19 junho, 2008

O homem que nunca receou dizer que era FC Porto!

É com grande prazer que hoje publico uma entrevista exclusiva ao Dr. Pedro Baptista, nome conhecido de todos os Portistas, certamente.

Licenciado em Filosofia, Professor Universitário, ex-deputado do PS e actual candidato à Presidência da Federação Distrital do PS no Porto, o Dr. Pedro Baptista sempre se assumiu, sem receios, um defensor do Porto Cidade e do Porto Clube.

Portista ferrenho, era com muito gosto que o via no programa «Jogo Falado» da RTP2 e o lia nas crónicas de «O JOGO», onde sempre defendeu entusiasticamente o FC Porto.

Para mim, é uma honra tê-lo aqui neste espaço.

ENTREVISTA EXCLUSIVA

- Desde quando surgiu essa sua paixão pelo FC Porto?

Desde que me conheço. Lembro-me de ir ao futebol desde os cinco ou seis anos pela mão do meu pai, um portista de sempre. Tinha oito anos fomos campeões com o Yustrich e tinha dez ou onze fomos campeões em Torres Vedras, no tempo do árbitro Inocêncio Calabote (irradiado), quando o jogo da Luz durou mais quinze minutos e o guarda-redes da CUF teve de ser substituído porque estava comprado.

O meu pai tinha uma grande adoração pelo Yustrich, depois de passar uma tarde inteira a discutir futebol com ele no Café Bela Cruz, e eu uma grande admiração pelo "homão" que punha os jogadores a subirem e a descerem as bancadas, mas punha o Porto a ganhar.

Um momento importante foi quando andei de mão dada com o Jaburu, na Avenida Brasil, num domingo em que ele estava castigado, ou havia jogo da selecção, ou qualquer coisa assim. Fiquei anti-racista para sempre depois de andar de mão dada com aquele "negrão", um ponta de lança fabuloso.

- No período em que desempenhou funções na Assembleia da República, como eram vividas as vitórias do FC Porto pelos deputados que consigo privavam?

Eu privava com portistas e não portistas. Entre portistas, estabelecemos uma "família", a que eu chamava o "grupo parlamentar portista" que tinha deputados de todos os partidos, desde o saudoso João Amaral do PCP ao Boucinha do CDS/PP, passando pela Manuela Aguiar, ou pelo Prof. Barbosa de Melo do PSD, pelo Artur Penedos e por mim no PS. Éramos para aí trinta. Auto-proclamei-me presidente do Grupo, ninguém me elegeu, mas também ninguém me contestou. Estabelecemos uma solidariedade que se chegou a manifestar em questões concretas e se alguém ousasse atacar o FC Porto estávamos unidos em sua defesa.

Iniciámos os jantares de homenagem ao FC Porto, salvo erro, em 1996. Nesse ano, éramos bi-campeões de futebol, a caminho do penta, mas tínhamos sido campeões em cinco modalidades que estiveram representadas no jantar (futebol, basquete, andebol, hóquei e natação).

Os adversários baixavam a bola e maldiziam o desporto, que é que esperava? Dentro do meu partido atacavam-me por ser portista, defender o FC Porto e defender o Porto e o Norte. Se fosse mouro estava tudo bem... mas hoje a situação é a mesma.

- O que sentia a defender o FC Porto nas crónicas que assinava n'O JOGO e no decorrer das edições do programa JOGO FALADO da RTP2?

Sentia que estava a jogar com a camisola azul e branca, como joguei nos principiantes e juniores, mas agora tinha mais arcaboiço para aguentar o peso da responsabilidade. Sentia que estava a participar no próximo jogo, por isso era fundamental ganhar, embora sempre respeitando a verdade dos factos e a validade lógica dos raciocínios. Preparava-me bem, como outrora treinava. Foi aliás para isso que fui convidado, tanto no "Jogo Falado" como em "O Jogo". Acho que ganhei a esmagadora maioria dos jogos e também fui penta como, de resto, todos os adeptos.

Uma vez, ia a passar na rua, e ouvi o marido dizer para a esposa: "-Olha, o defensor do Porto". Gostei de ouvir aquelas palavras que me honraram, mas me encheram de responsabilidade. No entanto, um homem do Porto não pode ser atacado sem ripostar em dobro.

- Como são as horas seguintes do Dr. Pedro Baptista depois de uma derrota num jogo importante?

Silêncio absoluto, dificuldade em adormecer, terror por acordar, pelo menos dois dias sem notícias e nenhuma conversa com ninguém sobre o assunto. Pior do que levar uma coça.

Quando o meu pai era vivo e nos telefonávamos sempre a seguir aos jogos, fossem onde fossem, se a coisa corresse mal não falávamos pelo menos uma semana. O meu pai dizia-me: "-Cada um que aguente com o seu sofrimento". Eu também acho que um homem quando sofre por amor é em silêncio.

- Relativamente à imprensa dos dias de hoje, como vê toda esta campanha anti-FCP dos jornais como Record, Correio da Manhã, A Bola? E como analisa actualmente a linha editorial do Jornal de Noticias e do JOGO?

A dos dias de hoje, é como a dos dias de ontem. É a imprensa centralista. Não passam de pasquins. Têm conseguido destruir o Porto em muita coisa, até conseguiram meter um Cavalo de Tróia deles na Câmara do Porto, mas não conseguem destruir o FC Porto que simbolicamente encarna a resistência portista e nortenha. Por isso, persistem numa guerra cada vez mais intensa. Penso que o país está hoje muito menos coeso do que há vinte anos, está muito mais dividido e crispado. É fundamental que o Porto e o Norte consigam fazer nos outros sectores (economia, cultura, educação, investigação, inovação, política) o mesmo que faz no futebol: vencer.

O futebol não pode ser um escape das nossas frustrações, pelo contrário, tem de ser um exemplo para sermos vitoriosos em todos os outros terrenos, para podermos ter em todos os terrenos o mesmo orgulho que temos de ser Portistas. Quando o FC Porto ganha, os professores devem ensinar melhor, os alunos estudarem mais, os trabalhadores serem mais eficazes, os empresários serem menos mesquinhos e mais inovadores, os músicos, os escritores, os actores serem mais criativos, os políticos defenderem a região com firmeza, traçarem perspectivas para a competitividade internacional da região e imporem a regionalização, por aí adiante...

O Jornal de Noticias podia ser um jornal fabuloso, mas como é uma galinha de ovos de oiro, não tem pressão para o ser e vive demasiado de rotinas a todos os níveis, embora também esteja infiltrado por outro tipo de pressões também a todos os níveis.

O Jogo não leio todos os dias, mas presto atenção ao "Tribunal" da arbitragem para aferir as minhas próprias leituras dos jogos, embora o que o Jorge Coroado diz, não me diga nada, aliás já nem o leio, basta-me ouvir-lhe os disparates no rádio da cozinha que está sempre na Antena 1.

Se o jornal fosse dirigido por mim, teria uma linha editorial diferente; penso, no entanto, que sendo uma peça de uma indústria, é dirigido de forma inteligente, procurando diversos equilíbrios. É pena que tenham deixado de relacionar a vida desportiva com a vida social como acontecia em parte quando com eles colaborava.

- Qual a vitória do FC Porto que mais o entusiasmou?

A de 27 de Maio de 1987, no Pratter, em Viena. Foi como dizia o André Breton e se repetia em Maio de 68: "Sejamos realistas, exijamos o impossível". O sonho que tinha escondido em mim assomou com o pé leve do Juari e o calcanhar do Madjer: mas não era um sonho; só faltavam nove minutos para ser real. Ninguém dava nada por nós. Um dos pasquins que falou, anunciou o jogo num cantinho, a grande notícia era o dérbi da 2ª circular.

- Escreva-nos o seu onze ideal da história do FC Porto.

Vítor Baía, Virgílio, Geraldão, Pepe, Branco, Pedroto, Deco, Carlos Duarte, Hernâni, Madjer, Lisandro. (no banco: Barrigana, Lucho, Anderson, Gomes). Não vi jogar o Sr. Pinga, que conheci, e que o meu pai dizia ser o melhor jogador português de sempre. Mas preferia ter feito dois ou três "onzes", porque muitos, que podiam aqui estar, ficaram de fora.

- Dê-nos a sua opinião sobre: Pinto Costa, Pedroto, Artur Jorge e Mourinho.

Pinto da Costa: um génio de inteligência e astúcia; um homem de carácter e convicções inabaláveis com que me identifico; os portuenses deviam ver na sua forma de encarar os desafios um exemplo a seguir; precisávamos de quatro ou cinco para vários sectores do Porto e do Norte: um para presidir à região político-administrativa; outro para a reitoria da Universidade; outro para um Conselho das Igrejas, mais adequado do que um bispo; e outro para comandar a Região militar Norte; para a Câmara não é preciso porque estou convencido que vai para lá a Elisa Ferreira que tem algumas virtudes do Pinto da Costa e mais algumas.

Pedroto: um preditor do jogo; um combatente indómito; um mago dos mistérios da bola; o jogador e treinador que mais identificou o futebol com a arte, e a capacidade física com de terminação mental e com a inteligência.

Artur Jorge: aprendeu muito com Pedroto, procurou a mesma linha de finura, força e eficácia, mas talvez nunca se tenha encontrado inteiramente com ele próprio, talvez por viajar demais desde sempre; tem, claro, a nossa simpatia e admiração. E foi o homem de Viena. Penso que quando está com o braço sobre o ombro do Frasco a falar-lhe antes de este entrar em campo, está a desenhar com a mão a jogada que se vai seguir pouco depois e que abre o caminho para a vitória.

Mourinho: sem dúvida, um grande treinador, bom psicólogo e trabalhador incansável, mas que tende demasiado para ler os sucessos das suas equipas como seus sucessos pessoais. E depois demonstra-se que as coisas não são bem assim... mas veremos.

- Um comentário a este TRIcampeonato ganho nesta época.

Pouco depois do meio do campeonato, os pasquins entoavam uníssonos o coro da reviravolta. E agora é vê-los armados em bufos a ver se pela via da lixeira arranjam alguns restos para o almoço. Foi mais um contra tudo e todos, como todos. Foi um passeio, porque os pusemos fora da corrida, mesmo a só contar um golo em cada dois, por via da pressão dos apitos dourados a assobiarem na boca da Drª Morgado e a interferirem no jogo.

- Costuma visitar blogs desportivos? Já conhecia o nosso? Uma palavra para os nossos leitores.

Não tenho tempo para os blogs desportivos porque escrevo muito noutros terrenos. Não conhecia o vosso blog, mas acho-o giríssimo e felicito o autor e seus colaboradores.

Para todos os leitores, para todos os portistas, um grande abraço de Dragão.
Pedro Baptista

19 comentários:

  1. Grande Lucho! Uma lança em Africa, com esta excelente entrevista ao Pedro Baptista, esse sim, alguém que não tem medo de queimar os dedinhos, para defender o F.C.Porto.
    Um abraço

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  2. Muito boa esta entrevista.
    Parabéns!

    Saudações portistas.

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  3. O Dr. Pedro Baptista é desde há muito um homem com quem muito me identifico. E foi, de longe, o melhor defensor do FC Porto na Comunicação Social. De longe!

    Recordam-se de um episódio com Dias Ferreira no JOGO FALADO da RTP2 em que esse energúmeno muito o provocou mas o Dr. Pedro nunca se ficou e por pouco... encerraram o programa até:)

    Um dia estava amargurado com um jogo em q o Porto foi espoliado pelo árbitro, na imprensa´tudo foi branqueado mas eu esperei pela 4ª feira, pela crónica de OJOGO. Estava lá toda a linha do meu pensamento. Onde? Na crónica de Pedro Baptista.

    Um orgulho, mt grande para mim, conseguir este exclusivo.

    Tudo de bom para esse grande Senhor.

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  4. Só mais uma coisa, quando o Pedro Baptista explica o q acontece consigo depois de uma derrota, eu subscrevo tudo aquilo. Silêncio, dificuldade em dormir e terror ao acordar...

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  5. Antes de tudo, Lucho, já não há palavras... para tantas «surpresas» bombásticas que nos trazes com uma cadência que já começa a tornar-se um vicio.

    De seguida, uma palavra de especial agradecimento em nome de todos os colaboradores deste espaço de discussão do universo FC Porto, aos 5 minutinhos de atenção que o «honroso» Dr. Pedro Baptista nos dispensou para nos presentear com todas estas palavras sábias e de sentida paixão por aquela fé que a todos nos move e por vezes, tolhe até o mais sensato raciocinio: não haja dúvidas, o FC Porto é muito mais que um clube... é uma paixão!

    Por fim, dizer apenas que "obrigado" por todos esses momentos que até hoje nos proporcionou, quer na escrita, quer na televisão, sempre e só, com um objectivo claro e inequivoco: sempre e sempre na defesa do nosso FC Porto!!!

    Dr. Pedro Baptista, por todo esse orgulho que sempre senti nessa defesa intransigente, o meu particular e sentido obrigado.

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  6. Excelente entrevista, só posso dizer que tenho imensas saudades das crónicas do Dr. Pedro Baptista no Jogo.Um Grande Portista.

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  7. Obrigado Dr.Pedro Baptista por pertencer a esta grande familia.

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  8. Os meus parabéns a esses dois grandes portistas, o entrevistador e o entrevistado !

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  9. As palavras/experiência de vida deste Senhor fazem-me sentir ainda mais orgulho em ser Portista :)

    Como se isso ainda fosse possível, eheheh

    Belíssima entrevista esta, parabéns Lucho :)
    Obrigada.

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  10. Julgo q o Jornal «O Jogo» só tinha a ganhar se incluísse uma crónica semanal de um aficcionado dos 3 grandes, Porto, Sporting e Guimarães:) E para defensor do FC Porto era com mt bons olhos q assistiria ao regresso do Pedro Baptista... mas tb faltava saber se o Dr. Pedro tem disponibilidade pq a sua actividade literária, política e até no ensino ocupam-lhe imenso tempo.

    Mas q eu não perdia uma crónica sua, ai isso não!

    Obrigado a todos pelas palavras simpáticas. Tudo o q fazemos aqui neste espaço é em prol do MÁGICO PORTO. Só isso.

    E já agora dizer q amanhã há outra entrevista. Com quem? Aguardem.

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  11. Lucho:

    Venha de lá então mais «uma» para publicar ao final desta noite... e que acredito, vai ser uma surpresa para muitos.

    Resta apenas "aguardar".

    E o título dessa entrevista, além de muito sugestivo, acredito que vai dar por aqui uma boa e salutar discussão... a ver vamos.

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  12. Viva !

    Bravo quanto à entrevista !

    Sou breve porque estou sempre sem net em casa.

    Nao posso desenvolver por falta de tempo.

    Mas vai ser cada vez mais necessario ocupar inteligentemente os mass media.

    E Viva o Porto !

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  13. Lucho,

    Topo de gama a entrevista. Excelente, notável e dando a conhecer um grande portista. Conhecer será um termo errado, dado k o mediatismo do dr. Pedro Baptista dispensa apresentações...

    Belíssima entrevista!

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  14. Eu bebia as crónicas do Dr Pedro Baptista no "jogo" durante o famigerado donos da bola desse canal de carnaxide que eu pessoalmente e por muitas apróximações que possam haver entre este e o FCP jamais perdoarei!

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  15. Magnífica entrevista a um fanático portuense que me foi apresentado pessoalmente. É uma pena que não esteja presente na televisão onde poderia ser ainda mais incisivo.
    Parabéns pela entrevista, Lucho.

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  16. Ah! Só mais uma coisa. É por entrevistas destas que não há dia nenhum que não passe pelo BiBóPoRtO.

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  17. Grande entrevista, grande, grande!
    Comparar a qualidade do Pedro Baptista com a monronhice do Guilherme de Aguiar ou afins, é como comparar um cócó com caviar.
    Vamos pedir ao Pedro para voltar a ser a nossa voz.
    Que belos tempos, era um baile vê-los irritados de cabeça perdida, nada dessa conversa de marretas e mansos que há agora.
    Deviam ser feita uma petição para que o Pedro Baptista volte às lides....
    Que saudades!

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  18. sede:

    «Devia ser feita uma petição para que o Pedro Baptista volte às lides»

    Força nisso, q eu no q depender de mim, tb dou uma ajuda.

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  19. Parabéns ao lucho e ao blog Bibó Porto por esta entrevista.

    Tenho pena que o Dr. Pedro Baptista tenha deixado de escrever crónicas em O JOGO (tenho várias dele guardadas no meu arquivo).

    O Dr. Pedro Baptista era demasiado "radical" para o gosto de alguns e, talvez por isso, é provável que os responsáveis de O JOGO tenham sido pressionados a verem-se livres dele.

    Aliás, o mesmo deve ter acontecido com a rúbrica 'O Pato', que ATT fazia todos os sábados. Também era muito incómoda...

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