31 março, 2008

Limites e Mentiras da Câmara!

[parte 1/2... na continuação deste post]

A arbitragem vídeo é continuamente atirada para a arena dos grandes debates. A arbitragem vídeo é um recheado de primeira importância no futebol. Quase sempre apresentada como inelutável e empacotada em belos discursos de propaganda, a arbitragem vídeo apenas comporta uma minoria de medidas, realmente, aplicáveis.

É um erro enorme acreditar na infalibilidade das imagens vídeo e na capacidade destas em poder resolver todos os casos de figura. O famoso exemplo do Brasil-Noruega, no Campeonato do Mundo, em que todas as câmaras acusavam Flo de ser um simulador (só que, dois dias mais tarde, o ângulo duma outra câmara, colocada nas bancadas, o desculpava totalmente), chegaria para provar os perigos de uma tal credulidade. A solução milagrosa que nos é gabada, está muito longe de ser tão fiável e indiscutível como se quer pretender, quando deveria, isso sim, justamente, apresentar uma margem de erro mínima.

Se dois terços das acções podem ser avaliados sem qualquer dúvida, haverá sempre uma fracção em que a decisão dependerá de elementos extremamente ténues. São, efectivamente, estas acções que já levantam problema, e que a vídeo não saberá resolver melhor (faltas discutíveis, mãos (in) voluntárias, foras de jogo no limite...).

Quantas câmaras lentas não provocam interpretações totalmente opostas? Quantas outras não produzem verdadeiras ilusões de óptica (tal como as “lupas” que transformam os choques violentos em embates inofensivos) ou falseiam a perspectiva? (os comentadores que apreciam os foras de jogo à primeira vista, com um grande à vontade, deveriam ser premiados com aulas de óptica).

Certas faltas aparecem com rostos, totalmente, diferentes, segundo o que se quer mostrar nas imagens. Basta ouvir os comentadores, ou os adeptos que se auto-persuadem, perante as câmaras lentas, vendo só o que querem ver, dando erros de interpretação incríveis e próximos da alucinação.

Nos casos de fora de jogo, é, por vezes, impossível traçar uma linha indiscutível que possa desempatar atacantes e defesas. Por outro lado, qual seria a medida exacta do fora de jogo? O metro, o decímetro ou o centímetro?

Por fim, para obter uma fiabilidade satisfatória, seria necessário imaginar câmaras que se pudessem deslocar, constantemente, junto do eixo do primeiro atacante ou sistemas electrónicos que reconstituissem, virtualmente, as posições. Ou, veja-se, um sistema de constelação de bóias que daria conta, exactamente, da posição de cada um ... enquanto tais soluções não virem o dia, podem arrumar as câmaras.

Um remédio pior que a doença.

Muitas (demasiadas) decisões dos árbitros provocam a ira dos adeptos. Mas o que seria das que seriam tomadas a sangue-frio a partir de imagens que cada um poderia julgar por si próprio? Se um erro no culminar da acção é compreensível, uma decisão contestada aprovada por um júri invisível provocará uma incompreensão ainda maior e reacções ainda mais violentas.

Exemplo: o pénalti apitado contra Rabesandratana em favor de Ravenelli tinha suscitado (e suscita ainda) versões irreconciliáveis. Se uma “comissão” vídeo tivesse tido que julgar, num sentido ou num outro, o escândalo e a animosidade teriam sido decuplados. Chegar-se-ia a um resultado totalmente contrário ao desejado: multiplicar-se-iam as acusações de corrupção, de parcialidade ou de incompetência.

Uma colossal asneira arbitral dramática depende da fatalidade tal como o mau ressalto. De que dependeria uma decisão contestável provinda duma comissão? O árbitro faz parte do jogo... é o caso das câmeras lentas?

Às promessas duvidosas da solução “tout-vídeo” preferimos, finalmente, o bom velho erro de arbitragem, mesmo se certos devem ficar na história e, dolorosamente, nas memórias (Schumacher, Vata, etc.). Estas injustiças terríveis (que uma justiça imanente consegue, muitas vezes, restaurar com o fio dos tempos) fazem a magia deste desporto, acentuando o seu carácter dramático ou trágico e alimentando a intensidade das emoções que ocasiona. É, realmente, possível imaginar uma final do Campeonato do Mundo, ou qualquer outro desafio, cujo destino é pautado por um grupo de peritos sentados em frente de ecrãs?

E Viva o Porto !

1 comentário:

  1. Nem mais,

    É um tema recorrente, o aventar a possibilidade de recurso às imagens televisivas, mas as estruturas federativas demoram a equacionar a possibilidade...

    Confesso k sou a favor da introdução das mesmas, sobretudo nos grandes jogos e competições de selecções. O futebol deixou à muito de ser um desporto. É claramente um negócio k envolve milhões, muitas vezes sujeitos a serem perdidos por um erro humano...

    A NBA, competição colectiva k mais se aproxima da perfeição, tem procurado acompanhar, ao longo dos anos, o ritmo vertiginoso de uma partida de basquetebol. Com os erros a sucederem-se, influenciando os resultados, foram introduzidas alterações relevantes (mais árbitros e finalmente o acesso a imagens televisivas).

    Tb o futebol americano recorre amíude a imagens, sendo a sua consulta pelos juízes considerada pacúifica pelos adeptos. No futebol, confesso, seria sempre algo de dificil introdução...

    Basta trazer como exemplo o penalty de ontem, favorável ao Porto. Onde eu vejo uma falta grosseira e claríssima, outros vislumbram um erro do juiz. Se alguns nem com as imagens lá vão...

    Abraço,

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