19 maio, 2009

1 comentário:

  1. JORGE MAIA (OJOGO)

    A contradição

    Antes de mais nada, convém sublinhar que todos os jogadores têm direito a um dia mau. Todos, sem excepção. Eduardo, por exemplo, teve um dia mau contra o Benfica, o que não deixou de ser uma enorme felicidade para ele. Imagine-se o que não se teria dito e escrito se o guarda-redes do Braga tivesse um dia mau contra o FC Porto. Aliás, nem sequer é preciso um grande esforço de imaginação. Basta recordar o que se disse depois do Leixões-FC Porto sobre Beto, por exemplo, para perceber que até para se ter um dia mau é preciso ter sorte. Ou bom senso. O mesmo bom senso que falta aos dirigentes que contactam o treinador do um clube rival em vésperas de um confronto decisivo para os objectivos de ambos. Mas lá está, se Jesus foi crucificado por ter calado o eventual prejuízo da sua equipa frente ao FC Porto, ninguém se atreveu a pôr-lhe uma coroa de espinhos por eventuais conversas com o Benfica na semana que antecedeu a desastrosa (para os minhotos, claro) recepção aos encarnados em Braga. A prova de que, afinal, no futebol português, a contradição ainda é o que era.


    Jorge Maia n' O Jogo.


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    MIGUEL SOUSA TAVARES (ABOLA)

    Fim de festa

    1 A uma jornada do fim, já só está por decidir quem desce à Liga Vitalis de um quarteto composto por Rio Ave, Vitória de Setúbal, Belenenses e Trofense. Destes, o Rio Ave é quem tem a tarefa mais facilitada, com 27 pontos e o último jogo em casa contra o Estrela da Amadora. Os outros três vão lutar para escapar aos dois lugares da despromoção — que o Vitória podia já ter evitado, se não tivesse perdido em casa com o Leixões: agora terá, ou de ganhar na Figueira da Foz, ou de esperar que o Belenenses não cometa a proeza de vencer na Luz. Quanto ao Trofense, só um milagre de conjugação de resultados poderá fazer com que a sua subida ao mundo dos grandes tenha sido tão histórica quanto curta. Porque, como era de prever, o FC Porto não descansou já com o título na mão e passeou na Trofa, sem facilitar coisa alguma, como alias é tradição da casa.
    Decidido, sim, é o regresso do velhinho Olhanense à primeira divisão — uma proeza assinada por Jorge Costa, treinador em início de carreira, e que tem o imenso valor de trazer de volta o Algarve ao primeiro escalão do futebol português, fazendo o campeonato verdadeiramente mais nacional. Será desta que vamos ver o Estádio Algarve ter alguma utilidade prática para justificar o dinheiro dos contribuintes lá enterrados, ou a equipe de Olhão vai preferir continuar a jogar no seu modesto estádio? Quando vejo o presidente da Académica falar na hipotética construção de um novo estádio em Coimbra, já não digo nada…

    2 Lá por fora, Mourinho cumpriu mais uma promessa e conseguiu a assinalável marca curricular de já ter sido campeão em três países: aposto que não descansará enquanto não o for também em Espanha. Posso achar que o futebol das equipas de Mourinho — Chelsea e Inter — é chato e previsível, mas lá que ele tem o toque de Midas, isso é indiscutível. Mourinho veio ao mundo para vencer e o resto é filosofia. Agora, a verdade é que nunca mais vi uma equipa de Mourinho jogar futebol como jogava aquela equipa do FC Porto que venceu a Taça UEFA na inesquecível final de Sevilha.

    3 Grave, grave são as revelações da edição de ontem do Correio da Manhã, baseadas no acesso a um relatório policial que desvenda as relações perigosas entre o presidente do Benfica e os dirigentes da claque No Name Boys — muitos dos quais largamente referenciados no mundo do crime e da marginalidade. O que ali vem é suficientemente detalhado e alarmante para que tudo fique em águas de bacalhau, tanto mais que já era sabido que, ao contrário de Sporting e FC Porto, o Benfica consente e colabora com claques que se recusam a cumprir a lei — nomeadamente no registo e identificação dos seus dirigentes.

    O problema das claques organizadas, não é um problema clubístico, mas um problema do futebol, como um todo, e um problema da sociedade. É inútil a discussão de quem tem as piores claques, porque todas elas são potencialmente perigosas, aqui e em toda a parte. Mas a necessidade de ter as claques no estádio, a apoiar a equipa, tem levado os nossos clubes a assobiar para o ar, deixando para a polícia a resolução dos problemas mais graves que elas colocam. E, a meu ver, isso é um erro: ir ao futebol, hoje em dia, é, muitas vezes, uma actividade de risco. E, se as coisas fogem de controle, se os clubes não conseguem garantir nos seus estádios a segurança de quem paga bilhete para ver um espectáculo, qualquer dia só restarão mesmo as claques. Não seria tempo de a Liga de Clubes tentar, aqui também, impor regras suficientemente claras e consensuais? Ou haverá quem não queira o consenso? E porquê?

    4 E, pronto, está aberta a terceira época de competição, a nível do futebol. Aquela que, diz-se, mais jornais desportivos vende: a época do «defeso» e das transferências. Como se sabe, é também, desde há uns vinte anos, invariavelmente, a época em que o Benfica é crónico campeão: até já os benfiquistas gozam com a situação. O problema é que este ano não há grande margem nem para gozar nem para falhar, depois do imenso investimento feito no Verão passado e com resultados tão pífios.

    Mas há coisas que não há como escapar-lhes, são tradições daquela casa: todos os anos, por esta altura, os jornais desportivos enchem-se de parangonas sobre as extraordinárias aquisições do Benfica que aí vêm. E há duas espécies delas: as verdadeiras vedetas internacionais (que a direcção gosta de apresentar aos adeptos como conquistas muito prováveis, para manter os espíritos em alta) e cujo folhetim de vem-não-vem ocupa umas semanas até desaparecer subitamente assim que a coisa chega a esse infame detalhe de discutir o valor da compra e dos salários a pagar. E depois, há as vedetas desconhecidas ou esquecidas, tipo Freddy Adu, que, uma vez que se noticia a possibilidade de virem para o Benfica, logo se transformam em foras-de-série que a perspicácia do gabinete de prospecção do Benfica detectou, antecipando-se a gigantes como o Real Madrid ou o Arsenal. E logo se desata a recolher depoimentos de todos os que possam atestar a genialidade do craque que aí vem: colegas de equipa, o treinador dos infantis, o cunhado e a sogra, os vizinhos e antigos companheiros dos jogos da rua. Depois, faz-se a fotografia inescapável do novo ídolo (que nunca ninguém viu jogar) com a camisola do Glorioso e são-lhe propostas, à escolha, três alternativas de primeiras declarações: ou que está radiante por vir para um dos maiores clubes do mundo, cuja fama vai da Patagónia ao Círculo Polar Ártico; ou que é um imenso orgulho sentir aquela camisola ao peito; ou que, desde pequenino que se sente benfiquista. E assim atravessamos o Verão e a «silly season» futobolística, com a previsibilidade de alguma coisa tão certa quão certa é a morte.

    5S e bem os contei, chegou a haver oito candidatos auto-declarados à presidência do Sporting, assim que, para alívio de todos eles, Filipe Soares Franco declarou que não se recandidatava e Ribeiro Teles manteve-se na sua recusa de avançar. Afastados os candidatos ganhadores, saltaram todos os outros, como coelhos da toca, com tantas ou tão poucas credenciais que chegou a parecer que o poder no clube do visconde de Alvalade iria mesmo cair a rua, à mercê do primeiro que passasse. Mas, agora que os «notáveis» deram homem por si, na pessoa de José Eduardo Bettencourt, os candidatos de ocasião começam a bater em retirada, porque ganhar eleições por falta de comparência de verdadeiros candidatos é uma coisa, ganhá-las em concorrência a sério é outra bem diferente. É assim provável que, no final do processo, não restem aos sportinguistas mais do que duas alternativas de escolha. Excepto para Dias da Cunha, que esse jurou que Soares Franco iria a votos e ainda está à espera de ter razão.

    Miguel Sousa Tavares n' A Bola.

    FONTE: http://portistaforever.blogspot.com/

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