16 fevereiro, 2014

Aos Ziguezagues

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A um dia do importante jogo em Barcelos, não quero ser pessimista nem do partido do bota-abaixo. No entanto, estando eu numa casa de portistas, nutro certas preocupações que não quero deixar de partilhar. Coisas que remoem cá dentro e que custam a engolir.

Fonseca não caiu no goto dos portistas. Não caiu ele nem Vítor Pereira, tal como Jesualdo Ferreira e Co Adriaanse. É difícil agradar aos portistas não se sendo José Mourinho ou André Villas-Boas, no fundo. Ganhar campeonatos, taças e supertaças não chega. Pede-se sempre mais, nomeadamente conquistas europeias, jornadas gloriosas e goleadas históricas. É isso que o portista exige e acha que tem direito, ano após ano.

Não sou dessa estirpe, confesso. Sevilha, Gelsenkirchen, Yokohama e Dublin deixaram-me muito feliz, é óbvio. Mas tenho sido muito feliz nestes últimos anos, mesmo sem conquistas europeias. Adoro ganhar Campeonatos atrás de campeonatos. Regozijo-me em ganhar Taças no Jamor, vibro com as conquistas da Supertaça. Chamam-me de conformista... Talvez! Mas tenho para mim que é muito difícil (cada vez mais, aliás) a um clube português repetir feitos internacionais com frequência. O objectivo – ou o sonho – devem estar presentes, claro, mas assumamos com clareza que esse não pode ser o patamar de exigência.

Mas voltemos a Fonseca. Raras vezes me vi tão em desacordo ou falta de sintonia com um treinador do FC Porto. Fui um profundo apoiante de Adriaanse, de Jesualdo e de Vítor Pereira, considerando-os grandíssimos treinadores, cada um com a sua personalidade e pontos fortes: o holandês com o seu 3x4x3 e capacidade de “inventar” jogadores; Jesualdo com o seu futebol de bola no espaço e transições rápidas, assim como a capacidade de fazer evoluir os jogadores sul-americanos; Vítor Pereira com a sua consistência defensiva e futebol de posse.

O que me deixa mais revoltado com Fonseca nem é tanto o futebol jogado, que é pouco a meu ver. É que esse facto, apesar de tudo, tem dado para nos manter na luta do título e na rota do Tetra, muito devido às claras fraquezas e incapacidades dos oponentes directos. E deve-se, em grande parte, a um claro desinvestimento na qualidade do plantel, incapaz de encontrar substitutos dignos da categoria de um Moutinho ou James (num passado próximo) ou de um Hulk (passado não tão próximo).

O que me deixa apreensivo é a incapacidade em perceber o que é que Fonseca quer do seu FC Porto. O treinador parece andar aos ziguezagues, ora investindo num lado para logo a seguir ir investir noutro local completamente diferente. Ora apostando num jogador para logo de seguida o colocar na bancada. Ora “premiando” más exibições com titularidades e convocatórias, ora desterrando jogadores que surgem em crescendo de forma. Algo incompreensível e até ofensivo, não se percebendo aquilo que Fonseca pretende a sua gestão do plantel.

Foi assim com Maicon, já por duas vezes. Na primeira deixando-o fora do encontro na Luz, optando por Otamendi, quando o brasileiro até vinha de dois bons jogos; na segunda, preterindo-o por Abdoulaye, recém chegado de Guimarães, um autêntico reforço de Inverno a passar à frente do central brasileiro e de Reyes. Inacreditável. Ainda para mais quando é por todos sabido o historial de lesões de Maicon e a necessidade de o motivar e dar confiança nestes momentos. Tenho para mim que Maicon, confiante e em forma, é o melhor central em Portugal, aliás.

Ghilas é outra vítima de semelhantes erros. Jackson acumula minutos e, além disso, cansaço. O argelino, pelo contrário, serve para aquecer o banco. Quando finalmente lá marcou um golo (nos normais cinco ou seis minutos que está em campo), no jogo seguinte, ao contrário do que se podia pensar, aqueceu, aqueceu, aqueceu e, num jogo com chuva diluviana e terreno pesado, ideal para as suas características de panzer todo-o-terreno, viu-se preterido pelo franzino Quintero e pelo jovem Ricardo. Opções estranhas, no mínimo. E discutíveis, quando se sabe que a moral de um ponta-de-lança vive de golos.

O meio-campo, esse, tem sido um fartote de rodagem. Ora Défour, ora Lucho, ora Josué, ora Herrera, ora Carlos Eduardo, ora Quintero. Fernando vai permanecendo no lugar, vá lá. Todos os outros vão rodando, ao sabor da corrente ou como diria o outro, conforme a espuma dos dias. Umas vezes jogam uns, outras vezes jogam outros. Primeiro aposta-se no miúdo colombiano, logo a seguir vai-se buscar o brasileiro à equipa B. Umas vezes aposta-se no belga, outras no mexicano. E de repente pode surgir de novo Josué para logo a seguir, quem sabe, desaparecer do onze.

Nas laterais, pelo contrário, não se dá descanso aos canarinhos. Danilo e Alex jogam por decreto e sem direito a descanso, perdendo explosividade a cada jornada que passa. Não se dá confiança, por exemplo, a um jogador que eu particularmente muito aprecio: Ricardo. O português, bem trabalhado, pode dar um lateral-direito de categoria superior e, por ora, dar descanso a Danilo. Está naquela fase da carreira onde pode ser tudo, assim o queira e tenha vontade. Só precisa de um empurrão, digamos. Que não está a ser dado.

Há uma grande diferença entre a rotatividade como gestão e o rodar por rodar. Fonseca parece seguir a segunda via. Não se consegue descortinar qualquer coerência entre o rendimento dos jogadores e as suas opções. Não se vislumbra qualquer mudança nos seus padrões de utilização, quer os jogadores joguem bem ou mal. A equipa parece estar em permanente roda viva de convocados e desconvocados, titulares e não titulares. Ter um onze base é fundamental para atacar uma temporada e, em pleno Fevereiro, Fonseca não conseguiu isso, pese embora tenha o justo desconto da saída inesperada de Lucho e da não tão inesperada transferência de Otamendi. Mas os mais recentes episódios com Abdoulaye e Ghilas, fazem-me pensar que Fonseca é incapaz de interpretar os mecanismos emocionais de cada jogador e do plantel.

Não deito a toalha ao chão. Nem por sombras. Mas convinha que Paulo Fonseca nos desse um sinal de que aprendeu alguma coisa nestes meses de Dragão. A vida não está fácil para o FC Porto, mas este clube já nos habituou a fazer das fraquezas as suas forças ou, como se diz na minha terra, das tripas coração. É isso que se pede a Paulo Fonseca.

Rodrigo de Almada Martins

3 comentários:

  1. É realmente estranho que se aposte no único central que não está inscrito na Liga Europa em detrimento dos outros dois. E não se entende quando Maicon tem estado regular e sabe-se que é um jogador que necessita ritmo para subir de rendimento.
    Eu o ano passado não gostei do jogo do Paços de Ferreira frente ao Porto na ultima jornada. Fiquei com aquela imagem de um treinador que não tinha nada de especial, mesmo assim acreditei que todos temos um mau dia, e esse podia ter sido o caso. Gostei de um jogo da pré-epoca frente ao Nápoles e fiquei satisfeito com o jogo da Supertaça. A partir daí foi ver um treinador a dar tiros nos pés, uma equipa sem fio de jogo, sem automatismos sem líder. E o resto não é necessário analisar porque está à vista de todos.

    Saudações portistas

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  2. Abdoulaye, na minha modesta opinião que não percebo um corno de futebol, é um jogador sem a mínima categoria para jogar no FC Porto… No ano passado lembro-me de termos perdido a final da taça da liga, num jogo em que o senegalês cometeu um penatie, fez 3 faltas violentíssimas para vermelho direto, foi expulso e não acertou um único passe… É um jogador violento, sem cabeça e muito desconcentrado…

    Mas PF acha-o o máximo e de forma ridícula colocou-o à frente de jogadores como Maicon e Reyes…

    Se com Mangala, Maicon e Otamendi as diarreias mentais já foram várias esta época, com o senegalês vamos todos nos deliciar com a sua “concentração”…

    O meu maior desejo neste momento???

    Que logo lá pela noitinha eu pense para mim: “porra, não percebo mesmo um corno de futebol… O Abdoulaye fez um grande jogo a até marcou um dos 3 golos da vitoria do FC Porto em Barcelos, numa boa exibição do conjunto Portista!!”

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  3. Caro RCBC não concordo, o Abdoulaye tem um potencial extraordinário claro que com os seus 23 anos já errou e irá errar mais quem não se lembra de Pepe no inicio no FCP, ou do Bruno Alves? O Maicon tem feito exibições paupérrimas com uma falta de velocidade gritante mas espero que me cale e faça um grande jogo contra os alemaes já que o Abdoulaye não pode jogar

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