‘Nortada' do Miguel Sousa Tavares
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Depois da vitória sobre o Fenerbahçe, quarta-feira passada, Jesualdo Ferreira queixou-se dos assobios escutados no Dragão, explicando aos sócios do FC Porto que havia que ser mais compreensivo com uma equipa «em construção», que entrou em jogo com cinco estreantes em competições europeias. Realmente, faz alguma confusão escutar os assobios quando se está a ganhar por 2-1 um jogo tão importante e quando já se tinha regalado o público com uns vinte minutos iniciais de fino futebol. O que aconteceu então, para os assobios?
Aconteceu, primeiro, que o público do Dragão se tornou, com o passar dos anos e das vitórias, no mais exigente público de futebol em Portugal. Ali, não nos basta ganhar, porque ganhar, felizmente, é coisa a que estamos bem habituados. Queremos também ver empenho nos jogadores, coragem nos treinadores e futebol que compense a ida ao estádio. É essa uma das características que, hoje em dia, mais nos distingue dos rivais lisboetas e, embora tal possa ser por vezes difícil de aceitar para a equipa, não deixa de ser motivo de orgulho para os portistas: no Dragão, não nos rebaixamos a contestar a arbitragem logo aos três minutos de jogo, como ainda recentemente sucedeu no Benfica-Porto; não queremos ver a equipe ganhar de qualquer maneira, mesmo jogando mal; não desprezamos os adversários e sabemos que, quando não se corre e não se joga bem, não adianta estar a culpar a arbitragem ou o sistema pelos desaires. Tomemos o exemplo de anteontem em Vila do Conde: se o árbitro tivesse marcado, como devia, aquele penalty a dez minutos do fim, teríamos ganho o jogo. Mas não foi por isso que não ganhámos, foi porque a equipa e o treinador só acordaram para a necessidade de ganhar quando já era tarde.
A segunda razão para os assobios no jogo contra o Fenerbahçe é conjuntural. Jesualdo diz que a equipa está em construção, mas o que se viu, passados os brilhantes vinte minutos iniciais, culminados com aquele golo displicentemente desperdiçado por Lisandro López, foi antes uma equipa em desconstrução. Circunstancialmente, os assobios irromperam, e de impaciência, à vigésima vez que o Mariano González estragou uma jogada, mas, no fundo, no fundo, os assobios eram… para Jesualdo Ferreira, ele próprio. Ainda não digerimos mais uma derrota com o Sporting, onde Jesualdo acumulou erros visíveis a olho nu; ainda não digerimos uma vitória tão fácil desperdiçada na Luz; e, contra o Fenerbahçe, o que o público sentiu foi que outra vitória perfeitamente ao alcance tinha passado a correr o risco de se esfumar — como esteve quase a acontecer quando o Helton, para não variar, deixou que a bola sobrevoasse duas vezes a sua zona de intervenção obrigatória, na primeira vez falhando a intercepção e sendo salvo pelo Rolando, e, na segunda vez, ficando pregado à baliza a ver o Guinze falhar o cabeceamento a dois metros da linha de golo.
A desconstrução desta equipa que no ano passado ganhou o campeonato em atitude de passeio, começou, é verdade, na SAD: a saída do Paulo Assunção destroçou a solidez do meio-campo; as saídas do Bosingwa e de Quaresma desfizeram um flanco inteiro e, no caso do saudoso nº 7, tal como eu previ, reduziu a capacidade ofensiva da equipa a menos de metade. Mas Jesualdo também ajudou, e muito, os problemas actuais:
— continuou convencido de que Helton dá garantias suficientes de tranquilidade e segurança e o que sucede é exactamente o contrário - é ele o grande destabilizador dos centrais e o factor primeiro de insegurança defensiva;
— adepto, e bem, do 4x3x3, viu sair o Quaresma e, mesmo assim, despachou uma série de extremos que muito jeito lhe poderiam dar: o Vieirinha, o Alan, o Pittbull, o Hélder Barbosa;
— coleccionou, nos últimos dois anos, uma quantidade infindável de trincos, nenhum dos quais oferece um mínimo de garantias, o que faz com que, de facto, só haja um trinco capaz e adaptado, que é o Raul Meireles;
— só que o Raul Meireles faz falta como médio de ataque porque, além dele, Jesualdo só tem o Lucho - de quem depende, neste momento, toda a capacidade ofensiva da equipa. Entretanto, deitou fora o Leandro Lima, o Luis Aguiar, o Ibson, o Diogo Valente. A solução poderia passar pelo recuo do Cristian Rodriguéz para médio - até porque a extremo tem sido uma decepção -,mas então, adeus 4x3x3;
— e, enfim chegamos à razão mais evidente para os assobios, eu diria mesmo gritante: a inexplicável insistência de Jesualdo Ferreira em Mariano González. Contra o Fenerbahçe (que eu vi atentamente e de bloco notas na mão), a primeira vez que se deu pelo Mariano em jogo foi aos 41 minutos, quando rasteirou um adversário. Durante toda a primeira parte, ele não fez uma finta, um passe de qualidade, um cruzamento, uma desmarcação ou até uma intercepção: repetiu a dose contra o Rio Ave e, como Jesualdo poderá constatar revendo os vídeos, é um jogador que, depois de perder a bola (o que acontece quase sempre que a recebe) fica parado no mesmo sítio. Aos 51 minutos do jogo contra os turcos, o Mariano, após um ressalto feliz, ficou isolado perante o guarda-redes: a forma como rematou aquela bola, seria suficiente, se mais não houvesse no seu registo, para mostrar à exuberância que ele tem limitações técnicas que são inadmissíveis num jogador de uma equipa supostamente de topo. Não há um adepto portista que não prefira ver o Candeias, ou o Tarik, mesmo em Ramadão, ou o Hulk, no lugar do Mariano. Só Jesualdo Ferreira persiste e persiste na sua teimosia, revelando um grau de proteccionismo a este jogador que, para mim, não encontra justificação… nem perdão.
É claro que quem percebe de futebol é Jesualdo, não sou eu. Mas tenho sobre ele uma vantagem, enquanto observador: há vinte anos que eu vejo todos, todos, os jogos do FC Porto. Olhando para um jogo como o de anteontem, em Vila do Conde, há uma coisa que eu já sei e que Jesualdo já podia saber, com a experiência que leva da equipa: estes são os jogos que mais facilmente se tornam difíceis para uma equipa como o FC Porto. Os jogadores vão mudando, os treinadores e os métodos também, mas há coisas que permanecem imutáveis: num campo pequeno, com equipas fechadas na defesa e um guarda-redes que vai de certeza fazer a exibição da época, uma equipa de ataque e de espaços, como o FC Porto é desde há muito, vai sofrer com a falta de terreno, de ar… e de tempo. Só há uma solução para evitar problemas e o desespero no final: é carregar desde o primeiro minuto, até chegar ao golo e obrigar, então, o adversário a abrir espaços, porque tem de tentar o empate. Ora, não sendo bruxo, aos 3 minutos do jogo de Vila do Conde, eu estava a mandar uma mensagem a um amigo portista: «Desconfio que isto vai correr mal!». E porquê? Porque bastou ver a atitude displicente, pouco empenhada, de quem acha que tem todo o tempo do mundo, com que alguns jogadores entraram em campo, para perceber que aquilo se poderia complicar, com duas bolas na trave, um penalty por marcar, etc.
Quando, dois pontos perdidos sem razão nem brio, Jesualdo Ferreira veio queixar-se da hora inteira de sonolência a que a equipa se tinha entregue, cabe perguntar se a responsabilidade não será, primeiro que tudo, dele próprio. Quem falhou a passar a mensagem de que aquilo era para tentar resolver a partir do minuto 1 e não do minuto 61? Quem demorou uma hora inteira a ver o Mariano entregar jogo aos adversários até finalmente reagir? Quem demorou uma hora inteira a perceber que precisava de flanquear o jogo e, para isso, precisava de flanqueadores como o Candeias?
Uma das coisas de que tenho saudades do génio trapalhão do António Oliveira é disto: com ele, bastavam os primeiros 15 ou 20 minutos em que as coisas não funcionavam, para ele começar a mexer na equipa. Porque, como cantava o Vandrei, «quem sabe, faz a hora; não espera acontecer». É verdade, verdadíssima, que a procissão ainda vai no adro e que nada é irreversível. Daqui a uns tempos, acredito que o FC Porto poderá estar de volta ao caminho certo. Mas, para isso, é preciso mudar o que está mal e pode ser mudado, e não ficar à espera que as coisas mudem por si mesmas.
n'A BOLA de 23Setembro2008
fonte: "All Dragons fórum"
Jesualdo levou aqui uma grande tareia de MST. O mister tem q dar a volta nos px jogos senão parece q vai ter q levar toda a época com o mau génio de MST...
ResponderEliminarna verdade, MST tem razão em algumas coisas...
Caro Lucho,
ResponderEliminarComo eu costumo dizer a alguns portistas com kem falo de futebol o "nosso" treinador no banco faz-me lembrar akeles velhinhos reformados em casa com a botija de água quente nos pés para akecer, lol... Qualquer dia vamos vê-lo não só com a botija mas também com uma mantinha sobre os joelhos, por causa das artrites, lol...
Na verdade, Lucho, eu sou um apreciador deste notavél portista e escritor que é o MST. Ora o que ele retrata aki na crónica são apenas e só factos que saltam à vista de qualquer portista k siga de perto o nosso mágico FCPorto.
Tal como já escrevi no post aki do blog sobre a ressaca do Rio Ave-FCPorto, existem erros de casting no plantel desta época que são de um amadorismo?!?!? confrangedor e k é algo a k não estamos habituados, de todo, a ver no nosso clube.
Trisaudações...
P.S. No passado sábado à noite estive a ver na RTPMemória o jogo Rio Ave-FCPorto (época 1996) em que o treinador era o António Oliveira (k saudades) e que ganhámos por 1-0 (golo do SUPER MÁRIO JARDEL, num contra-ataque FABULOSO) mas esmagámos o Rio-Ave durante todo o jogo. Se alguém tiver dúvidas sobre o k o MST escreve sobre o Oliveira é só espreitar esse jogo e outros, para verem k é a mais pura das verdades.
Olá Amigos!
ResponderEliminarTb estou de acordo com muitas das coisas que o MST escreve.
Logo este ano que os nossos rivais estão mais fortes de Plantel e treinador!
Sim!Estou apreensivo com a evolução dos acontecimentos.
Abraço
Meus caros amigos, estou convicto que tudo irá estabilizar, assim o nosso Prof escute os nossos conselhos. Se não, então vai haver problemas no final.
ResponderEliminarMas, se não houver distorção no que suponho, o Benfica e o Sporting vão empatar e o Porto ganhará em Alvalade! Logo, o Porto vai realizar -espero- nesses fins-de-semana seis pontos, enquanto os seus adversários apenas um e -quando muito- quatro!...A partir daí, Porto em 1º, Sporting e Benfica a dois pontos...
MST diz muitas verdades (excepto em relação ao Quaresma) e, tal como diz o Lucho, o prof ou arrepia caminho (o que eu não acredito nem acho que tenha capacidade) ou vai levar muita porrada e não é só do MST. Basta ver as críticas aqui no blog.
ResponderEliminarTambém eu acho que há vários erros de casting no plantel senão vejamos: na baliza, Helton não dá a confiança necessária a uma defesa com vários elementos novos sendo que Sapu (melhor) e Benitez (fraquinho) ainda não convenceram mas as alternativas são ainda menos fiáveis; o Assunção saiu e, em 2 meses e meio mais meia época em que já se sabia que ia sair, não se arranjou um substituto à altura sendo que quer Fernando (acho q tem condições) quer Pelé (não o conheço) são muito novos para um lugar que exige muita experiência. Contrataram-se Tommy e Guarin que mostraram muito pouco. No ataque, Rodriguez tem 22 anos e tem sido o melhor, Mariano continua a não convencer ninguém e mandaram-se embora uma mão cheia de extremos para além da venda de Quaresma. Mas o pior é que no eixo do ataque, Lisandro está uma sombra e as alternativas Farias (ainda está?) e Hulk (parece-me um flop) estão longe de ser alternativas credíveis e, assim, golos não há.
A juntar a tudo isto, temos, tal como disse, e muito bem, a Bitinha, um treinador de pantufas e mantinha que só ao fim de 60 minutos vê aquilo que era visível ao fim de 5.
Assim, espero que o Meirelesportuense tenha razão nas suas previsões mas junto também a necessidade de ganharmos ao Paços. Para isso lá estarei na sexta à noite no Dragão.
POOOOOOORTO
Esconder este discurso do sol com uma peneira... é o mesmo que nos tentarmos enganar a nós próprios.
ResponderEliminarRevejo-me em muitas partes deste texto, noutros nem tanto.
O que é certo é que muitas das verdades que aqui, no café, no estádio ou noutro local qq, estão aqui.
Há que saber dar a volta ao momento e sair por cima... nada está perdido, nem de perto, nem de longe... mas há que arrepiar caminho... e bem!!!