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A figura alegórica do treinador de bancada faz parte incontornável do universo do futebol, e por muito que nos irrite quando algumas pessoas ultrapassam os limites do razoável e nos dê vontade de gritar “se percebes tanto disto, como é que és agente de seguros em vez de estares sentado num banco de suplentes?”, a verdade é que desse mal todos padecemos um pouco. Toda a gente tem um bitaite a mandar sobre a titularidade do Sereno na meia-final da Taça ou sobre a exclusão do Walter: há quem concorde e há quem discorde, mas raramente há quem fique indiferente. O desporto tem destas coisas. Mesmo o maior dos cinéfilos dificilmente sai de um filme a dizer que “foi bonzinho, mas deviam ter dado o papel principal à Kate Winslet em vez da Hillary Swank”. Mas no desporto, e no futebol que é “de todos”, é diferente. Toda a gente tem uma opinião.
Eu também tenho uma opinião. Várias, aliás. Mas raramente me vão ver a argumentar que devia ter jogado este em vez daquele ou que este devia ter jogado mais recuado e aquele mais descaído para a esquerda. Isso pelo simples facto de que reconheço a minha ignorância no assunto. Gosto de ver um bom jogo e fui acumulando as migalhas de conhecimento de quem vê futebol há quase duas décadas, mas daí até compreender a fundo tácticas e estratégias, métodos de treino e opções disciplinares relativas a assuntos que muitas vezes (felizmente) nem sequer são públicos, vai uma longa distância. E por isso raramente dou palpite sobre o trabalho do treinador.
Além disso, por mais que estudasse, lesse e analisasse todos os detalhes técnico-tácticos do futebol, não tenho dúvidas em afirmar que nunca seria uma boa treinadora. Falta-me o pragmatismo. Sou incapaz, verdadeiramente incapaz, de criticar um jogador que vejo que se esforça. Um jogador que sua a camisola, que deixa a pele em campo, que come a relva – introduzam um cliché à escolha –, ou seja, um jogador que dá o que tem, por pouco que seja, conquista o meu coração sem apelo nem agravo. Riam-se se quiserem, mas eu adorava o Pavlin. No primeiro jogo do Mourinho no Porto o Pavlin regressou à convocatória e à titularidade após vários meses de ausência por opção técnica, e nem imaginam o quanto eu torci por ele, com a minha faixa “Dobrodošel Pavlin” (Bem-vindo Pavlin, em esloveno) pendurada nas grades da Superior Norte. Perto do final da primeira parte o Porto dispôs de um penalty e foi o Pavlin a marcá-lo, mesmo ali à minha frente. Atirou ao poste. Foi substituído a meia-hora do fim, fez mais dois ou três jogos e no fim da época foi de vela. Lembro-me do Mourinho dizer na altura que foi dos jogadores que mais lhe custou dispensar. Mas dispensou. E partiu-me o coração.
Ainda hoje o nome de Pavlin vem à baila quando queremos dar exemplos de contratações falhadas, de jogadores que nada acrescentaram à nossa história. E não contesto isso. Mas lá que o homem lutava, lutava! O tribunal Bibó Porto decretou que o esloveno não é Dragão nem morcão, mas por muito pouco, e vejo pelos comentários que alguns dos ilustres cá da casa votaram em morcão. Não levo a mal, mas eu, escusado será dizer, votaria em Dragão. E já o fiz em outros jogadores que a comunidade reprova, sempre pela mesma razão: não se pode pedir a ninguém que faça crescer talento nas pernas, mas a garra é vontade, é opção. Jogador que dá o litro, para mim, merece crédito.
E isso traz-nos àqueles jogadores especiais que não apenas dão o litro, mas o litro é de ouro líquido. Aqueles jogadores que aliam a garra de um verdadeiro Dragão ao talento de um predestinado. Não são muitos. E se aumentarmos ainda mais a fasquia e falarmos exclusivamente daqueles que não só têm essas qualidades mas ainda completam o pacote com juízo e maturidade, estamos a falar de uma espécie muito rara. Para mim, é desse triângulo que se faz o verdadeiro jogador à Porto, e a braçadeira de capitão deveria estar sempre entregue a um atleta com estas características. Mas a conjugação destas qualidades é uma situação verdadeiramente excepcional, e há por aí muito boas carreiras construídas com base em apenas dois destes vértices. São vários os jogadores na nossa história – remota e recente – que deixaram assim a sua marca no clube, mas que poderiam ter deixado uma marca ainda mais profunda e brilhante se assim tivessem querido.
Mas ser dotado destas três qualidades ao mais alto nível, repito, é privilégio de uns poucos eleitos. E a nossa posição de “stepping stone” no futebol europeu dita que na maioria dos casos não fiquem cá por muito tempo. Vão-se embora e deixam saudades, mas serão Dragões até ao fim.
Quem apanhou a referência no final do parágrafo anterior percebe que é nesse restrito lote que incluo o aniversariante de ontem, Radamel Falcao. Esforçado, talentoso, humilde, bom carácter, com uma atitude positiva e aberta para com a fama e os adeptos. Não se pode pedir mais. E quando nos promete retribuir com golos e títulos o carinho que lhe dedicamos, resta apenas acrescentar: que o faças por muitos e bons anos!
Eu também tenho uma opinião. Várias, aliás. Mas raramente me vão ver a argumentar que devia ter jogado este em vez daquele ou que este devia ter jogado mais recuado e aquele mais descaído para a esquerda. Isso pelo simples facto de que reconheço a minha ignorância no assunto. Gosto de ver um bom jogo e fui acumulando as migalhas de conhecimento de quem vê futebol há quase duas décadas, mas daí até compreender a fundo tácticas e estratégias, métodos de treino e opções disciplinares relativas a assuntos que muitas vezes (felizmente) nem sequer são públicos, vai uma longa distância. E por isso raramente dou palpite sobre o trabalho do treinador.
Além disso, por mais que estudasse, lesse e analisasse todos os detalhes técnico-tácticos do futebol, não tenho dúvidas em afirmar que nunca seria uma boa treinadora. Falta-me o pragmatismo. Sou incapaz, verdadeiramente incapaz, de criticar um jogador que vejo que se esforça. Um jogador que sua a camisola, que deixa a pele em campo, que come a relva – introduzam um cliché à escolha –, ou seja, um jogador que dá o que tem, por pouco que seja, conquista o meu coração sem apelo nem agravo. Riam-se se quiserem, mas eu adorava o Pavlin. No primeiro jogo do Mourinho no Porto o Pavlin regressou à convocatória e à titularidade após vários meses de ausência por opção técnica, e nem imaginam o quanto eu torci por ele, com a minha faixa “Dobrodošel Pavlin” (Bem-vindo Pavlin, em esloveno) pendurada nas grades da Superior Norte. Perto do final da primeira parte o Porto dispôs de um penalty e foi o Pavlin a marcá-lo, mesmo ali à minha frente. Atirou ao poste. Foi substituído a meia-hora do fim, fez mais dois ou três jogos e no fim da época foi de vela. Lembro-me do Mourinho dizer na altura que foi dos jogadores que mais lhe custou dispensar. Mas dispensou. E partiu-me o coração.
Ainda hoje o nome de Pavlin vem à baila quando queremos dar exemplos de contratações falhadas, de jogadores que nada acrescentaram à nossa história. E não contesto isso. Mas lá que o homem lutava, lutava! O tribunal Bibó Porto decretou que o esloveno não é Dragão nem morcão, mas por muito pouco, e vejo pelos comentários que alguns dos ilustres cá da casa votaram em morcão. Não levo a mal, mas eu, escusado será dizer, votaria em Dragão. E já o fiz em outros jogadores que a comunidade reprova, sempre pela mesma razão: não se pode pedir a ninguém que faça crescer talento nas pernas, mas a garra é vontade, é opção. Jogador que dá o litro, para mim, merece crédito.
E isso traz-nos àqueles jogadores especiais que não apenas dão o litro, mas o litro é de ouro líquido. Aqueles jogadores que aliam a garra de um verdadeiro Dragão ao talento de um predestinado. Não são muitos. E se aumentarmos ainda mais a fasquia e falarmos exclusivamente daqueles que não só têm essas qualidades mas ainda completam o pacote com juízo e maturidade, estamos a falar de uma espécie muito rara. Para mim, é desse triângulo que se faz o verdadeiro jogador à Porto, e a braçadeira de capitão deveria estar sempre entregue a um atleta com estas características. Mas a conjugação destas qualidades é uma situação verdadeiramente excepcional, e há por aí muito boas carreiras construídas com base em apenas dois destes vértices. São vários os jogadores na nossa história – remota e recente – que deixaram assim a sua marca no clube, mas que poderiam ter deixado uma marca ainda mais profunda e brilhante se assim tivessem querido.
Mas ser dotado destas três qualidades ao mais alto nível, repito, é privilégio de uns poucos eleitos. E a nossa posição de “stepping stone” no futebol europeu dita que na maioria dos casos não fiquem cá por muito tempo. Vão-se embora e deixam saudades, mas serão Dragões até ao fim.
Quem apanhou a referência no final do parágrafo anterior percebe que é nesse restrito lote que incluo o aniversariante de ontem, Radamel Falcao. Esforçado, talentoso, humilde, bom carácter, com uma atitude positiva e aberta para com a fama e os adeptos. Não se pode pedir mais. E quando nos promete retribuir com golos e títulos o carinho que lhe dedicamos, resta apenas acrescentar: que o faças por muitos e bons anos!
Mais um post belíssimo, como sempre muito bem escrito.
ResponderEliminar“Esforçado, humilde, bom carácter”. É isso mesmo. Para mim estes atributos adicionados ao talento dão “jogador à Porto”. Felizmente o FC Porto teve alguns em tempos remotos e, nos dias de hoje, vão aparecendo outros. Falcão, indubitavelmente, é um deles. Mas o colombiano tem algo mais que faz dele uma mais valia sem preço: a serenidade, a postura que comporta maturidade. É um “génio à Porto”.
Enid, os meus cumprimentos. BIBÓ PORTO!
O profissionalismo, carácter, espírito de sacrifício e de grupo, devem sempre estar presentes em todo e qualquer atleta que o FCP contrate. São características ímpares que um nosso atleta tem que ter e foram elas que nos deram imagem de marca.
ResponderEliminarNa minha opinião, a questão que se coloca é outra: essas características chegam?
O Futebol Clube do Porto é um clube de elite mundial, que domina internamente e que vai surgindo na alta roda do futebol europeu.
Um clube desta dimensão tem que ter jogadores que fogem da banalidade, que sejam um pouco mais do que meros bons profissionais e esforçados, que tragam o brilho que o espectáculo precisa, que se demarquem dos demais.
Meus caros, se assim não fosse, dêm uma oportunidade de envergar a nossa camisola e garanto-vos que ninguém se esforçará mais do que eu, ninguém dará mais o litro do que eu, ninguém será melhor profissional do que eu.
O problema é que se calhar não ganhariamos muitos jogos pois o meu talento para a "coisa" deixa muito a desejar
Naturalmente que depois surgem as "barracas" em termos de contratações.
Ninguém acerta em todas!
Eu não critico um jogador esforçado mas de nível baixo...aí critico quem contratou, pois quem não sabe a mais não é obrigado.
Se queremos ser cada vez melhores, cada vez mais vencedores e dominadores, temos também que ser mais exigentes, apoiando SEMPRE os nossos atletas, mas exigindo que não sejam "apenas mais um" que nada trazem de mais valia, pois esses podem fazer carreira no Nacional, no Marítimo, Guimarães, Braga.....no nosso Porto é que não!
Um jogador há Porto, mas que Porto? O Porto guerreiro, que não virava a cara à luta, de combate, que não tinha medo de nada nem de ninguém, ou este Porto que não reage a nada quando é insultado, provocado e boicotado?
ResponderEliminarSerá que nesta altura estão reunidas as condições para hever jogadores à Porto?
Será que um André, um João Pinto, um Paulinho Santos, só para lembrar alguns que todos conhecem, podiam ter aquele espírito, no actual F.C.Porto?
Beijinhos
Norte, o texto refere-se a jogadores especiais e não de Nortes desnorteados... - a questão do esforço vem tão só como um parentesis para advogar que ser treinador é difícil e ingrato.
ResponderEliminarPosto isto, também acho que o Falcao é desses especiais. Para mim essa coisa de ter carácter é que é mais importante; ser-se muito bom e ser-se humilde, e querer sempre jogar à bola, seja na neve ou no dilúvio... Mas acho que esta equipe do Porto está cheia deles. Muito mais do que aquilo que sai nos jornais ou que os adeptos acham. Vê-se na forma como celebram os golos (-quando vejo o CR7 a celebrar quase que vomito..-) e na forma como ficaram solidários com o Jesualdo...
Norte, claro que sim, para o Porto não pode bastar o ser-se esforçado; aliás, embora tenha advogado que valorizo o jogador esforçado e lhe dou crédito, não discuto que o Pavlin, o exemplo que utilizei, tenha sido uma má contratação. O verdadeiro jogador à Porto, para mim, conjuga as três características ao mais alto nível, mas continuo a defender que isso é coisa rara, e que muito boa gente já fez grandes carreiras, mesmo no Porto, sem cumprir plenamente esses requisitos, pois os "gigantes" com garra, talento e boa cabeça não são assim tantos, e por isso é que são tão especiais. O Dragão Azul Forte e a reine margot concordam que o Falcao é um deles. O Lucho é outro exemplo recente.
ResponderEliminarNo entanto, a reine margot acha que a equipa actual "está cheia deles", enquanto o Vila Pouca acha que a equipa actual "não reage a nada". Eu fico a meio caminho: concordo que nos anos 90 (pouco futebol vi antes disso, e são daí também os exemplos que o Vila Pouca menciona) havia mais destes jogadores na equipa, mas acho que mesmo depois dessa geração temos tido outros bons exemplos de jogador à Porto, e ainda hoje temos.
eNID,
ResponderEliminarmais uma vez, um excelente post, digno de leitura (mais que) atenta.
depois, diria que o tal jogador à Porto, terá um pouco de tudo o que aqui já foi dito por ti, pelo Norte e pelo Dragão Vila Pouca.
bonzinhos, há muitos.
simpáticos, há muitos.
quase excelentes, há muitos.
esforçados, há muitos.
etc etc etc
mas e para mim, o que é um jogador «à Porto»?
simples... tem que obrigatoriamente personificar a luta, a garra, a determinação, a força, a vontade de vencer que foram, são e serão uma eterna bandeira do FC Porto!!!
podem ler o resto no link a seguir, porque está lá tudo, sem tirar nem pôr:
http://bibo-porto-carago.blogspot.com/2010/03/simbolos-tera-sido-chao-que-ja-deu.html
Mais um belo post da Enid e deixa-me dizer-te q jogadores À Porto ainda existem e basta eles quererem. Em Braga este domingo tivemos sempre 11 jogadores à Porto!:)
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