12 setembro, 2014

A LOPETEGUI SE DEU O PÃO QUE A OUTROS SE NEGOU.

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Por estes dias, findo o mercado de transferências, é tempo de, um pouco por toda a Europa, se fazer contas ao dinheiro que se gastou e se recebeu. No FC Porto essas contas estão feitas. Mais coisa menos coisa, são 31M em compras e 35M em vendas, a esmagadora maioria pertencente à alienação do passe de Mangala. Saldo positivo, portanto.

O que surpreende é, no entanto, a atenção e pormenor com que o FC Porto se debruçou no mercado, ao contrário do que – infelizmente – vinha sendo hábito nos últimos anos. As razões deste súbito acordar estarão certamente no segredo dos deuses. Já li que se deve a mudanças nas relações com um empresário conhecido da nossa praça, já ouvi no café que são exigências de Lopetegui, já me disseram que a SAD finalmente se deu conta que os últimos plantéis eram curtos e de pouco “banco”, que o campeonato perdido é a principal razão deste investimento criterioso e de qualidade, o reconhecimento de que o principal rival se tem reforçado muito e bem. Enfim, lançam-se hipóteses para todos os gostos e feitios. Misturando um pouco de todas elas, chegamos certamente à verdade.

Facto é que 2014 indica que estamos perante uma alteração no modelo de transferências do FC Porto. A ideia de recrutar jovens jogadores de qualidade indesmentível por empréstimo a clubes de nomeada nunca foi, até aqui, a nossa forma de agir no mercado. A moda da casa era comprar barato – cada vez menos, diga-se – na América do Sul e vender caro ao tubarão que andasse à caça. Mas a verdade é que na Latina América, e para bom entendedor meia palavra basta, onde antes se arranjava Falcão por 5M, hoje em dia arranja-se Herrera por 7M.

Sucede que o mercado sulamericano já há alguns anos que assim anda, sem perspectivas de uma baixa de preços, bastando para isso ter presente o custo dos passes de Danilo e Alex Sandro. Porquê então, e só agora, esta inversão de abordagem? Será por causa dos critérios de fair-play financeiro da UEFA?

Vítor Pereira, por exemplo, deve ver com alguma inveja o actual cenário. Iniciou uma época com Kléber a titular, teve que adaptar Hulk ao centro e, quando pediu concorrência, recebeu Janko. No ano seguinte já dispunha de Jackson que, sem substituto, foi ficando esgotado. Para o fazer descansar chegou, em Dezembro, o veterano Liedson. Na eliminatória com o Málaga ficou bem patente que VP apenas contava com os 11 titulares + Defóur. Os outros nem entravam na equação. Faltava qualidade ou o treinador é que não aproveitava o que tinha? Inclino-me mais para a primeira hipótese.

Paulo Fonseca, pese embora todas as críticas (mais que justas) que lhe apontamos, viu-se a braços com os mesmos problemas. Não esquecer que iniciou a época com Varela e Licá a extremos, além de Ricardo e Kelvin. Só Quaresma, em Janeiro, veio disfarçar as debilidades de uma época terrivelmente planeada. Fazer descansar Danilo e Alex seria boa ideia, mas trocando por quem? Iturbe partiu logo no arranque da corrida, Lucho e Otamendi saíram já o ano ia a meio. A escassez de soluções foi gritante, apesar do treinador não ter fornecido o enquadramento necessário a talentos como Herrera, Quintero, Carlos Eduardo ou Ghilas.

Lopetegui não se pode queixar de tais coisas. Não conta com Helton, pôs dúvidas em Fabiano, recebeu Andres Fernandez. Opare e Angel asseguram a rotação nas laterais. Pediu um central da sua confiança e teve-o (Marcano). Dispõe de dois trincos (Casemiro e Campaña), três médios de transição (Herrera, Evandro e Ruben Neves), criativos de categoria para jogar no interior/exterior (Oliver, Brahimi, Quintero), dois extremos bem abertos (Quaresma e Tello), um ponta-de-lança (Jackson) e dois avançados móveis que lhe podem fazer frente (Adrian e Aboubakar). Um plantel de grande polivalência e com soluções para dar e vender, resumindo.

Além disso, Lopetegui teve ampla liberdade para se rodear dos jogadores que quis, os homens da sua confiança, quase todos seus conhecidos das selecções jovens castelhanas. Sete espanhois que entram de rajada no clube, mais do que em toda a nossa história. Casemiro, Tello e Adrian são atletos de pedigree reconhecido, qualquer um os quereria. Tenho para mim que este será o treinador, depois de José Mourinho, que mais se impôs à famosa estrutura ou que mais dispôs de liberdade para moldar um plantel à sua imagem.

A questão que me intriga é simples. Porquê tantos anos à espera disto? Por outro lado, deixa-me curioso e expectante. Será Lopetegui de facto um treinador diferente? Não sou adivinho, mas tudo leva a crer que Lopetegui é o homem certo no lugar certo, com as ideias certas para o clube certo. Lopetegui parece ter tudo o que pediu. Agora é deixá-lo trabalhar e no fim fazem-se as contas.

Rodrigo de Almada Martins

2 comentários:

  1. É um mito essa de Lopetegui em conjunto com Mourinho serem os unicos que tiveram o que pediram. E um mito dos grandes!
    Recuando no tempo onde me posso situar como adepto de futebol e portista de compreensão, Pedroto, sempre teve os jogadores que quis, para os portistas mais velhos, até tinha fama de receber dinheiro por certos reforços que de reforços nada tinham. Artur Jorge teve o que queria; Ivic igual; Bobby Robson teve o que quis. Fernando Santos teve o que quis. Jesualdo idem, idem, aspas aspas... acabando em Villas-Boas.
    Até Quinito e Octávio tiveram os reforços que desejaram!
    Agora há os treinadores que para mim são pouco exigentes, talvez por estarem sentados num banco onde antes e depois jamais estarão. Foi o caso de Herman Stessl, Vitor Pereira e Paulo Fonseca... Não tiveram porque não pediram, e quando pediram, o mercado já estava parco de jogadores aceitáveis.

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  2. Viva,

    A época 2011-12 foi desastrosa quanto à imagem do FC Porto. Ser eliminado num grupo, sem eliminação directa, onde ha' o Apoel, o Donetsk... é catastro'fico! (mas é uma opinião subjectiva)

    Acho que o Porto esta', actualmente, a ter uma expressão colectiva em campo, apesar de imprefeições. E isso é um hino ao futebol.

    E Viva o Porto!

    Nuno PortoMaravilha

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