O esterco

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/

---

Confesso, fiquei enternecido e as lágrimas vieram-me aos olhos quando vi as capas dos jornais desportivos de hoje, bem como aquela comovente conferência de impressa do sr. mário figueiredo nas instalações de um... bem, nem sei o que chamar a um complexo desportivo que em apenas 10 anos, já teve luz apagada por acaso, rega ligada em dia de jogo e a cobertura a cair aos bocados num dia com mais vento que o habitual.

Segundo a inefável comunicação social, segundo o seriíssimo presidente da liga, e segundo os dirigentes do clube visitado, evitou-se (leia-se, aquele clube evitou!) uma tragédia de grandes proporções. Graças à “fantástica, maravilhosa, espetacular, grandiosa e magnífica” ação daquele clube e do seriíssimo presidente da liga, ninguém foi atingido pelos autênticos bocados de cobertura de vários metros quadrados que caíram em plenas bancadas, pouco depois da evacuação dos espetadores. Foi lã a cair, foram bocados de cobertura, foi esterco por tudo o quanto é sítio pelo ar e junto ao relvado. A natureza é de facto estranha. Num espaço físico onde coabita habitualmente esterco como orelhas ou gomes da selva, não era mesmo necessário mais esterco naquele complexo desportivo. Foi basicamente juntar esterco a esterco já existente.

Ainda assim, foi comovente ver a forma como a comunicação social analisou as coisas. Ou seja, decorreram centenas e centenas de jogos este fim-de-semana em todo o país. Desde a 1ª divisão até aos distritais, em todo o país de norte a sul e ilhas (eu por acaso vi um ao vivo em que estava bastante vento e o estádio ficou inteiro) e que se saiba o único estádio em que a cobertura caiu aos bocados, foi o estádio do apagão.

Seria talvez interessante questionar como é possível um estádio que tem 10 anos e que até vai receber a final da Champions, estar a cair aos bocados quando sopra um vento acima do normal. Mas nos outros estádios do país, o vento também não soprou da mesma maneira? A manutenção do estádio estava em condições? Os constantes avisos da proteção civil de mau tempo para o fim-de-semana não foram suficientes para haver a verificação de uma situação que até já tinha ocorrido há um ano atrás naquele mesmo estádio? Como é evidente, a comunicação social sempre protetora dos interesses do clube do regime, nem se atreveu a questionar nenhuma dessas situações. Um estádio a cair aos bocados e a versão final dos acontecimentos é que se “evitou uma tragédia”. Tudo isto deve ser porque o vento soprou muito mais forte na zona do colombo do que no Restelo ou no Estoril... foi verdadeiramente comovente!

É também com uma boa dose de humor que tenho seguido os desenvolvimentos dos importantíssimos dossiers do futebol português, aqueles que têm um impacto fundamental e transversal em todo o universo desportivo nacional: os 2m40s de atraso do FC Porto no jogo da taça da liga e os 4.500€ que o FC Porto pagou à liga pela inscrição de Quaresma, que agora a liga se recusa a pagar à FPF.

Não há dúvidas que a gravidade destas duas situações é enorme e obviamente o FC Porto terá de ser punido com pena de derrota num caso, e no outro com a impossibilidade de utilizar Quaresma até final da época. No caso do atraso dos 2 minutos, houve até em pleno jogo vários acontecimentos que comprovam a “maldade” do FC Porto em atrasar o seu início. A forma apressada como os jogadores do FC Porto se apresentaram em primeiro lugar no reatar da 2ª parte (esperando pelos jogadores maritimistas), e a forma desorientada como PF depois do 3º golo mandou a equipa recuar, porque ainda faltavam mais golos. Deu mesmo para perceber que PF não fazia ideia do resultado do outro jogo, nem os próprios jogadores. Para além disso, o facto do FC Porto ter feito um jogo miserável também era porque sabia o resultado do outro jogo. Como é evidente, o FC Porto só ganhou o jogo porque o jogo começou 2 minutos e tal mais tarde... parecia o scp em 2007 quando atrasou 5 minutos o jogo da última jornada, onde 3 equipas disputavam o título de campeão nacional. Derrota na secretaria para o FC Porto, já!!

Nota Off-topic: Enquanto nada de significativo se alterar na atual equipa do FC Porto, prometi a mim mesmo que não vou bater mais no “ceguinho” com comentários ou posts. Não vale a pena, é só e apenas mais ruído e não traz nada de novo à discussão. Apenas digo que me recuso totalmente a acreditar que esta equipa não é capaz de jogar a um nível, não digo alto, mas pelo menos a um nível normal. Recuso-me a acreditar que um plantel que custa anualmente cerca de 90 milhões (quase o mesmo que o slb), não é capaz de mostrar mais futebol em campo, durante, vá lá, uns 60 ou 70 minutos. Não peço mais, apenas uns 60 ou 70 minutos de algum futebol, até podem ficar os restantes 20 a trocar a bola junto da sua área sem se cansar muito. Como na vida, a única coisa que é irreversível é a morte. Continuo pois a acreditar (chamem-me tolo, ou o que quiserem!) que é possível no próximo jogo vermos um FC Porto a jogar futebol minimamente aceitável. Até perdermos tudo e ficarmos fora de todas as competições, continuarei a sofrer, apoiar e acreditar no clube que amo. E só não vou ao estádio porque um oceano me separa do Dragão, caso contrário, seria nestes momentos em que quase ninguém acredita, que mais gozo me daria ir apoiar a equipa (sim, apesar de tudo o que penso!). É muito fácil ser adepto para ir festejar à baixa, mas o verdadeiro adepto (vejam exemplos de adeptos como Liverpool, Arsenal, Dortmund e outros) é aquele que não abandona a equipa nos momentos maus.

PS: Na minha terra, quando um jogador está com o braço fora da posição normal do corpo e intercepta uma bola com a mão, é falta! Para mim e para todos os comentadores de arbitragem deste país à beira-mar plantado. Para o sr. Calisto, pelos vistos não é. Não haverá em Paços de Ferreira (ou nos arredores), a especialidade médica de oftalmologia?!?!?!