01 fevereiro, 2008

Ser pobre e gostar de futebol, é pecado?

Tenho, cada vez mais, um sentimento contraditório em relação ao Campeonato Inglês de Futebol. Por um lado, não posso deixar de admirar o espectáculo que muitos desafios proporcionam e a magia de muitos jogadores que actuam na “Premier League”. Mas, por outro, não posso deixar de abominar a evolução que conheceu e conhece a Primeira Liga Inglesa.

Durante inúmeros tempos, o futebol inglês foi símbolo de desporto popular, até chegarem estes últimos dez anos. A partir da década de noventa, o futebol inglês tornou-se símbolo de “futebol business”. Este fenómeno está a provocar uma grande segregação social. E parece-me que este aspecto, a exclusão da classe média e das camadas populares dos estádios ingleses, não está a ser, devidamente, enfatizada pela imprensa desportiva.

O mais que conceituado diário Francês “Le Monde” que nada tem de revolucionário, publicou, em 9 de Agosto de 2007, as seguintes linhas que passo a traduzir :

“Assistir a um jogo de futebol na Grã Bretanha é ainda possível quando não se tem um poder de compra próximo daquele dum golden boy da City?“ E, mais adiante, o jornalista cita um responsável da Federação Inglesa : “Há já uma dezena de anos que as classes populares não podem comprar um lugar num estádio, nomeadamente em Londres ou Manchester, sem fazerem enormes sacrifícios financeiros”.

Em 4 de Outubro de 2007, o conhecido diário Francês “Libération” que, também, nada tem de revolucionário, retoma o mesmo tema. O artigo do jornalista, Grégoire Mathieu, procura sintetizar o relatório feito por dois Senadores Franceses sobre a violência no futebol francês. Para estes dois senadores, parece que só “o preço dos bilhetes é uma alavanca contra a violência”. E não mais!

Esperemos que o exemplo inglês não continue a se alastrar e que seja mesmo combatido. Gosto de ver futebol nos estádios. Não quero que os estádios de futebol se transformem em salões destinados, unicamente, a uma aristocracia financeira!

Reservar um lugar, com três meses de antecedência no Emirates Stadium do Arsenal custa, no mínimo, segundo o “Libération”, 160 euros. Sabendo-se a grande miséria que conhece a sociedade inglesa actual, como é possível dar 160 euros? Reservar para uma família de quatro, custaria 640 euros! Comparativamente, esta quantia de 640 euros é , em França, o equivalente de um aluguer dum apartamento T2 em “Paris entre muros”, o custo de 80 bilhetes de cinema sem redução, o custo de 49,2 entradas sem redução no Museu do Louvre. E , de modo, ainda mais pragmático : 160 euros representam 32,6 refeições na cantina do meu local de trabalho.

É verdade que a compra, por um ano, dum lugar cativo pode permitir certas economias. Mas, visto as tarifas, tais economias só tocam quem já é abastado. No estádio do Arsenal, para 2007-08, o preço dum lugar cativo podia ir até 1825 £., ou seja, cerca de 2600 euros. Para cair na realidade, sem pára-quedas, a “espécie” de salário minímo, instituido em 1999, por Tony Blair, para combater a probeza, conhece a seguinte tarifa: 3.60 £ por trabalho/hora, ou seja, 5,20 euros por trabalho/hora.

Quem pode? Quem vai ao futebol na Grã Bretanha?

Se a França seguir as mesmas pisadas, o que é mais que provável visto a proposta de lei dos dois Senadores referidos, quem poderá ir, num presente próximo, ao futebol no país do Galo?

A França é o país, salvo erro, que mais títulos internacionais têm a nível das camadas jovens. Sob o pretexto de lutar contra os hooligans, é justo excluir os jovens e os menos abastados dos estádios?

Eu sou contra a violência. Que, isso, seja claro! Mas discordo da evolução que muitos “decidores” querem dar ao futebol.

E, por analogia, quem pode afirmar que o futebol Luso não seguirá o exemplo inglês?

Por essa razão, penso que Pinto da Costa, ao batalhar para criar o Estádio do Dragão, foi, realmente, visionário. Ele soube adaptá-lo às exigências do mundo do futebol a porvir, guardando as camadas populares.

Um estádio que recebe em média 35.000 espectadores por desafio, num país de 10 milhões de pessoas com baixo poder de compra, parece um conto de fadas. Parece-me, ainda mais, um conto de fadas , quando se sabe que o Porto e a Região Norte estão deveras empobrecidos, à força, pelo poder central de Lisboa!

Deixo o debate em aberto.

E Viva o Porto !

Fontes citadas:
- "Les tarifs extravagants des clubs de football anglais", Le Monde, artigo não assinado, 09.08.07 (edition on line: 17h06).
- "Supporter n’est pas (encore) un crime", Libération , Grégoire Mathieu, Jeudi 4 octobre 2007 (edições papel e on-line).

13 comentários:

  1. um posto muito interessante.

    De facto hoje em dia o futebol é apenas e somente um negocio. O amor pelos clubes e pelos resultados desportivos é somente do interesse do simples adepto. Quem controla o mundo do futebol e dos clubes interessa apenas pelo negocio em si e pelo que pode facturar.

    Isto resulta em ordenados ridiculos pagos a jogadores. e digo ridiculo com todas as letras. por muito bom que o jogador seja,não é merecedor de ordenados incriveis por semana.

    o futebol tende na minha opinião para o abismo, mais dia menos dia apenas os ditos grandes clubes irão existir, fazendo com que muitos clubes desaparecam ou não sejam capazes de competir a alto nivel. E isso já se nota.

    A nivel de assistencia nos estadios, para os clubes é mais vantajoso (e tb o sei por estar na area economica) ter um lugar ocupado a 20 euros, do que dois a 10. No entanto penso que na nossa realidade o interesse em facturar por todos os intervenientes é tanto que os bilhetes atingem valores ridiculos face ao espectaculo que temos e condições que nos apresentam.

    Tambem confesso que só vou ao estadio qnd tenho bilhete ou convite de borla. Digo sem problemas nenhuns e por muito que adore futebol e o meu clube, jamais daria 20, 30 euros para ir ver um Porto x Leixões ou um porto x leiria. com 30 euros, vou jantar fora, vejo o jogo na tv e ainda guardo uns trocos. Não é a mesma coisa, mas parece-me o mais racional.

    Não se justificam bilhetes a este preço para o espectaculo que nos apresentam nos estadios.
    Como tal penso mesmo que o futebol tende a ser absorvido e "abraçado" por uma elite alta. Os "pobres" limitam-se a ver na tv. é esta a realidade por mais triste que seja. O futebol deixou de ser do povo, deixou de ser a festa do fim de semana e da alegria. A prova disso são as recentes decisões das uefas e fifas a tudo o que seja assunto futebol.

    abraço a todos e que no proximo jogo voltemos às vitorias SEGURAS!!

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  2. Um post muito oportuno e interessante do nosso «Repórter enviado a França»:)

    A verdade é essa caro AMIGO, mas aqui no Dragão os preços até são um pouco mais baixos q no Sul, pelo q me contam.

    Qt à média de espectadores esta época os 38/39 mil de média do nosso Estádio lideram mas o único que pode competir connosco relativamente a isto é o Xlb.

    Há muitos Dragões que passam alguns sacrifícios mensais para irem dar o seu apoio. Criticável ou elogiável, eis a questão.

    Abraço.

    E vamos Porto em frente, o tri está ali ao fundo.

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  3. NA taça da Liga de basket o nosso PAULO PEREIRA enviou-me a boa nova na noite de ontem... o Porto ganhou 78-69 ao Barreirense e está nas meias finais frente ao CAB Madeira. Este jogo (a realizar em Vagos) dá na RTP2 às 15horas de amanhã. Marçal com 27 e Gentry com 20 foram os mais pontuados.

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  4. É uma boa análise, mas, em termos comparativos com Portugal, como ficamos?No F.C.Porto, atendendo à dimensão que o clube atingiu, não creio que os lugares anuais sejam muito caros. Por exemplo uma superior com os jogos da 1ª fase da L.Campeões e todos os jogos da Liga, 125 euros,média de 6,9 euros por jogo é caro?
    Lucho recebeste o meu mail?

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  5. Vila pouca:

    Não recebi.

    SERGIOPMGOMES@HOTMAIL.COM

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  6. Concordo a 100% com o comentario do João Felipe Ferreira. Mas já dei mais de 30 euros para ir ver um jogo, no caso da ultima final do FCP no Jamor.
    Acho que se os preços fossem mais baixos, tinhamos muita mais gente nos estádios.

    Abraço

    http://estrelas-do-fcp.blogspot.com/

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  7. Novo blog de cariz futebolistico.

    http://circodaluz.blogspot.com/

    Visitem e opinem!!!|

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  8. Boas,

    Sê bem vindo e com mais uma crónica k provoca o debate. Tocaste num ponto excelente. Confesso k sou um fanático da Premier League, desde à muito tempo. Anos e anos visionando aquela que é, sem dúvida, a mais excitante liga europeia. Era lá, penso eu muitas vezes, k o Porto deveria jogar. Em estádios cheios, com público entusiasta, com milhões de olhios colado aos ecrãns, um pouco por todo o Mundo...

    Mas, como dizes, existiu uma inflexão no caracter do futebol, um pouco por todo o Planeta. O desporto-rei deixou de ser um mero entretenimento, um jogo viciante, para se tornar num espectáculo e depois, o patamar seguinte, um negócio...

    E é isso k hoje se tornou o pontapéna bola. Um mundo onde os calções e as chuteiras se cruzam com homens engravatados, onde o cheiro da relva se mistura com o forte odor do charuto caro, com milionários a encontrarem no futebol um último refúgio para ganhar mais uns milhões...

    Se, como espectáculo, a entrada de capitais e o refluxo constante de dinheiro tornaram o jogo mais aprazível, com grandes vedetas a jogarem, pagas a peso de ouro, aproximando-se um pouco da ideia de espectáculo ao estilo da NBA, afastou aqueles k mais amam o jogo: os adeptos. E esses, claramente, estão ostracizados, chutados para canto, como uma bola de trapos k já não interess a ninguém...
    Em Inglaterra, particularmente, mas um pouco por todo o lado, os proibitivos preços começam a equiparar um jogo de futebol a um espectáculo de ópera ou a uma peça de teatro, apenas e só para elites endinheiradas...

    Já estive, por duas vezes, em Londres, visitando essa metrópole magnífica e viciante, mas sem poder cumprir um dos meus sonhos de infância ver um desses mágicos jogos da liga inglesa ao vivo.

    O motivo: o preço! Um Chelsea-Middlesbrough custava a módica quantia de 130 libras, aproximadamente 185 €!!!!!!

    Abraço,

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  9. Viva !

    Parece mentira mas nao é. Continuo privado de net em casa. Por isso nao tenho comentado aqui porque me è dificil.
    E o que me deixa tambem fera. Esta falta de net.
    Sim, 125 euros é mais que razoavel !

    E viva o Porto !

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  10. O post tá excelente e toca num tema bastante interessante, temos de batalhar o "futebol business".

    Se alguém me puder esclarecer uma coisa.. Se os preços são assim tão exurbitantes como é que os estádios ingleses estão sempre cheios?

    http://www.dazuis08.blogspot.com

    PS: FCPorto vs U.Leiria - preço minimo de bilhete é de 8€ (para sócios).

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  11. Só vos digo que em certos jogos ainda deviam de pagar aos adeptos pelos espectáculos (muitas das vezes só de nome) deploráveis, pelas tristes exibições que os jogadores muitas das vezes presenteiam os adeptos...

    E andam ali «ursos» a ganhar mais do que centenas e centenas de pessoas juntas, que estão nas bancadas...

    Não concordo em nada com os preços...

    Isso de comprar bilhete de época é muito lindo, mas perguntem a um estudante como eu, se tem disponibilidade financeira para comprar um lugar anual???
    Brincadeiras!!!!

    Estou mal disposto hoje...

    Se o Porto não ganha logo ninguém me atura então... Lol
    Só mesmo a Zubrówska... (Vodka Polaca)

    Saudações azuis e brancas
    Carlos Pinto

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  12. "Sabendo-se a grande miséria que conhece a sociedade inglesa actual"

    Entao o que diria ele da sociedade portuguesa...

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  13. Viva !

    Nao tenho a net em casa por isso desculpem falta de acentos.

    Ha seis estadios ou sete cheios na 1 League. A maioria dos 92 clubes pro ingleses andam nas ruas da amargura e ja nao produzem jogadores. Foi isto o que declarou o presidente da f inglesa . Guardei
    o artigo do l equipe de ontem sobre o assunto.

    Sim contrariamente ao que se pode pensar e ao que mostra ou quer mostrar a tv ha uma grande miseria na sociedade inglesa. A taxa de mortalidade infantil ( um indicador que nao engana ) é bem superior na Inglaterra do que em Portugal. Ademais, um quarto (leram bem) das crianças inglesas com menos de tres anos vivem abaixo do patamar da pobreza.

    E Viva o Porto !

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