26 março, 2010

2 comentários:

  1. Sentença tardia, por Rui Moreira n' A Bola


    NÃO fiquei surpreendido com a decisão do Conselho de Justiça da FPF. Não tenho formação jurídica nem sou especialista em justiça desportiva, mas apreendi a ler e a interpretar textos nos bancos da escola. Por isso, e ainda antes de ouvir as doutas opiniões e ler os pareceres jurídicos de muitas pessoas respeitáveis, expliquei nesta coluna porque razão os stewards não são agentes desportivos, ao contrário do que foi defendido neste jornal, que antecipou e adivinhou a sentença da Liga.
    Não me conformei com a morosidade do processo nem aceitei a sentença, proferida numa lamentável conferência de imprensa em que um justiceiro em vestes de Pilatos confessou que a pena lhe parecia excessiva mas resultava da lei. Por essa altura, já era evidente para quem não se deixa cegar pela clubite aguda, que a desproporcionalidade da pena não resultava da letra ou do espírito da lei, mas da forma iníqua como esta fora interpretada.

    Foi por isso que participei numa pacífica manifestação junto à sede da Liga, para fúria de alguns dos meus detractores, que têm saudades dos gloriosos tempos em que estes actos eram ilegais e em que o FC Porto era proibido de ganhar fosse o que fosse. Felizmente, e como vivemos em liberdade, temos o direito e o dever de protestar contra a injustiça.

    Vivemos, também, num país onde há gente com decência, competência e bom senso, como agora se comprova. O CJ não absolveu os atletas do FC Porto, como não absolvera o seu Director de Comunicação, mas voltou a reduzir a sentença do CD da Liga, que já então fizera uma interpretação errada e dolosa dos regulamentos.

    Pouco haverá a acrescentar sobre este caso vergonhoso. Infelizmente, a justiça chega tarde e a más horas, quer para o FC Porto quer para os seus jogadores, a quem resta exigir as indemnizações a que têm direito. A verdade desportiva nunca será reposta e o FC Porto não recorrerá à secretaria, porque esse não é o seu desporto favorito.

    Logo que conheci a sentença do CJ, defendi que Hermínio Loureiro se devia demitir, como veio a acontecer horas mais tarde. Lamento que o faça pelas piores razões. É que, segundo nos conta José Manuel Delgado, Hermínio diz-se, imagine-se, indignado, não entendendo que são os portistas que têm direito a esse sentimento. O que lhe vale é que, nesta hora difícil, conta com o apoio do Benfica, que não esconde a sua gratidão pela sua missão e pelos serviços que prestou à causa da moralização e da credibilização.

    Se o Benfica ganhar o campeonato, e por muito que tenha sido a equipa que melhor futebol jogou, essa moralização e credibilização terá contribuído para que o título fique indelevelmente ligado às toupeiras, da mesma forma que o seu anterior título ficou ligado ao Estorilgate. É essa, afinal, a triste conclusão deste caso, e o legado de Hermínio Loureiro e de Ricardo Costa para a história do nosso futebol.

    (cont..)

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  2. O terceiro desastre
    DEPOIS de Alvalade e de Londres, ainda nos faltava passar pelo calvário algarvio. Como me lembro do futebol dos anos sessenta, tenho dificuldade em concordar que esta é a pior equipa do FC Porto, mas não tenho pejo em afirmar que é a mais vulnerável e instável dos últimos trinta e cinco anos. Lamento, por isso, que Jesualdo Ferreira, por quem os associados sentem gratidão e estima, se tenha prestado aos episódios deprimentes que constituíram o flash interview e a conferência de imprensa no final do jogo. Só ele viu um jogo equilibrado e, se houve uma coisa que não esteve em campo, foi uma equipa digna das tradições de FC Porto.

    Onde anda Bruno Alves?
    Oque se passa com Bruno Alves? Não sei se está mal aconselhado ou triste por não ter sido transferido para Espanha, mas esse Eldorado só está ao seu alcance se voltar às grandes exibições. Imagino, também, que esteja acabrunhado por a sua equipa estar a jogar mal, e zangado por ter sido castigado pelo incidente com Tomás Costa. Nada disso explica as suas fracas exibições e, principalmente, o seu comportamento no Algarve onde, se estivesse sob a tutela de um treinador com um resquício de autoridade, teria sido substituído ao intervalo, depois de ter protagonizado uma cena lamentável aplacada por Nélson Puga, num jogo que só completou graças à benevolência do árbitro.

    Que plantel para o futuro?
    NÃO gosto de sentenciar jogadores, porque o seu rendimento depende de um conjunto de circunstâncias: da metodologia de treino e da forma física, do dispositivo táctico e da sua inserção na equipa, da sua motivação e estado de alma. Ainda assim, quando olhamos para o plantel do FC Porto neste final de temporada, e descontando a infelicidade das muitas lesões, é inevitável pensar que, para que a próxima época não seja um desastre, vai ser precisa uma revolução. Basta olhar para o meio-campo, para perceber que muita coisa terá de mudar. Fernando, Ruben e Meireles terão sempre lugar no plantel, mas que fazer com todos os outros que não se têm conseguido afirmar?

    Equação difícil
    PARA sustentar uma época sem as receitas da UEFA, o FC Porto deveria reduzir o custo do seu plantel através de dispensas, o que se complica por haver jogadores cujos salários excessivos não condizem com as suas qualidades e que não aceitarão rescindir os seus contratos. A alternativa passa por voltar a fazer mais-valias com os jogadores cujos passes têm valor comercial, que são precisamente aqueles de que o clube mais necessita por razões desportivas. É essa a difícil equação que se coloca à sua gestão. A solução passa por encontrar um treinador que mereça a paciência dos associados, porque vai ser preciso tempo para construir uma nova equipa competitiva, com um orçamento mais realista.

    Rui Moreira

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