10 dezembro, 2009

A Selecção de todos nós e um Defesa de eleição...

Jogar na Champions, mesmo com o apuramento garantido, nunca deve ser encarado como aspecto de rotina. Não existem jogos a feijões, para equipas da elite. O Porto soube transformar a banalidade da partida numa catapulta para outros vôos. Jogou pelo dinheiro. Pelo prestígio. E pelos melões. Vamos por partes:

  • Já os Pink Floyd, banda mítica na minha adolescência, cantavam com a qualidade costumeira uma música emblemática. "Money". As finanças portistas, sempre sôfregas, fazendo fé nos relatórios de contas regulares, anseiam pela entrada de capital. Os 800.000 € provenientes da generosa UEFA são um belo balão de oxigénio, nesta fase;

  • A Champions é uma montra. Um local onde se mostram, qual centro comercial, as últimas novidades. Substituam-se as peças de roupa cara por jogadores e o efeito é o mesmo. Jogando em Espanha, contra uma das mais emblemáticas equipas do País, com audiências televisivas de vários milhões, os nomes dos jogadores do Porto, no caso de um resultado positivo, seriam decorados por muitos. Aquele golo monumental de Hulk apenas veio colocar mais uns zeros na provável transferência futura do brasileiro. O mesmo que, na eliminatória da época passada, foi alvo de um chorrilho de elogios por um dos mais prestigiados jornalistas espanhóis. Julio Maldonado, do diário As [podem lê-lo aqui, no seu blog], enamorou-se pelo super-herói portista. Contem, por isso, com mais 30 ou 40 milhões em caixa, depois do jogo de terça-feira;

  • Jogar pelos melões. Aqueles que ficam sempre a adornar a corn***ra do Simão. E do Paulo Assunção, que já deve andar a ser submetido a tratamento psiquiátrico, pois não é fácil ser sistematicamente sodomizado pelo clube que abandonou. Adoro ver o ar tristonho do duo, no final das contendas com o Porto, desolados por verem a insignificância do próprio futebol, logo eles que possuem egos descomunais. Para o ano, era imperativo calhar no mesmo grupo dos colchoneros. Ah... isso não é possível. O Atlético, provavelmente, ficará a ver as competições europeias pela TV. Grande progresso, ò Paulo. Valeu a pena a troca?


Anote-se o apaziguamento de relações recentes com antigos ídolos portistas. Depois das tréguas decretadas com Fernando Gomes, foi a vez de Aurora Cunha receber a mão estendida, por parte do clube, para um selar de amizade que se espera prolongado. Agrada-me este rumo tomado pela Direcção azul e branca, com Pinto da Costa a assumir o rosto da mudança. E da lembrança. Porque um clube vive não só dos seus feitos actuais, mas igualmente da sua memória. E esta, para ser perpetuada devidamente, tem que contemplar uma relação sadia com os antigos ídolos das massas. Ainda bem que existiu esta inflexão, depois de alguns anos de crispação evidente.



A Federação parece querer transformar o futebol tuga numa espécie de caos circense. Depois da rábula iniciada na Bósnia, com os empertigados e bem pagos dirigentes nacionais a encresparem-se com o relvado da antiga colónia jugoslava, transferida posteriormente para território luso, com o depauperado do estádio da Oliveirense a servir de arma de arremesso, num braço-de-ferro apenas mantido por teimosia federativa, ficamos todos a saber que o conclave, ao bom estilo papal, deitou fumo branco. Não será na terriola do Hermínio que o vigente detentor da Taça se deslocará para disputar e eliminatória. Numa justiça salomónica, chegou-se à conclusão que Águeda será o palco da partida, numa data inovadora. 2 de Janeiro do novel ano. Por momentos, mais do que a parecença com o futebol inglês, que funciona a todo o vapor, nas festividades natalícias e de fim-de-ano, fiquei sem perceber nada. Confuso. Será que, nesse primeiro fim-de-semana de 2010 defrontaremos, numa maratona futebolística, a Oliveirense, para a Taça, e o Leixões, para a Taça da Liga?



A herança Scolariana esbate-se, lenta mas inexoravelmente. Daqui a uns anos acordaremos apenas com uma desagradável sensação na boca. E a figura de um brasileiro abjecto e tacanho fará parte dos sonhos menos bons. A turma das quinas, paulatinamente, vai recuperando a sua identidade, afastando os efeitos perniciosos das purgas contra atletas que não se enquadravam nos critérios do sargentão. E assim, de forma não muito efusiva, a intelligentsia lisboeta viu-se obrigada a recuperar a conformidade nacional, agora que a dicotomia Norte-Sul foi evaporada pelo desempoeirado professor Queiroz. Com o apuramento para o Mundial a servir de bofetada com luva de pelica, a todos aqueles que torciam maldosamente por um tropeção, a Selecção que agora é de todos nós sentiu as agruras de um sorteio desfavorável. Mais do que o Brasil, espécie de papão na mentalidade portuguesa, a africana Costa do Marfim promete fazer deste O grupo. Serão jogos tremendos, de grande desgaste, mas apelativos para o público e, fundamentalmente, para um lote de jogadores que sabe ser aquela a montra ideal para uma imortalização na memória dos amantes do desporto-rei. E será ali, nos palcos sul-africanos, que Meireles e Bruno Alves mostrarão a imensa qualidade que possuem. Porque, já se sabe, só mesmo com uma imprensa idónea é que as qualidades e habilidades dos atletas de dragão ao peito são devidamente valorizadas. E exaltadas…



Nunca mais, depois da inesquecível epopeia que findou em Gelsenkirchen, um atleta português, jogando nas provas nacionais, tinha sido eleito para a votação do melhor 11, pela UEFA. Até agora. O denominador comum? O mesmo de sempre. Um emblema orgulhoso, imperial na defesa dos seus ideais. O lídimo embaixador do futebol português. O FC Porto. Bruno Alves mantém assim a tradição dos jogadores de azul e branco vestido alcançarem o Olimpo, esse recanto onde apenas os jogadores extraordinários conseguem um lugar. A distinção para o defesa-central portista é, igualmente, um prémio pelo seu notável desempenho, nas últimas temporadas. Aliando à sua sobrenatural capacidade física uma impressionante frieza no domínio dos lances aéreos, Bruno Alves evoluiu notoriamente nos outros parâmetros exigíveis a um defesa de eleição. Mais sereno, na abordagem do encontro, tornou-se numa referência para os colegas, voz de comando imperial, sentindo-se nele o pulsar da mesma energia, ânsia, crença e mística que tornaram aquele posto, no clube, num espaço de destaque. E ao vê-lo, na sua entrega denodada, abarcar cada lance como se dele dependesse o futuro imediato da equipa, é impossível não nos lembrarmos de outros vultos carismáticos que permanecem de pedra e cal na afeição do adepto e na sua memória selectiva: Freitas, Simões, Rodolfo, Lima Pereira, Fernando Couto, numa imensa galeria de notáveis que são, inequivocamente, o património mais valioso de um clube.



Finalizo com uma transcrição deliciosa de um pequeno texto. O mesmo pode ser encontrado, integralmente e no contexto em que foi escrito, aqui. No Mar Salgado.

    “Nos últimos anos, a escaramuça é sempre do mesmo tipo: nós vamos invariavelmente à frente desde o início e o único gozo é estar a verificar quantos pontos levamos de avanço e quanto cresce a vantagem ao longo das semanas até ao fim do campeonato. Depois, dissecar animadamente as desculpas dos derrotados no final (ou em Abril) e apreciar os seus sonhos para o ano seguinte. No último quinquénio, esta coisa de andarmos a perseguir a cenoura é nova mas dá luta e também tem a sua piada. Até porque o inimigo se convence muito vaidosa e facilmente da sua imaginária invencibilidade e, quando equipas que julga menores o fazem tropeçar, voltam a angústia, o medo, a ansiedade e o desassossego, enfim: o cagaço habitual”.

10 comentários:

  1. Homenagem mais que justa para uma grande atleta do FCP: Aurora Cunha.

    Ainda hoje me lembro de um autógrafo que ela me deu: estava no mesmo camarote que eu a ver o FCP 9 - Rabat Ajax 0 (Vila do Conde).

    Sem dúvida que é uma grande "dragona"!!!

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  2. Excelente resumo do que tem sucedido nos últimos tempos no futebol Nacional. Saboroso o capítulo que dedicas a Xcolari:)

    Justas as menções a Bruno Alves e Aurora Cunha.

    Quanto ao 1º fim de semana de 2010 é assim na taça portugal jogamos a 2 de janeiro (20h) em Águeda e para a taça da liga jogamos dia 5 (à noite) nas "Antas" com o Leixões.

    Dia 10 campeonato recebendo o Leiria, a 13 taça da liga em Portimão, a 17 campeonato no dragão com o paços, a 20 taça portugal (se ainda lá estivermos) fora em Belém, a 24 taça liga no estoril e dia 31 campeonato fora na Choupana diante do Nacional.

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  3. offtopic mas aqui vai

    «Agora sabemos que o FC Porto não é batoteiro. O caso ficou encerrado com os novos regulamentos da UEFA. Tudo o que sucedeu até 2007 está encerrado e não prosseguimos as investigações», afirmou o francês, em entrevista à Lusa.
    «Temos regulamentos agora que combatem os batoteiros. Agora tenho a certeza que não é batoteiro»

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  4. Grande - no sentido de qualidade - post do Paulo Pereira que tem andado fugido. Abordagem correcta aos temos mais prementes.

    Aurora, mais vale tarde que nunca num processo com culpas dos dois lados; Bruno tão mal tratado, mas em Portugal ser do F.C.Porto significa ter reconhecimento depois de sair ou deixar de jogar.

    Até o Platini já mudou...De facto só não vê quem não quer: o Dragão até pode tardar, mas não falta.

    Um abraço

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  5. Que grande crónica Paulo! é saboroso ler cada paragrafo, em que cada palavra flui para uma ou outra achega a um pais futebolistico de 3º Mundo, que vive ás custas de poucos, que o tentam elevar ano após ano,mas que não pode vir nas capas dos jornais, como outros que nada fazem..senao circo.

    Deixo só uma nota também, para o paragrafo que dedicas ao Bruno Alves: Nunca pensei que tao rapidamente o FCP conseguisse encontrar alguem que sucedesse ao Vitor ou ao Jorge; o Bruno tem tudo lá, arrisco-me a dizer que vai ser em termos de mística um dos mais fortes e emblemáticos que já tivemos. QUE GRANDE CAPITÃO!

    Isto sim, é o FCP que conheço! Raça, Calibre, Estratégia, Força, Humildade e Mística.

    Abraço

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  6. Não fosse eu do "ramo" para estar contente pela reaproximação do Clube com a Aurora Cunha.
    Grande Atleta e portista, é importante a preservação dos grandes nomes do FC Porto.
    O Clube só tem a ganhar.
    A Aurora entrou para o Porto já eu estava no ultimo ano da minha "carreira".
    Como ela não treinava muito nas Antas mal nos cruzavamos a não ser nas competições, pelo que não tinhamos um grande relacionamento para além do "olá, tas bem..." mas tenho a imagem dela de uma entusiasta, uma atleta de fibra e ... portista.
    Infelizmente o Atletismo está moribundo na FCP !!!!!

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  7. Excelente crónica Paulo Pereira!

    Não há razão nenhuma para o clube não ter as melhores relações possíveis com os seus atletas e ex-atletas mais prestigiados.Bem haja.

    O Bruno é um real Dragão!

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  8. Não posso deixar de reconhecer o mérito ao autor do Post na escolha dos temas e na excelente abordagem que lhes fez.
    São estes pormenores que tornam o Bibo-Porto-Carago, numa referência da Blogosfera azul e branca.

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  9. Malta,

    Antes demais, gracias pelos comentários elogiosos:)

    Bruno Alves, como aqui já foi lembrado pelo João, é um digno sucessor dos míticos capitães portistas, aquele que actualmente transporta de forma orgulhosa a emblemática bandeira do Dragão. Nota-se que, lá dentro, a mística torna o central uma espécie de voz de todos nós, aqueles que sofremos pelo clube.

    Parece-me, neste momento, que chegamos ao jogo decisivo do campeonato, na Luz, num bom momento de forma. E isso conforta-me.

    Vila Pouca, ando fugido mas sempre atento ao que se passa por aqui. Sou uma espécie de Labaredas:)
    Agora mais a sério, ando numa fase estúpida de pressão (trabalho a rodos, dois minúsculos portistas que me provocam inúmeros cabelos brancos e um novo hobby: dirigente desportivo do eclético FC Vaguense). Não sobra tempo para grande coisa, mas vai-se andando...

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  10. Ganda Paulo, mto, mto bom.

    Este apaziguamento com algumas das velhas glórias, satisfaz-me duplamente... pela história que transportam atrás de si, mas porque o presente, tb se faz do passado e esse, a história, ninguém o pode apagar... por isso, muito bem esta aproximação.

    Quanto a BA, retractas na perfeição a minha visão que tenho dele... um líder nato, que olhando-se para ontem, comparando com hoje, quanta nossa, como ele «cresceu» carago!!

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