04 fevereiro, 2016

“FREEEEEEDOMMMM!!!!!!!”

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/

    Muda-se o ser, muda-se a confiança:
    Todo o mundo é composto de mudança,
    Tomando sempre novas qualidades.

    Continuamente vemos novidades,
    Diferentes em tudo da esperança:
    Do mal ficam as mágoas na lembrança,
    E do bem (se algum houve) as saudades.

    O tempo cobre o chão de verde manto,
    Que já coberto foi de neve fria,
    E em mim converte em choro o doce canto.

    E afora este mudar-se cada dia,
    Outra mudança faz de mor espanto,
    Que não se muda já como soía.


    Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
E foi-se o meu Lope e veio o Peseiro e a sua lufada de ar fresco. E chegaram reforços mas não os que nós queríamos e houve entretanto entrevista do Presidente no Porto Canal. Sei que passaram já muitos dias, muita água correu debaixo de todas as pontes e mais alguma, mas é sobre ela que quero hoje palrar… perdoem-me se vos maço. Mantive-me calada durante dias e dias. Pode ter sido um período de interiorização do sumo que se conseguiu espremer dessa conversa ou simples, palerma letargia. Também posso tê-lo feito por respeito ou algo semelhante a tabu, aquela sensação de interdição social ou cultural implícita no abordar de determinado assunto, apenas normal quando o tema é o nosso Jorge Nuno Pinto da Costa, esse ser sagrado e impoluto que nos preside e de quem tínhamos tantas saudades. Ele. A nossa Lenda Viva. A Personificação do Porto. Do que é Ser Porto.

A Nação Portista como que estacou. Rufaram os tambores e soaram os trompetes. O Grande, Querido e Almighty Líder ia falar às hostes orfãs e carentes, que dele precisam como as flores sequiosas da água e o pão quentinho da manteiga. Trepidação inegável no ar. Nuns e noutros, mesmo nos mais ferozes críticos internos, mesmo naqueles que pedem a sua saída e exigem a sua cabeça, mesmo nos que duvidam da sua sanidade física e mental… todos sem excepção o queriam ver, ler, sentir… mesmo que dissessem que não, mesmo que mostrassem desinteresse pela – segundo eles – certeza da entrevista fácil e pelas perguntas pouco incómodas e encomendadas pelo jornalista seu assalariado. Descendo no mapa, por detrás do recente tom jocoso assumido, do tsunami de escarninho e do céu em que deram por si a viver, nos reinos de Sodoma e Gomorra também se sentiu um burburinho e foi notória a frisson. Sabemos que acordam e se deitam a pensar nEle e que ficam suspensos nas suas palavras. Mesmo que não confessem, sentem receio do que ele possa fazer, dizer, empreender… atribuem-lhe também eles faculdades especiais. Melhor que estivesse calado, melhor que não tivesse despedido o treinador que tantas alegrias lhes foi proporcionando. Mudar para quê? Se o país tão feliz anda?

A entrevista em si foi catita. Supimpolas. O Júlio Magalhães fez perguntas interessantes, às quais PdC foi respondendo com bonomia, total disponibilidade. Foi prazenteira, bem-disposta, descontraída. Fiquei felicíssima com o bom aspecto do nosso Presidente, com as garantias da sua perfeita condição. Achei-o melhor, o que me anima (há cerca de um ano vi-o frente a frente e achei-o muito, mas muito frágil). Pelo meio, tivemos um vislumbre do outro lado da lua. O obscuro e muito, muito negro. O que ninguém vê, cá de baixo. Ou o que eles querem que não se veja. Respondeu em muitos dos casos com o que nós queríamos e tínhamos necessidade de ouvir, seguramente não com a verdade. Foi tudo demasiado cirúrgico, muito sintetizado, uma entrevista agendada para naquele dia e àquela hora sossegar a Nação a viver dias de pré-motim, da revolução que se anuncia. E teve esse efeito. Que teve. Em grande parte dos adeptos, pelo menos. Quanto a mim, leiga confessa que sou, o Jorge Nuno ficou muito mal na história dos empresários, na versão rebuscada que contou relativamente à sua cria e que não convenceu ninguém, na questão da competência técnica do Julen Lopetegui, da qual quis lavar rápida e quase levianamente as mãos, qual Pôncio Pilatos. Certo. Pois. Não gostava do estilo de jogo mas teimou e insistiu – FORAM 77 JOGOS, metade dos quais dignos de um filme de terror!!! -- ignorou a cara feia do seu staff imediato, os traumas visíveis do plantel, praticamente troçou do desespero dos adeptos e com isso equacionou seriamente as hipóteses de virmos a ter Aliados em Maio. Porquê? Por ainda acreditar no trabalho do espanhol, para não contrariar o filhotezinho – pária durante tanto tempo, tanto, tanto mesmo que de aborrecimento e total boa fé até aproveitou para se aproximar do arqui-rival do pai, José Veiga, curiosamente hoje detido --, para não admitir os crassos erros seus, ou para evitar a questão da choruda indemnização? Era giro saber.

Mas em meu entender a GIGANTESCA lacuna do seu discurso foi a ausência de crítica pura e dura e que se exigia à Máquina e Ordem Suprema que reina na estrutura do futebol neste país de mafiosos acéfalos centralistas e que tanto odeia e prejudica gravosa e talvez letalmente o nosso clube. Uma passividade que magoa e choca, um silêncio ensurdecedor e que me esclareceu cabalmente. Não quer ou não pode falar, por um motivo certamente enorme que desconhecemos. Um mistério tenebroso. Inquietante. Que não compreendemos. Que não aceitamos. Que se adensa. Porque os bandidos saqueiam e andam a monte e fazem coisas de bradar aos céus, sem que ninguém brade do alto do nosso castelo. Predomina na SAD a patética filosofia do “comer e calar”. E só neste “pequeno” pormenor se vê que tudo mudou, que ELE mudou e que dificilmente ou nunca voltará a ser o nosso William Wallace dos tempos modernos, aquele que em vez de kilt, usou calças e, no lugar da espada, exibiu a bandeira azul e branca para derrubar inimigos e reconquistar a liberdade. E isso é, para mim, inaceitável. Neste país de reles, só um Guerreiro, um Insubmisso, um Insurgente nos conseguirá levar novamente a bom Porto.

Havendo aspectos extremamente positivos da gestão e trabalho diário desta SAD que me enchem de felicidade, como que tudo se torna pardacento à luz fria dos factos da realidade do futebol. Um clube como o nosso vive de vitórias, títulos, orgulho e glória, não de lucro$, empresário$, contentores de jogadore$ dos quais temos já dificuldade em decorar os nomes. Que eu saiba, o C no emblema é de Clube, não de Comissõe$. Que se lixem as comissõe$, pois, e todos aqueles que se curvam perante o seu altar.

A intenção de recandidatura deixa-me, digamos, no mínimo desconfortável. É que o que não está bem muda-se. Diz a vox populi. A mesma que, a páginas tantas, também refere que a paciência é a mãe de todas as virtudes. Que é. Mas até esta tem limites. Até uma mãe tem limites. Quando se esgota, das duas uma: ou há palmadas bem dadas ou um castigo.

Da entrevista ressalvo também algo que misteriosa e incrivelmente não mudou: continuo a adorar feroz e desalmadamente o homem. E talvez precisamente por esse motivo, tudo isto me mate. Ser ou não ser? Manter… ou mudar? Progredir ou estagnar?

Porque se mudaram os tempos, sim, mas não, e NUNCA, se mudarão as vontades. E nós? Nós nascemos para vencer.

P.S. Alguém por caridade e que esteja a ler este texto que ajuste o tamanho das mangas do novo treinador ao seu braço. Obrigada. Tal como está, parece que herdou o fato do primo mais velho, or something…

11 comentários:

  1. Foi interessante. Talvez estivéssemos - escaldados que estávamos - à espera de uma entrevista descaradamente encomendada e não tivéssemos ficado com essa sensação (e ainda bem) mas o que é certo é que ficaram muitas questões por esclarecer. Isto é o inicio, a recandidatura é talvez o prólogo da guerra de poder que se adivinha na era pós-PC e não devemos ficar descansados porque será duro, muito duro. Esperemos que consigamos passar incólumes mas, os tempos difíceis talvez só agora tenham começado. Parabéns, está excelente, como sempre. #ForçaPorto

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  2. Melhor que estivesse calado, melhor que não tivesse despedido o treinador que tantas alegrias lhes foi proporcionando. Mudar para quê? Se o país tão feliz anda?

    sim, mudar para quê, se os Zelotas estavam tão felizes!

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  3. Cara MISS BLUEBAY
    "Quanto a mim, leiga confessa, que sou". Ai ai ai quanta modéstia. A minha amiga sabe mais disto a dormir do que muito boa gente acordada.
    Já tinha saudades das suas análises e, como sempre, gostei desta. Vamos a ver se isto encarrila (não confundir com (carrillo), independentemente da relação braços/mangas, do homem!
    Um beijinho de amizade

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  4. Obrigada, Rui. Obrigada, José Lima. Não é modéstia, não percebo mesmo nada disto. Sou doida é pelo nosso Porto. Beijo.

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  5. Acho que todos nós ansiosos pela entrevista, já sabiamos de antemão que ía ser assim!
    E também eu, que até já comentei isto num outro blog, me sinto numa encruzilhada de emoções; devo ou não continuar a ser "pintista"?
    A razão aconselha-me a mudar, o coração diz-me para... apoiar!

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  6. Caro Felisberto
    Eleições agora seriam um desastre. Devemos concentrar toda a atenção no campeonato. Além disso acho que devem ser preparadas com enorme antecedência para não dar asneira.
    Já estou a ver muita gente em bicos de pés e isso não é bom.
    Depois, não esqueçamos, temos que eleger um para dois. Quero dizer que o presidente do Clube deve ser depois nomeado para a Sad. Não é fácil escolher um candidato com qualidades para os dois cargos.
    Abraço

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  7. Sempre fui um grande defensor do Presidente. O que ele fez pelo clube merece o nosso eterno apreço. Independentemente deste período menos vitorioso, os portistas nunca se deverão esquecer que foi ele que tornou o nosso clube poderoso internamente, e respeitado internacionalmente. Antes dele, não éramos nada na Europa, e por cá estavamos atrás de mouros e lagartos.

    Contudo, a minha visão é a de que ele já não é tão autonomo nas decisões como antigamente. Notam-se muitas zonas de desconforto no seu discurso. Já para não dizer que não gostei nada de algumas inverdades que disse na reportagem. Nem sequer da rendição na luta com Vitor Pereira.

    Vamos ver o que o futuro nos reserva. Mas preferia que o Presidente saísse em Grande, como o merece, do que no meio do caos.

    É um prazer voltar a ler os seus excelentes textos por aqui, Miss Bluebay.

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  8. O que seria se o Nosso Presidente fosse entrevistado por um canal do trio Odemira? Milion dollar question.

    Os tempos difíceis já chegaram.
    Não se pode de maneira alguma andar de cabeça perdida nestes tempos.
    Por muito amor que nos escorre pelas veias é necessário agora usar muito do nosso juízo para encaminhar o Clube no caminho certo.
    Tal como aconteceu em 82' houve 2 grandes cabeças que souberam impulsionar o Clube para o que é agora.

    Andar com guerrinhas só virá a levar o Clube para um buraco ainda maior.
    Se existem pessoas que querem interesses pessoais, então esses tem o bilhete de ida já na próxima porta.

    Não houve um texto mágico como é de costume, mas houve uma reflexão muito bem feita.
    Congrats Miss Blue Bay!

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  9. Gostei da tua visão e como em todos os teus posts está fantástico.

    E para relaxar nada como andares a tirar as medidas aos braços do nosso treinador...😜

    Beijinhos e Bibo Porto🔵⚪️

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. para o anónimo de 04/02:

      bem sei que tu és o supra-sumo das teorias, das técnicas e das tácticas. e que, no pináculo da tua douta sapiência, estás sempre pronto a atingir os teus (?) correlegionários com esse brilhante: "eu já sabia disto! eu já tinha avisado! eu é que percebo disto a pacotes! vocês são uma cambada de burros que não viram o mesmo que eu vi e «estavam tão felizes»".

      já eu, «zelota», «ovelha choné», «pintista», «seguidita» e outros epítetos com que amiúde me brindam (serás tu? acredito que sim), enquanto simples adepto, e no alto da minha ignorância (e em nada comparável com a tua), limito-me a apoiar, de forma indefectível, todos quantos ostentam o Brasão Abençoado ao peito, sejam eles quais forem. e sejam eles treinadores, jogadores, roupeiros, médicos, dirigentes, ou outros. e chamem-se eles Otávio, José, Vítor, Lopetegui, ou outro nome próprio.
      sei que esta atitude não é a melhor, segundo os teus conceitos. mas é a forma que me foi transmitida e a considero ser a melhor de expressar o Portismo que habita e mim.

      note-se que não estou a afirmar que sou mais (ou menos) portista do que tu, e/ou que a minha forma de manifestar publicamente o meu Portismo é melhor (ou pior) do que a tua. são é diferentes - e sem epítetos de «zelotas» pelo meio.

      "disse!"
      Miguel | Tomo III

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