30 novembro, 2014

UM PORTO DE CONSUMO EXTERNO?

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Ao longo dos anos, muitas vezes existiram referências a equipas para “consumo interno” no léxico do futebol português. Uma vez que o nosso futebol e o nosso país têm a dimensão que têm, por algumas vezes vimos equipas fortes no contexto nacional que nunca passaram da banalidade em termos europeus. Um excelente exemplo dessa realidade é o benfica dos anos 70, dominador em Portugal, banalíssimo em termos europeus, a anos-luz dos seus antecessores dos 60s.

Quanto ao nosso clube, por diversas vezes foi-nos colado esse rótulo, sendo que no entanto foram raras as situações em que o nosso domínio interno não foi somado à capacidade de sermos competitivos em termos Europeus. Nem sempre com capacidade para atingir todos os apuramentos e eliminatórias, fomos mantendo contudo a competência para competir ao mais alto nível, com desastres cíclicos que no entanto nunca deixaram de ser corrigidos pouco depois.

O Super Milan do inicio dos anos 90, Real Madrid ou Barcelona, bem como outros gigantes como Manchester United, Bayern de Munique, Chelsea entre outros, nunca tiveram vida fácil com um Clube que tem contudo uma “mancha” importante no currículo europeu, como que uma maldição que o persegue: os jogos em Inglaterra, onde tem saído diversas vezes goleado.

Mesmo com tendência para complicar diante de alguns Artmedias ou Apoels da vida, o domínio interno do FC Porto quase sempre se pautou por se aliar à capacidade de progredir com qualidade no estrangeiro, mesmo que por vezes tenha ficado a sensação que podíamos ter ido mais longe num ou noutro ano. Foi assim com o Barcelona em 85/86, Real Madrid em 87/88, a Sampdória em 94/95, Bayern em 99/00, Man Utd em 08/09 ou mesmo com o Schalke em 07/08 e Málaga em 11/12, anos em que ficamos pelo caminho em situações que demostrávamos estofo para ir mais longe. Não nos podemos contudo queixar, uma vez que é absolutamente incomum um Clube duma cidade secundária de um país periférico somar 4 conquistas europeias, mais 1 final e outra meia-final, somadas ainda a outros lugares honrosos e de destaque em 30 anos.

E sendo certo que as competições nacionais, sobretudo o campeonato, foram sempre a prioridade, a verdade é que sem as grandes exibições europeias o FC Porto 1978-2014 não seria um caso de sucesso tão valorizado além-fronteiras.

Chegamos então ao momento actual e a uma situação pouco comum nas nossas hostes: uma equipa que tem 7 jogos europeus, com 6 vitórias e 1 empate, a 3 pontos de igualar o seu record em fases de grupos da Champions, a experimentar grandes dificuldades em impor o mesmo domínio em território nacional, estando neste momento a 3 pontos de um adversário que se arrastou na competição europeia e tendo encontrado a eliminação na taça frente a outro que não representa em termos europeus muito mais do que a banalidade? O que se passará então?

Uma das razões tem sido escalpelizada semanalmente e não vale a pena estender este texto a retomar o assunto. As “ajudas e amparos” têm sustentado um equilíbrio de forças que em situação normal não existiria, mas esta situação não será virgem, dai que não a entenda como a única explicação, muito embora esteja a influenciar bastante o normal decorrer da temporada em Portugal. Entra então aqui outro cenário, que à primeira vista pode parecer um pouco absurdo… Será que o actual FC Porto é uma equipa fundamentalmente para consumo externo?

Formado na sua maioria por jovens jogadores estrangeiros, internacionais pelos seus países, já bastante cotados e com alguns deles pertencentes a mediáticos clubes europeus, a verdade é que nunca na nossa história tivemos um plantel com estas características tão vincadas. Liderados por um homem prestigiado em Espanha, também ele lançado para outros voos se corresponder no FC Porto, temos um cenário onde a montra europeia é, mais do que nunca, o local onde os nossos jogadores atingem o expoente da sua motivação e onde mais querem brilhar.

Temos assim uma situação de risco, como temos observado durante estas primeiras semanas da temporada. O intenso talento, aliado à juventude e ambição, traz-nos altas expectativas e a possibilidade de altos voos esta época, no entanto o facto de termos um “contraditório” quase inexistente, baseado apenas num Quaresma, Maicon ou Ruben Neves que, por diferentes razões, não são propriamente o contraponto perfeito, mostra-nos que provavelmente estamos mais talhados para os palcos europeus do que propriamente para os “fáceis” terrenos portugueses.

Sendo certo que não podemos exigir que os nossos jovens estrangeiros percebam com exactidão qual é o nosso grau de ódio para com a benfiquite que grassa neste país ou qual o nosso desdém para com o presidente de um qualquer clube, podemos no entanto esperar que percebam qual é o grande objectivo do FC Porto e que, enquanto cá estão, também tem de lutar nos campos pouco atractivos de Portugal antes de um dia ingressarem nos estrelatos ingleses ou espanhóis que ambicionam.

Agora que as competições europeias estão praticamente a entrar de férias, é tempo de encontrar a regularidade de vitórias que nos permita virar 2014 no lugar que tanto ambicionamos. E é também altura de começar a atacar o clássico que se avizinha, que só podemos encarar com um pensamento: a vitória, de preferência com um golpe de autoridade que pode ser fundamental para o resto da temporada.

Bom domingo e todos ao Dragão!

1 comentário:

  1. Viva!

    O Porto recuperou uma imagem degradada que se vinha perpetuando ja' ha' alguns anos e ainda bem

    Penso que no fim de semana em que se inaugura a Liga Indiana na histo'ria do futebol mundial, o emprego da palavra risco é esclarecedor.

    Num contexto de globalização cada vez mais evidente e num pai's onde a taxa de natalidade é das mais baixas do mundo, tentar integrar jovens não portugueses não é um risco é uma obrigação.

    E Viva o Porto! - NunoPortoMaravilha

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