10 junho, 2011

Capítulo 4: 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte XVI)

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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto


Capítulo 4: 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte XVI)

Desde a época 1938-39, disputa-se a Taça de Portugal, competição organizada pela Federação Portuguesa de Futebol, no sistema de eliminatórias, inicialmente a duas mãos e, mais tarde, a uma mão. Nela participam todos os clubes das quatro divisões nacionais. Com o advento da "Taça", cessou a realização do Campeonato de Portugal que era disputado nos mesmos moldes.
A final é normalmente (desde 1945-46), com raras excepções, no Estádio Nacional, no Jamor (concelho de Oeiras), perto de Lisboa. Porquê quase sempre no Jamor? Por livre arbítrio da Federação, que ignora, pelo menos, duas verdades: Portugal não é só Lisboa…; o "estádio de Oeiras" já não tem, há muito tempo, as condições exigíveis para a realização de um evento como a final da Taça de Portugal, nem tão pouco para a realização de um jogo de alta competição. O centralismo de Lisboa continua… no século XXI!
Na imagem, o troféu original da Taça de Portugal, em prata, guardado na sede Da Federação Portuguesa de Futebol. O troféu entregue às equipas vencedoras é uma réplica.

Meia-final da primeira Taça de Portugal (1938-39)
Depois de eliminar o Vitória de Guimarães e o Carcavelinhos FC, o FC Porto encontrava o Benfica nas meias-finais.
1.ª mão, no Estádio do Lima, Porto: FC Porto 6 – Benfica 1; um excelente jogo dos nortenhos.
2.ª mão, nas Amoreiras, Lisboa: Benfica 6 – FC Porto 0; o insólito, o incrível aconteceu… Desnorte dos azuis-e-brancos e muitos… muitos casos no jogo.

1.ª mão: vitória esmagadora, quiçá decisiva
FC Porto 6 – Benfica 1
As relações não eram cordiais entre FC Porto e Benfica desde o final do Campeonato Nacional. Crónica do tripeiro “Sport” (que nem sempre era afecto aos portistas): “As bancadas do Lima encontravam-se compostas e só na geral se viam algumas bandeiras do Benfica a contrastar com alguns centos do FC Porto que se achavam pelos vários sectores. A meia hora do encontro já o campo se apresentava cheio. A bancada à cunha e o peão quase cheio. Pela primeira vez, e com certa justiça, foi dada ordem para que os militares fardados e o Asilo do Terço entrassem gratuitamente.
Depois de árbitro Santos Rosa e o Benfica terem sido recebidos com aplausos regulares, quando o FC Porto entrou em campo ressoaram ovações, estrondearam aplausos”.

O FC Porto fez alinhar: Soares dos Reis; Sacadura e Guilhar; Pocas, Carlos Pereira e Francisco Reboredo; Lopes Carneiro, António Santos, Costuras, Pinga e Carlos Nunes.

Os benfiquistas sairiam do Lima desconjuntados, angustiados pelo peso de uma derrota humilhante, que parecia ter desfeito todas as suas esperanças. 6-1 foi o resultado final!
Na lisboeta revista “Stadium” escreveu Carlos Silveira: “Enquanto a linha média do FC Porto trabalhou como parte de um team desejoso de ganhar, a do Benfica actuou sempre como a de um grupo que duvida pouco da superioridade do adversário. Os médios do Norte jogaram para vencer, valorizando os esforços pessoais com sentido de conjunto e de ligação com o ataque. Os médios do Sul jogaram para perder, inutilizando os esforços pessoais com uma exagerada e mal aplicada preocupação de defesa”. E, assim, Carlos Silveira traçou a diferença do jogo, acentuando: “O FC Porto, não tendo actuado como nos seus dias mais magistrais, jogou sabendo o que fazia. O Benfica não jogou como sabe. Foi traído, talvez, com a ideia de defender um resultado pouco carregado e deixou que o FC Porto defendesse estrondosamente, atacando a fundo, um resultado que o tornará, pela certa, finalista”.

2.ª mão: a chinfrineira das Amoreiras e o incrível acontece!
Benfica 6 – FC Porto 0
O Benfica correra a jogar numa manobra de diversão, cortando relações com o FC Porto antes do jogo das Amoreiras e, assim, obteve a solidariedade do povo lisboeta, que se agarrou ao pretexto para cerrar fileiras e preparar a recepção ao “inimigo”…
É verdade, nas Amoreiras o incrível aconteceu. O futebol tem destas coisas. Os jogadores do FC Porto com uma vantagem confortável de cinco golos que, aparentemente, seria fácil de segurar, foram recebidos por um público vociferante que espumava fel e insultos, de braços e punhos em gesticulação frenética. Estranhamente, esse ambiente de animosidade acabou por bloquear os jogadores portistas numa teia de forças que os inibiu para todo o jogo.

O FC Porto alinhou com: Soares dos Reis; Sacadura e Guilhar; Pocas, Carlos Pereira e Francisco Reboredo; Lopes Carneiro, António Santos, Costuras, Pinga e Carlos Nunes.

Pasme-se: apesar de sofrer seis golos em cerca de 75 minutos, Soares dos Reis, guarda-redes portista, foi, segundo a revista “Stadium”, a figura da tarde! Carlos Silveira, retratou assim a partida: “…anular, apagar completamente 1-6, não era pedir de mais? Só com sorte, muita sorte por cima de todas as qualidades... E afinal... A história dos seis goals é breve. Custou a começar, mas completou-se num instante. Depois de, ao quarto de hora, ter somado três ocasiões seguidas de goal feito, o Benfica mostrava-se francamente favorito ao triunfo. Soares dos Reis tinha de multiplicar-se e ser autenticamente de elástico para atender ao bombardeio. Defendeu quanto pôde. Até defendeu um penalty. Todavia o penalty defendido permitindo a recarga do segundo goal, marcou o momento psicológico do jogo. Estimulou uns e abalou outros. Depois, vieram as três bolas necessárias quase seguidas. A terceira (por Barbosa), a quarta (por Rogério), a quinta (de uma entrada fulminante de Espírito Santo) e a sexta (por Valadas)”.

Os jogadores do FC Porto abandonaram o campo…
Mas, na verdade, a arbitragem foi vergonhosa. Diversas e graves lesões provocadas nos jogadores do FC Porto por jogadores do Benfica, sem qualquer falta assinalada, e um chorrilho de asneiras sempre com a intenção de prejudicar os nortenhos, mostraram à evidência uma condução da partida aberrante.
Quando o árbitro deu ordem de expulsão a António Santos e, depois, a Reboredo, a revolta explodiu. Nos jogadores e, sobretudo, nos dirigentes do FC Porto. Perante tão tendenciosa arbitragem, perante tal despudor, o então Presidente do FC Porto, Dr. Ângelo César, a 15 minutos do fim, chamou os seus jogadores, pois não queria que a equipa participasse em tamanha farsa. Foi um acto de coragem e de indignação ante uma arbitragem que bem se poderia apelidar de criminosa.

A alfacinha (e vermelha…) “Stadium” comentava: “Os dirigentes do FC Porto, ao aplaudirem a retirada de campo da sua equipa 15 minutos antes de findar o desafio das Amoreiras, prestaram um péssimo serviço ao espectáculo e aos próprios atletas portistas. E deitaram a perder toda a percentagem da receita que lhes caberia na segunda mão”. Que seria de pouco mais de 15 contos. Obs.: Que se lixassem os contos…

Estado de choque, fantasmas…
Era a vez de, no Porto, a angústia varrer toda a cidade. Os adeptos do FC Porto, incrédulos, ludibriados pela derrota inesperada, davam às ruas e cafés imagem de fatalidade.
Silva Petiz, jornalista portuense, escreveria na “Stadium”: “O povo aglomerado na Avenida dos Aliados, frente ao Jornal de Notícias, ia recebendo as informações telegráficas do goal-a-goal e só se apercebeu do desastre, da derrota do FC Porto, quando o nosso camarada anunciou o quinto goal de Espírito Santo. Desde aí até ao sexto de Valadas, o xeque-mate foi trágico: aguardava-se ainda um ponto do FC Porto, que também andava em campo a disputar a bola, para que a diferença de um goal desse, já agora e pelo menos, a confirmação do título, a eliminatória, ao FC Porto. Debandou tudo desalentado; a Brasileira, quartel-general dos rapazes do FC Porto, coalhada estava também de crepes! Toda a massa lamentava a derrota do seu clube e o caso não era para menos! Nunca, desde que se disputa uma prova, houve tanta esperança, como nesta emergência, para a consecução de um título; a margem de cinco pontos dava, sem favor, a certeza de uma retumbante vitória! Portanto, a decepção foi extraordinária e apenas se indagava: o que foi? O que haveria? Porque só se admite a derrota ante circunstâncias fortes! E o ambiente criado à volta deste jogo; e a saída prematura, do rectângulo, do grupo, sem que se conheçam pormenores, enerva, excita, irrita!...”

Os castigos a jogadores e o presidente Ângelo César na fogueira!
A FPF decidiu, no rescaldo dos incidentes das Amoreiras, aplicar, para além da já esperada perda da percentagem de receitas ao FC Porto, 30 dias de suspensão aos jogadores António Santos e Reboredo. Instaurou, ainda, processo disciplinar por abandono de campo ao clube e ao presidente da sua Direcção, Ângelo César, por motivo das declarações tornadas públicas nos jornais, antes e depois dos jogos do Lima e das Amoreiras.
O vice-presidente da FPF, Carlos Costa, ilustre portista, pediu a demissão do cargo, que foi aceite, por não ter podido justificar a atitude que lhe era atribuída no caso das “medidas excepcionais que o Dr. Ângelo César resolveu adoptar no Estádio do Lima”. Essas medidas excepcionais tinham sido, sobretudo, abrir o campo aos militares e aos órfãos do Asilo do Terço! A FPF, sentindo-se prejudicada por ter havido assistentes que não pagaram bilhetes, ameaçou com o castigo. Que foi mais uma acha para a fogueira que crepitava antes da partida que o FC Porto haveria de disputar nas Amoreiras. Os poderes da capital do Império…

Final da primeira Taça de Portugal: Coimbra é... Norte
Na final da Taça de Portugal, no Campo das Salésias (Lisboa), a Académica de Coimbra bateu o Benfica (4-3), sendo o primeiro clube a conquistar o troféu. Ao menos fez-se justiça…
E, com ambiente assim, de guerra aberta, entre o FC Porto e o Benfica, entre o Porto e Lisboa, não admirou que a notícia da vitória da Académica sobre os benfiquistas, na final da primeira Taça de Portugal, fosse recebida na Invicta Cidade do Porto com palmas e vivas. E, nesse sentido, escrevesse Silva Petiz em correspondência do Porto para a “Stadium”:
“Coimbra, a despeito de tudo, é Norte; e depois de tantas peripécias, de tantos atritos, de tanta zaragata, diga-se, fugir o título da capital (especialmente das mãos do Benfica ) é, de certo modo, uma compensação. Foi com expansões de alegria sincera, portanto, exteriorizada pelos desportistas, pela massa que gosta da bola, recebida a fausta informação na Brasileira, Avenida e Praça e outros lugares, onde tudo estava a postos, ansiando a almejada vitória para Coimbra, que, a despeito de tudo, é Norte”.

Andebol de onze – FC Porto vencedor da 1.ª edição do Campeonato Nacional
Andebol portista conquista o seu primeiro título de campeão nacional. Haveria de o manter em seu poder durante sete anos consecutivos.
O FC Porto conseguiu a proeza, após o último jogo com o outro candidato ao título, o Sporting, no Estádio do Lumiar, em Lisboa. A vitória foi inequívoca, 7-3.
Uma imensa multidão acorreu à Estação de S. Bento para receber em delírio os jogadores do FC Porto, os primeiros Campeões Nacionais de Andebol (1938-39).

Campeões de Andebol de 11 (1938-39): Em cima: Francisco Gonçalves (massagista), Alberto, Guerra, Zeferino Silva, Gomes dos Santos, Henrique Fabião e Joaquim; Em baixo: Carlos Bastos, Teófilo Tuna, Lopes Martins, Raul e José Leite.
  • No próximo post.: Capítulo 4, 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte XVII) – Época 1939-40; Troféu “O Século”; o jogo Académico-FC Porto para o Campeonato do Porto; Leixões recusa o título e a FPF alargou o Campeonato Nacional; César com cabeça na guilhotina e o castigo de Pinga; a “pesca” a Leste; Campeonato Nacional (1.ª Divisão) 1939-40; 13 vitórias consecutivas no Campeonato: um recorde; o Bicampeonato; a festa do Povo.

5 comentários:

  1. Realço, em mais este belo post, que a rivalidade Porto versus Benfica já vem de muito longe; a FPF sempre ao lado dos vermelhos; e as arbitragens, tal como acontece agora, permitiam que os da freguesia da Luz batam em tudo que mexe.

    Mudam os tempos, mas as vonatdes permanecem.

    Abraço

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  2. O senhor Vila Pouca tirou-ma as palavras da boca: ontem como hoje a FPF sempre ao lado dos vermelhos! Será que toda aquela gente que passa pelo organismo tem aversão ao azul?

    Na equipa de andebol de 11, Campeã Nacional, destaco Lopes Martins o atleta portista mais polivalente de sempre. O que ele fazia!

    Sei que estás a preparar mais uma colaboração em parceria… Alto, não digo mais nada.

    Beijos. BIBÓ PORTO!

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  3. Como sempre uma delícia ler estas histórias.

    Os roubos na casa do slb, como bem comprovas, começaram bem cedo... Parece q essa arbitragem dos 6-0 foi escandalosa...o normal para aqueles lados...

    abraço

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  4. Mais outro pedaço da nossa História, cujo fascículo de continuação aguardamos sempre. Desta feita relembrando esses tempos entre o muito tempo em que o poder lisboeta esteve mais descarado, ficando célebre o episódio e castigo ao Dr. Ângelo César. Tal como ainda há coisa de dois anos o tal famigerado Ricardo Costa, um dos piores exemplos do foro judicial português, queria fazer uma reedição, ao nosso Presidente Pinto da Costa, como se sabe...

    Abraço.

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  5. E a rivalidade continua, também eu fico contente por ter sido a Académica a ganhar a primeira taça de Portugal, principalmente por ser aos SLM! ;)

    BIBÓ PORTO

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