21 abril, 2014

AS RENÚNCIAS

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Consumou-se no passado dia 31 de Março a renúncia de Angelino Ferreira ao cargo de administrador da FC Porto-Futebol, SAD com o pelouro financeiro, e a sua substituição por Fernando Gomes (antigo presidente da Câmara Municipal do Porto). Curiosamente, Angelino Ferreira tinha sucedido a outro Fernando Gomes, o actual presidente da FPF, que igualmente tinha renunciado ao cargo. Ou seja, no espaço de quatro anos (a anterior substituição ocorrera em 2010) dois administradores financeiros da SAD renunciam, enquanto os restantes administradores executivos (Pinto da Costa, Adelino Caldeira e Reinaldo Teles) permanecem nos seus cargos para os quais todos foram eleitos pelos accionistas.

É caso para perguntar, qual a razão de tais renúncias? Pois bem, nem um nem outro deram explicações quer a accionistas, quer a sócios, que são os principais interessados pois foram eles que os elegeram directamente (accionistas) ou indirectamente (sócios). Esta ausência de explicações não deixa de ser bastante negativa porque presta-se a todo o tipo de teorias ou de especulações.

Fosse o administrador ou director do futebol a renunciar e não se falaria doutra coisa. Como se trata do administrador financeiro não se passa nada. Por alguma razão nas muitas entrevistas ao presidente Pinto da Costa não me recordo de alguma vez ter sido abordado o tema da situação financeira. Lá está, ninguém vai para a Avenida dos Aliados comemorar os vinte milhões de euros de lucro da época passada, e ninguém fica muito preocupado com os trinta milhões de prejuízo no primeiro semestre da corrente época.

Ninguém fica muito preocupado com os trinta milhões de prejuízo no primeiro semestre, não será bem o caso. Pelos vistos, e agora sou eu a teorizar, tão preocupado ficou Angelino Ferreira que renunciou ao cargo. E não foi certamente com ânimo leve porque não é qualquer um que renuncia a remunerações verdadeiramente principescas. Recordo que na época de 2012/2013 auferiu a bonita verba de 432.000 euros (240.000 de remuneração fixa mais 192.000 de gratificações), fora todas as outras mordomias inerentes ao cargo. Não posso, pois, deixar de prestar tributo ao Dr. Angelino Ferreira pelo desprendimento que revelou, tão pouco comum nos dias que correm, pondo os interesses do FCP acima dos seus (será que se pode dizer o mesmo dos restantes membros da estrutura?). Vénia para ele.

Mas afinal, não tendo sido invocadas razões pessoais (como acontece muitas vezes quando não se quer revelar as verdadeiras razões), por que renunciou Angelino Ferreira? Terá sido pelo tal enorme prejuízo de trinta milhões?

Não vou fazer um exercício de especulação, vou cingir-me aos factos. Para isso vou socorrer-me das afirmações do próprio Angelino Ferreira em extensa entrevista ao Diário Económico em 2 de Maio de 2013 onde refere o seguinte:

"Temos um plano de negócio a cinco anos onde está prevista a contenção. Temos de fazer a otimização e diminuição de encargos com recursos humanos e diretamente com o plantel, mas isso será a cinco anos, pois muitos contratos são plurianuais e há alguma rigidez", afirmou, antes ainda de falar na forma como o FC Porto estará no mercado nos próximos anos. "Existe uma curva que levará a ter custos menores com recursos humanos, não só nos custos com pessoal, mas nas próprias amortizações dos investimentos em novos jogadores. O downsizing tem de ser feito pelos clubes, pois caso não o façam alguém o fará por eles", e acrescentou: "Enquanto o mercado valer realização de mais-valias temos de aproveitar, mas é fundamental a viragem para um modelo de negócio mais sustentável com proveitos operacionais e não decorrentes da venda de direitos económicos dos jogadores".

Ou seja, Angelino Ferreira defendia a redução de custos e a diminuição da dependência da realização de mais-valias na venda de “passes”. Entretanto, o que é que se verificou?

Como se pode ver no meu último artigo sobre as contas semestrais (AQUI), os custos operacionais aumentaram 6%, os proveitos operacionais baixaram 1% e a dependência da realização de mais-valias aumentou. Isto é, tudo ao contrário do preconizado por Angelino Ferreira!

Aliás, já neste meu artigo de 8 de Setembro de 2013 (AQUI), eu alertava para estas incoerências quando escrevia: "Resta saber se no seio do conselho de administração o administrador financeiro tem a força suficiente para impor as suas ideias".

Dito de outra maneira, não posso estar mais de acordo com Angelino Ferreira. Mas, não sei porquê, ao ler esta declaração, vem-me à memória o célebre Frei Tomás e o ditado popular: "Que bem prega Frei Tomás! Façam o que ele diz!, Não olhem para o que ele faz!"...

Portanto, quem anda atento a estas matérias não estranhará esta renúncia do administrador financeiro.

Encerrado o capítulo Angelino Ferreira, segue-se Fernando Gomes. Que linhas orientadoras na área financeira serão de esperar? A mesma filosofia de Angelino Ferreira, que não vingou mas parece ser a correcta, ou a política de navegação à vista, a política do “vamos indo e vamos vendo, um dia de cada vez” que tem sido seguida, diga-se com bons resultados desportivos (a desastrosa época corrente não pode apagar tudo o que de bom foi conseguido anteriormente) mas que conduziram a SAD a uma situação financeira muito preocupante? E como vai lidar com a cada vez mais premente questão do fair-play financeiro da UEFA?

Que Angelino Ferreira, ao sair, não queira falar porque há assuntos que são para ficar dentro de portas, entendo. Que Fernando Gomes, ao entrar, não venha dar a sua opinião sobre a situação financeira, não venha publicamente esclarecer a família portista sobre o seu programa para as finanças do clube, já não entendo. Mesmo considerando o actual momento muito difícil que se vive no futebol, onde todas as atenções já estão viradas para a próxima época e respectivo corrupio de entradas e saídas de treinadores e jogadores, convinha não esquecer que esta vertente desportiva está fortemente condicionada pela vertente financeira (e vice-versa). Aguardemos, pois.


nota: o blog BPc agradece ao JCHS a elaboração deste artigo.

7 comentários:

  1. William Wallace21 abril, 2014

    Meu caro , pertinentes questões levanta e tem levantado nos seus posts e desde já os meus cumprimentos.
    Não sendo sócio pelo motivo de incapacidade económica mas adepto desde sempre forjado no mais puro ódio e gozo por grande parte de outros adeptos dos rivais de Lisboa , já para não falar na enorme falta de isenção da comunicação social que aproveita tudo para denegrir o FCP.
    De facto o FCP tem de mudar a estratégia financeira pois somos todos os dias um alvo abater e ninguém nos dá fundos ilimitados como ao Benfica ou garante a não falência como ao Sporting.
    Preocupa-me sobejamente que este ex.politico tenha sido chamado á sad ainda por cima com um pelouro tão sensível.
    Como já alguém aventou noutros posts temo que muito do mal que nos tem acontecido não acabe e muito do mesmo terá a haver com uma irresponsável gestão financeira ainda que minorada dentro do possível pela accão dos anteriores responsáveis financeiros e sobretudo pelos resultados desportivos.
    Preocupa-me nessa lógica o delapidar do capital Humano do FCP com jogadores da formação que não são devidamente apoiados para darem o salto para a equipa A indo-se buscar jogadores por verbas astronómicas (Herrera, Defour, Licá, Reyes, Danilo, Alex Sandro, Carlos Eduardo) sem se notar uma real mais valia em campo e por consequência uma possível mais valia financeira.
    Têm sido os muitos diz que disse e não pretendo contribuir também para isso apesar de saber ler nas entre-linhas mas creio que a única solução num futuro muito próximo será apostar na prata da casa pois muito me preocupa que o ecletismo apanágio do nosso clube tenha sido abandonado e ele sempre contribuiu para o nosso crescimento enquanto Instituição Centenária.
    Faço votos para que os sócios se mobilizem mais em prol do SEU FCP e o defendam de quem vê nele apenas um meio para atingir determinados objectivos.

    Somos PORTO

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  2. A culpa devtermos contratado Reys e mandado embora Rolando vai morrer solteira? A culpa de termos contratado Licá e mandado embora Iturbe vai morrer solteira? A culpa de não ter renovado a tempo com Fernando vai morrer solteira? A culpa de ter contratado Herrera por 10M€ vai morrer solteira? A culpa do modo como foi tratado o caso Ismailov vai morrer solteira? Nao pode morrer.... Tem um nome...Antero Henrriques Tem um responsável... Antero Henrriques O mesmo que só dá a cara nas vitórias e empurra o Presidente para dar a cara nas derrotas!

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  3. Pois é tudo isto é verdade mas o que podemos fazer?? só podemos ir às assembleias gerais do clube e chumbar as contas, exigir que rolem as cabeças dos responsáveis por esta má gestão dos activos, pela não redução do passivo e como aqui diz a não redução do orçamento com a agravante do aumento do mesmo em 6% portanto os sócios têm de ir à próxima Assembleia geral do clube e votar, se não forem depois não fiquem chateados, nem passem a vida a a dizer mal nos blogs.
    O voto é um direito que todos nós sócios temos e devemos exercer nos locais próprios, apareçam e mostrem o vosso/nosso descontentamento no local próprio.
    Quanto vai ganhar o Dr. Fernando Gomes metade do Dr. Angelino Ferreira?? se não é devia ser porque só assim se consegue baixar o orçamento.

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  4. Mais um excelente artigo desta vertente do nosso clube!

    Não sou um especialista portanto não me vou alongar muito, penso que este modelo de gestão super dependente da realização de mais valias com jogadores está a chegar ao fim e teremos de seguir por outro caminho! Que é feito do projeto Visão(ou será Miopia) 611? Porque razão está se a trabalhar tão mal ao nível da nossa formação de jogadores ?

    Bem para terminar o meu espanto quanto á renumeração que o Sr. Angelino recebia, 432.000 euros como é possível isto???

    Continuação de bom trabalho e obrigado por esclarecer os Portistas !

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  5. Excelente artigo, parabéns pela simplicidade da informação. Quanto aos culpados, incluindo o sr. Antero Henrique, não são donos do lugar. Os sócios no verdadeiro lugar que são as eleições é que devem exigir pelo voto que se respeitem as suas opiniões. Caia quem cair e como sempre disse o nosso querido Presidente o que está em causa são os superiores interesses do nosso FC PORTO e é por eles que nós todos os PORTISTAS devemos lutar. quem está no clube para se servir dele e não para o servir, P U T A QUE O PARIU.
    SOMOS PORTO

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  6. Caro Blue Boy
    Obrigado pela colocação do artigo de JCHS que presumo seja economista ou contabilista. Nada a objetar ao seu conteúdo assim como à análise feita às Contas Semestrais postada a 9 de Março que fui rever, direcionado pelo link.
    Primeiro há que separar as águas. Embora o presidente seja o mesmo, não devemos misturar nesta análise, como fazem alguns comentadores, as contas do Clube com as contas da SAD. Senão teríamos que considerar que como a SAD é uma sociedade do clube, este até seria o principal “responsável” pelos seus maus resultados. Veja-se por exemplo o caso do Benfica (com 40% do Clube + 22% através da SGPS) cujas contas da SAD são uma catástrofe.
    Poderá o problema estar diretamente relacionado com a demissão do Dr. Angelino Ferreira mais, pela conjuntura em que vive o futebol no nosso País, do que por desacordo com as políticas seguidas pela SAD, como deixou subentendido na entrevista ao Diário Económico.
    Estas são decorrentes de vícios de gestão desde há vários anos nomeadamente quando, por exemplo nos orçamentos, se consideram como dados adquiridos determinados Proveitos que depois não se verificam e Custos mal calculados que agravam os prejuízos.
    Embora os nossos resultados tenho sido “disfarçados” com boas vendas, quando não há “saídas” como esta época, este “desequilíbrio” torna-se notório levando a um sucessivo distanciamento entre Receitas e Despesas. Por outras palavras, e sem entrar em termos técnicos, gasta-se mais do que se recebe.
    Tudo isto conjugado com a necessidade de termos uma boa equipa de futebol obriga a uma gestão rigorosa na contratação, não só em termos económicos como, de qualidade dos jogadores contratados. Na teoria isto é muito bonito de se dizer mas, com a proliferação de “intermediários” que se fazem pagar a peso de ouro, não se afigura fácil comprar bom e barato.
    A referência à necessidade de tomada de posição nas Assembleias-Gerais é uma utopia. Aí não se discute nada, já vai tudo discutido. Se na do Clube aparecem umas dezenas (poucas) de sócios, então na SAD, só lá vão meia dúzia de gatos. Por mim não sou apologista da teoria da vassourada. Continuo a confiar no presidente e mesmo que não confiasse não estou a ver quem o poderia substituir. Uma coisa eu sei: Não quero descendentes nem aventureiros.
    Abraço a todos os portistas

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  7. é revoltante ver pessoas a servirem-se do meu clube e a não servir o clube...cambada de chulos.

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