26 fevereiro, 2011

Capítulo 4: 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte I)

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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto


Capítulo 4: 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte I)

Época 1930-1931

À conquista do futuro – A contratação de Artur de Sousa "Pinga"
Na presidência de Eduardo Dumont Vilares (desde Março de 1930) o FC Porto arrancou, com determinação, à conquista do futuro, mormente no futebol. No Funchal fizeram os portistas mais uma contratação, com êxito, depois de terem concretizado a de Szabo, treinador.

Esta segunda aposta foi num jogador que começara a espalhar o perfume do seu talento pelos campos de futebol do país. Era ele Artur de Sousa, mas como "Pinga" se tornaria herói e génio, cedo revelando os seus atributos de jogador predestinado. Chegou no Natal de 1930, qual prenda para a equipa, um jogador que viria a ser um enorme ídolo dos adeptos do FC Porto.

25 Dez.1930, FC Porto 10 – Salgueiros 2

Pinga assinou a 23 de Dezembro de 1930 e a 25, dia de Natal, estreava-se no Campo da Constituição, frente ao Salgueiros, contribuindo para uma copiosa vitória (10-2).

28 Dez.1930, FC Porto 3 – Eirinãs FC de Pontevedra 2
Bem mais difícil seria a vitória, no mesmo palco, frente ao Eirinãs FC de Pontevedra (3-2).

1 Jan.1931, FC Porto 6 – D. Corunha 0: o FC Porto recebeu, na Constituição, o Desportivo da Corunha, a quem infligiu uma pesada derrota por 6-0.

4 Jan.1931, FC Porto 6 – Meteor 3: os portistas voltaram a ganhar, por 6-3, desta feita ao Meteor de Praga, da Checoslováquia, uma excelente equipa que valorizou a vitória portista.

Mar.1931 – Primeira vitória portuguesa sobre uma equipa brasileira (Troféu Vitória)
Nunca antes uma equipa portuguesa lograra bater uma brasileira. O FC Porto conseguiu-o, vencendo o Vasco da Gama (Rio de Janeiro), recheado de alguns dos melhores jogadores cariocas.
• O Vasco disputou com o FC Porto dois jogos na “Invicta”. No primeiro, a 19 Jul.1931, os portistas perderam por 3-1. No segundo jogo, disputado em 26 de Julho, no Estádio do Lima, o FC Porto arrancou uma preciosa e inédita vitória por 2-1.
Este triunfo, único e surpreendente, foi de júbilo para os portugueses do Rio de Janeiro. Tal a alegria dos emigrantes lusos que, após a vitória, mandaram fabricar, num dos mais reputados artesãos brasileiros, um magnífico troféu em bronze para brindaram a equipa portista.
• Meses depois, o valioso troféu de que foi portadora Leopoldina Mendes Belo, Rainha da Colónia Portuguesa do Rio de Janeiro, havia de ser entregue ao Clube, na Constituição, em festa onde houve lágrimas de emoção e portismo à flor da pele. Leopoldina Belo também trouxe para o Porto medalhas em ouro de lei para distribuir por todos os jogadores e uma magnificente arca com motivos alegóricos dos Descobrimentos Portugueses.
• Em retribuição, o FC Porto ofereceu-lhe uma pasta de pele e uma salva de prata estilo D. João V tendo gravado a azul e branco, no centro, o emblema do clube.
Na pasta, segundo rezam as crónicas, uma mensagem do FC Porto:
“A associação desportiva Foot-Ball Club do Porto, detentora do Campeonato de Portugal, quer afirmar à Rainha da Colónia Portuguesa do Brasil, flor de graça que pela beleza conquistou uma soberania, que lhe foi docemente grata a sua visita encantadora e a missão conjuntamente patriótica e generosa que junto dela veio desempenhar numa gentileza inexcedível. Da grande república transatlântica, com uma heróica história que se confunde intimamente com a de Portugal dos séculos gloriosos e que tem com o nosso país íntimas afinidades mentais e espirituais, trouxe-nos ela, efectivamente, as saudações entusiásticas dos que tanto nobilita, na excelsa pátria americana, o nome lusitano, e a valiosa oferenda de arte que simboliza a sua admiração pelas vitórias do FC Porto, especialmente a que, no ano findo, alcançou sobre o clube carioca Vasco da Gama que tem um renome internacional. A oferta maravilhosa vai ser um permanente motivo de orgulho para nós, menos pelo seu valor artístico, muito elevado, que pelo significado para o nosso sentimento. Parecendo inerte, tem todavia uma sonora voz de ouro que a nossa alma entende e que nos fala dos que vivem longe de nós, lidando infatigavelmente para a prosperidade de uma nação que foi iniciada pelo portugueses, que lhe deram, com uma civilização, a língua harmoniosa e rica de ritmos e coloridos que hoje fala.”

Insofismável! Sempre se falou bem, se escreveu bem no FC Porto. Sempre se expressaram bem os sentimentos de um Clube de coração! Viva a palavra; emérita, sensível, sentida! Viva o FC Porto!

Uma medalha de ouro para Acácio Mesquita outra para Álvaro Sequeira. Posando junto à bandeira do Clube: Jerónimo Faria, Lopes Carneiro, Miguel Siska, Valdemar Mota, Acácio Mesquita e Pinga.

1931 – António Augusto Figueiredo e Melo, sucedeu ao presidente Eduardo Villares. O novo presidente, primo do maestro António Figueiredo e Melo (co-autor do hino do FC Porto), viu a equipa de futebol do Clube sagrar-se, pela terceira vez, Campeã de Portugal. No seu mandato, que terminou em 1932, despediu-se da equipa o grande “capitão” Norman Hall a quem foi prestada uma justa homenagem.

Apurados para o Campeonato de Portugal:
Apurados do Campeonato da época anterior

Sport Comércio e Salgueiros (PORTO)
Boavista Futebol Clube (PORTO)
Leça Futebol Clube (PORTO)
Futebol Clube do Porto (PORTO)
Sporting Clube de Espinho (AVEIRO)
Casa Pia Atlético Clube (LISBOA)
Carcavelinhos Football Club (LISBOA)
Sport Lisboa e Benfica (LISBOA)
Sporting Clube de Portugal (LISBOA)
Clube Futebol Os Belenenses (LISBOA)
União Football de Lisboa (LISBOA)
Futebol Clube Barreirense (LISBOA) – estava inscrito na Associação de Lisboa
Vitória Futebol Clube (SETÚBAL)
Lusitano Futebol Clube VRSA (ALGARVE)

Apurados da Competição de Classificação (independente dos campeonatos distritais)
Sport Club Vianense (VIANA DO CASTELO)
Sporting Clube de Braga (BRAGA)
Sport Clube de Vila Real (VILA REAL)
Clube Académico de Futebol (VISEU)
Sport Progresso (PORTO)
Assoc. Desportiva Sanjoanense (AVEIRO)
Sport Club Conimbricense (COIMBRA)
Atlético Club Marinhense (LEIRIA)
Luso Futebol Clube do Barreiro (LISBOA) – estava inscrito na Associação de Lisboa
Sport Grupo União Operária (SANTARÉM)
Sport Clube Estrela (PORTALEGRE)
Lusitano Ginásio Clube (ÉVORA)
União Sporting Club (BEJA)
Sporting Club Olhanense (ALGARVE)
Club Sport Marítimo (FUNCHAL)

Barreirense, Belenenses, Carcavelinhos FC, Luso FC do Barreiro, Sporting e União Futebol de Lisboa, solidarizando-se com a AFL em conflito com a FPF, boicotaram o Campeonato de Portugal de 1930-31 não comparecendo aos jogos da 1.ª eliminatória. Benfica e Casa Pia violaram o boicote.

1.ª Eliminatória
VIANENSE - FC PORTO, 0-7
22-3-1931, Viana do Castelo (Campo de Monserrate)
Árbitro: Afonso Aragão (Braga)
FC Porto – Treinador: Joseph Szabo (húngaro)

Oitavos-de-Final

FC PORTO - CASA PIA, 2-1 (1.ª mão)
19-4-1931, Porto (Estádio do Lima)
Árbitro: António Palhinhas (Setúbal)
Marcadores:
0-1 Mário Pité (55’)
1-1 Acácio Mesquita (72’)
2-1 Waldemar Mota (79’)
FC Porto – Treinador: Joseph Szabo (húngaro)

CASA PIA - FC PORTO, 2-4 (2.ª mão)
26-4-1931, Lisboa (Campo do Restelo)
Árbitro: Henrique Rosa (Setúbal)
Marcadores:
1-0 Mário Pité (4’)
1-1 Lopes Carneiro (15’)
1-2 Lopes Carneiro (17’)
1-3 Acácio Mesquita (29’)
2-3 L. Fernandes (57’)
2-4 Acácio Mesquita (65’)
Casa Pia –
Cândido Tavares; Fernandes e Heitor Guedes; Barata, Dionísio e Justiniano; L. Fernandes, J. M. Marques, Mário Pité, Saraiva e Soares.
FC Porto – Treinador: Joseph Szabo (húngaro)
Miguel Siska; Avelino Martins e Pedro Temudo; Álvaro Sequeira, Álvaro Pereira e Gomes de Sousa; Lopes Carneiro, Waldemar Mota, Acácio Mesquita, Norman Hall (cap.) e Francisco Castro.

Quartos-de-Final

FC PORTO - BOAVISTA, 4-4 (1.ª mão)
10-5-1931, Porto (Estádio do Lima)Árbitro: António Misavela (Porto)
Marcadores:
0-1 Palhares (21’)
0-2 Óscar (35’ gp)
0-3 Isaac (44’)
1-3 Norman Hall (57’)
2-3 Lopes Carneiro (59’)
3-3 Waldemar Mota (62’)
4-3 Francisco Castro (66’)
4-4 Isaac (79’)
FC Porto – Treinador: Joseph Szabo (húngaro)
Miguel Siska; Pedro Temudo e Avelino Martins; Álvaro Sequeira, Álvaro Pereira e Gomes de Sousa; Lopes Carneiro, Waldemar Mota, Acácio Mesquita, Norma Hall (cap.) e Francisco Castro.
Boavista –
Manuel Sousa “Casoto”; Sousa e Óscar Carvalho; Reis, Poeta e João Nova; Manuel Simões, Isaac, Maximino, Palhares e Alberto Simões.

BOAVISTA - FC PORTO, 0-3 (2.ª mão)
17-5-1931, Porto (Campo do Bessa)
Árbitro: José Travassos (Lisboa)
Marcadores:
0-1 Luzia (pb)
0-2 Acácio Mesquita
0-3 Lopes Carneiro
Boavista –
Manuel Sousa “Casoto”; Luzia e Óscar; Reis, Poeta e João Nova; Manuel Simões, Isaac, Maximino, Palhares e Alberto Simões.
FC Porto – Treinador: Joseph Szabo (húngaro)
Miguel Siska; Pedro Temudo e Avelino Martins; Álvaro Sequeira, Álvaro Pereira e Euclides Anaura; Lopes Carneiro, Waldemar Mota, Acácio Mesquita, Norma Hall (cap.) e Francisco Castro.

Meia-Final

MARÍTIMO - FC PORTO, 1-2 (1.ª mão)
14-6-1931, Lisboa (Campo das Amoreiras)
Árbitro: José Travassos (Lisboa)
Marcadores:
1-0 M. Ramos (22’)
1-1 Acácio Mesquita (40’)
1-2 Acácio Mesquita (62’)
Marítimo –
João Viveiros; José de Freitas e José Camacho; Eurico Alves, António Teixeira “Camarão” e Raul Fernandes; José Ramos, Manuel Melim, Bráulio Galhardo Freitas, Manuel Ramos e José da Silva “Canhota”.
FC Porto – Treinador: Joseph Szabo (húngaro)
Miguel Siska; Pedro Temudo e Avelino Martins; Álvaro Sequeira, Álvaro Pereira e Euclides Anaura; Lopes Carneiro, Waldemar Mota, Acácio Mesquita, Norman Hall (cap.) e Francisco Castro.

FC PORTO - MARÍTIMO, 3-2 (2.ª mão)
21-6-1931, Porto (Estádio do Lima)
Árbitro: Eduardo Pombo (Lisboa)
Marcadores:
1-0 Acácio Mesquita (20’)
2-0 Waldemar Mota (26’)
3-0 Waldemar Mota (60’)
3-1 J. Ramos (65’)
3-2 M. Melim
FC Porto – Treinador: Joseph Szabo (húngaro)
Miguel Siska; Pedro Temudo e Avelino Martins; Álvaro Sequeira, Álvaro Pereira e Euclides Anaura; Lopes Carneiro, Waldemar Mota, Acácio Mesquita, Norman Hall (cap.) e Francisco Castro.
Marítimo –
João Viveiros; José de Freitas e José Camacho; Eurico Alves, António Teixeira “Camarão” e Raul Fernandes; José Ramos, Carlos Pereira, Manuel Melim, Manuel Ramos e José da Silva “Canhota”.

Final

O FC Porto impunha o seu futebol cada vez mais atraente, cada vez mais ao gosto de Szabo. A equipa, qual constelação de mágicos, insuflava confiança a rodos nos adeptos portistas que acreditavam na reconquista do mais importante título. O FC Porto não tinha sofrido uma única derrota nessa época. Do Porto partiram para Coimbra os fiéis seguidores, na esperança de vitória sobre o Benfica, o outro finalista. As bandeiras azuis, tremulando ao vento, invadiram a cidade do Mondego empunhados por fervorosos e entusiásticos adeptos. Para eles chegaria a hora, mas… (…COMPLETO NO PRÓXIMO POST)
  • No próximo post.: Capítulo 4, 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte II) – Final do Campeonato de Portugal 1930-31: inutilizar Hall para ganhar; festa de despedida de Norman Hall; época 1931-32; Campeonato de Portugal; a vingança serve-se quente…

8 comentários:

  1. Isto continua em grande e recomenda-se. Até apetece dizer que o tempo, por vezes, como neste trabalho, deveria andar mais depressa, para vermos (lermos e ficarmos a possuir, mais depressa) esta obra completa...
    Saborosa aquela prosa do texto dedicado à Rainha da Colónia Portuguesa do Rio de Janeiro... e, a prova de que o clube sempre soube ter gratidão e reconheceu o valor e mérito.

    Ficamos à espera de mais, como quem diz, numa assimilação de conhecido ditado popular (porque no F. C. Porto Deus dá a nozes porque temos dentes...), venham mais nozes para os dentes portistas!

    Abraço.
    http://longara.blogspot.com/

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  2. Da contratação d ePinga, que nunca vi jogar, mas de quem o meu pai e o meu avô diziam maravilhas, qual Eusébio, qual carapuça; passando pelas goleadas - coitado do Salgueiros...; e acabando na vitória frente ao Vasco que encheu de júbilo a colónia portuguesa do Brasil, em mais uma bela página da nossa riquíssima história.

    Um abraço

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  3. Obrigada mais uma vez, Dragão Azul Forte!

    Nunca vi Pinga jogar, mas sabendo como as coisas funcionam (e já na altura funcionavam) neste país, não tenho dúvidas de que as cores que vestia não permitiram ao seu brilhantismo ficar marcado na história do futebol português como merecia. Que pena não haver vídeos do génio...

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  4. Estou curiosa, saber o que aconteceu a Norman Hall. Pelos vistos, houve “bodega”…
    Mais um delicioso pedacinho da nossa história. Muito bonito!
    Um beijo.
    BIBÓ PORTO, AZUL FORTE!

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  5. Obrigado Dragão Azul Forte, nunca é demais agradecer toda a paixão e dedicação, por todo este trabalho!

    BIBÓ PORTO

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  6. Pinga, pois, mais um daqueles de quem já ouvimos dizer maravilhas e mais maravilhas, mas quiçá, só porque cometeu o sacrilégio de ter equipado de azul-e-branco, jamais alguma vez poderia aspirar a ter o merecido tributo da «nação pidesca» vigente na altura da outra senhora!!

    depois, também de vangloriar essa nobre e histórica vitória sobre os do país-irmão, com aquela justíssima homenagem para com aqueles que já naquela altura, faziam por levar os créditos do país além-fronteiras, mas isso, ontem, ainda tal como hoje, o que minimamente interessava junto daquela corja de invejosos, ridículos e medíocres?! Éramos nós... e apenas nós... tal como hoje o ainda é!!!

    ps - fERNANDO, só de pensar o «tempo maluco» que perdes com isto... até me dé um nó cego... que orgulho para todos nós, poder contar com alguém, a full, com essa vontade férrea em levar este projecto em frente, sempre em frente... sem parar!!! os meus parabéns!!! tou digamos que, estupidamente maravilhado com este TEU trabalho!!!

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  7. Pois eu sei q esta história que tu contas da final de 1931 vai acabar mal :( mas em 1932 a festa foi mesmo azul e branca;)

    abraço

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  8. Mais uma bela página da brilhante história do FC Porto, que muito nos orgulha e inspira, tal como este trabalho do historiador portista que o BIBÓ PORTO CARAGO está a consagrar.

    Parabéns é o mínimo que posso dizer.

    Um abraço

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