‘Nortada' do Miguel Sousa Tavares
Com Ronaldo, parece que os 90 minutos lhe sabem sempre a pouco: quem sabe, se o deixassem, não ficaria ali duas ou três horas de seguida a desbaratar todas as leis de ciência certa que se aplicam ao futebol!
1 - Cristiano Ronaldo à solta, sem posição específica e como vagabundo de luxo no ataque do Manchester United é verdadeiramente um show de bola. Não deve ter havido um único jogador do mundo que algum dia não tenha sonhado integrar aquele ataque de vedetas, ocupar aquelas funções de absoluta liberdade e gozar desse estatuto de excepção que o português conquistou no campeão inglês e mais rico clube do mundo. Hoje, Cristiano Ronaldo não tem preço. Um jogador que, não sendo ponta-de-lança de função, marca 15 golos em 18 jogos da Premiership, que joga bem de cabeça, remata fabulosamente com os pés, cobra livres com mestria, dribla em velocidade ou parado, é terrível no um para um e arranca a uma velocidade que faz dinamitar em segundos as linhas defensivas adversárias, é um jogador que está para além de qualquer cotação do mercado. Ao seu lado, jogam expoentes como Giggs, Tevez, Rooney ou Nani e Anderson (em funções de trinco!), mas, quando a bola lhe chega aos pés, parece que todos os outros se eclipsam e pelas bancadas do estádio perpassa aquela sensação de imponderabilidade e magia reservada apenas àqueles que os deuses destinaram à imortalidade no relvado. Com Ronaldo, sabemos que estamos a ver história, que estamos convocados para todo o esplendor de que o futebol é capaz. Mas, se a magia não bastasse, se o talento em movimento, como uma onda de surf a caminho da praia, que acompanha a sua movimentação em campo, não fosse por si só suficiente, sobra ainda essa impressionante disponibilidade fisica e mental para o jogo de que ele dá mostras. Com Ronaldo, parece que os 90 minutos lhe sabem sempre a pouco: quem sabe, se o deixassem, não ficaria ali duas ou três horas de seguida a desbaratar todas as leis de ciência certa que se aplicam ao futebol! Assim como na infância, quando parecia que todas as horas livres de uma tarde não chegavam para consumir essa paixão inexplicável de correr atrás de uma bola de futebol.
2 - Estas coisas pagam-se. Sem Ronaldo, sem Nani, sem Simão, sem Deco, sem Pepe e tantos outros, o nosso futebol só pode ir minguando e perdendo qualidade. Transformámo-nos numa plataforma logistica de embrulhar talentos para exportação — e cada vez menos apenas portugueses. É uma fonte de receita para os clubes e uma fonte de tristeza para os espectadores. No final desta época, anunciado já por várias aves de rapina, parte substancial do que resta de talentos por aí — todos no FC Porto — irá emigrar para outras paragens e para o ano teremos enfim um campeonato nivelado, disputado por uma legião de jogadores com nomes terminados em «ez» ou «ic», mais uma fornada de miúdos saídos das academias e a quem basta uma só exibição conseguida para se porem logo a sonhar com Reais Madrids e Manchesteres Uniteds. É a vida.
3 - Enquanto isso não sucede, o FC Porto vai passeando a sua supremacia interna em termos que já são de humilhação dos rivais. Este fim-de-semana, terminou com as veleidades de grandeza do Sporting de Braga, através de uma demonstração de força que só mesmo Manuel Machado é que conseguiu ver como «um jogo nivelado nos seus aspectos gerais».
Antes disso, na Luz, o Benfica somara mais uma exibição à toa e mais dois pontos perdidos com inteira justiça. É certo que se pode queixar, pelo menos, de um golo mal anulado, mas isso não justifica tudo o que não jogou. Também contra o Nacional, na sua única derrota sofrida, o FC Porto foi vítima de uma má decisão do árbitro com influência directa no resultado e eu, pelo menos, não me queixei disso, porque vi bem que os culpados da derrota foram outros: Postiga (que seja muito feliz na Grécia!), Mariano González (que volte rapidamente para Itália!) e Jesualdo Ferreira, que montou uma equipa destinada à derrota. Como sempre disse e repito, quando uma equipa não joga o suficiente para justificar a vitória nem se colocar ao abrigo de um eventual erro de arbitragem, não tem legitimidade para culpar esse erro dos males que lhe sucedem.
Como já é hábito, o Benfica continua a pensar em grande e a executar em pequeno. Nesta nova época de transferências, lá vêm as inevitáveis notícias dos jogadores que o Benfica «segue» e que «tem em observação» e dos craques que só sonham em vestir a camisola do Benfica e que depois se percebe que estão a uns largos milhões de euros dessa «oportunidade». Tudo se faz com um imenso alarido que não é apenas fruto de amadorismo negocial, mas uma política propagandística pensada de atirar fumo para os olhos dos adeptos. Para já, no rescaldo do empate com o Leixões, surge o anúncio da primeira compra da estação: um desconhecidíssimo defesa-esquerdo com nome de refrigerante, oriundo de uma desconhecidíssima equipa romena, para o lugar do Léo, que ninguém compreende porque não serve.
No Sporting, desta vez com bastante pouca sorte, novo semi-desaire, em Coimbra, veio agravar o estado de desânimo que parece ter-se instalado em todos: técnico, jogadores, direcção, adeptos. Só uma vitória sobre o FC Porto, dia 26, poderá levantar um bocado o orgulho ferido e animar a descrença das hostes leoninas, mas já nem isso poderá devolver quaisquer esperanças que não as de se manter na luta pelo segundo lugar.
No FC Porto, Jesualdo tem pela frente uma dupla tarefa, que não é tão fácil quanto isso, embora infinitamente mais agradável que as de Paulo Bento ou Camacho. Por um lado, tem de manter a equipa motivada para não acontecerem mais percalços e negligências como o do Nacional; por outro lado, tem de dar algum descanso aos jogadores mais influentes, de modo a tê-los frescos para a retoma da luta europeia, em finais de Fevereiro. E, para isso, deve começar a estender a manta, para que não conte apenas com onze ou doze jogadores fiáveis. Nessa perspectiva, parece-me errada a dispensa de Leandro Lima, a quem practicamente não concedeu quaisquer oportunidades, em contraste com Mariano ou Stepanov, em quem tem insistido até à naúsea. Parece-me acertada (se verídica) a notícia de que chegará já um central para reforçar a defesa — se o Bruno Alves tem o azar de se magoar, tudo aquilo se desmorona num instante. E parece-me acertadíssima a decisão de fazer ingressar já no plantel Helder Barbosa e Rabiola. Como escrevi há tempos, seria injustificável ver o FC Porto a lançar-se outra vez em compras a torto e a direito, quando tem tantos jogadores emprestados em destaque noutras equipas: Alan, Ibson, Diogo Valente, Vieirinha e até o inesperado Pittbull. Jesualdo está numa posição privilegiadíssima, com o campeonato no bolso e a qualificação na Champions garantida, para dispor de um tempo de passagem de luxo até ao jogo com o Schalke, de modo a retocar a equipa e fazer integrar uma, duas ou três alternativas reais ao onze de todos os dias. E é nestas alturas, também que se vê a capacidade dos treinadores.
Com Ronaldo, parece que os 90 minutos lhe sabem sempre a pouco: quem sabe, se o deixassem, não ficaria ali duas ou três horas de seguida a desbaratar todas as leis de ciência certa que se aplicam ao futebol!
1 - Cristiano Ronaldo à solta, sem posição específica e como vagabundo de luxo no ataque do Manchester United é verdadeiramente um show de bola. Não deve ter havido um único jogador do mundo que algum dia não tenha sonhado integrar aquele ataque de vedetas, ocupar aquelas funções de absoluta liberdade e gozar desse estatuto de excepção que o português conquistou no campeão inglês e mais rico clube do mundo. Hoje, Cristiano Ronaldo não tem preço. Um jogador que, não sendo ponta-de-lança de função, marca 15 golos em 18 jogos da Premiership, que joga bem de cabeça, remata fabulosamente com os pés, cobra livres com mestria, dribla em velocidade ou parado, é terrível no um para um e arranca a uma velocidade que faz dinamitar em segundos as linhas defensivas adversárias, é um jogador que está para além de qualquer cotação do mercado. Ao seu lado, jogam expoentes como Giggs, Tevez, Rooney ou Nani e Anderson (em funções de trinco!), mas, quando a bola lhe chega aos pés, parece que todos os outros se eclipsam e pelas bancadas do estádio perpassa aquela sensação de imponderabilidade e magia reservada apenas àqueles que os deuses destinaram à imortalidade no relvado. Com Ronaldo, sabemos que estamos a ver história, que estamos convocados para todo o esplendor de que o futebol é capaz. Mas, se a magia não bastasse, se o talento em movimento, como uma onda de surf a caminho da praia, que acompanha a sua movimentação em campo, não fosse por si só suficiente, sobra ainda essa impressionante disponibilidade fisica e mental para o jogo de que ele dá mostras. Com Ronaldo, parece que os 90 minutos lhe sabem sempre a pouco: quem sabe, se o deixassem, não ficaria ali duas ou três horas de seguida a desbaratar todas as leis de ciência certa que se aplicam ao futebol! Assim como na infância, quando parecia que todas as horas livres de uma tarde não chegavam para consumir essa paixão inexplicável de correr atrás de uma bola de futebol.
2 - Estas coisas pagam-se. Sem Ronaldo, sem Nani, sem Simão, sem Deco, sem Pepe e tantos outros, o nosso futebol só pode ir minguando e perdendo qualidade. Transformámo-nos numa plataforma logistica de embrulhar talentos para exportação — e cada vez menos apenas portugueses. É uma fonte de receita para os clubes e uma fonte de tristeza para os espectadores. No final desta época, anunciado já por várias aves de rapina, parte substancial do que resta de talentos por aí — todos no FC Porto — irá emigrar para outras paragens e para o ano teremos enfim um campeonato nivelado, disputado por uma legião de jogadores com nomes terminados em «ez» ou «ic», mais uma fornada de miúdos saídos das academias e a quem basta uma só exibição conseguida para se porem logo a sonhar com Reais Madrids e Manchesteres Uniteds. É a vida.
3 - Enquanto isso não sucede, o FC Porto vai passeando a sua supremacia interna em termos que já são de humilhação dos rivais. Este fim-de-semana, terminou com as veleidades de grandeza do Sporting de Braga, através de uma demonstração de força que só mesmo Manuel Machado é que conseguiu ver como «um jogo nivelado nos seus aspectos gerais».
Antes disso, na Luz, o Benfica somara mais uma exibição à toa e mais dois pontos perdidos com inteira justiça. É certo que se pode queixar, pelo menos, de um golo mal anulado, mas isso não justifica tudo o que não jogou. Também contra o Nacional, na sua única derrota sofrida, o FC Porto foi vítima de uma má decisão do árbitro com influência directa no resultado e eu, pelo menos, não me queixei disso, porque vi bem que os culpados da derrota foram outros: Postiga (que seja muito feliz na Grécia!), Mariano González (que volte rapidamente para Itália!) e Jesualdo Ferreira, que montou uma equipa destinada à derrota. Como sempre disse e repito, quando uma equipa não joga o suficiente para justificar a vitória nem se colocar ao abrigo de um eventual erro de arbitragem, não tem legitimidade para culpar esse erro dos males que lhe sucedem.
Como já é hábito, o Benfica continua a pensar em grande e a executar em pequeno. Nesta nova época de transferências, lá vêm as inevitáveis notícias dos jogadores que o Benfica «segue» e que «tem em observação» e dos craques que só sonham em vestir a camisola do Benfica e que depois se percebe que estão a uns largos milhões de euros dessa «oportunidade». Tudo se faz com um imenso alarido que não é apenas fruto de amadorismo negocial, mas uma política propagandística pensada de atirar fumo para os olhos dos adeptos. Para já, no rescaldo do empate com o Leixões, surge o anúncio da primeira compra da estação: um desconhecidíssimo defesa-esquerdo com nome de refrigerante, oriundo de uma desconhecidíssima equipa romena, para o lugar do Léo, que ninguém compreende porque não serve.
No Sporting, desta vez com bastante pouca sorte, novo semi-desaire, em Coimbra, veio agravar o estado de desânimo que parece ter-se instalado em todos: técnico, jogadores, direcção, adeptos. Só uma vitória sobre o FC Porto, dia 26, poderá levantar um bocado o orgulho ferido e animar a descrença das hostes leoninas, mas já nem isso poderá devolver quaisquer esperanças que não as de se manter na luta pelo segundo lugar.
No FC Porto, Jesualdo tem pela frente uma dupla tarefa, que não é tão fácil quanto isso, embora infinitamente mais agradável que as de Paulo Bento ou Camacho. Por um lado, tem de manter a equipa motivada para não acontecerem mais percalços e negligências como o do Nacional; por outro lado, tem de dar algum descanso aos jogadores mais influentes, de modo a tê-los frescos para a retoma da luta europeia, em finais de Fevereiro. E, para isso, deve começar a estender a manta, para que não conte apenas com onze ou doze jogadores fiáveis. Nessa perspectiva, parece-me errada a dispensa de Leandro Lima, a quem practicamente não concedeu quaisquer oportunidades, em contraste com Mariano ou Stepanov, em quem tem insistido até à naúsea. Parece-me acertada (se verídica) a notícia de que chegará já um central para reforçar a defesa — se o Bruno Alves tem o azar de se magoar, tudo aquilo se desmorona num instante. E parece-me acertadíssima a decisão de fazer ingressar já no plantel Helder Barbosa e Rabiola. Como escrevi há tempos, seria injustificável ver o FC Porto a lançar-se outra vez em compras a torto e a direito, quando tem tantos jogadores emprestados em destaque noutras equipas: Alan, Ibson, Diogo Valente, Vieirinha e até o inesperado Pittbull. Jesualdo está numa posição privilegiadíssima, com o campeonato no bolso e a qualificação na Champions garantida, para dispor de um tempo de passagem de luxo até ao jogo com o Schalke, de modo a retocar a equipa e fazer integrar uma, duas ou três alternativas reais ao onze de todos os dias. E é nestas alturas, também que se vê a capacidade dos treinadores.
Sobre CR, não comento... não contribuo para esse peditório :D
ResponderEliminarQuanto ao resto, pois, digamos que tudo normal em PORTOgal:
a) na lampiolândia, digamos que não é um mundo de fantasia, até pelo contrário... é um mundo à parte, um mundo do faz de conta, um mundo que vive da opulência do passado (mais antigo!), em que o que mais vale, é mesmo viver sob um manto da 'lenda', procurando esquecer-se a realidade... e tb porque não, no fabrico diário de 'heróis' com pés de Cinderella...tudo normalissimo!
b) na lagartagem, bem, quem se conseguirá ainda surpreender com as diabtrites da gentalha com tiques de vedetismo parolo? Ainda hão-de estar a 30 pts, que o discurso não mudará: "claro que acreditamos em chegar ao 1º lugar...". Claro, "se a minha avó tivesse #$%&#$%, era concerteza meu avô!". Certo ou errado?
c) no PORTOgal, tudo tb normalissimo... com MST igual a si próprio: uma bicada daqui, um elogio dacolá... e uma incorrecção já habitual em cada crónica (não é dia 26... é dia 27!)
Moral da história: "Tudo normal em PORTOgal".
o Cristiano mesmo com aqueles tiques de azeiteiro é de facto um jogador fantástico. Não é o melhor do Mundo mas para lá caminha.
ResponderEliminarQt ao nosso futebol o MST desta vez acerta em quase tudo, no defesa esquerdo com nome de refrigerante, no estado de desânimo dos gatinhos de alvalade e na dupla tarefa de JFerreira. Motivar os jogadores e apresentar-se em grande forma frente ao Schalke.
Para mim, o Cristiano Ronaldo é o melhor jogador do mundo e o facto de ter saído do Sporting, não influencia em nada a minha opinião sobre ele. É um jogador simplesmente impressionante!
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