http://bibo-porto-carago.blogspot.com/
FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto
Capítulo 4: 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte XIII)
Época 1938-1939
Jul.1938 – O incêndio na Constituição e a destruição do Amial
O FC Porto que vinha jogando no Campo do Amial, desentendeu-se com o Sport Progresso e, pouco depois, trocava aquele recinto pelo Estádio do Lima, propriedade do Académico do Porto, com campo relvado, considerado, então, dos melhores da Península Ibérica.
O contrato de aluguer do Lima depressa se mostrou excessivamente oneroso para o FC Porto, pelo que muitos dos seus associados correram a contestá-lo. E, para além da hipótese da denúncia do contrato com o Académico, outra se levantou: a compra do Amial, aproveitando-se verba já recolhida pelo empréstimo por obrigações entretanto aberto.
Entretanto, lutas intestinas no seio da direcção portista inviabilizaram um acordo com os co-senhorios do Amial. Estes, talvez dando como perdida a única “chance” de usufruírem do aluguer, começaram a delinear a demolição do campo e das suas estruturas.
Em Julho de 1938 foram parcialmente destruídas, por um incêndio, as bancadas do Campo da Constituição. “Até deu a impressão de que se tratava de sabotagem”, escreveria, num tom que confundia ironia com amargura, Rodrigues Teles.
As guerras de interesses entre o FC Porto, o Progresso e o Académico do Porto tiveram, afinal, trágico desfecho para o Amial, destruindo-se as bancadas, perdendo-se assim, pela insensibilidade dos homens, um dos campos que era ex-líbris do futebol nortenho. E, sem o Amial, o FC Porto ficou, obviamente, sem mais que duas alternativas: ou jogava futebol no Lima ou na Constituição. Os seus dirigentes ficaram à beira de um ataque de nervos quando o Académico pediu 20 contos pelo aluguer do Lima. E nem menos um centavo. Por isso... Em corrida contra o tempo, antes do arranque do Campeonato, o FC Porto fez erguer uma bancada de madeira num dos topos do Campo da Constituição, mas, mesmo assim, alguns milhares de pessoas não podiam assistir aos jogos que chamavam mais espectadores.
O Amial, momentos de glória e a história dos “andrades”
Nas décadas de 1920 e 1930, o FC Porto disputava os jogos grandes no campo do Amial (como então se escrevia), um dos melhores e mais bonitos recintos desportivos da época em Portugal, com modelares balneários e um relógio monumental, que recebeu mesmo alguns encontros da selecção nacional. O Amial foi ganhando o seu espaço na história do FC Porto à medida que o Campo da Constituição se revelava demasiado exíguo perante a afluência crescente de adeptos aos grandes desafios. Até à concretização de um sonho chamado Estádio das Antas, o Campo do Amial partilhou momentos de glória azul-e-branca com o Estádio do Lima.
Mas, como vimos, o Sport Progresso, colectividade da freguesia de Paranhos e arrendatário do terreno, denunciou o contrato de aluguer. Os portistas passaram a jogar no Lima, propriedade do Académico. Os três clubes envolveram-se então em intrincadas disputas, que culminaram numa série de acontecimentos estranhos e na destruição das bancadas do Amial a camartelo.
Houve quem atribuísse essa demolição ao senhorio e co-proprietário do campo, o Sr. Andrade, alegadamente portista e que, por estar em litígio com o seu sócio, teria pensado que assim poderia mais facilmente vender o campo do Amial ao seu clube do coração. E houve quem nunca perdoasse ao senhor Andrade tal gesto e, por isso, os simpatizantes dos “azuis-e-brancos” começaram a ser conhecidos por “andrades”...
Set.1938 – Dr. Ângelo César Machado assume a presidência e o FC Porto vence o primeiro Campeonato Nacional da 1.ª Divisão em Futebol, época 1938-39. Na seguinte repete a vitória e consegue o primeiro Bicampeonato. Contratou excelentes jogadores para a equipa de futebol e distinguiu-se pela política de saneamento financeiro que implementou no clube. Durante o seu mandato o FC Porto conquistou o primeiro título de Campeão Nacional de Andebol de Onze. Foi Ângelo César que despediu Gutskas e chamou Miguel Siska para comandar a equipa ao fantástico Bicampeonato de futebol.
Voz incómoda para os poderes centralistas e despóticos da FPF foi irradiado por aquela instituição no final da época 1939-40. Sucedeu-lhe o Dr. Augusto Pires de Lima. (Mais à frente, nota biográfica do Dr. Ângelo César)
Presidente Honorário
13 Set.1938 – Sebastião Ferreira Mendes, ex-presidente, tornou-se o primeiro portista a ser agraciado com o título de Presidente Honorário do clube.
Vida difícil…
• Em Setembro de 1938, o FC Porto afundava-se em crise de finanças e identidade, com telefone cortado, dívidas a toda a gente e um défice superior a 200 contos!
• Choviam críticas à Direcção do Dr. Carlos Costa Júnior como é exemplo a opinião de Silva Petiz, que escrevia: “Sempre diremos que a gerência que vai deixar, tão tarde, a tão más horas, o FC Porto, foi desgraçadamente má, perniciosa, consentindo ao clube enxovalhos de todo o tamanho. Como se compreende que uma Direcção, que indivíduos engravatados, percam a própria dignidade, caloteando a torto e a direito, inclusivamente deixando de pagar ao hotel, na capital, onde se alojaram jogadores e directores? Como é que o Sr. tesoureiro não paga salários, não paga telefone, não paga botas, não paga o serviço que oferece, em copo-d'água, aos seus visitantes? Que vergonha esta para o clube e para o meio futebolístico!!!”.
A política de saneamento financeiro encetada pela Direcção do Presidente Dr. Ângelo César
• A política de saneamento financeiro coube a José Donas, tesoureiro na direcção do eleito presidente Dr. Ângelo César. Encetou um programa que passou pela revisão de ordenados de jogadores, pela anulação de prémios de vitória no Campeonato Regional, pelo estabelecimento de multas quando se verificasse que o jogador não cumpria, com brio desportivo, o seu dever, ou quando faltasse aos treinos; estipulou que a equipa devia regressar ao Porto no mesmo dia (sempre que jogasse em Lisboa), estimulou incremento de associados e o aumento de quotizações, etc.
• Para lá disso, efectuou-se a transferência do jogador (médio) Francisco Ferreira (filho do guarda do Campo da Constituição) para o Benfica, a troco de 13.500$00, uma "fortuna" que fez suspirar de alívio o tesoureiro…
Francisco Ferreira (n. Guimarães, 23 Ago.1919 – m. 14 Fev.1986) aos 11 anos foi viver para o Porto. O pai arranjara trabalho como guarda do Campo da Constituição. Começou a jogar futebol nos infantis do FC Porto. Com 17 anos fez parte da equipa sénior que na final do Campeonato de Portugal (1936-37) venceu o Sporting por 3-2. Era o seu primeiro título de Campeão. Em 1937-38 o Porto ficou em 2.º lugar no Campeonato Nacional (Liga); Francisco Ferreira participou em 10 jogos e fez-se notar pela valentia e uma entrega total durante os 90 minutos de peleja.
• Médio-esquerdo, bem dotado fisicamente, o meio campo era todo dele e o exemplo de batalhador inteligente galvanizava a equipa. Também conquistava a simpatia das bancadas pelo seu espírito de lutador indomável.
• A dada altura descobre que no FC Porto tinha colegas a auferir cerca de 1 conto de réis por mês e decide pedir novas condições (10 mil escudos para assinatura da ficha, 700 escudos de ordenado mensal e um emprego) mas, como resposta, recebe a fria sentença:
“O senhor ou assina a ficha ou põe-se na rua, porque não queremos malandros cá dentro a pedirem dinheiro”. Ilídio Nogueira, benfiquista no Porto, tem conhecimento do episódio e encetou os contactos para a ida do futebolista para Lisboa. Após difíceis negociações, o SL Benfica acede em pagar 13.500$00 pela sua carta de desvinculação ao FC Porto, tornando-se então jogador dos encarnados. Francisco Ferreira, duma personalidade forte que o havia de acompanhar durante a vida toda, não voltou com a palavra atrás quando o dirigente portista e ex-presidente, Sebastião Ferreira Mendes, já lhe dava “mundos e fundos” e emprego garantido.
• Em 1938-39, portanto, estava no Benfica, em 28 Jan.1940 fez o primeiro de 25 jogos pela Selecção Nacional, em 1943, aos 24 anos, era capitão da equipa das “águias” e, em 1947, o capitão da Selecção.
• A 3 Mai.1949 o Benfica homenageou Francisco Ferreira e, de Turim a Lisboa, veio o campeão Torino. No regresso a Itália o avião em que seguia a comitiva do Torino, devido à fraca visibilidade provocada pelo intenso nevoeiro, embateu numa torre da Basílica de Superga. Toda a comitiva (atletas, dirigentes e acompanhantes) pereceu na tragédia. Francisco Ferreira, que tinha sido convidado para viajar para Itália a fim de discutir uma possível transferência, fica de rastos.
• Orgulhem-se os portistas: Francisco Ferreira em “boa cepa” se criou, se fez homem de carácter e notável desportista. Orgulhem-se os benfiquistas: tiveram em Francisco Ferreira o mais perfeito capitão da equipa de futebol da vossa história.
• Contudo, também para a história fica a sandice do dirigente portista que permitiu o ingresso de um diamante no arqui-rival. Ou, como alguém disse, “a asneira de um burro que deu uma pérola a porcos…”
• Em 1952, na festa da despedida marcada para o Jamor, Francisco Ferreira convidou o FC Porto e reconciliou-se com o seu clube de coração.
Carreira
1930-36: FC Porto (Formação)
1936-37 e 1937-38: FC Porto
1938-39 a 1951-52: SL Benfica
Palmarés
1 Campeonato de Portugal – 1936/37 (FC Porto)
2 Campeonatos do Porto (FC Porto)
4 Campeonatos Nacionais (SL Benfica)
6 Taças de Portugal (SL Benfica)
Gutskas trocado por Siska!
A 14 Out.1938, depois de ter iniciado os treinos da época, François Gutskas viu os seus serviços dispensados, sendo substituído por Miguel Siska. O austríaco não resistiu à contestação que alguns sócios lhe moveram. Siska, um triunfador como guarda-redes, entrava para a porta grande dos êxitos como treinador.
Em Janeiro de 1939, afastadas algumas das negras nuvens que se vislumbravam no horizonte portista, Miguel Siska propôs à Direcção a contratação do espanhol Quincoces, considerado, então, um dos melhores jogadores europeus. Fizeram-se contactos. Leu-se na imprensa: “É inegável que a presença de Quincoces rodearia a equipa de um ambiente de confiança muito particular e constituiria motivo de atracção para o público, mas tudo isso tem de ceder terreno ante a parte material do assunto”.
Na verdade, o FC Porto ofereceu-lhe apenas uma subvenção de 7500 escudos e 1500 escudos de ordenado mensal. Quincoces exigia o dobro, por isso... nada feito.
No rodopiar de novas ideias e exigências, a revolução de mentalidades e a regulação impunham-se no clube. O FC Porto, que chegara a pagar recompensas por... derrota (!!!) decidiu, seguindo o exemplo do Salgueiros, estabelecer o seguinte esquema de prémios: 20 escudos por vitória, 10 por empate. Os jogadores passaram a chamar-lhe “a santa”...
Esta nova ordem entrou em vigor no Campeonato Nacional da I Divisão, que o FC Porto abriu, defrontando o Sporting, no velhinho Campo da Constituição, que o Amial tinha já, estupidamente, destruídas as bancadas e o aluguer do Lima começava a ser luxo de levar à falência.
Logo de início, os portistas levam de vencida o Sporting, prenúncio de um evoluir auspicioso e de uma campanha com sucesso no final.
No Campo da Constituição, construíram-se à pressa bancadas capazes de albergar três mil pessoas e, nesta partida, as restantes 10 mil ficaram de pé, em volta do campo!
O FC Porto venceu por 2-1, o Sporting queixou-se da falta de Peyroteo. Os portistas não se queixaram da doença de Pinga. E, ao contrário dos últimos jogos com o Benfica, não houve casos.
Na 2.ª jornada o FC Porto foi bater a Académica por 2-1 (golos de António Santos e Pinga) recuperando da desvantagem.
À 3.ª jornada, sinal do que o FC Porto valia foi dado nas Salésias. Vitória por 3-1, ante o Belenenses. “Para grandes males, grandes remédios”: o FC Porto ainda há um mês estava sem saber como havia de preencher o lugar de defesa-direito. De um instante para o outro consegue-o, indo buscar um ás de grande categoria ao seu próprio grupo! Carlos Pereira, médio, utilizado como recurso a defesa-direito, conquistou o lugar em plenitude ao fim de três jogos. Na baliza jogou Rosado em vez de Soares dos Reis. No centro, Baptista (o homem que substituiu Carlos Pereira) portou-se à altura do companheiro. Os golos do FC Porto foram apontados por Rodrigues Alves (auto-golo), Carlos Nunes e Costuras.
E, de vento em popa, invencível foi andando o FC Porto:
• Na Constituição, 6-1 ao Barreirense, com 2 golos de cada um dos jogadores António Santos, Carlos Nunes e Lopes Carneiro;
• 10-0 ao Casa Pia, novamente em “casa”, golos de Costuras [2], Carlos Nunes [4], António Santos, Pinga [2] e Reboredo;
• E ainda na Constituição venceu por 4 golos sem resposta o Académico do Porto (poker do “artilheiro” Costuras).
7.ª jornada
5 Mar.1939: Benfica 4 – FC Porto 1
Última jornada da 1.ª volta: nas Amoreiras, o FC Porto perdeu a invencibilidade, mas ainda não a liderança. A derrota (1-4) – golo dos portistas marcado por Pinga – deixou mágoa em Siska, que deu sinais de descrer: “A nós tudo corria torto, a eles tudo bem. Tiveram também muita sorte e nós não, que para mais só tivemos Costuras e Pinga a trabalhar na linha dianteira. Há necessidade de um defesa, mas onde ir buscá-lo? O Carlos Pereira faz muita falta à linha média. E não tenho ninguém para o substituir. Se eu apanhasse outra vez o Francisco Ferreira...”
Carlos Nunes remata à baliza dos lisboetas
O guarda-redes portista, Soares dos Reis, realizou brilhante exibição, insuficiente para evitar a derrota
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto
Capítulo 4: 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte XIII)
Época 1938-1939
Jul.1938 – O incêndio na Constituição e a destruição do Amial
O FC Porto que vinha jogando no Campo do Amial, desentendeu-se com o Sport Progresso e, pouco depois, trocava aquele recinto pelo Estádio do Lima, propriedade do Académico do Porto, com campo relvado, considerado, então, dos melhores da Península Ibérica.
O contrato de aluguer do Lima depressa se mostrou excessivamente oneroso para o FC Porto, pelo que muitos dos seus associados correram a contestá-lo. E, para além da hipótese da denúncia do contrato com o Académico, outra se levantou: a compra do Amial, aproveitando-se verba já recolhida pelo empréstimo por obrigações entretanto aberto.
Entretanto, lutas intestinas no seio da direcção portista inviabilizaram um acordo com os co-senhorios do Amial. Estes, talvez dando como perdida a única “chance” de usufruírem do aluguer, começaram a delinear a demolição do campo e das suas estruturas.
Em Julho de 1938 foram parcialmente destruídas, por um incêndio, as bancadas do Campo da Constituição. “Até deu a impressão de que se tratava de sabotagem”, escreveria, num tom que confundia ironia com amargura, Rodrigues Teles.
As guerras de interesses entre o FC Porto, o Progresso e o Académico do Porto tiveram, afinal, trágico desfecho para o Amial, destruindo-se as bancadas, perdendo-se assim, pela insensibilidade dos homens, um dos campos que era ex-líbris do futebol nortenho. E, sem o Amial, o FC Porto ficou, obviamente, sem mais que duas alternativas: ou jogava futebol no Lima ou na Constituição. Os seus dirigentes ficaram à beira de um ataque de nervos quando o Académico pediu 20 contos pelo aluguer do Lima. E nem menos um centavo. Por isso... Em corrida contra o tempo, antes do arranque do Campeonato, o FC Porto fez erguer uma bancada de madeira num dos topos do Campo da Constituição, mas, mesmo assim, alguns milhares de pessoas não podiam assistir aos jogos que chamavam mais espectadores.
O Amial, momentos de glória e a história dos “andrades”
Nas décadas de 1920 e 1930, o FC Porto disputava os jogos grandes no campo do Amial (como então se escrevia), um dos melhores e mais bonitos recintos desportivos da época em Portugal, com modelares balneários e um relógio monumental, que recebeu mesmo alguns encontros da selecção nacional. O Amial foi ganhando o seu espaço na história do FC Porto à medida que o Campo da Constituição se revelava demasiado exíguo perante a afluência crescente de adeptos aos grandes desafios. Até à concretização de um sonho chamado Estádio das Antas, o Campo do Amial partilhou momentos de glória azul-e-branca com o Estádio do Lima.
Mas, como vimos, o Sport Progresso, colectividade da freguesia de Paranhos e arrendatário do terreno, denunciou o contrato de aluguer. Os portistas passaram a jogar no Lima, propriedade do Académico. Os três clubes envolveram-se então em intrincadas disputas, que culminaram numa série de acontecimentos estranhos e na destruição das bancadas do Amial a camartelo.
Houve quem atribuísse essa demolição ao senhorio e co-proprietário do campo, o Sr. Andrade, alegadamente portista e que, por estar em litígio com o seu sócio, teria pensado que assim poderia mais facilmente vender o campo do Amial ao seu clube do coração. E houve quem nunca perdoasse ao senhor Andrade tal gesto e, por isso, os simpatizantes dos “azuis-e-brancos” começaram a ser conhecidos por “andrades”...
Set.1938 – Dr. Ângelo César Machado assume a presidência e o FC Porto vence o primeiro Campeonato Nacional da 1.ª Divisão em Futebol, época 1938-39. Na seguinte repete a vitória e consegue o primeiro Bicampeonato. Contratou excelentes jogadores para a equipa de futebol e distinguiu-se pela política de saneamento financeiro que implementou no clube. Durante o seu mandato o FC Porto conquistou o primeiro título de Campeão Nacional de Andebol de Onze. Foi Ângelo César que despediu Gutskas e chamou Miguel Siska para comandar a equipa ao fantástico Bicampeonato de futebol.
Voz incómoda para os poderes centralistas e despóticos da FPF foi irradiado por aquela instituição no final da época 1939-40. Sucedeu-lhe o Dr. Augusto Pires de Lima. (Mais à frente, nota biográfica do Dr. Ângelo César)
Presidente Honorário
13 Set.1938 – Sebastião Ferreira Mendes, ex-presidente, tornou-se o primeiro portista a ser agraciado com o título de Presidente Honorário do clube.
Vida difícil…
• Em Setembro de 1938, o FC Porto afundava-se em crise de finanças e identidade, com telefone cortado, dívidas a toda a gente e um défice superior a 200 contos!
• Choviam críticas à Direcção do Dr. Carlos Costa Júnior como é exemplo a opinião de Silva Petiz, que escrevia: “Sempre diremos que a gerência que vai deixar, tão tarde, a tão más horas, o FC Porto, foi desgraçadamente má, perniciosa, consentindo ao clube enxovalhos de todo o tamanho. Como se compreende que uma Direcção, que indivíduos engravatados, percam a própria dignidade, caloteando a torto e a direito, inclusivamente deixando de pagar ao hotel, na capital, onde se alojaram jogadores e directores? Como é que o Sr. tesoureiro não paga salários, não paga telefone, não paga botas, não paga o serviço que oferece, em copo-d'água, aos seus visitantes? Que vergonha esta para o clube e para o meio futebolístico!!!”.
A política de saneamento financeiro encetada pela Direcção do Presidente Dr. Ângelo César
• A política de saneamento financeiro coube a José Donas, tesoureiro na direcção do eleito presidente Dr. Ângelo César. Encetou um programa que passou pela revisão de ordenados de jogadores, pela anulação de prémios de vitória no Campeonato Regional, pelo estabelecimento de multas quando se verificasse que o jogador não cumpria, com brio desportivo, o seu dever, ou quando faltasse aos treinos; estipulou que a equipa devia regressar ao Porto no mesmo dia (sempre que jogasse em Lisboa), estimulou incremento de associados e o aumento de quotizações, etc.
• Para lá disso, efectuou-se a transferência do jogador (médio) Francisco Ferreira (filho do guarda do Campo da Constituição) para o Benfica, a troco de 13.500$00, uma "fortuna" que fez suspirar de alívio o tesoureiro…
Francisco Ferreira (n. Guimarães, 23 Ago.1919 – m. 14 Fev.1986) aos 11 anos foi viver para o Porto. O pai arranjara trabalho como guarda do Campo da Constituição. Começou a jogar futebol nos infantis do FC Porto. Com 17 anos fez parte da equipa sénior que na final do Campeonato de Portugal (1936-37) venceu o Sporting por 3-2. Era o seu primeiro título de Campeão. Em 1937-38 o Porto ficou em 2.º lugar no Campeonato Nacional (Liga); Francisco Ferreira participou em 10 jogos e fez-se notar pela valentia e uma entrega total durante os 90 minutos de peleja.
• Médio-esquerdo, bem dotado fisicamente, o meio campo era todo dele e o exemplo de batalhador inteligente galvanizava a equipa. Também conquistava a simpatia das bancadas pelo seu espírito de lutador indomável.
• A dada altura descobre que no FC Porto tinha colegas a auferir cerca de 1 conto de réis por mês e decide pedir novas condições (10 mil escudos para assinatura da ficha, 700 escudos de ordenado mensal e um emprego) mas, como resposta, recebe a fria sentença:
“O senhor ou assina a ficha ou põe-se na rua, porque não queremos malandros cá dentro a pedirem dinheiro”. Ilídio Nogueira, benfiquista no Porto, tem conhecimento do episódio e encetou os contactos para a ida do futebolista para Lisboa. Após difíceis negociações, o SL Benfica acede em pagar 13.500$00 pela sua carta de desvinculação ao FC Porto, tornando-se então jogador dos encarnados. Francisco Ferreira, duma personalidade forte que o havia de acompanhar durante a vida toda, não voltou com a palavra atrás quando o dirigente portista e ex-presidente, Sebastião Ferreira Mendes, já lhe dava “mundos e fundos” e emprego garantido.
• Em 1938-39, portanto, estava no Benfica, em 28 Jan.1940 fez o primeiro de 25 jogos pela Selecção Nacional, em 1943, aos 24 anos, era capitão da equipa das “águias” e, em 1947, o capitão da Selecção.
• A 3 Mai.1949 o Benfica homenageou Francisco Ferreira e, de Turim a Lisboa, veio o campeão Torino. No regresso a Itália o avião em que seguia a comitiva do Torino, devido à fraca visibilidade provocada pelo intenso nevoeiro, embateu numa torre da Basílica de Superga. Toda a comitiva (atletas, dirigentes e acompanhantes) pereceu na tragédia. Francisco Ferreira, que tinha sido convidado para viajar para Itália a fim de discutir uma possível transferência, fica de rastos.
• Orgulhem-se os portistas: Francisco Ferreira em “boa cepa” se criou, se fez homem de carácter e notável desportista. Orgulhem-se os benfiquistas: tiveram em Francisco Ferreira o mais perfeito capitão da equipa de futebol da vossa história.
• Contudo, também para a história fica a sandice do dirigente portista que permitiu o ingresso de um diamante no arqui-rival. Ou, como alguém disse, “a asneira de um burro que deu uma pérola a porcos…”
• Em 1952, na festa da despedida marcada para o Jamor, Francisco Ferreira convidou o FC Porto e reconciliou-se com o seu clube de coração.
Carreira
1930-36: FC Porto (Formação)
1936-37 e 1937-38: FC Porto
1938-39 a 1951-52: SL Benfica
Palmarés
1 Campeonato de Portugal – 1936/37 (FC Porto)
2 Campeonatos do Porto (FC Porto)
4 Campeonatos Nacionais (SL Benfica)
6 Taças de Portugal (SL Benfica)
Gutskas trocado por Siska!
A 14 Out.1938, depois de ter iniciado os treinos da época, François Gutskas viu os seus serviços dispensados, sendo substituído por Miguel Siska. O austríaco não resistiu à contestação que alguns sócios lhe moveram. Siska, um triunfador como guarda-redes, entrava para a porta grande dos êxitos como treinador.
Em Janeiro de 1939, afastadas algumas das negras nuvens que se vislumbravam no horizonte portista, Miguel Siska propôs à Direcção a contratação do espanhol Quincoces, considerado, então, um dos melhores jogadores europeus. Fizeram-se contactos. Leu-se na imprensa: “É inegável que a presença de Quincoces rodearia a equipa de um ambiente de confiança muito particular e constituiria motivo de atracção para o público, mas tudo isso tem de ceder terreno ante a parte material do assunto”.
Na verdade, o FC Porto ofereceu-lhe apenas uma subvenção de 7500 escudos e 1500 escudos de ordenado mensal. Quincoces exigia o dobro, por isso... nada feito.
No rodopiar de novas ideias e exigências, a revolução de mentalidades e a regulação impunham-se no clube. O FC Porto, que chegara a pagar recompensas por... derrota (!!!) decidiu, seguindo o exemplo do Salgueiros, estabelecer o seguinte esquema de prémios: 20 escudos por vitória, 10 por empate. Os jogadores passaram a chamar-lhe “a santa”...
Esta nova ordem entrou em vigor no Campeonato Nacional da I Divisão, que o FC Porto abriu, defrontando o Sporting, no velhinho Campo da Constituição, que o Amial tinha já, estupidamente, destruídas as bancadas e o aluguer do Lima começava a ser luxo de levar à falência.
Logo de início, os portistas levam de vencida o Sporting, prenúncio de um evoluir auspicioso e de uma campanha com sucesso no final.
No Campo da Constituição, construíram-se à pressa bancadas capazes de albergar três mil pessoas e, nesta partida, as restantes 10 mil ficaram de pé, em volta do campo!
O FC Porto venceu por 2-1, o Sporting queixou-se da falta de Peyroteo. Os portistas não se queixaram da doença de Pinga. E, ao contrário dos últimos jogos com o Benfica, não houve casos.
Na 2.ª jornada o FC Porto foi bater a Académica por 2-1 (golos de António Santos e Pinga) recuperando da desvantagem.
À 3.ª jornada, sinal do que o FC Porto valia foi dado nas Salésias. Vitória por 3-1, ante o Belenenses. “Para grandes males, grandes remédios”: o FC Porto ainda há um mês estava sem saber como havia de preencher o lugar de defesa-direito. De um instante para o outro consegue-o, indo buscar um ás de grande categoria ao seu próprio grupo! Carlos Pereira, médio, utilizado como recurso a defesa-direito, conquistou o lugar em plenitude ao fim de três jogos. Na baliza jogou Rosado em vez de Soares dos Reis. No centro, Baptista (o homem que substituiu Carlos Pereira) portou-se à altura do companheiro. Os golos do FC Porto foram apontados por Rodrigues Alves (auto-golo), Carlos Nunes e Costuras.
E, de vento em popa, invencível foi andando o FC Porto:
• Na Constituição, 6-1 ao Barreirense, com 2 golos de cada um dos jogadores António Santos, Carlos Nunes e Lopes Carneiro;
• 10-0 ao Casa Pia, novamente em “casa”, golos de Costuras [2], Carlos Nunes [4], António Santos, Pinga [2] e Reboredo;
• E ainda na Constituição venceu por 4 golos sem resposta o Académico do Porto (poker do “artilheiro” Costuras).
7.ª jornada
5 Mar.1939: Benfica 4 – FC Porto 1
Última jornada da 1.ª volta: nas Amoreiras, o FC Porto perdeu a invencibilidade, mas ainda não a liderança. A derrota (1-4) – golo dos portistas marcado por Pinga – deixou mágoa em Siska, que deu sinais de descrer: “A nós tudo corria torto, a eles tudo bem. Tiveram também muita sorte e nós não, que para mais só tivemos Costuras e Pinga a trabalhar na linha dianteira. Há necessidade de um defesa, mas onde ir buscá-lo? O Carlos Pereira faz muita falta à linha média. E não tenho ninguém para o substituir. Se eu apanhasse outra vez o Francisco Ferreira...”
Carlos Nunes remata à baliza dos lisboetas
O guarda-redes portista, Soares dos Reis, realizou brilhante exibição, insuficiente para evitar a derrota
- No próximo post.: Capítulo 4, 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte XIV) – Campeonato Nacional (1.ª Divisão) 1938-39 (2.ª volta); a caminhada para o título; a loucura do futebol e a ampliação das bancadas; a última jornada; FC Porto, primeiro Campeão Nacional da 1.ª divisão; biografia do goleador Costuras; biografia do guarda-redes Soares dos Reis.
Mais uma boa pincelada do quadro histórico tão interessante. Num tempo em que o clube andava algo inferiorizado pelas tais lutas e polémicas intestinas, deixando sair jogadores valiosos para rivais, quase como no horizonte recente acontece na inversa, agora que o F. C. Porto tem Pinto da Costa ao leme, sendo dos outros que vêm alguns nossos bons reforços... tipo Moutinho, entre outros exemplos.
ResponderEliminarPara continuar, esta História, evidentemente e também o estado de graça do F. C. Porto!
Fantástico mais uma vez. As fotos que sempre nos trazes deixam-nos assim com uma nostalgia mesmo que não sejam do nossa geraçao. Tudo isto é mt simples. Quem gosta assim do Porto como nós queria viver eternamente para passar por todos estes capítulos.
ResponderEliminarPOrto!!!
Grande vitória ontem no hoquei frente ao barcelona, hj novo jogo complicado com o Liceo nas meias da "champions" em andorra onde estão amigos e colaboradores do blog. 19h30 rtp2
Mais uma página completa, com texto excelente e fotos lindas. E as lutas intestinas que acabaram, felizmente, de há quase trinta anos a esta parte, para bem e glória do F.C.Porto.
ResponderEliminarUm abraço
Agora percebo a dos “andrades”. O dirigente que deixou sair Francisco Ferreira foi mais do que isso, foi burro.
ResponderEliminarAi que falta fazia o nosso “Maior” Pinto da Costa!
Agora (1938-39) vem aí mais um título. Conta para os 68 que agora já temos. No domingo, se Deus quiser, vem outro…
Bjos. Bibó PORTO!!
Cristina Moreira