13 maio, 2011

Capítulo 4: 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte XII)

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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto

Capítulo 4: 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte XII)

Época 1937-1938

Campo da Constituição exíguo e a necessidade de recinto condigno
4 Ago.1937 – O FC Porto continuava sem campo de futebol condigno, jogando em recintos alugados. Era indigno que clube com a grandeza do FC Porto não possuísse campo de futebol capaz. O Campo da Constituição estava virtualmente condenado como espaço para grandes jogos, dada a sua exiguidade e a impossibilidade de alargamento.
Por isso, como que reacendendo sonho antigo, em 1937 a Direcção presidida pelo Dr. Carlos Costa Júnior levou à Assembleia-geral proposta de um empréstimo por obrigações para construção de um novo estádio. Nas suas bases gerais garantia-se que o empréstimo seria constituído por 15 mil obrigações de 30$00 cada, vencendo o juro de cinco por cento ao ano. A subscrição inicial seria constituída por 10 mil obrigações no valor de 300 contos, podendo a subscrição das restantes 5000 obrigações ser feita logo que a Comissão encarregada da administração do empréstimo a julgasse oportuna e necessária.
A Comissão Pró-Campo ficou constituída pelos presidentes da Direcção, Assembleia-geral e Conselho Fiscal e pelos associados Sebastião Ferreira Mendes, Domingos Ferreira, Carlos Lello e António Martins. A 4 de Agosto, após posse da comissão, Abel Garção, presidente da Assembleia-geral do FC Porto, clamou: “Agora, meus senhores, vamos para a luta!”

Ténis de Mesa
20 Dez.1937 – Foi criada a primeira equipa de Ténis de Mesa do FC Porto, constituída por Cândido Rocha, Albano Sá, Carlos Leitão, Barros Gomes e Vianinha (o futebolista brasileiro).

Jorge Pinto da Costa
28 Dez.1937 – Nasceu, no Porto, Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa.

O FC Porto fez um excelente Campeonato Nacional e só baqueou em dois jogos: com os contentores directos, Benfica e Sporting, em Lisboa. Era um excelente grupo, com magníficos executantes.
O FC Porto foi segundo classificado, com o mesmo número de pontos (23) do campeão. E a equipa com mais vitórias (11) e mais jogos seguidos sem perder (12).
Eis a fotografia dos valorosos jogadores. Da esquerda para a direita, em cima: Soares dos Reis, Vianinha, Ernesto Santos, Carlos Pereira, Pocas e Francisco Ferreira; Em baixo: Carlos Nunes, Pinga, Reboredo, António Santos e Lopes Carneiro.

Clubes das 1.ª e 2.ª Ligas com direito a disputar o Campeonato de Portugal

1.ª Liga:
Assoc. Académica de Coimbra
Académico Futebol Clube
Futebol Clube Barreirense
Carcavelinhos Football Club
Clube Futebol Os Belenenses
Futebol Clube do Porto
Sport Lisboa e Benfica
Sporting Clube de Portugal

2.ª Liga:
(Vencedores das 4 zonas)
Leixões Sport Clube
Atlético Club Marinhense
União Football de Lisboa
Vitória Futebol Clube

(Vencedores apurados entre os 4 vencidos das zonas)
Boavista Futebol Clube
Clube Futebol Marvilense

Apurado do Torneio Açores-Madeira:
Club Sport Marítimo

Oitavos-de-Final

FC PORTO - LEIXÕES, 6-1 (1.ª mão)
15-5-1938, Porto (Amial)
Árbitro: Amável de Carvalho (Porto)
Marcadores:
1-0 Gomes da Costa (6’)
2-0 António Santos (15’)
3-0 Costuras (53’)
4-0 Costuras (67’)
5-0 António Santos (68’)
5-1 Mano (88’)
6-1 Costuras (90’)
FC Porto – Treinador: François Gutskas (austríaco)
Soares dos Reis; Vianinha e Fernando Sacadura; Manuel dos Anjos “Pocas”, Carlos Pereira e Francisco Ferreira; Lopes Carneiro, António Santos, José Monteiro “Costuras”, Gomes da Costa e Carlos Nunes.
Leixões –
Álvaro, João Fernandes e Henrique Moreira; Quelhas, António Rodrigues “Minhoto” e Lino; Mário, Sarria, Óscar Marques, Silveira e Mano.

LEIXÕES - FC PORTO, 1-8 (2.ª mão)
22-5-1938, Matosinhos (Leixões)
Árbitro: Vieira da Costa (Porto)
Marcadores:
0-1 António Santos (18’)
0-2 António Santos (43’)
0-3 Costuras (47’)
0-4 António Santos (60’)
0-5 Carlos Pereira (69’)
0-6 Pinga (70’)
0-7 Costuras (72’)
1-7 Minhoto (75’)
1-8 António Santos (84’)
Leixões –
Adão; João Fernandes e Henrique; Quelhas, António Rodrigues “Minhoto” e Lino; Armindo, Sarria, Nicolau Tavares, Silveira e Mano.
FC Porto – Treinador: François Gutskas (austríaco)
M. Pereira da Silva “Rosado”; Vianinha e Fernando Sacadura; Manuel dos Anjos “Pocas”, Carlos Pereira e Francisco Ferreira; Lopes Carneiro, António Santos, José Monteiro “Costuras”, Artur de Sousa “Pinga” e Carlos Nunes.

Quartos-de-Final

Ambiente de guerrilha…
E para o Campeonato de Portugal de 1937-38, outra vez o Benfica no caminho do FC Porto. Primeira-mão, no Lima.
Um mar de gente, um oceano azul-e-branco correndo, compacto, atrás do sonho. Ao assomo dos benfiquistas, o alarido dos portistas. Um ambiente de guerrilha instalou-se no campo. Houve meia hora de jogo limpo, o FC Porto esteve a ganhar por 1-0 e por 2-1, o Benfica voltou a empatar e, após o 2-2, as hostilidades romperam com impetuosidade. Jogadores de “arma na mão”. E, por isso, segundo crónica de então, “houve vítimas”! Alguns ficaram fora de combate e, assim, impossibilitados de jogar durante semanas, outros, apesar de abandonarem o terreno, acusavam contusões, feridas visíveis no corpo, como se, em vez de futebol, tivessem saído de um campo de luta livre. Uma vergonha!
Na “Stadium”, Domingos Lança Moreira escreveu: “A arbitragem do conimbricense Álvaro Santos foi irregular no critério aplicado em faltas idênticas. A expulsão de Rogério teve o carácter duma explicação dada ao público, que não se calava. E a de António Santos e Gaspar Pinto foi inoportuna. A de Costuras mais aceitável, porque a agressão a Albino existiu, de facto. Teve uma virtude importantíssima: a de no meio daquela algazarra toda, nunca dar a impressão de estar desorientado. Embora intimamente o pudesse estar”.
Antes de expulso, Costuras, servindo-se da mestria de avançado predestinado, colocou o FC Porto a vencer por 4-2.

António Santos eleva Pinga, sob o olhar de Costuras e Nunes, após a marcação do primeiro golo no jogo do Lima

FC PORTO - BENFICA, 4-2 (1.ª mão)
29-5-1938, Porto (Lima)
Árbitro: Álvaro Santos (Coimbra)
Marcadores:
1-0 António Santos (17’)
1-1 Rogério (23’)
2-1 Carlos Nunes
2-2 Espírito Santo (34’)
3-2 Costuras
4-2 Costuras
FC Porto – Treinador: François Gutskas (austríaco)
Soares dos Reis; Vianinha e Fernando Sacadura; Manuel dos Anjos “Pocas”, Carlos Pereira e Francisco Ferreira; António Santos, Gomes da Costa, José Monteiro “Costuras”, Artur de Sousa “Pinga” e Carlos Nunes.
Benfica – Lipo Hertzka (húngaro)
Augusto Amaro; António Vieira e Gustavo Teixeira; Raul Baptista, Francisco Albino e Gaspar Pinto; Domingos Lopes, Rogério Sousa, Espírito Santo, Luís Xavier e Alfredo Valadas.

Equipa desfalcada
A equipa do FC Porto partiu para Lisboa sem Gomes da Costa, António Santos e Costuras, todos eles ainda a contas com as mazelas ou castigos resultantes do jogo da 1.ª mão com o Benfica.
A “Stadium” comentava após o jogo nas Amoreiras: “Lamentavelmente, em Lisboa houve a ideia da vindicta, mas à face da verdade o público desportivo da capital estava sob a influência dos ‘hinos guerreiros’ que uma parte da imprensa tem cantado altissonantemente (*)! Desse desvario, resultaram vítimas os jogadores, precisamente os que, normalmente, menos culpa têm, vivendo à margem das discussões. E como consequência de toda a excitação provocada, assistiu-se nas Amoreiras à maior orquestração de assobios e pateada que temos presenciado em Lisboa”.
(*) Ontem como hoje…

Polícia a rodos e a imagem indigna do futebol
E mais disse a “Stadium”: “Polícia a rodos, guardando balizas, tomando as portas dos balneários, estabelecendo caminhos, respirando-se uma atmosfera de ordens severas e rigorosas por todos os lados – tudo isto dava um aspecto belicoso e de desconfiança, que não fica bem a um campo de desporto, que arrepiava e indignava! (**)
Ao intervalo, os portistas já perdiam por 5-0. E, durante cinco quartos de hora, resfolegando de fadiga, de rostos esfarrapados pela angústia, como frangalhos da vida, foram (ao menos isso!) mantendo intocável olímpica postura, mas, de súbito, a cólera ou a angústia da desfeita ressoaram em si – e perderam a cabeça”. Na refrega, Ângelo e Carlos Nunes foram expulsos do lado do FC Porto, e do lado do Benfica também Vieira seguiu o rumo daqueles, por ter respondido a Nunes.
(**) A intimidação; ontem como hoje… E ainda não havia “stewards”, túneis e electricistas incompetentes…

Os sete golos do desespero…
O Benfica chegaria aos sete golos, os portistas, no desespero das agonias, corpos doridos e orgulho ferido, deixaram o campo como se saíssem de uma câmara de tortura. Na cabina, um silêncio tumular, primeiro, depois os remoques dos dirigentes que prometiam castigos, dispensas, etc…

BENFICA - FC PORTO, 7-0 (2.ª mão)
5-6-1938, Lisboa (Amoreiras)
Árbitro: Cunha Pinto (Setúbal)
Marcadores:
1-0 Valadas (5’)
2-0 Lopes (17’)
3-0 Luís Xavier (22’)
4-0 Espírito Santo (26’)
5-0 Luís Xavier (28’)
6-0 Espírito Santo (50’)
7-0 Espírito Santo (63’)
Benfica – Lipo Hertzka (húngaro)
Augusto Amaro; António Vieira e Gustavo Teixeira; Raul Baptista, Francisco Albino e Gaspar Pinto; Domingos Lopes, Feliciano Barbosa, Espírito Santo, Luís Xavier e Alfredo Valadas.
FC Porto – Treinador: François Gutskas (austríaco)
Soares dos Reis; Vianinha e Fernando Sacadura; Manuel dos Anjos “Pocas”, Carlos Pereira e Francisco Ferreira; Lopes Carneiro, Francisco Reboredo, Ângelo, Artur de Sousa “Pinga” e Carlos Nunes.

Castigos quixotescos
A Direcção do FC Porto lançou castigos ridículos aos jogadores, no rescaldo fumegante do jogo de Lisboa. Depois, talvez por ser demais evidente a procura de dois ou três bodes expiatórios, as deliberações em castigar e dispensar alguns dos seus jogadores ficaram em águas de bacalhau. Possivelmente também, efeitos do coro que a esmagadora maioria de associados e a imprensa levantaram verberando a excentricidade de tal decisão.
Um dos futebolistas que se diziam dispensados era o defesa-direito Vianinha que partiu imediatamente para o Brasil, seu país, depois de assinar novo contrato com o FC Porto. Prometeu voltar, mas acabaria por ficar no Internacional de Porto Alegre.

O último Campeonato de Portugal – Historial desde o primeiro
Na época 1937-38, disputou-se o último Campeonato de Portugal vencendo-o o Sporting. Esta competição daria lugar, na temporada seguinte, à Taça de Portugal.
Para a história ficam as vitórias das equipas de sete clubes em outras tantas finais. FC Porto e Sporting foram os mais vitoriosos com 4 títulos cada um. De seguida, resumos dos títulos e das 17 finais disputadas.


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  • No próximo post.: Capítulo 4, 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte XIII) – Época 1938-39; o incêndio na Constituição e a destruição do Amial; o Amial e a história dos “andrades”; dr. Ângelo César Machado assume a presidência; vida difícil…; biografia de Francisco Ferreira; Gutskas trocado por Siska; Campeonato Nacional (1.ª Divisão) 1938-39 (1.ª volta).

5 comentários:

  1. Ufa, depois de um grande susto - cheguei a pensar que tanto trabalho tinha ido para o galheiro -, a coisa normalizou - só perdi um post - e nada como ver mais uma bela página da nossa rica história. Nada podia ser mais apropriado para a reinauguração do BiBo-PoRtO.

    UM ABRAÇO

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  2. O blogger tem andado maluco. Já enviei um comentário, mas não entrou, ao que vejo. Aliás na linha do que sucede com o meu blogue, cujos recentes comentários ao post sobre os campeões juniores, desapareceram sem se entender como.
    Agora este post, mais um na progressão do que tão bem tem sido feito aqui pelo Fernando Moreira. A gente vê, lê, e ficamos abismados com este trabalho tão completo. Para continuar, naturalmente, até ao livro que, por certo, será a verdadeira Bíblia do F. C. Porto, mas no sentido do livro dos Livros do FCP...!

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  3. Não tem nada a ver com este post, mas, como é óbvio, é do interesse de todos os portistas:

    O FC Porto anunciou que concretizou a aquisição de mais 40% do passe de Hulk. Já esperava. Fantástico, digo eu.

    Hulk passa a ser o jogador mais caro da história do FC Porto e do futebol nacional: aos 5,5 milhões pagos inicialmente, juntam-se agora os 13,5 milhões, o que perfaz a "astronómica" (para o nosso meio) soma de 19 milhões de euros! O FCP tem agora 85 % do passe e a cláusula de rescisão mantém-se nos 100 milhões. É a boa gestão de um grande Clube a trabalhar. “Mai” nada!

    Abraço azul forte.

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  4. A obra prima do Dragão azul Forte continua... a história do FCP também...grande abraço e continue;)

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  5. Gostava de saber quanto valeria hoje um jogador chamado Pinga, que muitos dizem ter sido o melhor futebolista português de todos os tempos.

    Outra bela página da “História”. Venha a próxima.
    Beijos.
    BIBÓ PORTO!

    Cristina Moreira

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