06 setembro, 2014

TEMPESTADE NUM COPO DE ÁGUA?.

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O arranque foi óptimo, pleno de pontos no campeonato e com a qualificação para a Champions, o sucesso tem sido assinalável mesmo num cenário de risco elevado. Vitórias, exibições que, mesmo sem deslumbrar, já evidenciam trabalho e competência, tudo corre bem, mas não deixamos de ter algum burburinho em torno do Ricardo Quaresma. Pegando nesta novela, convido-vos a fazer uma pequena viagem no tempo a outros episódios marcantes e polémicos, com choques de personalidades, vedetas proscritas e turbulência séria no FC Porto.

1958: Yustrich vs Hernâni

Campeão e amado pela massa associativa, a relação de Yustrich com os seus pupilos nunca foi no entanto a mais pacífica. O estilo durão, de disciplinador tirânico, nunca foi bem recebido por um dos maiores símbolos da história do FC Porto: Hernâni Ferreira da Silva.

Esta turbulenta relação guarda um episódio que ficou histórico em 1958. Após uma vitória folgada nas Antas sobre o Oriental, Yustrich ordenou que os seus jogadores agradecessem ao público o apoio que lhes tinha sido dado. Hernâni foi o único a não cumprir a ordem, justificando que não estava para "alimentar as palhaçadas do treinador". Foi o suficiente para se iniciar uma discussão viril, que culminou com troca de socos.

1969: José Maria Pedroto vs Jogadores e Presidente

Após uma derrota por 0-3 na Luz para a Taça e ainda com fortes aspirações a recuperar um título nacional que fugia há 10 anos, José Maria Pedroto obrigou todos os jogadores a permanecerem em estágio, no Lar do Jogador e em regime de clausura, até ao jogo seguinte.

Custódio Pinto, Américo, Gomes e Alberto, futebolistas com projecção e peso no balneário e que além de atletas eram também empresários, desobedeceram às ordens do técnico com o argumento de que não poderiam abandonar os respetivos negócios durante tanto tempo.

Perante a atitude destes, Pedroto deixou-os de fora da equipa, colocando alguns deles a treinar nas reservas. No jogo seguinte, uma derrota com a Académica, a que se seguiu um empate com o União de Tomar que liquidou as esperanças Portistas. Novas polémicas com o Presidente Pinto de Magalhães e outros jogadores levaram a um cenário extremo: Pedroto foi despedido, os Sócios impediram-no de voltar ao Clube sem autorização da Assembleia Geral e o FC Porto ficou a “marinar” durante mais 7 anos.

1991: Artur Jorge vs Rabah Madjer

Dois anos após o afastamento do capitão Fernando Gomes e da célebre limpeza de balneário” de 1989, o Rei Artur viu-se de novo no meio de um caso bicudo no reino do Dragão. Após mil e uma tardes e noites de parceria, cujo ponto alto foi “aquela” noite em Viena, Artur Jorge e Madjer finalmente romperam em 1991 após uma derrota com o mesmo Bayern de tão gratas recordações.

Não foi no entanto uma relação pacífica que de repente ficou estilhaçada. Durante os vários anos que representaram o FC Porto muitas foram as querelas e polémicas entre os dois, sendo que, ao contrário do que muitos hoje imaginam, Madjer foi tudo menos titular indiscutível do FC Porto de Artur Jorge. E não era por falta de talento...

1994: Bobby Robson vs Fernando Couto

Numa época difícil, o clássico com o Benfica na Luz era quase a última chance para agarrar a corrida ao tricampeonato. No entanto uma expulsão precoce de um dos esteios da equipa, incapaz de resistir às provocações de Mozer que já vinham de muito antes, deitou tudo a perder de forma irremediável. Há pouco tempo de Dragão ao peito, Bobby Robson fez uma pausa na fleuma britânica e explodiu com Fernando Couto, colocando-o à parte na ressaca da derrota. Os adeptos compreenderam a decisão do inglês, que no entanto rapidamente recuperaria o central para o resto da época, sendo que a relação acabou interrompida por uma transferência para Parma. Curiosamente ainda viriam a trabalhar juntos, dessa feita no Barcelona.



Neste pequeno exercício, que podia ser complementado com tantas outras polémicas mais ou menos marcantes como Oliveira vs Paulinho Santos em 1998, Jorge Costa vs Octávio em 2001, José Mourinho vs Vítor Baia em 2002, Co Adriaanse vs Ricardo Quaresma em 2005 ou ainda tantas outras bem mais antigas, o que se pode ver é que um clube gigante como o FC Porto, sempre servido por personalidades fortes, não é alheio a polémicas ou tempestades mais ou menos pontuais.

O segredo para o sucesso não esteve nunca na inexistência de problemas, mesmo que Pedroto tenha uma célebre frase onde diz que "No FC Porto, os problemas não se levantam porque nunca chegam a existir”. O segredo, como o Mestre bem sabia, estava na capacidade da liderança em nunca deixar os problemas serem o centro da atenção, à frente do colectivo e dos reais objectivos do Clube.

Há portanto que seguir em frente rumo às desejadas vitórias, colocando o caso Quaresma no seu devido lugar: o da normalidade num clube como o nosso, sendo que certamente será rapidamente resolvido da melhor maneira, se é que já não o estará.

Até porque perante todas estas histórias do passado este caso actual não deixa de parecer apenas um pequeno fait divers!

Bom fim-de-semana!

3 comentários:

  1. Ora aí está! Nem mais!

    A diferença está nos "adeptos" que agora, de um momento para o outro, acham que sabem mais que o treinador e clube e desatam a dar argumentos aos adversários que nos tentam difamar.

    É insano como se pode esperar a hecatombe, insultar o treinador que não tem feito mais que revitalizar a equipa em tempo recorde e ainda nem perdeu!

    Ridículo. Estes burros não percebem que ao tomar o lado do jogador - qualquer que seja! - a única coisa que incentivam é o comportamento deste.

    Mas no Porto, tudo isto passa porque quem manda, sabe.

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  2. Quem se lembra de Armando Vara na SAD da agremiação ?http://oantilampiao.blogspot.pt/2014/09/quem-se-lembra-de-armando-vara-na-sad.html

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  3. Como em tudo na vida – vida pessoal, familiar, profissional, entre amigos e inimigos… - também num clube há momentos altos e baixos, desavenças que às vezes surgem do nada. O mediatismo exacerba o problema, amplia-o às vezes de um modo surpreendente. Mas nesse particular os adeptos são os mais responsáveis porque olham o problema de um modo apaixonado, muitas vezes fora do contexto e não respeitando a necessidade de o confinar ao poder decisório da equipa de trabalho.
    Opina-se mal, opina-se sem considerar todas as componentes, por paixão ou por simpatia por este ou aquele. Não ajuda nada e até se esquecem regras elementares como o dever de fidelidade à entidade patronal (clube), a disciplina, a responsabilidade profissional, etc..
    Deixem os responsáveis resolver as questões “entre paredes”, apoiem os atletas e treinadores “entre linhas”.
    BIBÓ PORTO! SEMPRE!

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