http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/
Apesar de podermos identificar alguns traços de identidade bem vincados e até transversais à história do FC Porto, o nosso percurso não é linear e “simplista” como às vezes possa parecer.
Por vezes somos atraiçoados pela memória ou pela nostalgia natural de quem vai “ganhando idade” e começamos a dourar esta ou aquela lembrança, transformando-as em verdades indiscutíveis. É um processo natural, mesmo que também se guardem memórias infelizes, no entanto o tempo tem esse estranho efeito de embelezar aquilo que de belo pouco tinha.
Assim como aquelas férias absolutamente secantes passaram com os anos a ser olhadas de outra forma (“até tiveram uma certa piada”), no desporto a tendência é semelhante. As Antas estavam sempre cheias e eram exigentes e coerentes, o Pavilhão Américo de Sá era um forte impenetrável, os dirigentes eram irrepreensíveis no seu amor desinteressado ao Clube ou os jogadores eram profissionalmente e pessoalmente exemplares, todas estas “memórias” são por vezes evidenciadas para comparar episódios presentes, mesmo que muitos saibamos que nem sempre as coisas foram tão lineares.
Esta reflexão podia dar azo a diferentes análises, no entanto queria-me focar num conceito muito em foco nos dias que correm, mais ainda depois do empate com o Braga: o Estofo de Campeão que, sem dourar a pílula, tem sido efetivamente a imagem de marca do FC Porto dos últimos 35 anos.
Depois de décadas arredado de grandes conquistas, dificilmente o FC Porto podia ser caracterizado em meados dos anos 70 como um exemplo de Clube vencedor e com uma aura especial. Na verdade passava-se exatamente o contrário, tantos eram os exemplos de momentos em que subitamente as pernas fraquejavam, os heróis encolhiam-se e a sorte virava as costas. Mais do que de vitórias, falava-se nesses anos do fatalismo, do Clube que, embora grande e apoiado por uma massa associativa fervorosa, tinha uma estranha atracão pelo abismo, incapaz de responder à altura mesmo nos momentos em que o Regime se distraia.
Mais do que a revolução de 1974, a verdadeira revolução do FC Porto chamou-se José Maria Pedroto, desde sempre coadjuvado pela lenda viva Jorge Nuno Pinto da Costa. Para além da capacidade de combate mediático, o Mestre e o então Diretor do Futebol trouxeram outra mentalidade e outra perspetiva e o FC Porto deixou de ter medo de ser feliz. Onde antes havia desânimo e uma certeza de que acontecesse o que acontecesse algo iria acabar por correr mal passou a existir a raça e a ambição de quem sente que trabalhando bem e com a mentalidade certa irá forçosamente vencer muitas vezes.
Para os mais velhos ou para quem se interessa pela nossa história existe um jogo verdadeiramente exemplar nesse sentido. Ao fim de 19 anos estávamos finalmente com o sonho ao virar da esquina, enfrentando um desafio que era bem mais do que uma final. Iniciando o jogo com um autogolo, o FC Porto doutros tempos ter-se-ia afundado na certeza de que era a sua velha sina a dar sinal de si e tudo estaria praticamente perdido. Mas este “novo” FC Porto foi atrás da felicidade e finalmente conseguiu matar o borrego, com a particularidade de desta vez até a sorte nos ter sorrido. Quem viu não esqueceu aquela bola na trave do Humberto Coelho...
Por vezes somos atraiçoados pela memória ou pela nostalgia natural de quem vai “ganhando idade” e começamos a dourar esta ou aquela lembrança, transformando-as em verdades indiscutíveis. É um processo natural, mesmo que também se guardem memórias infelizes, no entanto o tempo tem esse estranho efeito de embelezar aquilo que de belo pouco tinha.
Assim como aquelas férias absolutamente secantes passaram com os anos a ser olhadas de outra forma (“até tiveram uma certa piada”), no desporto a tendência é semelhante. As Antas estavam sempre cheias e eram exigentes e coerentes, o Pavilhão Américo de Sá era um forte impenetrável, os dirigentes eram irrepreensíveis no seu amor desinteressado ao Clube ou os jogadores eram profissionalmente e pessoalmente exemplares, todas estas “memórias” são por vezes evidenciadas para comparar episódios presentes, mesmo que muitos saibamos que nem sempre as coisas foram tão lineares.
Esta reflexão podia dar azo a diferentes análises, no entanto queria-me focar num conceito muito em foco nos dias que correm, mais ainda depois do empate com o Braga: o Estofo de Campeão que, sem dourar a pílula, tem sido efetivamente a imagem de marca do FC Porto dos últimos 35 anos.
Depois de décadas arredado de grandes conquistas, dificilmente o FC Porto podia ser caracterizado em meados dos anos 70 como um exemplo de Clube vencedor e com uma aura especial. Na verdade passava-se exatamente o contrário, tantos eram os exemplos de momentos em que subitamente as pernas fraquejavam, os heróis encolhiam-se e a sorte virava as costas. Mais do que de vitórias, falava-se nesses anos do fatalismo, do Clube que, embora grande e apoiado por uma massa associativa fervorosa, tinha uma estranha atracão pelo abismo, incapaz de responder à altura mesmo nos momentos em que o Regime se distraia.
Mais do que a revolução de 1974, a verdadeira revolução do FC Porto chamou-se José Maria Pedroto, desde sempre coadjuvado pela lenda viva Jorge Nuno Pinto da Costa. Para além da capacidade de combate mediático, o Mestre e o então Diretor do Futebol trouxeram outra mentalidade e outra perspetiva e o FC Porto deixou de ter medo de ser feliz. Onde antes havia desânimo e uma certeza de que acontecesse o que acontecesse algo iria acabar por correr mal passou a existir a raça e a ambição de quem sente que trabalhando bem e com a mentalidade certa irá forçosamente vencer muitas vezes.
Para os mais velhos ou para quem se interessa pela nossa história existe um jogo verdadeiramente exemplar nesse sentido. Ao fim de 19 anos estávamos finalmente com o sonho ao virar da esquina, enfrentando um desafio que era bem mais do que uma final. Iniciando o jogo com um autogolo, o FC Porto doutros tempos ter-se-ia afundado na certeza de que era a sua velha sina a dar sinal de si e tudo estaria praticamente perdido. Mas este “novo” FC Porto foi atrás da felicidade e finalmente conseguiu matar o borrego, com a particularidade de desta vez até a sorte nos ter sorrido. Quem viu não esqueceu aquela bola na trave do Humberto Coelho...
Este jogo foi um marco para definir o que seria o FC Porto nas décadas seguintes. De facto, para quem como eu nasceu nos anos 80, parece estranho associar algo ao FC Porto que não seja um espírito inquebrantável, de “antes quebrar que torcer”, num clube tão vitorioso que dificilmente encontra paralelo pelo Mundo fora, principalmente na amplitude do domínio interno que evidenciou anos a fio.
Cresci e vivi portanto num tempo em que se diz “O FC Porto na hora da verdade não falha”, “quando é preciso o FC Porto ganha”, num sentimento e atitude que podia ter levado Gary Lineker a afirmar que "O futebol é um jogo simples: 22 homens correm atrás de uma bola durante 90 minutos e no final o Porto vence", mesmo descontando o óbvio exagero.
Faço aqui uma pequena pausa para deixar claro o seguinte: Sendo uma “regra” transversal ao nosso domínio, temos no entanto de respeitar a verdade de que nem sempre aconteceu exactamente assim. Obviamente também falhamos e perdemos jogos amargamente (assim de repente lembro-me imediatamente daquele jogo em 1991 que ainda está “entalado”...), no então deixamos de perder quase sempre para passar a ganhar quase sempre, algo que para quem viveu o FC Porto de 1960-1977 era simplesmente inacreditável.
Gerações foram-se sucedendo e o FC Porto pareceu sempre estar um passo à frente dos outros. Mesmo quando caia logo se levantava e nos momentos chave foi assegurando as vitórias que permitiram uma hegemonia sem paralelo, mesmo para o tão elogiado benfica de Eusébio e companhia.
Chegados a 2015 estamos no entanto num momento em que vivemos uma espécie de encruzilhada histórica. Depois de 2 campeonatos arrancados à “moda antiga” no momento da verdade pela raça de um colectivo somadas ao génio de Hulk e James, cabeça de Maicon ou de um pontapé de sonho fora de horas do Kelvin que nos encheu a alma, seguiram-se 2 épocas onde o FC Porto pareceu voltar ao passado já distante, vergado à incapacidade de aproveitar as oportunidades que os rivais vão proporcionando.
Entrados numa época importantíssima e com a ambição uma vez mais reforçada, na vontade redobrada de voltar aos eixos e recuperar a cadência vitoriosa de um passado recentíssimo, já vivemos no entanto momentos bem distintos que nos colocam de sobreaviso. Se por um lado “arrancar” aquela vitória tardia sobre o benfica nos faz sentir que somos o tal FC Porto que nos habituamos a ver, deslizes como em Moreira de Cónegos ou o recente desperdício com o Braga em dia de “tudo a ganhar” colocam-nos desconfiados e receosos de um futuro que se possa repercutir num regresso a um passado que poucos quererão reviver.
Neste momento adorava ter uma bola de cristal e poder dizer a quem me está a ler que pode estar tranquilo que tudo nos irá correr de feição... No entanto, e como tal não existe, só nos resta aguardar para ver o que o resto da temporada nos reserva e tentar ajudar nas bancadas de forma a que a fase dourada do FC Porto possa por muitos mais anos continuar a ser escrita da seguinte forma:
Cresci e vivi portanto num tempo em que se diz “O FC Porto na hora da verdade não falha”, “quando é preciso o FC Porto ganha”, num sentimento e atitude que podia ter levado Gary Lineker a afirmar que "O futebol é um jogo simples: 22 homens correm atrás de uma bola durante 90 minutos e no final o Porto vence", mesmo descontando o óbvio exagero.
Faço aqui uma pequena pausa para deixar claro o seguinte: Sendo uma “regra” transversal ao nosso domínio, temos no entanto de respeitar a verdade de que nem sempre aconteceu exactamente assim. Obviamente também falhamos e perdemos jogos amargamente (assim de repente lembro-me imediatamente daquele jogo em 1991 que ainda está “entalado”...), no então deixamos de perder quase sempre para passar a ganhar quase sempre, algo que para quem viveu o FC Porto de 1960-1977 era simplesmente inacreditável.
Gerações foram-se sucedendo e o FC Porto pareceu sempre estar um passo à frente dos outros. Mesmo quando caia logo se levantava e nos momentos chave foi assegurando as vitórias que permitiram uma hegemonia sem paralelo, mesmo para o tão elogiado benfica de Eusébio e companhia.
Chegados a 2015 estamos no entanto num momento em que vivemos uma espécie de encruzilhada histórica. Depois de 2 campeonatos arrancados à “moda antiga” no momento da verdade pela raça de um colectivo somadas ao génio de Hulk e James, cabeça de Maicon ou de um pontapé de sonho fora de horas do Kelvin que nos encheu a alma, seguiram-se 2 épocas onde o FC Porto pareceu voltar ao passado já distante, vergado à incapacidade de aproveitar as oportunidades que os rivais vão proporcionando.
Entrados numa época importantíssima e com a ambição uma vez mais reforçada, na vontade redobrada de voltar aos eixos e recuperar a cadência vitoriosa de um passado recentíssimo, já vivemos no entanto momentos bem distintos que nos colocam de sobreaviso. Se por um lado “arrancar” aquela vitória tardia sobre o benfica nos faz sentir que somos o tal FC Porto que nos habituamos a ver, deslizes como em Moreira de Cónegos ou o recente desperdício com o Braga em dia de “tudo a ganhar” colocam-nos desconfiados e receosos de um futuro que se possa repercutir num regresso a um passado que poucos quererão reviver.
Neste momento adorava ter uma bola de cristal e poder dizer a quem me está a ler que pode estar tranquilo que tudo nos irá correr de feição... No entanto, e como tal não existe, só nos resta aguardar para ver o que o resto da temporada nos reserva e tentar ajudar nas bancadas de forma a que a fase dourada do FC Porto possa por muitos mais anos continuar a ser escrita da seguinte forma:
- “Hegemonia do FC Porto: 1977 – ...”
Estou de acordo mas um fraco treinador faz fraco o forte plantel. Está provado que com este não vamos a lado nenhum. Esperemos por amanhã para ver se não aparece outro madeirense.
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