.
Sobra-nos o inquestionável sentimento de Ser Porto.
Os tempos difíceis já estão instalados.
ResponderEliminarAs tropas precisam de uma nova vida, de sangue novo a comanda-los.
Esperamos que se volte a trazer o espírito de combate à arena e que a espada seja moldada outra vez para durar muitos anos de batalhas.
a propensão para o fado sempre nos anima
ResponderEliminarCoriolano é uma metáfora e, como todas as metáforas, serve para ilustrar uma realidade. A crónica toca em alguns pontos essenciais e percebe-se que o cenário actual do futebol português se tornou mais complexo do que o dos anos precedentes, o nível competitivo aumentou, ressurgiram com força e meios financeiros certas equipas (SLB, SCP...) que atravessaram longas crises de identidade, os clubes ditos "mais pequenos" deixaram de ser presa fácil dentro das quatro linhas, sem surpresa a "verdade desportiva" regressou à casa das tias, ali mesmo na segunda circular. E o FCP passou a ser uma passerelle de jogadores internacionais, escolhidos e contratados com requintes de "visão empresarial" em vez de recrutados com propósitos puramente desportivos. Foi afastada e faz-se sentir a falta da prata da casa, dos jogadores pendulares, úteis, resilientes e portistas que são fundamentais para enquadrar o balneário. Só temos vedetas com estranhos cortes de cabelo e nomes bizarros que não ficam na memória, todos eles em trânsito para um lugar qualquer. Deixamos de ser um clube de futebol que se gere numa base financeira equilibrada, para sermos uma empresa de import-export de futebolistas que aceitam jogar a bola quando estão mais animados. E, assim, governar para a bancada do Coliseu é a consequência - e não a causa - dos nossos males.
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