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Depois de um record negativo traduzido no maior prejuízo de sempre da FCP-SAD (contas consolidadas de 2013/14) – 40,7 M € - eis agora que as contas consolidadas referentes ao 1º trimestre de 2014/15 revelam um lucro de 13,5 M €.
Como é sabido, as explicações do administrador financeiro Dr. Fernando Gomes para tão elevado prejuízo em 2014 foram duas, a realização do Campeonato do Mundo de futebol no Brasil que adiou a realização de mais-valias na transacção de passes de jogadores, e o não apuramento directo para a Liga dos Campeões o que inviabilizou a contabilização do respectivo prémio (8,6 M €). Explicações, aparentemente, muito lógicas, tão lógicas que não me apercebi que tenha havido qualquer contestação a tais argumentos. Mas, será mesmo assim, ou não haverá aqui um camuflar da realidade?
Vejamos, vamos revisitar as contas de 2010. O que aconteceu em 2010?
Tal como em 2014 foi ano de Campeonato do Mundo de futebol, então na África do Sul. E, tal como em 2014, o FCP não se apurou para a Liga dos Campeões por ter-se classificado em 3º lugar atrás do Braga. Com uma agravante: enquanto em 2014 ainda pode contabilizar o prémio (2,1 M €) de acesso ao play-off da LC, em 2010 nem isso, foi directo para a Liga Europa. Portanto, segundo a lógica do Dr. Fernando Gomes, 2010 também devia ter sido um ano de enorme prejuízo financeiro, certo?
Não, errado! O ano de 2010 terminou com um lucro, pequeno mas lucro (cerca de 80.000 euros).
Ou seja, o problema não é o Campeonato do Mundo ou da Europa porque a cada dois anos temos a realização de um deles. O problema, como não me tenho cansado de referir, está no modelo de negócio baseado numa estrutura de rendimentos/proveitos marcadamente desequilibrada, onde as mais-valias na venda de passes de jogadores andam próximo dos 50% do total de rendimentos. Por exemplo, o orçamento para 2015 prevê um total de proveitos de 155,7 M € dos quais 89,2 M € são proveitos operacionais a que se somam 66,5 M € de resultados de transacções de passes (isto é, 42,7% do total dos proveitos).
Tudo isto conduz a que o FCP fique numa situação fragilizada, dependente dos clubes compradores, e como o período fiscal/contabilístico (30 de Junho) não coincide com o período de transferências (31 de Agosto), enquanto esta estrutura de rendimentos não se alterar, este autêntico carrossel de prejuízos/lucros/prejuízos há-de continuar.
Mas vamos às contas do 1º trimestre de 2014/15, que é o que importa agora.
Começo logo por um aspecto muito positivo: embora o passivo total tenha subido 35,7 M €, o que vai ser muito salientado pelos adversários, isso não é preocupante porque é contrabalançado por um aumento do activo total em 49,2 M € (basicamente devido ao aumento do valor do plantel fruto das novas aquisições), mas boa notícia mesmo é, dentro deste passivo total, a diminuição do passivo remunerado (isto é, empréstimos bancários e obrigacionistas) em 14,5 M €, o que pode fazer baixar no futuro a factura dos juros a suportar. De facto, neste 1º trimestre os custos e perdas financeiras ascenderam a 4,6 M €, valor exageradíssimo, e que continuou a subir face a igual período do ano anterior quando tinham atingido o valor de 3,2 M €. Esperemos, portanto, que se consiga uma inversão da tendência nesta rubrica.
Pela negativa a sistemática, estrutural, e sem fim à vista, pressão sobre a tesouraria, resultado de um passivo corrente (inferior a 1 ano) de 208,9 M € apenas coberto por 113,8 M € de activo corrente. Significa isto que a extrema dependência do crédito vai continuar, o que traz consigo uma muito complexa gestão de tesouraria.
Fundamental para o modelo de negócio, o resultado com transacções de passes de jogadores neste 1º trimestre atingiram o montante de 27 M € (inclui as mais-valias das transferências de Mangala e Defour). Como para o equilíbrio das contas no fim do exercício o orçamento prevê um total de 66 M €, isso significa que até lá será necessário ainda realizar um conjunto de negócios que proporcione um resultado líquido de 39 M €, o que certamente vai exigir um mês de Junho muito movimentado nas vendas, sob pena de se encerrar o exercício com mais um prejuízo.
De notar que o total de aquisições de passes de jogadores neste 1º trimestre ascendeu a 43 M € nos quais estão incluídos 6 M € de encargos relacionados com essas aquisições. Curiosamente, ao contrário de anos anteriores, agora não é feita a imputação individualizada destes encargos a cada uma das aquisições, o que sendo deliberado, traduz a vontade da administração de esconder essa informação do público, na minha opinião muito bem, visto entender que este tipo de informação deve ser reservado, por ser do domínio do segredo do negócio e, portanto, não tem que ser publicitado, evitando-se assim que a concorrência disso tenha conhecimento, inclusive essa mesma concorrência também omite essa informação.
Por último, uma breve referência à conta de exploração, onde se verifica uma ligeira melhoria de 3,1 M € nos resultados operacionais na sequência do aumento dos proveitos operacionais em 9,1 M €, por via do crescimento da receita obtida pela participação nas provas da UEFA, por contraponto ao aumento em 6 M € dos custos operacionais devido ao forte investimento efectuado no plantel e correspondente acréscimo dos encargos salariais.
nota: o blog BPc agradece ao JCHS a elaboração deste artigo.
Como é sabido, as explicações do administrador financeiro Dr. Fernando Gomes para tão elevado prejuízo em 2014 foram duas, a realização do Campeonato do Mundo de futebol no Brasil que adiou a realização de mais-valias na transacção de passes de jogadores, e o não apuramento directo para a Liga dos Campeões o que inviabilizou a contabilização do respectivo prémio (8,6 M €). Explicações, aparentemente, muito lógicas, tão lógicas que não me apercebi que tenha havido qualquer contestação a tais argumentos. Mas, será mesmo assim, ou não haverá aqui um camuflar da realidade?
Vejamos, vamos revisitar as contas de 2010. O que aconteceu em 2010?
Tal como em 2014 foi ano de Campeonato do Mundo de futebol, então na África do Sul. E, tal como em 2014, o FCP não se apurou para a Liga dos Campeões por ter-se classificado em 3º lugar atrás do Braga. Com uma agravante: enquanto em 2014 ainda pode contabilizar o prémio (2,1 M €) de acesso ao play-off da LC, em 2010 nem isso, foi directo para a Liga Europa. Portanto, segundo a lógica do Dr. Fernando Gomes, 2010 também devia ter sido um ano de enorme prejuízo financeiro, certo?
Não, errado! O ano de 2010 terminou com um lucro, pequeno mas lucro (cerca de 80.000 euros).
Ou seja, o problema não é o Campeonato do Mundo ou da Europa porque a cada dois anos temos a realização de um deles. O problema, como não me tenho cansado de referir, está no modelo de negócio baseado numa estrutura de rendimentos/proveitos marcadamente desequilibrada, onde as mais-valias na venda de passes de jogadores andam próximo dos 50% do total de rendimentos. Por exemplo, o orçamento para 2015 prevê um total de proveitos de 155,7 M € dos quais 89,2 M € são proveitos operacionais a que se somam 66,5 M € de resultados de transacções de passes (isto é, 42,7% do total dos proveitos).
Tudo isto conduz a que o FCP fique numa situação fragilizada, dependente dos clubes compradores, e como o período fiscal/contabilístico (30 de Junho) não coincide com o período de transferências (31 de Agosto), enquanto esta estrutura de rendimentos não se alterar, este autêntico carrossel de prejuízos/lucros/prejuízos há-de continuar.
Mas vamos às contas do 1º trimestre de 2014/15, que é o que importa agora.
Começo logo por um aspecto muito positivo: embora o passivo total tenha subido 35,7 M €, o que vai ser muito salientado pelos adversários, isso não é preocupante porque é contrabalançado por um aumento do activo total em 49,2 M € (basicamente devido ao aumento do valor do plantel fruto das novas aquisições), mas boa notícia mesmo é, dentro deste passivo total, a diminuição do passivo remunerado (isto é, empréstimos bancários e obrigacionistas) em 14,5 M €, o que pode fazer baixar no futuro a factura dos juros a suportar. De facto, neste 1º trimestre os custos e perdas financeiras ascenderam a 4,6 M €, valor exageradíssimo, e que continuou a subir face a igual período do ano anterior quando tinham atingido o valor de 3,2 M €. Esperemos, portanto, que se consiga uma inversão da tendência nesta rubrica.
Pela negativa a sistemática, estrutural, e sem fim à vista, pressão sobre a tesouraria, resultado de um passivo corrente (inferior a 1 ano) de 208,9 M € apenas coberto por 113,8 M € de activo corrente. Significa isto que a extrema dependência do crédito vai continuar, o que traz consigo uma muito complexa gestão de tesouraria.
Fundamental para o modelo de negócio, o resultado com transacções de passes de jogadores neste 1º trimestre atingiram o montante de 27 M € (inclui as mais-valias das transferências de Mangala e Defour). Como para o equilíbrio das contas no fim do exercício o orçamento prevê um total de 66 M €, isso significa que até lá será necessário ainda realizar um conjunto de negócios que proporcione um resultado líquido de 39 M €, o que certamente vai exigir um mês de Junho muito movimentado nas vendas, sob pena de se encerrar o exercício com mais um prejuízo.
De notar que o total de aquisições de passes de jogadores neste 1º trimestre ascendeu a 43 M € nos quais estão incluídos 6 M € de encargos relacionados com essas aquisições. Curiosamente, ao contrário de anos anteriores, agora não é feita a imputação individualizada destes encargos a cada uma das aquisições, o que sendo deliberado, traduz a vontade da administração de esconder essa informação do público, na minha opinião muito bem, visto entender que este tipo de informação deve ser reservado, por ser do domínio do segredo do negócio e, portanto, não tem que ser publicitado, evitando-se assim que a concorrência disso tenha conhecimento, inclusive essa mesma concorrência também omite essa informação.
Por último, uma breve referência à conta de exploração, onde se verifica uma ligeira melhoria de 3,1 M € nos resultados operacionais na sequência do aumento dos proveitos operacionais em 9,1 M €, por via do crescimento da receita obtida pela participação nas provas da UEFA, por contraponto ao aumento em 6 M € dos custos operacionais devido ao forte investimento efectuado no plantel e correspondente acréscimo dos encargos salariais.
nota: o blog BPc agradece ao JCHS a elaboração deste artigo.
O aumento de quase 45% dos custos financeiros denota algum (para ser simpático) descontrolo nas contas.
ResponderEliminarAcho que com uma época bem sucedida e uma boa gestão das contas poderemos voltar a uma economia mais equilibrada.
ResponderEliminarMas este tipo de épocas tem de se desenrolar por muito mais tempo, talvez umas 5 épocas e assim estaremos com bastante folego para voltarmos a ter o clube mais equilibrado do que nunca.