Apesar do “Verão quente” de que falei num dos últimos artigos, as convulsões internas não retiraram a ambição ao emblema portista. O sonho de conquistar a Europa não esmoreceu, no Porto. Titubeante nas grandes competições europeias, o clube sediado na Invicta só a espaços conseguia resultados que faziam sonhar os seus adeptos. Esporádicos, como se os Dragões ainda se envergonhassem de bater o pé aos colossos europeus.
Mas tudo isso se alterou com a visão sagaz de Pedroto e o apoio incondicional de Pinto da Costa. Depois do ocaso em que o clube caiu, no seguimento do afastamento de ambos e da vinda de Stessl, o regresso de Pedroto ao clube, com Pinto da Costa como presidente, reactivou o germinar da semente que grassava no interior de cada um. Tornar o Porto um colosso europeu…
Em 1984, como em todos os outros anos, o sonho estava lá. No início da competição. E o Porto foi passando. Avançando passo a passo. Insuflando, com cada vitória, novo alento no corpo mirrado de Pedroto. Debatendo-se heroicamente contra a doença que o minava, o Zé do Boné via na carreira europeia do seu clube de sempre o bálsamo que o mantinha agarrado à vida. A equipa, por sua vez, lutava desesperadamente, sabendo que cada jogo era decisivo, que cada vitória importava, como se as mesmas fossem uma vacina contra o mal de que padecia o seu treinador. Formou-se um elo. Inquebrável. Unidos por algo mais do que o simples êxito ou meras glórias terrenas, a equipa e o velho Mestre tornaram-se umbilicalmente unos. Como se matéria e alma se fundissem.
Em 1984, como em todos os outros anos, o sonho estava lá. No início da competição. E o Porto foi passando. Avançando passo a passo. Insuflando, com cada vitória, novo alento no corpo mirrado de Pedroto. Debatendo-se heroicamente contra a doença que o minava, o Zé do Boné via na carreira europeia do seu clube de sempre o bálsamo que o mantinha agarrado à vida. A equipa, por sua vez, lutava desesperadamente, sabendo que cada jogo era decisivo, que cada vitória importava, como se as mesmas fossem uma vacina contra o mal de que padecia o seu treinador. Formou-se um elo. Inquebrável. Unidos por algo mais do que o simples êxito ou meras glórias terrenas, a equipa e o velho Mestre tornaram-se umbilicalmente unos. Como se matéria e alma se fundissem.
Enquanto numa cama de Hospital Pedroto cerrava os dentes, impedindo momentaneamente os avanços do mal que o corroía, no relvado o seu exemplo servia de factor extra de motivação. E essa vontade férrea de vencer frutificava, quase de modo sobrenatural. Foi assim na suada e épica eliminatória com o Dínamo de Zagreb. Batiam fortes os corações. Roíam-se as unhas, na esperança cada vez mais ténue de um golo, que acalentasse as esperanças. Os minutos passavam. As hipóteses minguavam. Até que, mostrava o relógio o ponteiro nos 90’, Gomes, incorporando o papel de alter-ego de Pedroto, lá dentro do campo, fez explodir as Antas. A ebulição atroou os céus da cidade nortenha. O Porto avançava mais um passo…
Míseros 180 minutos separavam o clube portista da tão ansiada final. Pela frente, vindos das terras altas escocesas, o Aberdeen, detentor do troféu. Homens de barba rija, habituados a sofrer, tinham como general um jovem quase imberbe, mas que se tornaria grande. Alex Ferguson, semideus no seu País, viu uma cabeçada de Gomes, aos 14 minutos, sentenciar o jogo da primeira mão. Vantagem escassa, é certo, para a visita a terras britânicas. Mas os jogadores queriam, mais do que nunca, ofertar a Pedroto uma prenda inigualável. Lutaram como nunca. Sofreram como heróis. Numa pressão sufocante, fazendo alarde do tradicional “kick and rush” de terras da Sua Majestade, as bolas caíam continuamente na área portista. O perigo espreitava, em cada lance. Dentes cerrados, despachando o couro para terrenos mais longínquos, destacavam-se os defesas portistas. Rostos suados, olhos fixos, num exemplar exercício de concentração, cerrando fileiras, gritando incentivos. E a equipa aguentava. Fustigada numa pressão asfixiante, parecendo soçobrar a cada momento. Até que, a meio da 2ª parte, um pequeno homem, correndo veloz como o vento, cabelos encaracolados em desalinho, fugiu por entre os defesas contrários. Acreditou na felicidade. E a Europa viu um dos golos mais belos de sempre. Vermelhinho, do meio-campo, chutou a bola. Ela subiu, subiu, num arco perfeito, sobrevoando o guarda-redes contrário. Pedroto deve ter sorrido, naquele exacto momento, ao ver o couro preto e branco a descer indolentemente, prenúncio de alegria desmedida, até se anichar de forma suave nas redes opostas. O Porto marcava na Escócia. As lágrimas tomaram conta de todos os que presenciavam aquele espírito indomável do Dragão. A final da Taça das Taças, a nossa primeira presença nos grandes palcos, era realidade.
E, depois de um mês de anseios, sonhos e glórias oníricas chegou o dia. O dia em que, finalmente, as camisolas azuis e brancas entrariam num palco europeu, disputando uma final. Um dia único. Aguardado por milhões. Aquilo que durante décadas parecia inatingível estava ali. Concretizado. Pela frente, a Juventus. A “vechia signora”, como lhe chamam carinhosamente os seus adeptos, comandados por uma raposa velha, Giovani Trappatoni. A seus pés, uma constelação de estrelas. Imensa. Repleta de brilho. Platini, Boniek, Paolo Rossi, Tacconi, Gentile, Scirea, Cabrini, Tardelli. A base da Selecção italiana, vigente campeã do Mundo, entrava no relvado, prestes a defrontar-nos. E nós, adeptos, vivendo aquilo como se num sonho. Saboreando as sensações, de forma sôfrega, sentindo as vivencias sublimes, as emoções dispares, olhos colados nos ecrãs, esperando o apito inicial.
O coração, batendo descompassadamente, fazia aumentar a pulsação. Secar a boca. Transpirar a palma das mãos. Não era medo. Nem pânico. Era ansiedade. Da 1ª vez. E como todos os neófitos, ela teve momentos mágicos. E outros cruéis. O golo madrugador dos italianos foi mais uma prova da categoria que imperava no plantel azul e branco. Longe de acusarem o golpe, os portistas assenhorearam-se do domínio do jogo. Responderam à bomba. Sousa fez-nos soltar o grito mais esperado. GOLO. Um remate forte, de fora da área, empatando a contenda. E quando parecia que a felicidade iria sorrir, de forma justa, os Dragões foram travados, à margem da lei. Adolf Prokop, juiz de campo, aliou-se aos italianos, ofertando o troféu a Platini, validando um golo irregular e não vendo uma penalidade do tamanho do Mundo.
O orgulho sentido pela exibição imaculada mesclou-se com a raiva e o desespero. Sentimos na pele a infâmia do roubo. E, naquele momento, a encruzilhada apareceu na história do clube. O Porto podia facilmente ter embarcado pelo caminho mais fácil. O da comiseração. Da vitimização. Só que isso não está na massa de quem pugna por aquele emblema. Optou-se pelo caminho mais difícil. O da auto-afirmação. E aquela derrota, na noite Suiça, foi o prenúncio. Ela fortaleceu o espírito de conquista. A avidez de vencer. O clube podia ter-se acomodado. Mas ficou viciado no sucesso. A sofisticação do palco da final, o brilho esplendoroso das luzes, o glamour da mediatização. E o Mundo, a partir desse longínquo encontro de 1984, aprendeu a sussurrar, com reverência e respeito um novo nome. Futebol Clube do Porto.
Excelente Paulo. Aliás como sempre. Que este belo texto nos dê a todos nós adeptos a força de Dragão para continuar a "lutar" por aquilo que amamos: FCP.
ResponderEliminarPaulo Pereira:
ResponderEliminarBom post.
Paulo belo naco de prosa de uma saga extraordinária.Podiamos ainda, acrescentar à tua peça, a invasão do aeroporto, as infantilidades de Zé Beto, o jogo com os na altura, soviéticos, do Shaktyor, agora Shakthar, em que estivemos a perder nas Antas por 2-0 e viramos para 3-2 - aqui gostaria de contar uma história que li num livro já não sei de quem, sobre Pedroto. Como deves saber Pedroto murava perto das Antas e nesse dia já doente, ficou em casa, mas sem ouvir o relato. Quando o Porto fez o primeiro golo ele ouviu o barulho e virou-se para a mulher D.Cecília e disse:" até que enfim, já estamos a ganhar 1-0", ao que o mulher coitada, respondeu:" mas ó Zé no rádio diz que o Porto está a perder 2-1".Imagino como terá ficado Pedroto.
ResponderEliminarTantas histórias e tantas alegrias...
Um abraço
Estes textos do Paulo recordando períodos brilhantes da nossa história são autênticas obras primas. Nota-se o carinho q tinhas por esse grande nome da nossa história, Pedroto. Essa temporada foi a da afirmação do nosso clube a nível Europeu. E a final foi perdida com batota da equipa de Platini, quem diria?
ResponderEliminarPaulo deixo-te um pedido, se puderes recorda também os títulos de 84/85 e 85/86... É um pedido q fica...
Abraço
Estilhaço,
ResponderEliminarPor uma questão de sanidade mental deixei de ler o cabrão o Cartaxana. Confesso que esse anormal me tira do sério, tão mesquinho, faccioso e raivoso consegue ser, contra o FCP. É daqueles que ficarei rejubilante quando for desta para melhor.
Vila Pouca,
Esse pormenor do Pedroto, desconhecido para mim, é simplesmente delicioso. Típico do Zé do Boné. Pode ter ficado frustrado, quando soube do resultado adverso, mas a recuperação fantástica animou-o, estou certo...
Lucho,
Com o tempo, o teu pedido será aceite:)
Paulo Pereira:
ResponderEliminarSe é verdade que os elogios nunca cansam e até fazem um bem do caraças ao ego, aqui vai mais um... PARABÉNS por mais uma magnifica recordação (apesar da derrota) que aqui nos deixas ao teu bom estilo a que já há muito nos habituaste.
Recordo como se fosse hoje essa final de Maio de 1984, tinha eu já uns 9 anitos bem feitos... e só graças ao vizinho do lado é que pude ver este jogo a cores já que lá em casa, fruto d'outros tempos e outras lutas diárias, TV, só mesmo a pb e daquelas em tamanho very big size :D
Perdemos um jogo, a nossa primeira final europeia, que a história já por mais de uma vez tratou de esmiuçar e mostrar os «porquês» de tal derrota... e até seria um bom motivo para hoje em dia questionar o Sr. Platini sobre o que pensaria do assunto, já que esteve envolvido nele, dado que este, nos tempos mais recentes, mais parece um virgem do tamanho da Torre dos Clérigos, de tanta pureza e virgindade que destila pela boca fora.
Perdemos o jogo e essa final, é certo... mas ganhamos o respeito da Europa do futebol e demos um passo de gigante a caminho do Olímpo que mais tarde, apenas passados 2 anos, viriamos a conquistar em Viena de Austria... e que não mais parou até aos dias que hoje correm.
Como tantas e tantas outras intermináveis histórias de glória e conquistas do nosso FC Porto, são estas que nos dão força no dia-a-dia para não mais parar nem tão pouco alguma vez vergar perante os invejosos... estamos cá e cada vez mais sólidos para os enfrentar olhos nos olhos, sem medos nem receios!!
Quem mais do que nós próprios para reconhecer a nossa SUPERIORIDADE perante os fracos de espirito?
Que venham de lá então mais destes relatos que fazem parte da nossa LINDA história!!!
Olá!
ResponderEliminarMais uma boa crónica do:
Crónica acidental duma violação involuntária
JORGE MAIA
Se tivesse ganho um euro de cada vez que ouvi alguém dizer que cometeu uma violação involuntária, podia ir tratando de meter os papéis da reforma. Quase toda a gente que viola garante que viola involuntariamente. "Foi sem querer", garantem. "Ia pela rua, tropecei e, quando dei por mim, já estava a violar", asseguram. Em Portugal, viola-se quase tudo, desde o mais obscuro regulamento interno de uma pequena ou média empresa até à própria Constituição, e sempre, invariavelmente, de forma involuntária. Como não sou jurista, não faço ideia da importância que o factor intenção pode ter no julgamento de uma violação, mas admito que seja relevante. Se alguém viola, convém que viole voluntariamente. Violar involuntariamente é quase uma dupla violação. Ficam violados o violado e o violador, que viola sem vontade, de nariz torcido, como quem queria estar noutro lugar a outra hora e se vê na contingência de violar sem querer, acidentalmente, por ter escorregado numa casca de banana. E é por isso que, se Luís Filipe Vieira violou involuntariamente o castigo da Liga, então talvez já tenha sofrido o suficiente.
Abraço
Apesar da derrota, este jogo significou o catapultar do FC Porto para o patamar europeu, algo que viríamos a materializar 3 épocas mais tarde, na épica final de Viena.
ResponderEliminarExpectáculo, again, Paulo.
ResponderEliminarDe facto, lamento informar aos tripeiros de gema, que no que toca a expressão e sentimento de "orgulho tripeiro", deixou de ser exclusividade vossa. :-) Já extravasou a invicta há muito, futebolisticamente falando.
Aqui em baixo numa mini-férias rabiscadas no algarve é só velos exibirem as camisolas oficiais do FCP, é lindo de se ver, a abundância...
Venho a alguns anos cá abaixo e é sempre mais do mesmo, ainda não consegui identificar nenhu adepto de outras equipas, mas pronto, compreendemos que deixem as camisolitas, que bem arrumadas que a traça das gavetas precisam de algom para roer.
Triabrac.ços, aqui das terras lusas mais perto dos Marroquinos, e onde curiosamente não cheira nada a mouraria!!
Portem-se mal ;-)
No dia da morte de Pedroto (li num livro) ele pediu à esposa q lhe dissesse qt tinha ficado o Porto nesse domingo, ao q parece o Porto de Artur Jorge ganhara e nessa noite Pedroto morreu com a sua alma tranquila e em paz... Era o nosso mestre...
ResponderEliminarJOGOS E GOLOS DESSA CAMINHADA ATÉ À FINAL DA TAÇA DAS TAÇAS 83/84:
ResponderEliminar1ª eliminatória
Dinamo Zagreb (Jugoslávia)-FC Porto 2-1
(Kranjcar 25m e 75m - Gomes 65m)
FC Porto-Dinamo Zagreb 1-0
(Gomes 86m)
2ª eliminatória
Glasgow Rangers (EscóCia)-FC Porto 2-1
(Clarke 35m, Mitchell 85m - Jacques 89m)
FC Porto-Glasgow Rangers 1-0
(Gomes 53m)
1/4 final
FC Porto-Shakhtyor Donetsk (União Soviética) 3-2
(Pacheco 41m, Frasco 47m e Jacques 70m - Morozov 7m, Sokolovski 38m)
Shakhtyor Donetsk-FC Porto 1-1
(Grachev 63m - Walsh 72m)
1/2 final
FC Porto-FC Aberdeen (EscóCia) 1-0
(Gomes 14m)
FC Aberdeen-FC Porto 0-1
(Vermelhinho 76m)
FINAL: FCP-1-JUVENTUS-2
F.C. PORTO - Zé Beto; João Pinto, Eduardo Luís (Costa), Lima Pereira e Eurico; Jaime Magalhães (Walsh), Frasco, Pacheco, Sousa; Gomes e Vermelhinho.
Treinador: António Morais / José Maria Pedroto.
JUVENTUS - Tacconi; Gentile, Brio, Scirea, Cabrini; Tardelli, Bonini, Vignola (Caricola), Platini; Rossi e Boniek.
Treinador: Giovanni Trappatoni.
GOLOS:(Vignola- 12m, Sousa-29m e Boniek-41m)
Viva !
ResponderEliminarComo não sou moderno, prefiro comentar a escolher entre estrelinhas, segue o meu comentário :
Excelente artigo Paulo Pereira. Não só lembra o passado do Porto como também a história duma grande competição Europeia que alguns mataram. ( Porquê ? ) Mas o Porto faz parte desse antigamente.
Como já aqui escrevi, o Porto esteve e está presente em todas as frentes europeias do passado e do presente. O que não é dado a qualquer um.
Como já escrevi aqui, vi o jogo com um colega ( outro doente ,mas grave )que me veio ver. E nunca esquecerei : Quando ele vê o Porto entrar em campo ele diz : Perdemos ! Com a cor desta camisola não vamos para a frente.
E tem piada que deste então foi uma frase que me ficou na memória.
Irracionalmente, quando fui ver o Paris-Porto, em andebol, o facto de ver o Porto com as cores às riscas azuis e brancas sossegou-me.
E ainda hoje me pergunto porque é que o Porto não jogou em azul e branco ?
O meu amigo tinha razão. Porque optar pela cor da camisola dos jogos fora ( na altura )?
A arbitragem não teve culpa nenhuma. Melhor é se perguntar porque é que aqueles cantos bem ensaiados não resultaram. Que grande movimentação que arrastava para o largo a defesa da "Dona Senhora".
Para mim, é mesmo a cor da camisola !
Calma : Não estou xé-xé : Mas, por vezes, a irracionalidade leva à racionalidade.
E Viva o Porto !
Viva !
ResponderEliminarVolto com mais tempo e para completar :
Podem-me informar, desde já agradeço, se o livro do jornalista ( ? ) Canadiano, Declam Hill, foi traduzido e publicado em Portugal ?
O Homem parece ser um grande biruta, afirma que o último campeonato do Mundo foi falseado. Que grande machadada no futebol.
Várias federações já recorreram junto da Fifa : Gana e Equador ( segundo o que li ).
Pelo que li não afirma nada de novo. Mas que tem um grande agente de imprensa lá isso tem.
Teve direito a exclusividades radiofónicas ( em directo com os ouvintes), na imprensa folha e on-line . Não sei se passou na televisão.
Querem é mesmo matar o futebol !
E Viva o Porto !
Eu estive em Basileia!
ResponderEliminarUm belo artigo invocatório de uma das páginas lindas da história do nosso Porto! Apesar de alguns erros, nomeadamente no trajecto até à final já corrigidos por outros participantes, não deixa de ser um belo texto!
Chegamos cedo, eu e o meu irmão Nuno, às imediações do Estádio de St. Jakobs! Quando percebemos que o recinto era indigno de uma final, apenas tinha uma grande bancada de um dos lados e tudo o resto era peão, e que já estava cheio, entramos mais de 2 horas antes da hora marcada para o início do encontro! Entramos e fomos para um dos topos onde se concentravam os relativamente poucos adeptos do Porto face à imensa maioria de italianos! Levávamos uma enorme bandeira do nosso clube a judamos a criar algum ambiente naquele canto do estádio! O peão estava tão cheio que, mesmo que tirássemos os pés do chão, não cairíamos! Bem apertados, pior que sardinha em canastra, preparamo-nos para o jogo! Logo de início se notou um enorme nervosismo do nosso guarda-redes, o malogrado Zé Beto, enquanto do outro lado, Stefano Tacconi fazia defesas do outro mundo! Veio o primeiro golo da Juve mas não perdemos a esperança! O Porto jogava mais e melhor e o empate, num remate de Sousa de fora da área, fez-nos saltar a todos, ainda que bem encostadinhos uns aos outros por falta de espaço para mais! A Juventus começou a perceber que tinha um adversário muito mais forte que o que esperava e tinha receio! Mas veio o segundo golo, talvez com ajuda do árbitro, mas com uma saída disparatada do Zé Beto e foi a vez de eles exultarem! O Porto voltou a carregar! António Morais tentou tudo, os remates sucediam-se mas Tacconi tudo defendia! Acabou!
Eu, o meu irmão Nuno e a nossa bandeira ali ficamos, de lágrimas nos olhos, incapazes de abandonar o campo! Vieram os italianos às centenas! Queriam cumprimentar-nos e dar-nos conforto dizendo que o Porto tinha sido "Una brava squadra" e tiramos centenas de fotos para recordação deles! Mas nós queríamos era ganhar!
Fomos dos últimos a sair do St.Jakobs e só quando chegamos ao carro, que estava bem longe, é que demos conta que estava a chover a sério! Estávamos todos molhados!
Três anos depois, em 27 de Maio de 1987, em Viena de Áustria, pensei muitas vezes nisto, tive receio que se repetisse quando o Bayern marcou, mas a história foi bem diferente!
Excelente testemunho, Dragon13. Eu nessa altura só tinha dois anos! Não me lembro, acho que não vi nada! Lol. Mas por ter sido injusta, deve ter sido uma derrota dolorosa e difícil de digerir. O bom é que 3 anos depois fomos Reis da Europa.
ResponderEliminarGosto destas passagens sobre o passado glorioso do FC Porto. Muito bom texto Paulo, como sempre!
Abraço.
Dragon 13,
ResponderEliminarNão existem erros factuais no artigo. O mesmo não pretendeu invocr exaustivamente a campanha europeia do Porto, nesse ano, mas apenas e só criar um elo entre as dificuldades encontradas, em cada partida, e a doença que minava o seu treinador.
Daí que, repito, não tenha querido invocar todas as eliminatórias...
Fica o esclarecimento!
Esse trajecto até à final foi memorável e em todas as eliminatórias a eliminação esteve muito perto mas com grande vontade, espírito de luta e alma de DRAGÃO, chegamos lá. Eu estive em todas as eliminatórias e, na 1ª eliminatória, como bem disse o Paulo Pereira, foi sofrer até ao minuto final quando o bi-bota de ouro marcou o golo de apuramento que merecemos mas que os, na altura jugoslavos, hoje croatas do Dinamo de Zagreb conseguiram adiar até ao minuto 90. Na 2ª elim contra o Rangers, ouvindo o relato, foi sofrer muito pois a perder 1-0, sofremos o 2-0 aos 85' (que tornava tudo praticamente impossível) mas conseguimos marcar aos 89 e, assim, nas Antas ganhando por 1-0 e sofrendo mais uma vez pois os escoceses fartaram-se de atirar bolas para por alto para a área no típico futebol inglês. Nos quartos, contra o Shaktyor, equipa totalmente desconhecida, achamos que iam ser favas contadas e aos 35 já perdíamos por 0-2 mas o Pacheco marcou ainda antes do intervalo (penso que de penalti) e na 2ª jogando bem melhor demos a volta. Na 2ª mão, mais uma vez comecámos a perder e um magnífico irlandês Walsh (grande cabeceador) empatou (penso que de canto e de cabeça).
ResponderEliminarNa meia final contra o Aberdeen (era na altura considerada uma das melhores equipas europeias) jogamos muito bem no Porto e ganhámos por 1-0. O problema é que na Escócia eles cairam em cima de nós e foi um sufoco até 15 minutos do fim quando o Vermelhinho (curioso nome) nos colocou na final com aquele estrondoso chapéu do meio da rua.
Para a final, fui de camioneta (2 dias sempre a andar) com uma tia com 63 anos (faleceu depois de festejarmos o penta e foi ela quem me levou pela primeira vez às Antas e era com ela que ia para todo o lado no futebol ou nas outras moadlidades). A viagem custou 7.500$00 (lindo!). Nessa excursão, ia um grande portista (na altura jornalista de "A Bola") chamado Alfredo Barbosa que nos disse que Pinto da Costa queria que deixássemos de ser "Andrades" e, para isso, ia lançar o DRAGÃO que existia no nosso símbolo. Na altura, poucas pessoas que iam na camioneta acreditaram no sucesso dessa iniciativa mas, 25 anos depois, nós somos "DRAGÕES". Depois, como disse o Dragão13 (meu irmão), fomos para o estádio sem condições, sem separações de adeptos (e os italianos fizeram muitos disparates) e, no fim, ficou uma sensação de tristeza pelo resultado mas uma certeza de que tinha começado a afirmação internacional do Porto. Ainda tenho uma bandeira e um cachecol da Juventus que troquei com adeptos italianos. Curiosamente, o cachecol tem o nome do ídolo da Juventus da altura: Michel Platini.
Foi uma semana de gazeta às aulas (12 ano) mas foi por uma boa causa e, ainda por cima, a tia com quem fui era a minha professora de matemática.