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Nesta silly season muito se diz, muito se conta, muito se fala. Mas raras vezes se acerta. Como quero fugir a isso, como sou adepto de “prognósticos só no fim do jogo”, como não gosto de falhar o alvo e como por esta altura apenas se pode especular sobre contratações, onzes base, compras e vendas, optei por fugir um pouco aos assuntos rotineiros do dia-a-dia. Para isso teremos a época toda, que será longa. O Verão está à porta e os dias de praia também servem para descanso das jornadas, dos erros de arbitragem, dos flops futebolísticos e das notícias dos jornais. Por isso, daqui até à pré-temporada é hora de contar histórias. Dou então o kick-off a estas Novelas de Verão.
Quero regressar lá atrás, ao tempo em que era miúdo e ia às Antas ver os treinos. Gostava de lá ir. Na altura o tempo era maior, esticava, não havia estudos nem trabalho. Ia com o meu Avô e por lá ficava a ver os jogadores chegar ao treino, assistir ao mesmo, ir ao bar das piscinas e regressar para ver os jogadores a sair e pedir autógrafos.
Os jogadores da altura eram gente como nós. Seriam futebolistas famosos, teriam um bom salário, é certo, mas não havia a diferença que há hoje, com salários pornográficos. Os sócios aproximavam-se facilmente, trocavam palavras com os jogadores, havia uma enorme identificação entre o sócio e o jogador. No caso de muitos deles, seriam primeiro apoiantes do clube e só depois jogadores, como era o caso do grande Capitão João Pinto. Mas o lateral-direito deixou descendência!
Quando subiu heroicamente ao topo da tribuna no Estádio de Oeiras, nessa mítica Final da Taça de Portugal frente ao Sporting (naquele que terá sido a par do caso very-light o mais vergonho episódio do futebol português dos últimos anos – curioso que tenha sido no mesmo palco e só este ano, perante mais um problema, de novo com os mesmos protagonistas, alguém que não os portistas levante a questão sobre a segurança daquele complexo…), o Capitão de Avintes estava bem secundado. Atrás de si, seguiam homens que continuariam o seu exemplo, a pôr a camisola do FC Porto à frente de tudo, a suá-la e a respeitá-la. A consequência óbvia dessa aprendizagem foram títulos, títulos e mais títulos, que fizeram de Baía, Jorge Costa, Paulinho Santos, Secretário, Rui Jorge, Folha, Domingos e outros recordistas de campeonatos, taças e supertaças.
Um certo dia, levamos máquina fotográfica para o treino. Tenho grandes fotografias e memórias desse dia. Imagens gravadas para a posteridade ao colo do João Pinto, entre os braços do Timofte, a falar com o Vinha, entre outros. O meu primo, grande benfiquista, da minha idade, havia ido comigo e é curioso constatar nas fotos que, por momentos, ali mesmo, também ele se rendeu, ao menos por uma vez, à magia e à mística do FC Porto.
Mas o momento que guardo com mais emoção aconteceu já bem depois do final do treino. Estava eu à porta do Departamento de Futebol, com a sua placa emblemática, a aguardar a saída dos jogadores, coleccionando os autógrafos num livro próprio para o efeito dado pelos meus Avós – que ainda guardo religiosamente na gaveta da minha mesa-de-cabeceira. Até que, finalmente, lá sai Sir Bobby Robson, no seu jeito apressado e elegante, quase a correr em direcção ao automóvel. Tento interceptá-lo, mas em vão. O gentleman inglês está com pressa, diz-me, tem que ir embora, está atrasado. Mal o percebo, na sua inconfundível mistura entre inglês e português. Eu continuo atrás dele, meio a correr, de caneta em punho. Bobby Robson já vai a subir a rampa e eu atrás, até que desisto, meio envergonhado e triste pela “nega” ao autógrafo. Até que, já quase a chegar ao carro, Sir Bobby Robson estaca, dá meia volta e vem direito a mim a correr, com ar arrependido: “sorry, sorry kid!”, enquanto me faz uma festa no cabelo. Pega na caneta, agarra o caderno e assina o único autógrafo de um Sir que provavelmente terei em toda a minha vida.
Errata: conforme alertado por vários leitores, a quem agradeço, o eterno Capitão João Pinto é de Oliveira do Douro e não de Avintes. Pedimos desculpa, atendendo até à rivalidade entre essas duas localidades, causadoras de intensos derbies gaienses.
Rodrigo de Almada Martins
Quero regressar lá atrás, ao tempo em que era miúdo e ia às Antas ver os treinos. Gostava de lá ir. Na altura o tempo era maior, esticava, não havia estudos nem trabalho. Ia com o meu Avô e por lá ficava a ver os jogadores chegar ao treino, assistir ao mesmo, ir ao bar das piscinas e regressar para ver os jogadores a sair e pedir autógrafos.
Os jogadores da altura eram gente como nós. Seriam futebolistas famosos, teriam um bom salário, é certo, mas não havia a diferença que há hoje, com salários pornográficos. Os sócios aproximavam-se facilmente, trocavam palavras com os jogadores, havia uma enorme identificação entre o sócio e o jogador. No caso de muitos deles, seriam primeiro apoiantes do clube e só depois jogadores, como era o caso do grande Capitão João Pinto. Mas o lateral-direito deixou descendência!
Quando subiu heroicamente ao topo da tribuna no Estádio de Oeiras, nessa mítica Final da Taça de Portugal frente ao Sporting (naquele que terá sido a par do caso very-light o mais vergonho episódio do futebol português dos últimos anos – curioso que tenha sido no mesmo palco e só este ano, perante mais um problema, de novo com os mesmos protagonistas, alguém que não os portistas levante a questão sobre a segurança daquele complexo…), o Capitão de Avintes estava bem secundado. Atrás de si, seguiam homens que continuariam o seu exemplo, a pôr a camisola do FC Porto à frente de tudo, a suá-la e a respeitá-la. A consequência óbvia dessa aprendizagem foram títulos, títulos e mais títulos, que fizeram de Baía, Jorge Costa, Paulinho Santos, Secretário, Rui Jorge, Folha, Domingos e outros recordistas de campeonatos, taças e supertaças.
Um certo dia, levamos máquina fotográfica para o treino. Tenho grandes fotografias e memórias desse dia. Imagens gravadas para a posteridade ao colo do João Pinto, entre os braços do Timofte, a falar com o Vinha, entre outros. O meu primo, grande benfiquista, da minha idade, havia ido comigo e é curioso constatar nas fotos que, por momentos, ali mesmo, também ele se rendeu, ao menos por uma vez, à magia e à mística do FC Porto.
Mas o momento que guardo com mais emoção aconteceu já bem depois do final do treino. Estava eu à porta do Departamento de Futebol, com a sua placa emblemática, a aguardar a saída dos jogadores, coleccionando os autógrafos num livro próprio para o efeito dado pelos meus Avós – que ainda guardo religiosamente na gaveta da minha mesa-de-cabeceira. Até que, finalmente, lá sai Sir Bobby Robson, no seu jeito apressado e elegante, quase a correr em direcção ao automóvel. Tento interceptá-lo, mas em vão. O gentleman inglês está com pressa, diz-me, tem que ir embora, está atrasado. Mal o percebo, na sua inconfundível mistura entre inglês e português. Eu continuo atrás dele, meio a correr, de caneta em punho. Bobby Robson já vai a subir a rampa e eu atrás, até que desisto, meio envergonhado e triste pela “nega” ao autógrafo. Até que, já quase a chegar ao carro, Sir Bobby Robson estaca, dá meia volta e vem direito a mim a correr, com ar arrependido: “sorry, sorry kid!”, enquanto me faz uma festa no cabelo. Pega na caneta, agarra o caderno e assina o único autógrafo de um Sir que provavelmente terei em toda a minha vida.
Errata: conforme alertado por vários leitores, a quem agradeço, o eterno Capitão João Pinto é de Oliveira do Douro e não de Avintes. Pedimos desculpa, atendendo até à rivalidade entre essas duas localidades, causadoras de intensos derbies gaienses.
Rodrigo de Almada Martins
o Capitão é de Vilar de Andorinho e não de Avintes: só para ser chato porque este kick-off foi fantástico!
ResponderEliminarBelo texto!! :)
ResponderEliminarPor mim, que não sei de outros, o senhor pelo que escreveu, também tem direito a usar esse título...
ResponderEliminarSir Rodrigo Martin's of Oporto, Knight Grand Cross of the order of the Believers and Worshippers of the FCP !
Dassss.Grande texto .Concordo com a opinião anterior.O RAM é um Sir.
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ResponderEliminargrande prosa (mais uma). gratas recordações. belíssimos tempos.
obrigado! por esta viagem no Tempo
somos Porto!, car@go!
«este é o nosso destino»: «a vencer desde 1893»!
abr@ços
Miguel | Tomo II