07 fevereiro, 2011

Fernandito – Uma referência do hóquei em campo do FC Porto (2ª Parte)

http://bibo-porto-carago.blogspot.com/

Tal como prometido, e depois da publicação da 1ª parte, aqui fica a 2ª parte da entrevista com Fernandito.


    ENTREVISTA EXCLUSIVA com Fernandito

    O que significa para si o FC Porto?

    O FCP é a minha 2ª família. Na situação em que estou, viúvo, adiro a tudo, não digo que vou a todo o lado, mas vou a muitos sítios.

    O hóquei em campo em termos de comunicação social tem pouco acompanhamento? Ainda acompanha a modalidade?

    Não muito. Acompanho o mínimo dos mínimos, mas mesmo naquela altura a imprensa dava um destaque muito maior do que dá hoje ao hóquei em campo, apesar de hoje se jogar em relva sintética, de haver equipas que sei que estão a jogar os Campeões Europeus de hóquei de sala, há muito menos relato escrito e falado da modalidade. Na altura em que eu jogava haviam 3 jornais que davam muito destaque. O órgão do clube, o Jornal “O Porto”, dava um destaque bastante razoável e ainda 2 jornais desta cidade, o Comércio do Porto e o JN que davam um destaque bastante acentuado ao hóquei em campo porque ambos os jornais tinham ex-atletas na sua redacção.

    Qual a relação que existe entre o hóquei em campo e o hóquei de sala?

    O hóquei de sala é o filtro do hóquei de 11, só vai para o hóquei de sala o melhor porque é mais técnico.

    Quando vemos algumas transmissões televisivas dos campeonatos da Europa e do Mundo é hóquei de sala?

    Não. Podemos ver nas Olimpíadas hóquei em campo, nós temos por exemplo na Argentina o atleta do ano que é uma jogadora de hóquei em campo e não o Messi. Eu adoro ver as Olimpíadas. Não tem nada a ver com o hóquei que eu joguei aqui. Vejo coisas extraordinárias, a relva sintética é fabulosa.

    Quais são os países mais poderosos na modalidade?

    Neste momento a Espanha, Alemanha e Holanda num nível abaixo. Na minha altura era a Holanda, a Espanha estava a crescer imenso e parece que continua, a Argentina parece-me que está com uma grande equipa. Na minha altura haviam 2 países fabulosos, o Paquistão e a Índia, que entretanto foram ultrapassados. Eu cheguei a jogar na selecção regional do Porto contra a equipa C ou D indiana no campo do Leixões (estádio do Mar) e mesmo o nível dessa equipa era fabuloso.

    Falando de modalidades e visto que é uma presença assídua no Dragão Caixa, o que tem a dizer sobre a constante fraca adesão que existe aos jogos de basquetebol, hóquei em patins e andebol?

    Acho que é lamentável. Com as instalações que temos, quando andava tanta gente à procura de um pavilhão, tínhamos tido o pavilhão Dr. Américo de Sá com 5000 lugares e agora que temos um com 2000 que toda a gente achava que ia ser pequeno, a conclusão que nós retiramos é que é enormíssimo. Eu pergunto a alguns sócios se conhecem o pavilhão, nem sabem que existe o pavilhão nem a sua localização.

    É da opinião que aqui também há alguma culpa do clube?

    Não sei, é provável que sim. Não vou aqui culpabilizar absolutamente ninguém, mas a mudança da localização dos jogos das camadas jovens para o Olival prejudicou. O pavilhão, campo de treinos e estádio das Antas estavam concentrados num espaço físico curto, enquanto agora isso não acontece com a mudança para o Olival. Por exemplo, entre os meus 15 e 30 anos habituei-me a ver os jogos das camadas jovens e depois o basquetebol, jantava e vinha ver o futebol. Algumas pessoas até me diziam que só me faltava levar a caminha para o estádio.

    Qual a modalidade de pavilhão que mais aprecia?

    O basquetebol. Não fui um exímio basquetebolista nem nada que se pareça, mas é a modalidade que mais me fascina.

    Acha possível esta época repetirmos o tetra das modalidades como em 1999 e 2004?

    Acho, e aquela que nos dava mais garantias é a que está mais periclitante (hóquei em patins), mas espero que se dê a volta porque temos matéria-prima para o conseguir.

    E no basquetebol, vamos conseguir ganhar o campeonato 7 anos depois?

    Com força de vontade acho que sim, embora saibamos que do outro lado está uma equipa fortíssima, que provavelmente é o único opositor, mas temos gente competente para conseguir o ambicionado título.

    Todos temos esperança de ver os 4 treinadores das modalidades campeões no final da época. Só por curiosidade, qual das 4 modalidades é que dava preferência?

    A mola impulsionadora do clube é o futebol, é aquela que tem visibilidade. Podemos ganhar em hóquei em patrins, andebol e basquetebol, mas se não ganharmos em futebol é quase como se nada existisse para a imprensa. O futebol é fundamental, mas eu adorava ser campeão em futebol e nas outras modalidades. Mas sei perfeitamente que se o FC Porto for campeão em futebol alegra mais de 90% da família portista.

    Qual a maior loucura que já fez pelo FC Porto enquanto adepto?

    Uma das últimas foi ter ido ao Entroncamento no ano passado ver a final da Taça de Portugal de basquetebol com a Ovarense. Encontramos polícias armados até aos dentes, mas tudo bem, era o Porto e tudo o que é do Porto é mau na concepção da polícia… Por motivos profissionais não pude acompanhar o Porto a Sevilha e Gelsenkirchen porque estava numa actividade que me ocupava a semana toda e inclusivamente o domingo de manhã. Nessa altura deixei, inclusivamente, de ver o meu clube ao vivo, o que para mim era qualquer coisa de anormal, mas teve de ser porque a minha actividade era essa (exploração de um bar da faculdade). Senão teria alinhado pelo menos na ida a Sevilha, em que houve uma envolvência muito grande da massa associativa, da região e inclusivamente do país.

    Falando de futebol, qual a sua maior alegria e tristeza enquanto portista?

    O jogo que me marca pela negativa é o da morte do Pavão. A minha falecida mulher estava comigo e foi arrepiante porque acho que toda a gente que acompanhou a jogada teve a percepção que era uma morte anunciada. É uma queda tipo “tábua”, e naquela altura a nossa medicina, infelizmente, não tinha os recursos que existem hoje, e mesmo que os tivesse não sei se teria sido possível fazer alguma coisa.

    As maiores alegrias são sempre os campeonatos. O do Penta é qualquer coisa de fabuloso porque marca. Mas há uma que me deixa fora de mim que é a Taça dos Campeões Europeus de 1987. Foi qualquer coisa de anormal porque nós portistas íamos para aquele jogo a pensar que tudo o que acontecesse era bom porque ir à final já era grandioso. Houve jogadores que se transcenderam, eles acreditaram e tiveram um homem que era fantástico, Artur Jorge, que era um mentalizador, já naquela altura muito acima da média para o futebol.

    Qual, na sua opinião, o melhor treinador de futebol de sempre e o melhor jogador de sempre do clube?

    Aquele que apontam como o melhor de sempre, José Maria Pedroto, eu tenho como minha referência pessoal porque antes de ser o treinador consagrado que foi, quando me transportava até casa, tinha ensinamentos e dava-me conselhos fantásticos.

    Houve um jogador que me maravilhou, só que não era o típico jogador à Porto, mas que era um jogador fabuloso, o Cubillas. Era um jogador de uma técnica, humildade, racionalidade e de uma entrega ao próprio clube extraordinária. E o outro foi o Madjer que era qualquer coisa de fabuloso, dali podia sair sempre algo de extraordinário.

    É sócio do clube?

    Sim, nº 2741, desde 1965.

    O que é que tem a dizer do acompanhamento que o blog faz a antigos jogadores das modalidades amadoras?

    Acho fantástico, era um papel que caberia mais ao próprio clube, mas o clube cresceu de tal maneira que não pode albergar certos e determinados temas e este se calhar é um tema que fica mais para o chamado “portista doente”, as pessoas que gostam do clube como eu e vocês, que são capazes de andar kms e kms sem estarem à espera de compensação financeira ou outra, e acho fantástico reviver o passado.

6 comentários:

  1. Também eu "acho fantástico reviver o passado", e estou de acordo com as frases anteriores.
    Um grande momento editorial. Para continuar, OK.

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  2. Fernandito, Parabéns e muito obrigado pela entrevista e por toda a dedicação que deu ao nosso Porto!

    BIBÓ PORTO

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  3. E sábado lá estava o Fernandito no dragão caixa a ver as nossas 3 modalidades;)

    O Fernandito aparece até mencionado no livro: "F. C. Porto Figuras & Factos", por J. Tamagnini Barbosa e Manuel Dias. Edição O Comércio do Porto e F. C. Porto. 2005.

    Vem lá na letra J (estive a confirmar ontem à noite) como Joaquim ferreira da silva, atleta hoquei em campo, campeão nacional...

    http://4.bp.blogspot.com/_2MwFB5soC4A/S-ctDa-JnLI/AAAAAAAAApA/SB6Zr8x6mmY/s1600/ScannedImage-32.jpg

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  4. Fernandito!


    Infelizmente, e com muita pena minha, ainda não tive o prazer de conhecer pessoalmente o grande portista que és, para te agradecer tudo o que fizeste pelo hóquei do nosso clube. Se hoje somos eneacampeões, o teu contributo foi decisivo. As tuas opiniões, os teus contributos.

    Na excelente entrevista realizada pelo meu amigo Sevilha, a quem felicito pelo excelente trabalho, ele levanta um conjunto de questões, a meu ver extremamente oportunas e que são totalmente verdadeiras.

    Não se percebe tamanho desinteresse dos sócios e simpatizantes pelas modalidades. É ridículo uma pessoa ir ver um jogo ao pavilhão, e confrontar-se com assistência, que apenas apresenta poucas centenas de pessoas, os mesmos do costume.. É inadmissível.

    Mas como diz, e eu concordo inteiramente com o Fernandito, as responsabilidades são partilhadas pela direcção do clube. Chega a ser confrangedor olhar para o nosso site , e não haver nenhuma alusão aos seus jogos, apenas uma declaração genérica de um jogador. Nem o preço e horário tem.

    Muito obrigado por tudo o que fizeste por nós.

    Grande abraço

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  5. Grande entrevista e muitos parabéns ao Fernandito. Na altura em que havia hóquei em campo no clube jogava-se por a amor à camisola e, por isso, a dedicação era maior.

    Parabéns!

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  6. José António Machado16 junho, 2011

    Olá Fernandito,
    Espero que ainda nos voltemos a encontrar pessoalmente e que a tua vida melhore rapidamente.
    São excelentes as experiências que tive contigo no hóquei (em Campo) do nosso FCP. Gostei da tua entrevista e tenho pena que o FCP não tenha a modalidade que tanto orgulho e títulos deu ao clube. Não podemos esquecer que o nosso presidente Jorge Nuno Pinto da Costa, foi no inicio da sua carreira director do Hóquei em Campo. E que o seu Irmão Eduardo ainda é actualmente o presidente da mesa da Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Hóquei (em Campo)
    Um grande abraço do teu colega e amigo Zé António (Machado)

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