10 junho, 2011

Domingos estranhos

http://bibo-porto-carago.blogspot.com/

Quando nos primórdios dos anos noventa, despertou verdadeiramente em mim a paixão – há quem lhe chame doença crónica – pelo maior clube do mundo e comecei a ver futebol nas bancadas do velho e saudoso Estádio das Antas, acompanhado pelos meus tios avós Margarida e José (os meus maiores mestres desta religião), era aquela linda camisola nove que eu fitava. Pelos golos que aquele quem a vestia marcava, pela classe que ele passeava em campo, pelo amor à camisola que demonstrava, pela mística e pela dedicação que ele personalizava e transmitia aos outros. Domingos foi o meu ídolo de criança. Não o Domingos Paciência, o treinador, mas o Domingos. Apenas o Domingos.

O Domingos que provocava em mim um efeito algo parecido, mas muito mais lógico e coerente, com o que representava para as gentes de Carnide o jogador angolano assassinado para o futebol pelo antigo clube com mais títulos no futebol português. Domingos era o cromo que, em criança, implorava à sorte para que cedo me chegasse às mãos e o pudesse colar nas famosas cadernetas que coleccionava naqueles tempos. Domingos era quase um Deus.

Tempos depois chegou o eterno Super Mário, aquele marcava golos à mesma velocidade da luz, para rivalizar e abrir um duelo interno de ídolos e do qual ele, Domingos, saía sempre a ganhar, como me habituei a vê-lo fazer no campo.

Domingos foi o primeiro e único jogador por quem chorei verdadeiramente. Recordo esse quase traumático momento como se fosse hoje, agora. Nas férias de Verão de 97, meados de Julho, no Algarve, o inefável José Rodrigues dos Santos dava-me a notícia que já se anunciada, mas que eu me recusava sempre a acreditar: “FC Porto vende Domingos ao Tenerife”. É verdade, confesso sem qualquer complexo: as lágrimas escorreram-me pela cara, não resistindo àquela ingenuidade tão genuína de uma criança que estava a dias de festejar um aniversário. Foi a pior prenda que me podiam ter dado.

Anos mais tarde ele voltou e lembro-me também de festejar a boa nova como se de um golo do Porto se tratasse. Mas já não era o Domingos, era outro bem diferente afectado pelas lesões que nas Canárias o começaram a perseguir (maldição…?). Já não era o meu Domingos.

Pendurou as botas, entretanto, seguiram-se outros génios e outras “paixões”, mas ele, Domingos, foi e será sempre o meu ídolo de criança. O Domingos, volto a sublinhar. Não o Domingos Paciência que “festejou” no banco uma roubalheira num Leiria-FC Porto, há quatro anos. Não o Domingos Paciência que em Dublin estava do lado do inimigo, impotente face à superioridade do maior clube do mundo. Não o Domingos Paciência, que me apunhalou pelas costas ao aceitar vestir a camisola da agremiação da capital, que está prestes a tornar-se o Belenenses dos tempos modernos, que vive sem rei nem roque, mas com muitos tachos para dar, apoiada pelos tios e pelos meninos ricos de Lisboa que vão ao futebol como se fossem a uma sessão de cinema ou jogar uma partida de golfe com os amigos. Não o Domingos Paciência que no primeiro dia em que chegou àquela masmorra disse, com uma hipocrisia desarmante, “este clube é mesmo grande”. Confesso que vê-lo a ele Domingos, a pessoa, daquele lado, provoca em mim uma repulsa do tamanho da adoração que tinha pelo outro Domingos. Com a ajuda do tempo, este sentimento descerá, certamente, para um patamar de indiferença, mas os primeiros tempos do próximo campeonato serão, para mim, domingos estranhos. Muito estranhos.

7 comentários:

  1. Apesar de tudo, não deverá ser esquecido pelo que fez no nosso grandioso clube.

    http://onossodestino.blogspot.com/

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  2. Recordo-me de o ver jogar no antigo campo de treinos n.º1 das Antas, ainda na categoria de juniores, de o ver marcar golos fabulosos como o de Bremen, ou decisivos como em casa frente ao Feeynoord.

    É sem dúvida um sentimento estranho ver nascer e crescer para o futebol um homem que depois enverga as cores do inimigo.

    Enfim, coisas do futebol moderno...Paciência, vais ser mais um a levar no corpo!!!!

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  3. Como eu compreendo o autor deste artigo, tão bem escrio.
    Também me custa olhar para o Domingos Paciência de agora, eu, que tanto gostei do Domingos de outros tempos.
    Parece sina do Porto. Também tive um dia que ver o Oliveira no Sporting, o Gomes no mesmo clube, o Jardel idem aspas, zahovic e Drulovic no clube da lampionada.
    Enfim, também esse parece ser o nosso destino, carago

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  4. O Domingos tem feito algumas declarações infelizes que revelam um qualquer complexo que não entendo, mas não confundamos as coisas: um profissional tem de estar de corpo e alma com quem serve.

    Um abraço

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  5. Caros Portistas,

    O Domingos foi de facto um ídolo do Mágico F.C.PORTO e a meu ver será sempre.
    O Domingos vai ser um dos que mais vai atacar o F.C.PORTO, com pedras, com discursos sobre a arbitragem e ainda com a negação de amor ao clube(como judas), para nós Portistas, ele será sempre Portista e é a ele que lhe vai custar muito caro, pois vai ter de cuspir no prato que lhe deu de comer e vai doer-lhe na alma, muito mais a ele do que a nós que continuaremos a sentir e a saber que ele é um dos nossos, sempre Portista.´
    Ele vai acabar sozinho e aí, paciência vai cair na realidade...

    F.C.PORTO SEMPRE

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  6. Eh pá, o golo ao Feyenoord nas Antas! Não vi ao vivo, infelizmente, mas lembro-me bem... o que eu sofri! O rapaz faz golo no último minuto, golo que eu sabia que ia acontecer, não me perguntem porquê. :) Depois levámos o autocarro para Roterdão e fomos à Champions!

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  7. Aconteça o que acontecer, eu jamais esquecerei o passado do Domingos no nosso Porto!


    BIBÓ PORTO

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