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Já foram várias as vezes – bem mais que as que gostaria – que ouvi sócios do FCP, ao apontar uma crítica ao clube, arvorar a sua suposta legitimidade para criticar proclamando arrogantemente: "eu tenho as quotas em dia". Curiosamente, ou talvez não, normalmente esse tipo de palavras surge da boca daqueles sócios que reduzem a sua participação no clube ao pagamento das referidas quotas e à presença em jogos grandes e dias de festa. O que essas pessoas certamente desconhecem é que pagar as quotas é apenas o terceiro de uma série de 14 pontos que o artigo 24º dos nossos Estatutos consagra como deveres dos sócios do Futebol Clube do Porto.
"Tomar parte nas Assembleias Gerais ou em quaisquer reuniões para que sejam convocados" é o quinto ponto dessa lista de deveres, e simultaneamente um dos nossos mais valiosos direitos. Na passada terça-feira tive o prazer de me deslocar ao Dragão para cumprir esse dever e fazer valer esse direito enquanto sócia efectiva do clube.
Frequentar as Assembleias é um hábito que tive a felicidade de adquirir sensivelmente quando passámos a jogar no Dragão. Antes disso, e nem sequer sei apontar razões, simplesmente nunca me tinha ocorrido ir a uma Assembleia. Até ao dia em que resolvi levantar-me e marcar presença. Não me lembro ao certo quando foi, assim de cabeça diria 2005, mas posso dizer-vos que mudou a minha postura enquanto Portista. Há um antes e um depois da minha primeira Assembleia.
Numa Assembleia Geral sente-se que o FC Porto é dos sócios, no sentido mais literal possível. O clube é nosso, apesar das SADs, dos compromissos, das cedências. Olha-se para o lado direito e lá está Pinto da Costa. Na Mesa, Sardoeira Pinto. Estão lá Ilídio Pinto, Lourenço Pinto, Reinaldo Teles, um verdadeiro desfile de responsáveis que, no fundo da alma, nada mais são do que adeptos, independentemente dos lugares que ocupem na hierarquia. Está lá o Sr. Lourenço, o famoso trompetista. Está lá o pessoal a quem o Moncho Lopez dedica todas as vitórias. Estão lá os mais altos representantes das claques, acompanhados de vários elementos das mesmas. E o púlpito é de quem quiser falar. Mete-se dedos nas feridas: muito tempo se falou do museu, há quem fale insistentemente das piscinas, fala-se dos problemas financeiros das modalidades. Discute-se a realidade do clube em primeira mão e em sede própria. A Assembleia Geral, onde "reside o poder supremo do clube", é o ponto culminante da vivência de um associado. E quando chega a hora do voto, quase tudo é aprovado por unanimidade. Não por carneirismo, mas por confiança nas pessoas que elegemos. E não por confiança cega, mas por uma confiança com excelente visão, audição, tacto, olfacto e paladar. Uma confiança ponderada, bem informada e sobretudo com boa memória.
Quando se está sentado no estádio entre 50 mil Portistas, a ver os nossos atletas levantarem taças internacionais ou a festejar na Avenida no meio de um mar azul e branco, tem-se a noção da grandeza deste clube. Tem-se a noção do seu presente e a perspectiva do seu futuro, sustentada também por uma vívida recordação das glórias do passado recente. Mas raramente pensamos nas suas origens, no início do caminho.
É precisamente esse sentimento de ligação às origens que me assalta quando estou presente numa Assembleia Geral. Porque numa Assembleia Geral sente-se o Football Club do Porto. Sempre que vou a uma, sem excepção, vêm-me à memória Nicolau d'Almeida e Monteiro da Costa. Imagino-os também em Assembleias Gerais, com os seus companheiros da época, quem sabe pela noite dentro, à luz de uma candeia de azeite, a dar os primeiros históricos passos do clube que se havia de tornar este gigante que hoje celebramos.
Penso no que sentiriam se estivessem ali, mais de um século depois, a ver-nos levar avante o seu legado. A ver-nos aprovar - sim, por unanimidade - o aumento das quotas para 10 euros, 102 anos depois de aprovarem na nossa primeira Assembleia Geral a quota de 300 réis. Creio que estariam orgulhosos. Não apenas do que este clube é hoje e que não era no seu tempo, mas daquilo que sempre foi e continua a ser. Um clube com alma, um clube das pessoas, um clube feito de amor.
"Tomar parte nas Assembleias Gerais ou em quaisquer reuniões para que sejam convocados" é o quinto ponto dessa lista de deveres, e simultaneamente um dos nossos mais valiosos direitos. Na passada terça-feira tive o prazer de me deslocar ao Dragão para cumprir esse dever e fazer valer esse direito enquanto sócia efectiva do clube.
Frequentar as Assembleias é um hábito que tive a felicidade de adquirir sensivelmente quando passámos a jogar no Dragão. Antes disso, e nem sequer sei apontar razões, simplesmente nunca me tinha ocorrido ir a uma Assembleia. Até ao dia em que resolvi levantar-me e marcar presença. Não me lembro ao certo quando foi, assim de cabeça diria 2005, mas posso dizer-vos que mudou a minha postura enquanto Portista. Há um antes e um depois da minha primeira Assembleia.
Numa Assembleia Geral sente-se que o FC Porto é dos sócios, no sentido mais literal possível. O clube é nosso, apesar das SADs, dos compromissos, das cedências. Olha-se para o lado direito e lá está Pinto da Costa. Na Mesa, Sardoeira Pinto. Estão lá Ilídio Pinto, Lourenço Pinto, Reinaldo Teles, um verdadeiro desfile de responsáveis que, no fundo da alma, nada mais são do que adeptos, independentemente dos lugares que ocupem na hierarquia. Está lá o Sr. Lourenço, o famoso trompetista. Está lá o pessoal a quem o Moncho Lopez dedica todas as vitórias. Estão lá os mais altos representantes das claques, acompanhados de vários elementos das mesmas. E o púlpito é de quem quiser falar. Mete-se dedos nas feridas: muito tempo se falou do museu, há quem fale insistentemente das piscinas, fala-se dos problemas financeiros das modalidades. Discute-se a realidade do clube em primeira mão e em sede própria. A Assembleia Geral, onde "reside o poder supremo do clube", é o ponto culminante da vivência de um associado. E quando chega a hora do voto, quase tudo é aprovado por unanimidade. Não por carneirismo, mas por confiança nas pessoas que elegemos. E não por confiança cega, mas por uma confiança com excelente visão, audição, tacto, olfacto e paladar. Uma confiança ponderada, bem informada e sobretudo com boa memória.
Quando se está sentado no estádio entre 50 mil Portistas, a ver os nossos atletas levantarem taças internacionais ou a festejar na Avenida no meio de um mar azul e branco, tem-se a noção da grandeza deste clube. Tem-se a noção do seu presente e a perspectiva do seu futuro, sustentada também por uma vívida recordação das glórias do passado recente. Mas raramente pensamos nas suas origens, no início do caminho.
É precisamente esse sentimento de ligação às origens que me assalta quando estou presente numa Assembleia Geral. Porque numa Assembleia Geral sente-se o Football Club do Porto. Sempre que vou a uma, sem excepção, vêm-me à memória Nicolau d'Almeida e Monteiro da Costa. Imagino-os também em Assembleias Gerais, com os seus companheiros da época, quem sabe pela noite dentro, à luz de uma candeia de azeite, a dar os primeiros históricos passos do clube que se havia de tornar este gigante que hoje celebramos.
Penso no que sentiriam se estivessem ali, mais de um século depois, a ver-nos levar avante o seu legado. A ver-nos aprovar - sim, por unanimidade - o aumento das quotas para 10 euros, 102 anos depois de aprovarem na nossa primeira Assembleia Geral a quota de 300 réis. Creio que estariam orgulhosos. Não apenas do que este clube é hoje e que não era no seu tempo, mas daquilo que sempre foi e continua a ser. Um clube com alma, um clube das pessoas, um clube feito de amor.
Enid, está uma delicia este post!
ResponderEliminarComo eu te entendo, e como concordo com tudo o que escreves-te!;)
BIBÓ PORTO
Engraçado que se lembre de Nicolau d'Almeida e o imagine à luz de uma candeia de azeite - talvez fosse um candeeiro de petróleo - ou electricidade (não faço ideia de quando o Porto a teve, mas a lâmpada essa foi inventada em 79 e o clube fundado em 93...);
ResponderEliminarMas ao que venho: - sem saber, conheci e convivi em criança com uma senhora interessantíssima, cultíssima e finíssima e que não tinha o menor interesse pelo "Foot-ball", nem nunca a vi referir-se ao porto; era filha do Nicolau d'Almeida, e, só muito depois dela ter morrido é que soube da ligação...
Esta história para dizer, que ao contrário do que alguns pensam, que para se ser portista há que ir a todos os jogos e ao picnic da taça, - ou neste caso pagar as quotas - não há ninguém que possa pôr em questão o portismo do fundador, e ele, jogava golfe , vivia na foz, e tinha uma filha que nunca foi sócia!...
(Participar nas assembleias é como ir votar - é sempre uma alegria saber que se cumpriu com um dever cívico...)
Obrigada pelos comentários!
ResponderEliminarReine Margot, muito curiosa a história da filha do fundador! Pena não ter descoberto mais cedo, ainda lhe poderia ter colocado algumas questões interessantes.
Por acaso hesitei antes de colocar a referência à candeia, pois confesso a minha ignorância em relação à história da electricidade... Luz eléctrica não creio que houvesse, tão pouco tempo após a invenção da lâmpada, talvez fosse petróleo, de facto. Mas se é assim que a minha imaginação vê as assembleias dos nossos fundadores, assim as relato ;)
Boa Tarde
ResponderEliminarMuito bom o seu post, pertinente sobre a participação dos associados na vida activa do clube. Mas o verdadeiro portismo está na alma, está dentro de nós. Da minha parte não há drama nenhum, um dia destes terei a minha quota anual em dia, sei que sou só sócio correspondente mas faço questão de exibir o meu cartão em todo o lado e com a cagança que se impõe.
Mais um belíssimo post da Enid, que retrata muito bem os sentimentos que se nos invadem aquando de uma presença numa AG do FCPorto. Tive o prazer de mais uma vez estar presente, desta vez acrescido do privilégio da companhia da autora deste magnífico texto. Creio que a minha 1ª vez tenha sido em 1998, nas antigas instalações das Antas, no Pavilhão Afonso Pinto de Magalhães. Desde essa noite foram cerca de uma dezena delas. Já ali vivenciei momentos de fervor e de chama portista arrepiantes. Alguns mesmos tendo preenchido minha Alma "azul-e-branca" de forma superior a um qualquer jogo do nosso Clube. É ali que estão as nossas figuras, o nosso Presidente Jorge Nuno Pinto da Costa, os nossos Directores. Ali respira-se a Alma do Clube e dali se faz Porto e a nossa história centenária.
ResponderEliminarEnid, permite-me apenas que acrescente pelo menos um nome aos teus... alguém que infelizmente não mais poderá estar fisicamente, mas que, com certeza esteve presente em espírito... Pôncio Monteiro.
Abraço
Excelente post, partilho da tua opinião Enid, a 100%.
ResponderEliminarViver um clube não é só "ir aos jogos", é muito mais do que isso...
Um Clube com Pessoas que são a génese de tudo. Diversas posturas, modos diferentes de exercer o portismo. Mas uma Família que congrega vontades.
ResponderEliminarBelo post à boa maneira do que já nos habituaste. Obrigado, Enid. É sempre um prazer ler-te.
Abraço AZUL FORTE.
BIbÓ PORTO!
eNID,
ResponderEliminarcomo sempre, um post 7 estrelas!
de facto, ser PORTO, é muito mais que pagar cotas, cai muito mais para além disso, no entanto, será sempre uma velha discussão, pois cada qual tema a sua forma de praticar o Portismo... tenho uma única certeza, tenho a minha forma de praticar o Portismo e sinto-me completamente confortável com essa forma de estar e de ser.
outra certeza tb, é que não sou mais Portista que um outro qualquer, mas tenho a firma certeza de que mais do que eu, ninguém é!!!
Blue, entendo o que estás a dizer, embora discorde: na minha opinião o amor e dedicação ao clube são mensuráveis, não são é fáceis de medir, até porque há diversas formas diferentes de sentir e de manifestar esse amor.
ResponderEliminarO pessoal a quem me refiro no início deste post é aquela gente que está sempre pronta a criticar tudo porque "pago as minhas quotas", mas além desses 9 euros por mês não move uma palha para dignificar e engrandecer o clube. Ir às AGs é só um exemplo. Essa gente até pode dizer-se muito Portista, mas não é o meu tipo de Portista.
Obrigada a ti e a todos pelos comentários :)