09 fevereiro, 2014

Movimento Associativo

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/

    "As colectividades vivem do auxílio moral e material dos seus associados. E o Futebol Clube do Porto não dispensa esse auxílio. Arranjai, portanto, novos sócios para a vossa gloriosa colectividade, contribuindo assim para a sua completa expansão e valorização".
Fui encontrar e retirar esta divisa em destaque (de tal forma que ocupa a totalidade da página 7) no Relatório e Contas da Direcção referente à época de 1943/44 (no auge da 2ª Guerra Mundial). Era tanto o carinho que se demonstrava pelos sócios, que logo na página 17 (esse R&C é constituído por 170 páginas), se manifestava pesar pelos sócios falecidos, sendo estes identificados pelo seu nome completo e nr. de sócio. Mais adiante (pág. 65), sob o título "Movimento Associativo", era feita a discriminação dos sócios por categorias, dos admitidos, demitidos, etc. Por curiosidade, refira-se que os sócios existentes no início do mandato em 15 de Julho de 1943, era de 2.322, e em 31 de Dezembro de 1944, já totalizavam 6.860.

No R&C de 1948, mais sucinto ("apenas" 93 páginas), a página 31 é dedicada ao “movimento de associados”, por aí se podendo constatar que o nr. de sócios em 31 de Dezembro de 1948 já era de 8.057 (eram 6.672 em 31/12/1947), sendo igualmente feita a sua discriminação.

Saltando no tempo, no R&C de 1959, mantinha-se a tradição, sendo de destacar o enorme pulo no nr. de sócios – 23.964 em 31/12/1959 – apesar da descida em relação ao ano anterior (27.287 sócios em 31/12/1958).

Nas direcções de JN Pinto da Costa, manteve-se esta boa prática de anualmente nos R&C dar conta do movimento associativo, e como nos últimos 21 anos tenho acompanhado de forma sistemática e ininterrupta esta matéria, passo a apresentar a sua evolução para posteriormente retirar algumas conclusões:

Ao longo destes 21 anos, verifica-se que entraram 168.130 sócios e saíram 115.921, sendo que estas saídas ficaram a dever-se em cerca de 90% a falta de pagamento das quotas e cerca de 10% a falecimentos. Ou seja, globalmente, um saldo positivo de 52.209 sócios, o que não pode deixar de se considerar muito bom.

Olhando com um pouco mais de detalhe, penso que pode dizer-se que os anos com maiores saídas de sócios (1996/97 e 2006/7) correspondem às actualizações periódicas (renovação do cartão) estatutariamente previstas. No entanto, o que mais salta à vista, é o brutal e anormal número de entradas de sócios em 1995, nada mais, nada menos do que 42.524 sócios! O que se terá passado? Consultado o R&C desse ano, lá vem a resposta:
    “Outra das iniciativas mais marcantes da época foi a Campanha dos 100.000 sócios, que excedeu todas as expectativas ao atingirmos o sócio 115.518”.
Pois bem, era exactamente aqui que eu queria chegar. Passo a explicar.

Com a constituição da FCP-Futebol SAD em 1997, bem como posteriormente um conjunto de outras empresas do Grupo FCP, nomeadamente a Porto Comercial, parece que progressivamente se vem perdendo esta ligação histórica Clube/Sócio para, no seu lugar, à luz dos novos conceitos do marketing, se privilegiar a figura do "cliente". Repare-se:
    A) Desde aquela data (1995), já lá vão 19 anos, e, que me lembre, jamais se voltou a promover uma campanha de angariação de novos sócios;
    B) Na publicidade institucional do FCP no Porto Canal o que vemos? Promoções massivas (tão massivas que já cansam):
    i) ao livro “31 anos de Presidência 31 decisões”;
    ii) às camisolas oficiais;
    iii) ao lugar anual no estádio.
    Excluo aqui a publicidade ao Museu porque mais do que o objectivo comercial interessa o objectivo histórico/didáctico/afectivo.
Como já tive oportunidade de demonstrar há tempos – VER AQUI, a componente comercial, designadamente o lucro líquido das vendas das lojas azuis (ou "stores" na versão modernaça) é muito menor do que geralmente se pensa. Eu atrevo-me a dizer que um sócio vale por dez clientes. Porquê, então, esta obsessão pela parte comercial menorizando a parte associativa?

Eu não encontro explicação, mas acho um erro. Quantos mais sócios o Clube tiver, maior será a sua força social. Certamente que os títulos, o palmarés desportivo, é o principal objectivo, mas convém não esquecer que na retaguarda (os sócios) é que está a base desses êxitos e da sua continuidade. Gostava de ver no Porto Canal uma campanha de angariação de sócios, não numa vertente meramente comercial, antes apelando ao sentimento/identidade/orgulho de ser portista. Note-se que não há qualquer incompatibilidade entre os interesses comerciais e os interesses associativos, aquilo que eu reclamo é uma maior pró-actividade em favor da componente associativa. Por exemplo, protesta-se, e com razão, de alguma discriminação negativa por parte da comunicação social em relação ao FCP; agora eu pergunto: uma campanha de angariação de sócios que conduzisse a uma base de 150.00 ou mais sócios, mesmo nas condições actuais de crise, não seria uma forma de mostrar a força do Clube, e levar essa mesma comunicação social a ter mais respeito?

É claro que estas campanhas deviam ter sido feitas em tempos de maior desafogo económico e de maior sucesso desportivo. É claro, também, que há sempre (sempre houve e sempre haverá) alguma flutuabilidade do número de sócios em função dos resultados. Agora, o que para mim é igualmente claro, é que o pensamento daqueles antigos dirigentes de há 70 anos se mantém actual:
    “As colectividades vivem do auxílio moral e material dos seus associados. E o Futebol Clube do Porto não dispensa esse auxílio. Arranjai, portanto, novos sócios para a vossa gloriosa colectividade contribuindo assim para a sua completa expansão e valorização”.
P.S.- Como se pode VER AQUI, já em 17 de Novembro de 2013 eu escrevia o seguinte:
    “Ao contrário do que os papagaios do clube do regime há anos vêm debitando, que apenas eles apresentam contas consolidadas (na lógica leninista de que uma mentira mil vezes repetida se torna verdade), na verdade, o ÚNICO clube entre os 3 grandes que apresenta contas INTEGRALMENTE consolidadas é o FC Porto. De facto, e deixo aqui este esclarecimento, porque foram pouquíssimos os portistas que estiveram na última Assembleia Geral do Clube, e por isso, poucos saberão que pela primeira vez, o FC Porto (Clube, não confundir com FCP-SAD) preparou as suas demonstrações financeiras consolidadas (no caso, reportadas a 30/06/2013), aliás, no cumprimento da legislação comercial em vigor em Portugal (artigos 6º e 7º do Decreto-Lei nº 158/2009, de 13 de Julho), situação que, para já, não tem paralelo nos dois clubes de Lisboa. E reforço este ponto para que se saiba que, quer os viscondes falidos (veja-se o perdão bancário encapotado, via VMOC´s - valores mobiliários obrigatoriamente convertíveis), quer o clube do regime (também tecnicamente falido - capitais próprios negativos), nas suas contas PARCIALMENTE consolidadas, não englobam as contas dos respectivos clubes, o que para além de violar o citado decreto-lei, dá um enorme jeito para esconder dos seus associados a real situação económico-financeira desses clubes (por isso, por exemplo, no caso do clube campeão da propaganda, ninguém se entende quanto à verdadeira dimensão do passivo: uns, os apoiantes da linha oficial, referem o mais baixo, 440M€ - valor do consolidado da SAD; outros, os anti-vieiristas, somam o passivo do clube e chegam aos 560M€ …).”
Ainda bem que muito recentemente em comunicado o FCP, embora em linguagem bem mais "soft" como é natural, tenha vindo esclarecer de forma irrefutável (levando os adversários a "meter a viola ao saco2) esta situação das tão discutidas "contas consolidadas".


nota: o blog BPc agradece ao JCHS a elaboração deste artigo.

3 comentários:

  1. Concordo totalmente com este texto e vou mais longe.

    Sou um portuense de 21 anos e durante toda a minha vida académica vi que o FC Porto e o futebol é coisa que abunda nas escolas.
    Não estive em nenhuma turma em que menos de metade dos meus colegas fossem portistas.
    No 3º ciclo já se viam muitos rapazes a discutir futebol habitualmente e no secundário ainda mais. À segunda-feira não faltavam conversas sobre os jogos do fim-de-semana quer do FC Porto quer dos rivais.
    Os próprios jogos de consola (FIFA, PES, FM...) aumentavam o interesse pelo futebol. Quem é que não quis repetir os feitos de Mourinho?
    No entanto, não são assim tantos os que tinham ido ao Dragão, e poucos os que iam regularmente.

    Não estará o FC Porto a desperdiçar uma oportunidade de cativar potenciais sócios junto dos jovens de 14-18 anos?
    Não seria boa ideia oferecer bilhetes junto dos portuenses dentro dessa faixa etária, sejam jogos menos mediáticos da primeira liga, sejam jogos para as taças?

    Porque não arranjar um jogo da Taça de Portugal onde se podia procurar encher o estádio de futuros portistas, aproveitando o factor "estádio cheio" para os conquistar? Com isto até se podia motivar a equipa e os próprios adeptos. Não faltam elementos positivos.
    De que serve fechar as arquibancadas, qual a utilidade disso? Não seria melhor fazer este investimento a longo prazo?

    E não serão estes jovens bons consumidores do merchandising portista? Por vezes parecem querer tudo o que vêm. A camisola do clube, os cachecóis... Fartam-se de chatear os pais e muitas vezes são bem sucedidos.

    Outra questão são jovens como eu, que estão na faculdade e não têm emprego ou apenas têm algo para pagar as propinas.
    Ser maior de idade e não ter emprego é algo que dificulta a associação ao FC Porto, pois os 120 euros anuais teriam de ser pagos por outra pessoa.
    Esse é o motivo pelo qual não sou sócio. Quando tiver um emprego e fizer o meu dinheiro, aí já terei a liberdade financeira para ser sócio. Até então vou aproveitando os bilhetes a preço de sócio que vão aparecendo.

    Faltam os sócios (e bilhetes) para estudantes (Mesmo que maiores de idade) como existem em clubes como o Braga e a Académica. E logo nós que temos um enorme pólo universitário.

    Não falta bom peixe neste oceano que é a cidade do Porto, o FC Porto é que parece não ter jeito para pescar.

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  2. Viva,
    Em relação ao comentário sobre a oferta de bilhetes tenho uma opinião contrária. Se forem de borla hoje, quando amanhã forem a 1 euro as pessoas queixam-se. E passam a ir quando for de borla. Um bom exemplo foi o jogo da taça de portugal com bilhetes a 2 euros, em que estavam 10 mil. Se for um jogo da champions com o barça com bilhetes a 30 euros, o estádio enche. É uma questão de mentalidade. Sobre o merchandise assusta-me o preço. Em relação à crónica completamente de acordo.
    Abraço,
    Sérgio.

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  3. Anónimo, eu não falei em borlas porque sim, mas sim a determinados alvos.

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