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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto
Capítulo 4: 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte XIV)
(Campeonato Nacional da 1.ª divisão 1938-39 – continuação)
No início da 2.ª volta, regresso a Lisboa e 4-4 com o Sporting, no Lumiar. “O FC Porto foi para o terreno com vontade de vencer, mas sem convicção. Os primeiros minutos deixaram transparecer o estado de alma. O tento 'leonino', a iniciar a contagem, mais carregou o ambiente das hostes nortenhas”. Sem se afundar, a turma portuense não parecia disposta a romper as linhas defensivas contrárias. De repente, na primeira avançada do FC Porto, a bola entrou. Em três outros ataques, outros tantos tentos. Quatro golos de rajada e o FC Porto, a ganhar por 4-1, parecia correr para uma goleada histórica. O Sporting descobriu a alma ‘leonina’ e conseguiu chegar ao empate. Sem saber como... pois foi Sacadura, aos 87 minutos, que introduziu a bola na própria baliza…
A caminhada para o título
• Uma semana depois, o FC Porto venceu a Académica, na Constituição, por 3-1. Os golos de Pinga, António Santos e Castro, não foram a única nota de agrado para a equipa. É que ficou mais descansada com a vitória do Sporting, em “casa” do Benfica, por 4-1. Mas os sportinguistas poderiam tornar-se nova ameaça na corrida para o título.
António Santos, ao lado de Pinga, marca o segundo golo do FC Porto à Académica de Coimbra. Ao fundo, Carlos Nunes observa a jogada
• Entretanto, vencendo folgadamente o Belenenses (5-2) e beneficiando do empate do Sporting, no Lumiar, com a Académica (desvanecendo-se, assim, a última esperança “leonina”) o FC Porto tinha o caminho mais livre.
• À 11.ª jornada o FC Porto visitava o Barreirense. Nesta equipa depositavam a esperança os benfiquistas. O empate sem golos serviu mais os azuis-e-brancos que os encarnados, que bateram o Belenenses por 3-2. Mas o Benfica ainda podia ser campeão…
• Carlos Nunes e António Santos trataram de, nos primeiros 7 minutos, resolver a contente o encontro fora de muros com o Casa Pia (2-1).
• A jornada 13, a penúltima, não foi aziaga para os portistas e até se marcaram 13 golos! Na visita ao Estádio do Lima, o FC Porto brindou os vizinhos do Académico com 12 “tragos” contra um. Os protagonistas da goleada foram Carlos Nunes (4), Costuras (5), António Santos (2) e Reboredo.
Ia-se para a última jornada com 2 pontos a separar Sporting e Benfica de FC Porto em primeiro. O Benfica se ganhasse na Constituição igualava o FC Porto e vencia o Campeonato…
A loucura do futebol e a ampliação das bancadas!
Aproximava-se a última jornada e o embate com o Benfica. Era o jogo do título. E a loucura na procura de um lugar para espectáculo ver. A candonga já operava e, pasme-se, bilhetes de 5 escudos foram vendidos por… 20! No acanhado campo da Constituição (nada de harmonia com a importância do clube) os dirigentes do FC Porto decidiram, em corrupio, introduzir mais melhoramentos. Para se atingir a capacidade de 20.000 espectadores, construíram-se camarotes sobre os lugares de peão, foi ampliada a geral e edificada uma bancada descoberta sobre os "courts" de ténis. Assim, ficou condenada esta modalidade. Mas o futebol mandava…
Assistência a um jogo de futebol em finais de 1938. A modalidade mobilizava já o entusiasmo dos espectadores de todas as idades e de todas as classes sociais
14.ª e ultima jornada
Duas horas antes do início do jogo, não cabia mais ninguém na Constituição. Com o empate a três golos, o FC Porto juntou à vitória no primeiro Campeonato de Portugal e à vitória no primeiro Campeonato Nacional da 1.ª Liga, a conquista do primeiro Campeonato Nacional da I Divisão. Num jogo electrizante, os lisboetas queixaram-se do árbitro (coisa que raramente tinham de fazer…) mas o título alcançado pelo FC Porto foi-o com muita determinação e categoria. Comentário de Correia Duarte, na "Stadium": "Não obstante o senão ditado pelo último minuto de jogo, no qual os "encarnados" bateram pela quarta vez as redes de Soares dos Reis e que o árbitro (Henrique Rosa) anulou, devemos dizer, em abono da verdade, que o 1.º Campeonato Nacional da 1.ª Divisão está bem entregue. O FC Porto foi, sem dúvida, o melhor agrupamento que disputou o torneio. Começou hesitante, mas de jornada para jornada veio subindo gradualmente e podemos dizer que atingiu a craveira de o melhor”.
Carlos Nunes, “capitão” do FC Porto, afiançou: “Quando Henrique Rosa viu Sacadura agarrado, apitou imediatamente, sem curar saber se a bola iria cair perto ou longe das balizas. Aquilo não foi golo, mas a nós não nos importava nada voltar a jogar com o Benfica”.
Para surpresa de todos, dois dias depois a revista “Stadium” publicava a foto do lance, pretendendo, assim, mostrar que Rosa se enganara. Jornalistas do Norte clamaram contra a heresia e contra a “Stadium”. Houve mesmo quem escrevesse que a foto não se referia ao lance em causa. E o “Norte Desportivo” chegou a pedir castigo para os delinquentes que tinham forjado tal documento. A guerra instalava-se e motivava o primeiro corte de relações…
Nota: …e ainda não havia “pasquim da Queimada” nem “Rascord”…
O público acorre em massa ao Campo da Constituição, mas muita gente fica de fora
António Santos marca o terceiro golo do FC Porto
Lopes Carneiro cabeceia para Costuras, enquanto o benfiquista Gustavo tenta interceptar a bola e Soares dos Reis, guarda-redes azul-e-branco, revela o seu estilo no último jogo do Campeonato
Campeonato Nacional da 1.ª Divisão (1938-1939)
FC Porto – Plantel Campeão
(14j, 10v, 3e, 1d, g57-20, 23p)
Treinador: François Gutkas (austríaco) até 14-10-1938; depois, Miguel Siska (húngaro naturalizado português).
Jogadores/Jogos: António Santos (14 j); Artur Sousa (Pinga) (14j); Carlos Nunes (14j); Carlos Pereira (14j); José Monteiro (Costuras) (14j); Fernando Sacadura (13j); António Baptista (12j); Manuel Anjos (Pocas) (12j); Soares dos Reis (12j); Francisco Reboredo (11j); Lopes Carneiro (10j); Vítor Guilhar (8j); Castro Ferreira (4j); M. Pereira Silva (Rosado) (2j).
Golos: José Monteiro (Costuras) (18g); Carlos Nunes (15g); António Santos (11g); Artur Sousa (Pinga) (6g); Lopes Carneiro (2g); Francisco Reboredo (2g); Castro Ferreira (1g); 1 autogolo de Rodrigues Alves (Belenenses).
Primeiro Campeão Nacional da 1.ª divisão (1938-39)!
A equipa do FC Porto que fez história sob o comando de Miguel Siska.
Da esquerda para a direita, em cima: Siska (treinador), Soares dos Reis, Sacadura, Guilhar, Manuel dos Anjos (Pocas), Carlos Pereira, António Baptista, Francisco Reboredo, Rosado e Francisco Gonçalves (massagista);
Em baixo: Castro Ferreira, Lopes Carneiro, António Santos, Costuras, Pinga e Carlos Nunes.
Foi um título conseguido com muito sacrifício. Ainda assim só com uma derrota, nas Amoreiras. O FC Porto passava por crise financeira grave, mas, na plenitude do acreditar, a máquina portista foi imparável. Sob o comando do treinador Miguel Siska, a engrenagem mostrou-se bem oleada e o título decidiu-se na Constituição, onde o empate (3-3) serviu os portistas e relegou o Benfica para o terceiro lugar. E, beneficiando ou não do erro do árbitro — e se beneficiou também já era tempo de beneficiar... — unanimidade se gerou em relação a um facto: que o FC Porto fora justo e incontestável Campeão Nacional da I Divisão. O primeiro...
José Monteiro (conhecido por Costuras) tal como o seu clube, o FC Porto, também foi líder pois sagrou-se melhor marcador do campeonato com 18 golos apontados. Logo a seguir, registe-se, Carlos Nunes com 15.
Nota: este feito (dois jogadores do FC Porto máximos “artilheiros” da prova) só voltou a ser repetido, 72 anos depois, na época 2010/2011 através dos fantásticos dianteiros Hulk (23 golos) e Falcão (16 golos)! Extraordinários registos!
O FC Porto foi também o campeão das receitas, arrecadando 157.039$40 na distribuição das receitas líquidas efectuadas pela FPF, relativamente ao Campeonato Nacional, tendo o Benfica recebido 129.156$60. Os jogos no seu campo renderam ao FC Porto 232 contos, no do Benfica 131, no do Sporting 95, no do Belenenses 66, no da Académica 55, no do Académico 51, no do Barreirense 33 e no da Casa Pia 15.
Costuras – José Monteiro (n. Sesimbra, 23 Out.1913 – m. ??), era um hábil avançado-centro e cabeceador exímio que chegou ao FC Porto depois de representar o Boavista durante quatro épocas (1933-34 a 1936-37).
• Na primeira com a camisola azul-e-branca vestida, logo se destacou com a marcação de golos nos jogos em que participou a contar para o Campeonato Nacional (1.ª Liga) e Campeonato de Portugal. No Campeonato Nacional o FC Porto sagrou-se vice-campeão com os mesmos pontos (23) do campeão.
• Na época 1938-39 voltou a jogar inserido numa linha de atacantes de grande nível: Carlos Nunes, António Santos, Pinga e Lopes Carneiro eram os companheiros com os quais conquistou o Campeonato Nacional da 1.ª Divisão.
• Como que a comprovar a sua apetência pelo golo, foi o rei dos “artilheiros” com 18 tentos marcados. Ao serviço do FC Porto fez 44 golos em 46 jogos!
• Não há rasto dele após a época de 1938-39, pelo que se julga ter sido a última ao serviço do FC Porto.
Carreira no FC Porto
1937-38 a 1938-39
Palmarés
1 Campeonato Nacional (1938-39)
2 Campeonatos do Porto
Soares dos Reis – Manuel José Soares dos Reis (n. Penafiel, 11 Mar.1910 [ou 1911] – m.??), o primeiro guarda-redes internacional do FC Porto, testava os reflexos apanhando pequenos coelhos, "peculiar maneira de nos jogos não fazer da baliza capoeira de pequenos ou grandes ‘frangos’".
• Jogou no Leça FC, na época 1932-33 no Boavista e antes da de 1933-34 transferiu-se para o FC Porto.
• Na guarda das redes portistas, sucedeu ao extraordinário Miguel Siska que acabou por ser seu treinador.
• Em 1986, com 76 anos, Soares dos Reis contava: "A maior parte dos jogadores não aparecia aos treinos. Uns porque trabalhavam, outros porque se alimentavam mal e não podiam esbanjar as energias que guardavam para os jogos. Estágios? Dois a três por ano". Quanto a assistências, "as mais terríveis eram as do Benfica e do Setúbal. Bombardeavam-me durante todo o desafio. Para mim era terrível jogar fora de casa. O público estava junto de nós e tratava-nos do piorio. Tínhamos de jogar em duas frentes, defendendo os remates dos avançados… e os do público. E os deste eram, muitas vezes, bem mais dolorosos…"
• "O lugar de guarda-redes foi sempre ingrato; depois dele, só a baliza, o golo. Uma coisa posso dizer: não havia tantos "frangos" como hoje e os "chapéus" não existiam. Os guarda-redes saíam mais da baliza do que saem hoje. Eu era decidido: ou ia ou não ia".
• Soares dos Reis foi campeão pelo FC Porto no primeiro Campeonato Nacional (Liga) disputado, em 1934-35, e no primeiro Bicampeonato portista (1938-39 e 1939-40). Ganhou também a penúltima edição do Campeonato de Portugal (1936-37).
• Em Janeiro de 1940 envolveu-se em desordem com Carlos Nunes, durante um treino, no campo da Constituição. Depois das averiguações, a decisão pouco comum (na altura), e a mão pesada da direcção, sem complacências: o guarda-redes foi castigado (um mês de suspensão e 200 escudos de multa), o avançado e "capitão" suspenso de toda a actividade e multado em 750 escudos.
• Envergou por 4 vezes a camisola da Selecção Nacional, tendo-se estreado em Madrid, contra a Espanha, em 11 Mar.1934, e efectuado o último jogo defrontando a Alemanha, em 27 Fev.1936.
• Soares dos Reis tinha um estilo inconfundível e era, de facto, exímio a sair dos "postes". Ágil e temerário, protagonizou actuações brilhantes nos campos de futebol por onde passou. Sucedeu-lhe outro excelente guarda-redes, Bela Andrasik, com escola no leste da Europa.
Carreira no FC Porto
1933-34 a 1939-40
Palmarés
3 Campeonatos Nacionais (1934-35, 1938-39, 1939-40)
1 Campeonato de Portugal (1936-37)
6 Campeonatos do Porto.
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto
Capítulo 4: 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte XIV)
(Campeonato Nacional da 1.ª divisão 1938-39 – continuação)
No início da 2.ª volta, regresso a Lisboa e 4-4 com o Sporting, no Lumiar. “O FC Porto foi para o terreno com vontade de vencer, mas sem convicção. Os primeiros minutos deixaram transparecer o estado de alma. O tento 'leonino', a iniciar a contagem, mais carregou o ambiente das hostes nortenhas”. Sem se afundar, a turma portuense não parecia disposta a romper as linhas defensivas contrárias. De repente, na primeira avançada do FC Porto, a bola entrou. Em três outros ataques, outros tantos tentos. Quatro golos de rajada e o FC Porto, a ganhar por 4-1, parecia correr para uma goleada histórica. O Sporting descobriu a alma ‘leonina’ e conseguiu chegar ao empate. Sem saber como... pois foi Sacadura, aos 87 minutos, que introduziu a bola na própria baliza…
A caminhada para o título
• Uma semana depois, o FC Porto venceu a Académica, na Constituição, por 3-1. Os golos de Pinga, António Santos e Castro, não foram a única nota de agrado para a equipa. É que ficou mais descansada com a vitória do Sporting, em “casa” do Benfica, por 4-1. Mas os sportinguistas poderiam tornar-se nova ameaça na corrida para o título.
António Santos, ao lado de Pinga, marca o segundo golo do FC Porto à Académica de Coimbra. Ao fundo, Carlos Nunes observa a jogada
• Entretanto, vencendo folgadamente o Belenenses (5-2) e beneficiando do empate do Sporting, no Lumiar, com a Académica (desvanecendo-se, assim, a última esperança “leonina”) o FC Porto tinha o caminho mais livre.
• À 11.ª jornada o FC Porto visitava o Barreirense. Nesta equipa depositavam a esperança os benfiquistas. O empate sem golos serviu mais os azuis-e-brancos que os encarnados, que bateram o Belenenses por 3-2. Mas o Benfica ainda podia ser campeão…
• Carlos Nunes e António Santos trataram de, nos primeiros 7 minutos, resolver a contente o encontro fora de muros com o Casa Pia (2-1).
• A jornada 13, a penúltima, não foi aziaga para os portistas e até se marcaram 13 golos! Na visita ao Estádio do Lima, o FC Porto brindou os vizinhos do Académico com 12 “tragos” contra um. Os protagonistas da goleada foram Carlos Nunes (4), Costuras (5), António Santos (2) e Reboredo.
Ia-se para a última jornada com 2 pontos a separar Sporting e Benfica de FC Porto em primeiro. O Benfica se ganhasse na Constituição igualava o FC Porto e vencia o Campeonato…
A loucura do futebol e a ampliação das bancadas!
Aproximava-se a última jornada e o embate com o Benfica. Era o jogo do título. E a loucura na procura de um lugar para espectáculo ver. A candonga já operava e, pasme-se, bilhetes de 5 escudos foram vendidos por… 20! No acanhado campo da Constituição (nada de harmonia com a importância do clube) os dirigentes do FC Porto decidiram, em corrupio, introduzir mais melhoramentos. Para se atingir a capacidade de 20.000 espectadores, construíram-se camarotes sobre os lugares de peão, foi ampliada a geral e edificada uma bancada descoberta sobre os "courts" de ténis. Assim, ficou condenada esta modalidade. Mas o futebol mandava…
Assistência a um jogo de futebol em finais de 1938. A modalidade mobilizava já o entusiasmo dos espectadores de todas as idades e de todas as classes sociais
14.ª e ultima jornada
Duas horas antes do início do jogo, não cabia mais ninguém na Constituição. Com o empate a três golos, o FC Porto juntou à vitória no primeiro Campeonato de Portugal e à vitória no primeiro Campeonato Nacional da 1.ª Liga, a conquista do primeiro Campeonato Nacional da I Divisão. Num jogo electrizante, os lisboetas queixaram-se do árbitro (coisa que raramente tinham de fazer…) mas o título alcançado pelo FC Porto foi-o com muita determinação e categoria. Comentário de Correia Duarte, na "Stadium": "Não obstante o senão ditado pelo último minuto de jogo, no qual os "encarnados" bateram pela quarta vez as redes de Soares dos Reis e que o árbitro (Henrique Rosa) anulou, devemos dizer, em abono da verdade, que o 1.º Campeonato Nacional da 1.ª Divisão está bem entregue. O FC Porto foi, sem dúvida, o melhor agrupamento que disputou o torneio. Começou hesitante, mas de jornada para jornada veio subindo gradualmente e podemos dizer que atingiu a craveira de o melhor”.
Carlos Nunes, “capitão” do FC Porto, afiançou: “Quando Henrique Rosa viu Sacadura agarrado, apitou imediatamente, sem curar saber se a bola iria cair perto ou longe das balizas. Aquilo não foi golo, mas a nós não nos importava nada voltar a jogar com o Benfica”.
Para surpresa de todos, dois dias depois a revista “Stadium” publicava a foto do lance, pretendendo, assim, mostrar que Rosa se enganara. Jornalistas do Norte clamaram contra a heresia e contra a “Stadium”. Houve mesmo quem escrevesse que a foto não se referia ao lance em causa. E o “Norte Desportivo” chegou a pedir castigo para os delinquentes que tinham forjado tal documento. A guerra instalava-se e motivava o primeiro corte de relações…
Nota: …e ainda não havia “pasquim da Queimada” nem “Rascord”…
O público acorre em massa ao Campo da Constituição, mas muita gente fica de fora
António Santos marca o terceiro golo do FC Porto
Lopes Carneiro cabeceia para Costuras, enquanto o benfiquista Gustavo tenta interceptar a bola e Soares dos Reis, guarda-redes azul-e-branco, revela o seu estilo no último jogo do Campeonato
Campeonato Nacional da 1.ª Divisão (1938-1939)
FC Porto – Plantel Campeão
(14j, 10v, 3e, 1d, g57-20, 23p)
Treinador: François Gutkas (austríaco) até 14-10-1938; depois, Miguel Siska (húngaro naturalizado português).
Jogadores/Jogos: António Santos (14 j); Artur Sousa (Pinga) (14j); Carlos Nunes (14j); Carlos Pereira (14j); José Monteiro (Costuras) (14j); Fernando Sacadura (13j); António Baptista (12j); Manuel Anjos (Pocas) (12j); Soares dos Reis (12j); Francisco Reboredo (11j); Lopes Carneiro (10j); Vítor Guilhar (8j); Castro Ferreira (4j); M. Pereira Silva (Rosado) (2j).
Golos: José Monteiro (Costuras) (18g); Carlos Nunes (15g); António Santos (11g); Artur Sousa (Pinga) (6g); Lopes Carneiro (2g); Francisco Reboredo (2g); Castro Ferreira (1g); 1 autogolo de Rodrigues Alves (Belenenses).
Primeiro Campeão Nacional da 1.ª divisão (1938-39)!
A equipa do FC Porto que fez história sob o comando de Miguel Siska.
Da esquerda para a direita, em cima: Siska (treinador), Soares dos Reis, Sacadura, Guilhar, Manuel dos Anjos (Pocas), Carlos Pereira, António Baptista, Francisco Reboredo, Rosado e Francisco Gonçalves (massagista);
Em baixo: Castro Ferreira, Lopes Carneiro, António Santos, Costuras, Pinga e Carlos Nunes.
Foi um título conseguido com muito sacrifício. Ainda assim só com uma derrota, nas Amoreiras. O FC Porto passava por crise financeira grave, mas, na plenitude do acreditar, a máquina portista foi imparável. Sob o comando do treinador Miguel Siska, a engrenagem mostrou-se bem oleada e o título decidiu-se na Constituição, onde o empate (3-3) serviu os portistas e relegou o Benfica para o terceiro lugar. E, beneficiando ou não do erro do árbitro — e se beneficiou também já era tempo de beneficiar... — unanimidade se gerou em relação a um facto: que o FC Porto fora justo e incontestável Campeão Nacional da I Divisão. O primeiro...
José Monteiro (conhecido por Costuras) tal como o seu clube, o FC Porto, também foi líder pois sagrou-se melhor marcador do campeonato com 18 golos apontados. Logo a seguir, registe-se, Carlos Nunes com 15.
Nota: este feito (dois jogadores do FC Porto máximos “artilheiros” da prova) só voltou a ser repetido, 72 anos depois, na época 2010/2011 através dos fantásticos dianteiros Hulk (23 golos) e Falcão (16 golos)! Extraordinários registos!
O FC Porto foi também o campeão das receitas, arrecadando 157.039$40 na distribuição das receitas líquidas efectuadas pela FPF, relativamente ao Campeonato Nacional, tendo o Benfica recebido 129.156$60. Os jogos no seu campo renderam ao FC Porto 232 contos, no do Benfica 131, no do Sporting 95, no do Belenenses 66, no da Académica 55, no do Académico 51, no do Barreirense 33 e no da Casa Pia 15.
Costuras – José Monteiro (n. Sesimbra, 23 Out.1913 – m. ??), era um hábil avançado-centro e cabeceador exímio que chegou ao FC Porto depois de representar o Boavista durante quatro épocas (1933-34 a 1936-37).
• Na primeira com a camisola azul-e-branca vestida, logo se destacou com a marcação de golos nos jogos em que participou a contar para o Campeonato Nacional (1.ª Liga) e Campeonato de Portugal. No Campeonato Nacional o FC Porto sagrou-se vice-campeão com os mesmos pontos (23) do campeão.
• Na época 1938-39 voltou a jogar inserido numa linha de atacantes de grande nível: Carlos Nunes, António Santos, Pinga e Lopes Carneiro eram os companheiros com os quais conquistou o Campeonato Nacional da 1.ª Divisão.
• Como que a comprovar a sua apetência pelo golo, foi o rei dos “artilheiros” com 18 tentos marcados. Ao serviço do FC Porto fez 44 golos em 46 jogos!
• Não há rasto dele após a época de 1938-39, pelo que se julga ter sido a última ao serviço do FC Porto.
Carreira no FC Porto
1937-38 a 1938-39
Palmarés
1 Campeonato Nacional (1938-39)
2 Campeonatos do Porto
Soares dos Reis – Manuel José Soares dos Reis (n. Penafiel, 11 Mar.1910 [ou 1911] – m.??), o primeiro guarda-redes internacional do FC Porto, testava os reflexos apanhando pequenos coelhos, "peculiar maneira de nos jogos não fazer da baliza capoeira de pequenos ou grandes ‘frangos’".
• Jogou no Leça FC, na época 1932-33 no Boavista e antes da de 1933-34 transferiu-se para o FC Porto.
• Na guarda das redes portistas, sucedeu ao extraordinário Miguel Siska que acabou por ser seu treinador.
• Em 1986, com 76 anos, Soares dos Reis contava: "A maior parte dos jogadores não aparecia aos treinos. Uns porque trabalhavam, outros porque se alimentavam mal e não podiam esbanjar as energias que guardavam para os jogos. Estágios? Dois a três por ano". Quanto a assistências, "as mais terríveis eram as do Benfica e do Setúbal. Bombardeavam-me durante todo o desafio. Para mim era terrível jogar fora de casa. O público estava junto de nós e tratava-nos do piorio. Tínhamos de jogar em duas frentes, defendendo os remates dos avançados… e os do público. E os deste eram, muitas vezes, bem mais dolorosos…"
• "O lugar de guarda-redes foi sempre ingrato; depois dele, só a baliza, o golo. Uma coisa posso dizer: não havia tantos "frangos" como hoje e os "chapéus" não existiam. Os guarda-redes saíam mais da baliza do que saem hoje. Eu era decidido: ou ia ou não ia".
• Soares dos Reis foi campeão pelo FC Porto no primeiro Campeonato Nacional (Liga) disputado, em 1934-35, e no primeiro Bicampeonato portista (1938-39 e 1939-40). Ganhou também a penúltima edição do Campeonato de Portugal (1936-37).
• Em Janeiro de 1940 envolveu-se em desordem com Carlos Nunes, durante um treino, no campo da Constituição. Depois das averiguações, a decisão pouco comum (na altura), e a mão pesada da direcção, sem complacências: o guarda-redes foi castigado (um mês de suspensão e 200 escudos de multa), o avançado e "capitão" suspenso de toda a actividade e multado em 750 escudos.
• Envergou por 4 vezes a camisola da Selecção Nacional, tendo-se estreado em Madrid, contra a Espanha, em 11 Mar.1934, e efectuado o último jogo defrontando a Alemanha, em 27 Fev.1936.
• Soares dos Reis tinha um estilo inconfundível e era, de facto, exímio a sair dos "postes". Ágil e temerário, protagonizou actuações brilhantes nos campos de futebol por onde passou. Sucedeu-lhe outro excelente guarda-redes, Bela Andrasik, com escola no leste da Europa.
Carreira no FC Porto
1933-34 a 1939-40
Palmarés
3 Campeonatos Nacionais (1934-35, 1938-39, 1939-40)
1 Campeonato de Portugal (1936-37)
6 Campeonatos do Porto.
- No próximo post.: Capítulo 4, 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte XV) – Biografias de Carlos Pereira, “Pocas”, António Baptista, Guilhar, Lopes Carneiro e Francisco Reboredo.
Mais uma página brilhante de um trabalho à Porto, notável.
ResponderEliminarAs fotos são fantásticas e aquela que tem o puto a comer a sande e o outro a olhar com ar de quem lha quer tirar, está o máximo.
Um abraço
Campeões nesse emocionante 3-3 com o slb...
ResponderEliminarE qt à polémica:
"Para surpresa de todos, dois dias depois a revista “Stadium” publicava a foto do lance, pretendendo, assim, mostrar que Rosa se enganara. Jornalistas do Norte clamaram contra a heresia e contra a “Stadium”. Houve mesmo quem escrevesse que a foto não se referia ao lance em causa. E o “Norte Desportivo” chegou a pedir castigo para os delinquentes que tinham forjado tal documento. A guerra instalava-se e motivava o primeiro corte de relações…"
Em 1939 tal como em 2011, eles não têm vergonha!!!!Abaixo o Regime!
Sem dúvida, um trabalho notável. E ainda nem a meio vai!
ResponderEliminarEm 1938-39 mais um troféu. Começava a engrossar o palmarés do FC Porto. Sem taças “latrinas”…
BIBó PORTO! Um beijo.
Amigo, mais um excelente post.
ResponderEliminarCreio que "Costuras" terá partido para África no final dessa época...
"Rosado" creio ser M. Pereira da Silva e não J. (Joaquim) Pereira da Silva... que porventura será seu irmão (?).
Abraço
Mais um belo post, na continuidade deste excelente trabalho. Também sou especial apreciador dessas fotos antigas, de tudo o que mostre semblantes e aspectos de tempos passados, demonstrando particularidades de outras eras, neste caso sobre visuais ligados à vida do F. C. Porto.
ResponderEliminarAbraço.
Caro amigo Rogério:
ResponderEliminarMais uma vez, tem razão. “Rosado”, guarda-redes, é M. Pereira da Silva. Aqui, no plantel de 1938-39, estava mal identificado (já corrigi) porque fui induzido em erro.
Mas se vir a já publicada Parte XII do 4.º Capítulo, época 1937-38, Campeonato de Portugal, oitavos-de-final, jogo com o Leixões, está lá, g.redes do FC Porto – M. Pereira da Silva (Rosado).
Quando publicar a Parte XVII do 4.º Capítulo, época 1939-40, poderá ver-se no plantel do FC Porto:
Joaquim Pereira da Silva, defesa, 17 jogos;
M. Pereira da Silva (Rosado), g. redes, 9 jogos.
Obrigado, mais uma vez, pela sua oportuna intervenção.
Um grande abraço. BIBÓ PORTO!