28 maio, 2009

Os jogadores, um a um - parte I

Numa temporada que, pese o facto de ainda não ter terminado, poder ser considerada como excelente, mercê não só de nova vitória no campeonato [objectivo prioritário], mas também pela presença na festa maior da final da Taça e por uma competente participação na principal competição europeia, importa dissecar pormenorizadamente o contributo de cada um dos atletas que compuseram o plantel campeão.

Guarda-redes

Helton – Titular indiscutível das redes portistas, manteve a bitola exibicional dos últimos anos. Maduro, decisivo em algumas partidas, é claramente o melhor guarda-redes dos azuis e brancos, e um dos melhores a actuar em solo luso. Merecendo o beneplácito de Jesualdo, correspondeu com a regularidade conhecida, apesar de ter atravessado um período algo comprometedor, coincidente com a pior fase da equipa, quando esta coleccionava derrotas.

Nuno – Será, provavelmente, o guardião no palco do Jamor, prémio justo e merecido a um profissional veterano, que faz do trabalho a sua principal arma. Comedido nas suas declarações públicas, preferindo o resguardo à mediatização, é louvado pelos seus técnicos, pelo companheirismo e espírito de corpo que imprime a um plantel onde se sente de corpo e alma. É sempre um garante de qualidade, harmonioso entre os postes, seguro na posição.

Ventura – Poderá ser a “next big thing” portista, uma espécie de Vítor Baia do século XXI. Jovem a quem auguram um futuro promissor, tem bebido a influência de treinar diariamente com colegas de sector mais experientes, recolhendo ensinamentos preciosos para o futuro. Poderá sair, na próxima época, como forma de afirmação, antes de um regresso que se pretende apoteótico. Jesualdo agraciou o seu empenho, conferindo-lhe minutos no jogo com o Trofense, permitindo que as faixas de campeão engalanem o peito do jogador.

Laterais

Sapunaru – O internacional romeno chegou ao Dragão numa conjuntura pouco favorável. Por cá, carpiam-se ainda mágoas pela saída de Bosingwa, dono e senhor da ala direita, posto mítico por onde já passaram vultos históricos. Inseguro, incapaz de lidar com uma pressão mediática desconhecida até então, Sapunaru ameaçou, desde cedo, redundar num fracasso difícil de explicar para quem vinha com o rótulo de melhor defesa-direito do leste europeu. Os mais pacientes, neste caso, relembraram que o período de adaptação de um jogador é sempre diferente, de caso para caso. E, na fase mais decisiva da temporada, quando Fucile padecia dos crónicos problemas físicos, o romeno soube dizer presente. A exibição personalizada em Madrid, frente a um Atlético ambicioso, deu o mote para um final de época em grande estilo, com os jogos de grau de dificuldade mais elevada a não provocarem pruridos nem inibições nos seus intentos.

Fucile – O internacional polivalente do Uruguai, capaz de colmatar as necessidades da equipa no lado direito e esquerdo viu as suas intervenções serem sistematicamente cerceadas por arreliadoras lesões. Pedra base no esquema de Jesualdo, foi um dos mais castigados jogadores portistas, com as sempre incómodas viagens intercontinentais, para servir as cores do seu País, a fazerem mossa física no corpo franzino. Intermitente, nas suas aparições a titular, é um garante de qualidade.

Benitez – Em linguagem cinematográfica, quando um filme de orçamento elevado e aspirações artísticas falha estrepitosamente, é apelidado de “flop”. E este argentino nunca conseguiu ultrapassar esse rótulo que lhe foi colocado, como uma segunda epiderme. Um fracasso, incapaz de corresponder ao que se pretende de um lateral moderno. A evitar, no futuro, a sua utilização. Deve ser um dos que ganhará uma carta de alforria, na temporada 2009/10. De preferência, para bem longe.

Cissokho – Pelo desconhecimento do grande público, a revelação do ano, de Dragão ao peito. O jovem francês, descoberto pelo Setúbal nos escalões inferiores francófonos, chegou à Invicta no mercado de Inverno, quando os responsáveis portistas ansiavam por um salvador, capaz de estancar as avenidas que se criavam no flanco-esquerdo, quando os opositores nos pressionavam. Os primeiros passos, com a bela camisola das listas verticais azuis e brancas, foram titubeantes, com alguns lapsos próprios de quem ainda andava à procura do seu ritmo. Aparentando alguma ingenuidade, um pouco inocente na forma como defendia a posição, foi sempre amparado pela sapiência do treinador, que viu ali um filão a explorar. E a explosão subsequente deu razão a Jesualdo. Poderoso fisicamente, municiador do ataque em doses massivas, par perfeito para Rodriguez, tornou-se um dos impulsionares do brilhante desemprenho portista, fora de portas. A Europa abriu a boca de espanto, perante o desplante do francês, capaz de chegara Old Trafford e tratar por tu as megas-estrelas de Ferguson. É um diamante em bruto, futebol feito de promessas, excitante de ver jogar. Para regalo de muitos, fica a imagem de apresentação, para guardar num cantinho da memória. A cavalgada épica, em Braga, galgando terreno, fintando sucessivos adversários, numa jogada que merecia ter redundado em golo.

Centrais

Bruno Alves – Poderia ser lacónico na apreciação do Bruno. Bastava escrever as palavras mágicas. Capitão. Aquela braçadeira mítica é usada apenas por um pequeno punhado de predestinados, que congregam em si as características únicas necessárias para serem seleccionados. Qualidade. Raça. Estoicismo. Mística. Bruno Alves foi isso. E muito mais. Foi uma das peças nucleares no xadrez de Jesualdo. Uma espécie de general, entre o seu exército, destacando-se pelos dentes cerrados, olhar concentrado, pronto para mais uma batalha. Sempre na linha da frente, onde o perigo espreita. Com uma invulgar capacidade de salto, fez dos céus um espaço restrito, onde ele era dono e senhor. Aprimorou a marcação de livres, conseguindo juntar alguns golos ao seu pecúlio. Como verdadeiro exemplo do que se pretende de um capitão azul e branco, reagiu com dignidade e brio ao seu pior momento na época: o atraso fatídico, no teatro dos sonhos de Manchester, que permitiu o golo de Rooney, foi ultrapassado à bomba, abrindo caminho com um golo de livre a mais uma vitória portista, no jogo seguinte da Superliga. A escolher um dos momentos, teria que ser aquele minuto 20, em Alvalade, na 1ª volta do campeonato. O Porto era um combatente encostado às cordas, sucessivamente esmurrado pela Naval, Leixões e Arsenal. Bruno resgatou o orgulho tripeiro, numa magistral cobrança de uma falta, a 30 metros da baliza de Rui Patrício. Deixará saudades, se sair no defeso que se avizinha.

Rolando – O delfim de Bruno Alves, alma-gémea na luta das trincheiras. Jogador multifacetado, defendendo com garra e classe, juntando a esses predicados uma apetência especial pelas balizas adversárias. Marcou no Funchal, ao Marítimo, em Coimbra e em Guimarães. Por uma estranha coincidência, os seus golos preciosos foram sempre obtidos longe do reduto do Dragão. Sólido e inexpugnável, beneficiou claramente da experiência obtida pela parceria com Bruno Alves. E, como o parceiro marcou na Champions [Arsenal], Rolando não quis ficar atrás. Em Kiev, num dos seus golpes de cabeça que se tornaram imagem de marca, colocou o Porto novamente nos trilhos da mais elitista competição de clubes. Maduro, de uma forma ainda precoce, será um dos pilares defensivos do ataque ao penta.

Stepanov – O sérvio passou ao lado da temporada, nunca conseguindo impor-se como opção ao duo de titulares. Jogando esporadicamente, nas competições e jogos menores, raramente mostrou predicados que mostrassem o porquê da sua contratação. Será, por certo, uma carta fora do baralho, na preparação da época que se avizinha.

Pedro Emanuel – Um jogador importante, pese a sua saída do lote dos imprescindíveis. Jogador abnegado, de personalidade forte e vincada, é uma voz reconhecida no balneário, desempenhando aí um papel fundamental, na coesão reconhecida do grupo de trabalho. Notoriamente em final de carreira, o veterano atleta nunca mostrou, publicamente, sinais de insatisfação, sendo visível o seu constante incentivo aos jogadores do onze titular. Opção, em algumas ocasiões, para postos onde se mostrou pouco rotinado, correspondendo na altura às necessidades da equipa, afectada por lesões, o ex-boavisteiro é claramente um atleta que incorporou a mística única que se vive [e sente] em quem veste aquela camisola sagrada.

continua na próxima semana...

15 comentários:

  1. O helton manteve a sua regularidade em dar frangos em jogos importantes da epoca, como tem feito nos ultimos anos. É o grande calcanhar de Aquiles da nossa equipa e espero que possamos arranjar um Guarda redes de nivel que nos dê garantias em grandes jogos (e sim ele é o melhor da liga mas não tem o nivel que o FCP precisa e que teve com Baia)

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  2. Concordo com a análise e apenas acrescentaria, que o Cissokho, depois dos grande jogos frente ao Manchester, ficou deslumbrado, começou a falar de mais e perdeu fulgor.
    Quanto ao Helton que é sempre motivo de críticas - há sempre quem não consiga esquecer o Baía e coloque a bitola no Baía, esquecendo que o Vítor foi dos melhores do Mundo...-, fez uma boa época e não for por ele que não conseguimos ir mais longe na prova rainha da Uefa.
    Ventura que já vi jogar muitas vezes - júniores e Intercalar -, tem grandes capacidades e um grande futuro. Só preciso de uma temporada na 1ª Liga a jogar para depois regressar e ser o dono da baliza do F.C.Porto. Haja coragem para isso.

    Um abraço

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  3. Carlos Pinto28 maio, 2009

    Paulo Pereira não podia estar ais de acordo com a análise...

    A isto se chama, fazer uma análise desportiva dos jogadores, com uma toque de magia das palavras...

    É sempre um prazer ler estes textos...

    Blue, tá visto... Este homem vai ser contratado para comentador desportivo!!! :D

    O Azenha vai para treinador, mas já tem um substituto e com muito mais qualidade!!!

    Ficamos à espera de mais para a semana...

    Saudações azuis e brancas
    Carlos Pinto

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  4. Excelente post, Paulo.

    Dos guarda-redes, concordo com a análise. O Helton tem grandes capacidades, apesar de já ter falhado várias vezes em momentos decisivos. Por vezes, parece que lhe falha o cérebro e revela desconcentração e descontracção excessivas. Já gostei mais dele, mas continuo a apreciar as suas qualidades. O Nuno é aquele bom guarda-redes, sempre pronto a ser chamado e importante também na coesão do balneário. O Ventura vê-se que é talentoso, façamos votos para que tenha oportunidades e consiga chegar ao topo.

    Dos laterais, Sapunaru melhorou muito no fim da época, depois de um início medíocre. É um bom jogador e deverá manter-se no clube. Os laterais portistas para o ano deverão ser ele, Fucile, Cissokho e Miguel Lopes. Benítez não serve, como era de prever num suplente do Lanús.

    Acerca dos centrais, Bruno Alves e Rolando ditaram leis e fizeram uma temporada magnífica. A confirmar-se a saída do Bruno, o FC Porto vai precisar de reforçar muito bem aquele sector, até porque Pedro Emanuel já não será uma opção muito válida e Stepanov ainda não se sabe se fica no clube. Ao que parece, Maicon será uma das contratações e Nuno André Coelho regressará. Nunca apreciei muito o futebol do Nuno André Coelho, mas oxalá se consiga impôr. Já o Maicon parece-me jogador para chegar e ser titular ao lado de Rolando.

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  5. Paulo já se aguarda pela II parte:)
    Qt ao Helton mantenho a minha opinião, é o melhor guarda redes a jogar actualmente em Portugal.

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  6. Excelente post Paulo Pereira e também eu já espero pela II parte!

    Guarda-redes: Tal como digo que sempre defendi o Jesualdo e a sua continuidade naquele momento da época mais controverso, também tenho de admitir que, no que diz respeito aos guarda-redes, eu fui dos muitos que, nos finais de Outubro e inícios de Novembro criticaram o Helton e pediam a titularidade de Nuno.E errei. Nuno tem muitas qualidades (principalmente no balneário) mas Helton provou que é melhor para primeira opção a depois daquele jogo em kiev para a Champions, não voltou a perder a titularidade. Não se deve deixar de referir, porém, que muitas vezes, "confia demais" nos lances e causa algumas calafrios. Mas é uma escolha acertada. Ventura, o terceiro GR, talvez na próxima época seja emprestado como aconteceu a Bruno Vale, Paulo Ribeiro (?), para ganhar experiência. Tem futuro.

    Laterais: Benitez, o flop do ano. O suplente do Lanús, o que viram nele?!? Sapunaru começou por não se adaptar bem, mas depois com a lesão de Fucile até se conseguiu "instalar". O uruguaio é para mim o nosso melhor lateral, polivalente, é pena estar várias vezes lesionado. Isto também está relacionado com os jogos na selecção. Cissokho, revelação! Não é custume um jogador contratado na reabertura do mercado em Janeiro "pegar de estaca", mas este rapaz contrariou essa tendência e passou a titular indiscutível, reolvendo um problema do lado esquerdo, que se ía arrastando nestes últimos anos. Agora temos que o aguentar.

    Centrais: Bruno Alves, ficou um fora-de-série, o melhor central da liga! Rolando, outra revelação! Tirou o lugar a Pedro Emanuel à segunda jornada e ainda chegou à selecção. Já renovou contrato, agora tem cláusula de 30Milhões! Stepanov, continua sem espaço, vai tapando os buracos quando é preciso. Gostei do seu jogo na Trofa, não comprometeu. Quanto ao nosso capitão, é um jogaodr que embora não tenha jogado muito, é importantíssimo pois é "um atleta que incorporou a mística única que se vive [e sente] em quem veste aquela camisola sagrada."

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  7. Cocordo na generaliade com as análises feitas.
    Espero que o Ventura seja bem acompanhado e não se perca como aconteceu com o Bruno Vale pois acho que está ali um valor que mais rodado pode pegar de estaca na equipa.

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  8. Paulo, és um "Senhor", carago!!!

    Concordo em absoluto com cada uma das tuas palavras debitadas no que à defensiva diz respeito... por isso, até me abstenho de comentar mais o que quer que seja, senão comungar de certo modo, com a assinatura por baixo na guia de marcha para os supostos "excessos de gordura" para a próxima época desportiva: mais Bénitez do que Stepanov... mas afino pelo mesmo diapasão!

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  9. ...dasss, ao intervalo já têm o jogo perdido? Até parece que a pressão está do nosso lado!...

    Já nem vejo mais.

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  10. Gostaria, que quando acaba-se o andebol, comentassem o resultado, porque eu não tenho como saber!

    Obrigado!

    BIBÓ PORTO

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  11. Benfica 23 -F.C.Porto 20.
    Ao intervalo 15-8.

    Um a 1ª parte muito má, em que pareciam todos borrados de medo, impediu que o título ficasse já decidido.
    Dia 3, lá teremos de fazer uma forcinha e apoiar a equipa até à vitória.

    Um abraço

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  12. Estive a ver o jogo. Duas partes completamente distintas. Na primeira não jogámos nada, entregámos totalmente o jogo, e na segunda em 24 min a mouralhada apenas marcou 3 golos!! Reduzimos a desvantagem mas não foi suficiente. Hugo Laurentino não me pareceu em dia sim, e eles bem que podem agradecer ao deles...

    Ora bem, dia 3 de Junho às 21h00, próxima quarta-feira, tudo ao Dragão fazer do Porto Campeão!!

    Abraço

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  13. Boa análise, Paulo.

    No entanto discordo de algumas apreciações tuas:

    Helton é um bom guarda redes mas tem momentos de desconcentração que são muito desagradáveis e que se têm notado especialmente na Champions onde nunca foi capaz de ser uma mais valia.
    Nuno também tem lacunas graves especialmente nos cruzamentos.
    Ventura acho que pode ser o futuro mas, ou vai rodar para um clube da Liga ou pode até ser titular algumas vezes, pois outro ano no banco não me parece que seja bom para a sua evolução.

    Na direita, Sapunaru começou mal mas foi evoluindo e tem uma vantagem grande sobre Fucile: a sua altura é importante nas bolas paradas quer a atacar quer a defender.
    Fucile podia e devia ter feito melhor mas as lesões também não ajudaram e facilita muitas jogadas que parece ter controladas. Tem de melhorar a defender.

    Na esquerda, Benitez e Lino (até Dezembro) foram dois flops tremendos e provocaram sempre uma enorme instabilidade defensiva porque Bruno Alves tinha de estar com um olho no trabalho dele e no dos colegas.
    A entrada de CISSOKHO foi, para mim, o momento decisivo da época do Porto. A partir da sua entrada, a defesa estabilizou, ganhou consistência a defender (apesar de algumas falhas próprias de quem tem muito para aprender) e inclusivamente passsou a ajudar muito mais o ataque e, em especial Rodriguez e Hulk. Repito: "Para mim, a entrada de Cissokho foi o momento decisivo da época."

    Os centrais foram fundamentais especialmente a partir da entrada de Cissokho que permitiu a Bruno Alves preocupar-se essencialmente com a sua zona e melhorar o entendimento com Rolando.
    Bruno Alves é só um dos melhores centrais do mundo e não me parece que fique. Quem diria do que seria capaz depois dos disparates de Adriaanse.
    Rolando é mais jovem, chegou agora a outras exigências e ainda precisa de melhorar a antecipação. No entanto tem óptimas qualidades para os lances de bola parada ofensivos.
    Pedro Emanuel fez muito pelo clube especialmente a época passada e esforçou-se sempre que foi chamado, inclusivé a lateral esquerdo ou direito, mas está em fim de carreira.
    Stepanov acho que merecia mais oportunidades e sempre que foi chamado (Taça e Liga) cumpriu. Penso que se Bruno Alves sair deveria ficar.

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  14. Vila Pouca e Tripeiro, dia 3 lá estaremos, e é para ganhar!!!!!!!!!

    BIBÓ PORTO

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  15. Para mim o momento do ano, e da recuperação foi a reacção do Bruno Alves no fim do joga na Naval.

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