05 fevereiro, 2011

Fomos goleados e eu não me apercebi

http://bibo-porto-carago.blogspot.com/

Permitam-me o desabafo: "cada vez estou mais convicto que Villas-Boas é o melhor ser humano de todos os tempos". Agora que estou mais aliviado, podemos começar com a crónica propriamente dita.

SHAKESPEARE AOS SOCOS
    "O que é que há, pois, num nome? Aquilo a que chamamos rosa, mesmo com outro nome, cheiraria igualmente bem.", observa Julieta, na famosa peça de Shakespeare. Shakespeare confronta-nos com o facto de a realidade não se alterar em função do conceito que usámos para a designar. Imaginemos uma flor amarela. Não é pelo facto de eu dizer que essa flor é " azul" que a flor amarela se vai tornar azul. ( O que, aliás, é lamentável!) E um soco? Se dizermos que um " soco" é, afinal, um " chega pra lá", isso fará com que esse "soco" deixe de ser uma agressão? Pegando nas palavras de Shakespeare, " Aquilo a que chamamos selvajaria, mesmo com outro nome, cheira igualmente mal."
Depois do jogo Benfica-Nacional, Jorge Jesus agrediu com um soco Luís Alberto, jogador do Nacional. Isto foi o que toda a gente viu. As imagens da Sport Tv são claras, mostrando as qualidades pugilísticas de Jesus em todo o seu esplendor. Ainda assim, apesar das imagens televisivas serem inequívocas quanto à existência de uma agressão, Jorge Jesus diz que não agrediu ninguém. E é verdade. De facto, para Jorge Jesus um soco não é uma "agressão". Lembro que Jorge Jesus é natural da Amadora. Ora, tendo vivido muitos anos na Amadora, para ele, um banano na cara não é uma "agressão", é um afável cumprimento. Para quem teve a felicidade de nunca visitar o bairro da Amadora, aquilo é um sítio onde as pessoas dão os «bons-dias» com galhetas no rosto, pontapés das partes intimas e naifadas no estômago - se o dia estiver mesmo agradável. Jorge Jesus não é excepção à regra. Para o treinador do Benfica, só haveria "agressão" se o jogador Luís Alberto fosse parar ao hospital com dois ou três ossos fracturados. E, mesmo assim, dependia dos ossos que estivessem partidos.

A direcção do Benfica argumentou que, depois do jogo, Luís Alberto confessou aos jornalistas que não se tinha sentido agredido. Fiquei intrigado e fui ouvir as declarações do jogador do Nacional. Passo a citar um pequeno excerto das declarações do jogador à TSF :
    Jornalista: "Luís Alberto, sentiu-se agredido por Jorge Jesus?"

    Luís Alberto: "Senti! Aquilo que Jesus me fez foi uma «trairagem». Abraçou-me e depois empurrou-me."
Tomara a muitos poetas, escreverem frases com a mesma beleza e sofisticação das que Luís Alberto proferiu. São declarações que nos dizem muito em áreas tão distintas como a Ética, a Linguística e as Ciências Biblícas! Mas vamos por partes.

"Senti!": uma frase lacónica e concisa. Ainda assim, com o conteúdo suficiente para desmentir o porta-voz do Benfica. A lição a reter é simples: basta uma palavra para provar que os outros estão a mentir. Esta é a parte referente à Ética.

"Aquilo que Jesus me fez foi uma «trairagem».": Luís Alberto introduz a palavra «trairagem» no léxico da Língua Portuguesa. Cá está a Línguística É sempre de saudar o aparecimento de neologismos que vêm enriquecer o nosso belo idioma - especialmente quando essas novas palavras são usadas para denunciar a natureza repugnante de um treinador do Benfica

"Abraçou-me e depois empurrou.". Luís Alberto mostra-nos que as diferenças entre Jesus e Judas não são assim tão grande. Judas traiu com o beijo. Jesus traiu com um abraço. Aqui está a parte das Ciências Biblícas!.

Queria recordar que este caso não é inédito naquele estádio. Foi na Luz que um brasileiro, chamado Luiz Felipe Scolari, tentou agredir um sérvio. Foi também na Luz que Jorge Jesus, no passado Sábado, agrediu um brasileiro. No ringue de boxe da Luz, os brasileiros estão em manifesta desvantagem. Temos um brasileiro que tentou agredir e um brasileiro que efectivamente foi agredido. O futebol anda a pôr a fama dos brasileiros se safarem bem em escaramuças nas ruas da amargura.

Acho incompreensível a importância que se está a dar este caso. Afinal, Jorge Jesus limitou-se a praticar o desporto favorito dos habitantes da Amadora: espancar imigrantes brasileiros

FOMOS GOLEADOS E EU NÃO ME APERCEBI

Ao que parece, para os benfiquistas ganhar 2-0 é uma goleada. Agrada-me saber isso. Isso só prova que eles se sentem tão inferiores a nós que, qualquer resultado que não seja perder por 5, para eles, é uma cabazada. Curiosamente, para nós, é o exacto contrário: ganhar por 5 é que é uma cabazada.

Mas, admitamos, a nossa derrota foi vergonhosa. Foi uma derrota retumbante. Perdemos em toda a linha e em vários particulares: perdemos em golos marcados, perdemos em adeptos detidos pela polícia, perdemos em jogadores expulsos, perdemos em jogadores que deviam ter sido expulsos, perdemos em penaltis perdoados, perdemos em treinadores que estão no banco mas que deviam estar castigo na bancada. Enfim, um vexame para todos os portistas!

Registei com particular agrado que, no final do jogo, o jogador Óscar Cardozo levantou dois dedos para a bancada. Esse gesto isso deu-me o consolo que necessitava para sair do Estádio mais bem-disposto. Na verdade, o que Cardozo queria dizer com aquele gesto era: "Que vergonha, uma equipa tão forte como o FCP sofrer dois escassos golinhos duma equipa de pernetas como a nossa! Sintam-se humilhados por perder 2-0 com uma corja de mancos como nós!". O facto de Cardozo assumir daquela forma a nossa superioridade reconfortou-me para o resto da noite.

Ainda assim, é perfeitamente compreensível que os adeptos do Benfica estejam mais estéricos com esta vitória do que os foliões do Carnaval do Rio a desfilar no Calçadão. Se o Arrifanense ganhasse 2-0 ao Barcelona, os adeptos do Arrifanense também ficariam eufóricos. Se virmos bem, é mais ou menos a mesma coisa.

6 comentários:

  1. O saldo da época continua favorável ao FC Porto...Ao sr. cardozo não bastariam os dedos de uma mão para lhe mostrar os golos que o seu clube já sofreu do FC Porto...2 para a supertaça, 5 para o campeonato...para não falar nos 3 que levaram no jogo em que eles queriam ir festejar o título à nossa casa...

    E atenção, como disse Mourinho uma vez a eliminatória ainda nao está acabada...

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  2. Essa do Arrifanense foi bem tirada;)

    Mas agora o q interessa mesmo é ganhar amanhã ao rio ave...

    abraço

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  3. Excelente. O insucesso, com esta ironia saudável, é quase agridoce.

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  4. Confesso que nesta fase profissional que me faz estar vários dias por semana afastado deste espaço de tertúlia azul e branco, ler os posts do amigo escrevinhador, é uma lufada de consolo, para alem de cumprir o prometido aquando da sua apresentação, ironia, escárnio e mal-dizer, tudo numa pincelada de ironia mordaz, conforta-me ainda saber que a minha ausência nos escritos neste burgo esta perfeitamente colmatada e com qualidade...

    Ps: Estivesse o nosso FCP e o Falcao tão bem substituidos nas posições de nº9 e/ou lateral esquerdo, como eu estou por ora neste espaço.

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  5. Escrevinhador, Fantástico dá um gozo bestial ler os teus posts!;))))

    BIBÓ PORTO

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  6. nada como na «desgraça», que pouco ou nada resolve, mas bem que ajuda a desanuviar esta tua forma irónica e mordaz de escrever.

    já te disse que sou um teu fã?! ;)

    obrigado por me teres feito mostrar um sorriso largo em momento de tristeza!!!

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