01 janeiro, 2016

MÍSTICA: PAGA-SE A QUEM A ENCONTRAR.

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/

Coube-me em sorte redigir a última crónica de 2015 para o BiBó PoRtO. O dia 31 é o momento para esvaziar gavetas e garantir espaço para os sonhos e os objectivos do Novo Ano, no qual os portistas devem procurar livrar-se da tralha, do lixo, do “barulho”, dos soundbytes e concentrar-se no que interessa ao FC Porto.

Durante anos, a nação portista lambia os beiços ao falar da mística. A baba escorria pelo queixo quando nos gabávamos de ser mais fortes, de termos que suar o dobro dos outros, de acreditarmos até ao último minuto e fazermos como a cidade: das tripas o coração. O portista comum habituou-se, em público, a rir-se da mania das grandezas de uns e a desdenhar o choradinho de outros. O orgulho na cultura e na tal mística estava gravado na pele: o FC Porto fazia mais com menos, conquistava a Europa a partir de um pequeno canto de Portugal, batendo o pé aos tubarões europeus, engenhando equipas baratas e ganhadoras, que deixavam a pele em campo. Um símbolo da cidade e da região, demasiadas vezes menosprezada pelo resto do País. Um clube unido em torno do seu Presidente, da sua cultura, das suas gentes, que acarinhava os seus atletas. Um Estádio das Antas onde os adversários já entravam derrotados, de pernas a tremer e cabeça fixa na relva. Uns adeptos coerentes, futebolisticamente cultos e com mentalidade, que exigiam o máximo, mas que também davam o máximo.

Nas vésperas de terminar 2015, sabemos que esse é um cenário que já lá vai. O portismo vive entre o estado de euforia e a depressão profunda, numa espécie de crise psicótica permanente. Ora se vê o facebook inundado de loas à fantástica negociação dos direitos televisivos junto da Altice, ora vejo críticas ao Treinador e ao Director do Departamento de Futebol. Nuns dias leio que afinal tanta coisa e somos os primeiros, em outros leio que com este Treinador ao leme nada vamos ganhar. Já vi um aeroporto cheio como nunca mais vi em Portugal a dar força aos rapazes e Treinador que iam a Munique, como já ouvi assobios aos 5 minutos de jogo após uma troca de bola entre os centrais.

E se pensarmos bem, este tem sido a normalidade da vida do FC Porto nos últimos anos. O novo normal, aliás. Jesualdo nunca agradou à massa adepta. Vítor Pereira idem. Hoje em dia são recordados com saudade e boas lembranças. Villas-Boas ora é lembrado com paixão, ora é acusado de traição. Já ouvi dizer que se Jesus viesse para o Dragão, havia cartões de sócio rasgados. Pelo contrário, ouço também várias vezes que Jesus no Porto era campeão com 30 pontos de avanço.

E depois há a curiosa dicotomia Dragão vs Internet: atrás do computador, todos somos contra os assobios, contra as pipocas, a favor da estabilidade, do treinador, de apoiar a equipa durante os 90 minutos, de dar força aos jogadores, de fazer do nosso Estádio de novo um terreno temível para os adversários. Só que, chegados ao Dragão, a história muda de figura. Quase dá a ideia que os pipoqueiros e os assobiadores vivem à margem da ligação à internet. Das duas uma: ou esta gente não tem de facto acesso à internet ou então aqueles que na internet vomitam diariamente acusações contra o novo portismo das pipocas e assobios não saem do sofá para ir à bola.

Já não somos UM. Somos muitos, demasiados. Eu sou do tempo em que quando o Fernando Couto nas Antas entrava a varrer sobre um avançado e aliviava a bola para a bancada era aplaudido de pé pela turba, exaltando o brilhantismo de “um central à Porto”. Hoje em dia, ai de algum central portista que alivie a bola para a bancada! É apelidado de tosco, de bruto, de não saber “sair a jogar”, de não ser um central moderno. No entanto, quando vou à internet, só leio a apologia do “jogador à Porto”, do jogador português, do jogador aguerrido e que faz carrinhos. Mas já se sabe, quando se contratam Licás, Castros, Josués e Sérgios Oliveiras, sabemos a ladainha que aí vem: não têm categoria para jogar no Porto, a garra não chega, se fosse só garra também eu jogava, etc e tal.

Apetece perguntar o que é que de facto os portistas querem? Querem os Brahimis, os Coronas e os Tellos? Ou querem uma equipa de Castros e de Licás? Ontem o André Silva chegava para 2º avançado. Hoje, depois do Marítimo, já é preciso ir ao mercado. Mas que coerência é esta?

Todos sabemos que estamos neste ponto. Sem saber para onde ir. Sem rumo, sem Norte, sem uma voz de comando que norteie e indique o caminho como antes. O Treinador, esse, é deixado sozinho, como carne para canhão. Os adeptos exigem que a corda parta para o lado mais fraco.

Estou à vontade para falar. Não sou nem nunca fui fã de Lopetegui, além de que assumo que o futebol jogado é pobre e pouco excitante. No entanto, não entro neste histerismo colectivo que parece ter-se apoderado da nação azul e branca. Saudades do que um dia fomos!

Que 2016 nos traga não as vitórias, mas sim a UNIÃO, que mais não é que a MÍSTICA que construímos, todos juntos, durante anos e anos. Com ela, as vitórias aparecerão. E se mesmo assim não aparecerem, serei sempre mais portista que ontem e menos do que amanhã.

Um abraço a todos e um Excelente 2016 a todos os nossos leitores!

Rodrigo de Almada Martins

4 comentários:

  1. Resumindo é o que canto algumas vezes no estadio... "mal habituados, voce os deixou... mal habituados"

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  2. http://youtu.be/LPENcGQ8Ijs está tudo dito ao minuto 6:40 pelo sr António oliveira. Sente-se o coração portista a bater

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  3. O texto resume-se a isto: a equipa não tem identidade. Nem boa nem má, simplesmente não existe. Quem acabou com ela? A SAD, como é óbvio. A verdade é que só há uma forma dos clubes serem diferentes uns dos outros: política desportiva.

    Não são os adeptos que criam uma identidade jogo a jogo, apenas reflectem o que é feito pela SAD no futebol. Existem variações entre os clubes, mas a maioria é circunstancial. Podem sim mudar quem manda no clube (ou correr com um treinador, mas depois não escolhem o sucessor!). Aí é que está o poder dos adeptos: arrancar o "mal" pela raiz apoiando uma alternativa que depois molda uma identidade.

    Mas o que é que na política desportiva define a identidade de um clube?

    - Treinador carismático e estável (o Atlético do Simeone, Borussia do Klopp, etc.). Com esta administração os treinadores nunca passaram de funcionários. Conclusão: zero!

    - Gerrards: não existe 1 no 11 mais usado. Nem sequer isso é possível com estes nomes, tirando talvez o André André, daqui a 4 ou 5 épocas. Conclusão: zero!

    - Formação: Há um único que é apenas o 14º mais utilizado. Conclusão: zero!

    A política desportiva actual é o exacto oposto disto, portanto é impossível que exista uma união entre adeptos e equipa, não vale a pena perder tempo a pensar nisso.

    Claro que com vitórias isto é tudo secundário, o problema é que quando não aparecem esta falta de identidade torna muito mais difícil voltar a ter estabilidade.

    A partir daqui colocam-se alguns cenários: ou esta direcção muda radicalmente de política desportiva (não há o mínimo sinal nesse sentido), ou continua tudo na paz podre actual ou os adeptos mudam de direcção (o que não passa pela cabeça dos adeptos!).

    Conclusão: quem está insatisfeito... vai ter que engolir a sua insatisfação, porque ou continua tudo na mesma ou, mais provável, a situação agrava-se. Só vejo uma pequena janela para alterar isto, que é o regresso do AVB na próxima época numa perspectiva de fazer carreira.

    Cumprimentos.

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  4. Viva,

    Antes de mais Bom Ano Novo para todas e todos as e os Portistas.

    Creio que a peça disponibilizada pelo Ano'nimo do dia 02 nos ajuda a esclarecer a problema'tica evocada no texto: "Jardel: dois remates, um golo".

    E Viva o Porto!

    Nuno PortoMaravilha

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